quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 653)

Uma Trova de Ademar 

No momento em que eu nascia,
Deus, usando o seu poder,
pôs o vírus da poesia
nas entranhas do meu ser.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Com direção perigosa,
é bom que agente perceba
que a bebida é prazerosa,
mas, se dirigir não beba!
–Júnior Adelino/PB–

Uma Trova Potiguar 


Um dia vem, outro vai,
veja o que aconteceu;
ontem, velho era papai,
agora o velho sou eu.
–Prof. Maia/RN–

Uma Trova Premiada 


2009  -  Nova Friburgo/RJ
Tema  -  SAUDADE  -  4º Lugar

Saudade é um velho barquinho
que vence o tempo e a distância
e recolhe, no caminho,
os pedacinhos da infância …
–Ercy Mª Marques de Faria/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


Eu comparo o arrependido
que o perdão vê numa cruz,
ao viajante perdido
que avista ao longe uma luz.
–Lilinha Fernandes/RJ–

Uma  Poesia 


MOTE:
Maria Conceição Fagundes/PR


Se caem do céu as águas,
com tanta beleza e encanto,
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?

GLOSA:
Ademar Macedo/RN


Se caem do céu as águas,
é para molhar o chão,
e afogar um pouco as mágoas
do povo do meu sertão.

Vejo o sertão florescer
com tanta beleza e encanto,
que a gente já pode ver
uma flor em cada canto.

O sertão tem suas fráguas
e é do clima a diretriz;
por que desencanto e mágoas
se o sertanejo é feliz?

No sertão desde criança,
eu choro, mas no entanto;
muitas gotas de esperança
há nas águas do meu pranto!

Soneto do Dia 

DESEJO PÓSTUMO.
–Reginaldo Albuquerque/MS–


Nunca esqueci a pá contra o tijolo
sobre o esquife no qual nos separamos,
quando fugia o sol murchando os ramos
e triste ave soltava um mesto arrolo.

Entre as preces que fiz, em desconsolo,
plantei dúzias da flor que mais amamos,
fiando que à estação, que então sonhamos
virás, e este amor hás de recompô-lo...

Quisera ter poderes, dons enormes,
e crer que, tal qual Lázaro, querida,
não estás morta, em paz, apenas dormes,

e, extático, abraçar-te com ternura,
como te bem fizera outrora em vida,
depois de te livrar da sepultura!

Ineifran Varão (Bem-Te-Vi Amigo)

Bem-te-vi voou
Pra cima da casa
Galho não quebrou
Nem batendo a asa

Lá embaixo alguém
Gritou sem demora
Nem tu nem ninguém
Quebra minha flora

Ele esbravejou
To de bico seco
Você nem olhou
Quem vem lá no beco

Lá embaixo de novo
A voz deu um grito
És casca de ovo
Quebras nem palito

Bem-te-vi bicou
Bico malcriado
Galho não quebrou
Mas quebrou o telhado

Sirva de lição
Pra dona da casa
Pois grito brigão
Não apaga brasa

Bem-te-vi pra ela
Fez canto de amor
Voou pra janela
Com uma linda flor

Hoje a convivência
É uma beleza
Viva a consciência!
Viva a natureza!

Fonte:
http://ineifran.blogspot.com.br/2012/08/bem-te-vi-amigo.html

Lino Sapo (A Televisão de Dona Tel)

Vou falar de uma pessoa
Que os céus dizem amém
Uma pessoa maravilhosa
Que nunca fez mal a ninguém
Simples e trabalhadora
E igual a ela não tem

Seus cabelos tá branquiados
O sorriso de antes já enrugou
Mas a gentileza é a mesma
Isso ela nunca renegou
Seu caminhar é compassado
Marca de que já trabalhou

Tem no espirito a bondade
E nas ações seu valor
De dignidade é uma fonte
Em sua vida sobra amor
As feridas que a vida fez
Ela soube vencer a dor

Dona Tel é esse anjo
Que Deus nos presenteou
Casada com seu Joatão
O homem que tanto amou
Quatorze filhos fizeram
E nenhum abandonou

De sua infinita sabedoria
A paz sempre buscou
E a ajudar ao próximo
Respeito conquistou
E um grande trabalho
A comunidade prestou

Hoje mim dar saudade
E recordo com satisfação
De sua ilustre humildade
E te tanta compreensão
Por deixar a todos nós
Assistir em sua televisão

Sem fazer diferença
Todos eram telespectador
Branco, preto ou índio.
De Vagabundo a trabalhador
Mulher, homem, menino.
De analfabeto a doutor.

Quase vinte e quatro horas
A TV não desligava
Pequenina mais potente
A galera telespectava
Preto e branco a imagem
E a população apreciava

Filmes, jornais e novelas.
Tinha seu público especial
Desenhos, shows e humor.
A meninada achava legal
Futebol, reportagem, culinária.
Era coisa sensacional

Mininos buchudos e fedorentos
Esparramado pelo chão
Os adultos no tamborete
Uma cadeira pra joatão
TEL sentada na sua poltrona
Todos diante da televisão

Gargalhadas e cochicho
E o psiu logo se ouvia
Sustos e muitos gritos
Isso sempre acontecia
Olhos bem lagrimosos
Com as cenas que se via

A novela era na sala
Uma sueca na cozinha
Os suequeiros não resistiram
A sala bem completinha
Aderiram às novelas
Abandonando as cartinhas.

Cabra errado e bigodudo
Ria-se que a chapa caia
Comentavam as cenas
E vinham no outro dia
Menino pegava no sono
Acordava dizendo arizia

O sucesso da televisão
Nunca pode se medir
Nem a entrada ao povo
TEL nunca quis impedir
Assistia todo mundo
Podiam se divertir.

As portas nunca fecharam
Era aberta até madrugada
Às vezes o dia nascia
E a negrada pegada
Nem respeitava o sono
De quem a TV doava

Durante muitos anos
A TV foi à atração
Da humilde cachoeira do sapo
Que não tinha animação
De segunda a segunda
De primavera a verão.

Na calçada os jovenzinhos
Procuravam se agradar
Era o lugar predileto
Pra começar a namorar
Banhados e perfumados
Tentavam impressionar

Foi também palco de brigas
Para na porta se escorar
Pois a sala estava cheia
Não dava mais para entrar
Imprensavam-se, e se apertavam.
Para a TV apreciar

Os filhos de dona Tel
Nunca inteferiram no divertir
Raquel, Chico, Daniele
Lú, Basto, Neide ou Joacir.
Ciço, Júlia, Zefa ou Galega
Vieram a contribuir

Janaina, Ivone, Aparecida.
Também como Mariquinha
Presenciaram muito a cena
Quando a cachoeira vinha
Sua casa sempre lotada
Do forasteiro a vizinha

O tempo se passou
As coisas melhoraram
O povo comprou sua TV
Da casa de TEL se afastaram
Esqueceram tanto favor
Que da mesma contemplaram

Dona tel ainda assisti
Só que agora TV a cores
Seu Joatão tá acamado
Não lembra mais dos amores
A casa ainda é a mesma
Aconchegante e sem odores

Eu ali muito assistir
Dona TEL muito obrigado
Jamais vou me esquecer
De seus favores abençoados
Hoje eu rezo a Deus
Para TELs ter multiplicado.

Fonte:
Lino Sapo: Vida e Obras

2.º Concurso de Quadras Populares /2012 do Clube da Simpatia (Resultado Final)

Tema – TERRA

1.º PRÉMIO

 A Terra, tão maltratada
dia a dia, ano após ano,
está a ficar cansada
de ser “Mãe” do ser humano…
DEODATO PIRES - PORTUGAL

 2.º PRÉMIO

Vejo a Terra do espaço:
é azul da cor do mar
e Portugal é regaço
das ondas que o vão beijar.
 GABRIEL DE SOUSA - PORTUGAL

3.º PRÉMIO

Se andares reto na vida
e, sempre fazendo o bem,
por certo, terás guarida
na Terra e no céu, também.
CREUSA CAVALCANTI FRANÇA – BRASIL

4.º PRÉMIO

Deus sofre a olhar a Terra
que para o homem criou,
mas este só pensa em guerra
e a Terra não preservou.
MARIA ALIETE CAVACO – PORTUGAL

5.º PRÉMIO

Conquistar novos espaços...
eis a semente da guerra.
Tantas vidas em pedaços
por um pedaço de terra!

RENATA PACCOLA – BRASIL

 MENÇÕES HONROSAS

"Terra à vista!" E o marinheiro,
num aviso genial,
fez, do país brasileiro,
pedaço de Portugal !
 COLAVITE FILHO – BRASIL

À Terra que me gerou
tenho um tributo a pagar,
que é deixar ser o que sou
e para a Terra voltar!...
 GLÓRIA MARREIROS – PORTUGAL

 A vida é tão amorosa!...
E tanta verdade encerra:
dá-nos o espinho... E a rosa,
para perfumar a Terra.
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES - PORTUGAL

Ó Terra que eu amo tanto,
oásis nos universos,
és poema, és encanto,
és a musa dos meus versos.
 IZIDORO CAVACO - PORTUGAL

 Trago no peito a saudade
da minha terra querida,
que deixei em tenra idade
seguindo as sendas da vida.
 SÔNIA MARIA SOBREIRA DA SILVA - BRASIL

 Quando se ouvem os canhões,
no raiar de cada aurora,
numa terra, em convulsões,
há um poeta que chora.
 JOÃO TIAGO DE OLIVEIRA BARROSO - PORTUGAL

 Cheiro de terra molhada   
é convite à nostalgia
de minha infância encantada
onde morava a alegria.
 ELIANA RUIZ JIMENEZ - BRASIL

 Há tanta beleza, tanta...
nesta Terra onde nasci,
que minh'alma se agiganta,
grata, ao que Deus fez aqui!
 THEREZINHA DE JESUS LOPES - BRASIL

 Muitas terras eu já vi,
encantadoras e belas,
mas a terra onde nasci
faz inveja a todas elas.
 ÁLVARO CAVACO - PORTUGAL

 Todos cantam sua TERRA,
também vou cantar a minha;
mas canto nenhum encerra
tantos dotes de rainha!
 ANTONIO CABRAL - BRASIL

Fonte:
http://clubedasimpatia.blogspot.com.br/

XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista (Resultado Final)

Poesia – Prêmio Emílio Lansac Thoa

Infantil – até 12 anos


1º LUGAR –
“O TEMPO”
Marina Macedo Romera
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

2º LUGAR
“INFÂNCIA”
Lara Mauro de Araújo
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

3º LUGAR
“O PENSAMENTO”
João Henrique Gião
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

Juvenil- 13 a 18 anos

1º LUGAR
“MUNDO DAS PALAVRAS”
Juliano da Silva Damas Júnior
São João da Boa Vista-SP
Colégio Experimental Integrado

2º LUGAR
“UM PAÍS HISTÓRICO CHAMADO BRASIL”
Matheus Lucas de Arruda Camara
Cantagalo-RJ

3º LUGAR–
“MASOQUISMO”
Paula Cardella Amaral
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

Adulto – 19 a 59 anos

1º LUGAR
“VOCÊ VAI FICANDO EM MIM”
José Leite da Silva
Florianópolis-SC

2º LUGAR
“NEBLINA DA SERRA”
Rubens Luíz Sartori
Campo Mourão-PR

3º LUGAR
“A POESIA DOS TEMPOS”
Marcelo Augusto Araújo de Oliveira
São Paulo-SP

PREMIO ESPECIAL OTÁVIO PEREIRA LEITE – MAIORES DE 60 ANOS
1º LUGAR
“POR QUEM OS SINOS DOBRAM”
Luzia Terezinha de Brito Vacari
Campinas-SP

2º LUGAR
“ARTE HUMANA, ARTE DIVINA”
Edileuza Bezerra de Lima Longo
São Paulo-SP

3º LUGAR
“PALCOS DA VIDA”
Nilton Silveira
Porto Alegre-RS

PROSA- PRÊMIO FÁBIO DE CARVALHO NORONHA

Infantil – até 12 anos


1º LUGAR
“CHEIRINHO DE MINHA INFÂNCIA”
Rebeca de Almeida Borges
São João da Boa Vista-SP
Escola SESI- 156

2º LUGAR
“MEU MELHOR AMIGO”
Maria Eduarda do Prado Matheus
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

2º LUGAR –
“TARDE MISTERIOSA”
Lara Mauro de Araújo
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

3º LUGAR
A FLOR QUE NUNCA BROTAVA”
Luiza Arantes Jacinto
São João da Boa Vista
Anglo Ensino Fundamental

Juvenil- 13 a 18 anos

1º LUGAR
A PROVA DOS OITO”
Matheus Lianda
São João da Boa Vista- SP
Colégio Objetivo

2º LUGAR
“ÚLTIMO FRAGMENTO”
Larissa Gulin Gazato
São João da Boa Vista-SP
Escola SESI 156

3º LUGAR
“TUDO POR UM SONHO”
Flávia Lemes Gamba
São João da Boa Vista
Escola SESI 156

Adulto - de 19 a 59 anos
1º LUGAR
“ DOIS MOMENTOS”
Elias Araújo
Américo Brasiliense-SP-

2º LUGAR
“HOMEM DOBRANDO A ESQUINA”
Gilberto Garcia da Silva
Praia Grande-SP

3º LUGAR
“ UM PIANO E UMA XÍCARA DE CHÁ”
Gustavo Fontes Rodrigues
São Paulo-SP

PRÊMIO ESPECIAL OTÁVIO PEREIRA LEITE – Maiores de 60 anos
1º LUGAR
“IDENTIDADE E CPF”
Renato Vieira Ostrowski
Campo Magro –PR

2º LUGAR
“O RETORNO”
Maria Apparecida S. Coquemala
Itararé – SP

3º LUGAR
“CONFISSÕES ÍNTIMAS”
Luiz Alberto de Almeida Magalhães
Belo Horizonte- MG

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Sarau de 2º Aniversário do Caldo & Poesia (Amanhã, 31 de agosto)

O próximo dia 31, sexta feira, faremos o sarau de 2º Aniversário do Caldo & Poesia. Na ocasião, além da participação de nossos amigos poetas e músicos, haverá o lançamento dos livros de

Carlos Gomes, com o romance “O Valle das Acácias”, e

José Mateus Neto, com “Despautério” (poesias),

além da apresentação musical da poetisa, cantora e compositora Teca Amorim e

um pocket show do poeta e compositor Tião de Sá e

pocket show também do Idealizador cultural  Ivan Ferretti Machado.

Venha participar conosco deste encontro, com sua poesia, sua música, seu causo ou simplesmente com a sua presença, para compartilhar este momento festivo e saborear um delicioso caldo, que é o mimo e marca da casa.

Local: União dos  Moradores  da Vila Santa Clara
Rua Caioabas, 104 – Vila Santa Clara
Travessa da Rua  Domingos Afonso
Horário: das 19h30 às 22h30 – entrada franca


Fonte:
http://varaldobrasil.blogspot.com.br/2012/08/convite_29.html

2º ENESIAR Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região

Fonte:
Varal do Brasil

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 652)

Uma Trova de Ademar 
Sinto um dom que me extasia
e uma inspiração sem fim,
quando a musa da poesia
passeia dentro de mim.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Apesar dos espantalhos
que a vida mostra-me à beça,
eu serpenteio os atalhos
para chegar mais depressa!
–Francisco José Pessoa/CE–

Uma Trova Potiguar 


Minha família, sem teto,
repartia o mesmo pão...
mas sobrava sempre afeto
no final da divisão...!
–Mara Melinni Garcia/RN–

Uma Trova Premiada 


2009  -  Nova Friburgo/RJ
Tema  -  SAUDADE  -  M/H


Passa o tempo… e, enquanto corre,
a lembrança vai sumindo…
Mas a saudade não morre:
-Apenas fica dormindo…
–Pedro Mello/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


Meu amor, que mau pedaço
eu passo quando demoras...
meu coração perde o passo,
atrás do passo das horas...
–Waldir Neves/RJ–

Uma  Poesia 


Quer fazer este mundo mais tristonho
tire o charme romântico das flores,
quer banir a beleza apague as cores
quer matar um poeta, mate o sonho;
entretanto se quer Jesus risonho
faça um gesto de amor, abrace a vida,
veja o mundo na tela colorida
da visão inspirada de um profeta;
mas, não toque no sonho do poeta
que o poeta sem sonho se liquida.
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia 
AS HORAS ERMAS.
–Thalma Tavares/SP–


Ah, solidão, como tu és danosa!...
Quando me cercas com o teu vazio
minha alma triste, insone, pesarosa,
sofre de ausências neste quarto frio.

Estendo as mãos ao nada e desafio
a noite que se adensa vagarosa
sobre o meu corpo tenso e erradio
que se agita na insônia insidiosa.

Não há ninguém em minhas horas ermas.
Apenas sombras do passado, enfermas,
povoam de saudades minhas noites.

E então maldigo a solidão das horas
e a chegada acintosa das auroras
que me fustigam com seus mil açoites.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Trova 225 - Prof. Garcia (Caicó/RN)


Dom Pedro II (Sonetos Avulsos)

INGRATOS

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.

TERRA DO BRASIL

Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.

Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...

Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
ó doce Pátria, sonharei contigo!

E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!

I - À MORTE DO PRÍNCIPE D. PEDRO

Pode o artista pintar a imagem morta
Da mulher, por quem dera a própria vida.
À esposa que a ventura vê perdida
Casto e saudoso beijo inda conforta.

A imitar-lhe os exemplos nos exorta
O amigo na extrema despedida...
Mas dizer o que sente a alma partida
Do pai, a quem, oh Deus, tua espada corta.

A flor de seu futuro, o filho amado;
Quem o pode, Senhor, se mesmo o Teu
Só morrendo livrou-nos do pecado,

Se a terra à voz do Gólgota tremeu
E o sangue do Cordeiro Imaculado
Até o próprio céu enegreceu!

III - A IDÉIA CONSOLADORA

Vendo as ondas correr para o ocidente,
Corre mais do que elas a saudade,
Mas espero que a minha enfermidade
O mesmo me consinta brevemente.

Com saúde mais lustre dar à mente
É cousa que enobrece a humanidade;
Contudo agora o paga a amizade
Da pátria, e da família, cruelmente;

Mas consola-me a idéia, — que mais forte
Lhes voltarei para melhor amá-los,
Pois mais anos assim até a morte

Eu mostrarei que sempre quis ligá-los
Na feliz, e também na infeliz sorte
Para, amando-os, ainda consolá-los.

IV - SEMPRE O BRASIL

Nunca noite dormi tão sossegado,
Quem nem mesmo sonhei com o meu Brasil,
Porém, vendo infinito mar d'anil,
Lembra-me a aurora dele nacarada.

Cada dia que passa não é nada,
E os que faltam parecem mais de mil.
Se o tempo que lá vivo é um ceitil,
Aqui é para mim grande massada.

E a doença porém me consentir,
Sempre pensando nele, cuidarei
De tornar-me mais digno de o servir,

E, quando possa, logo voltarei;
Pois na terra só quero eu existir
Quando é para bem dele que eu o sei.

V - A VIDA E O BARCO

Andar e mais andar é a vida a bordo;
Mal estudo, e apenas eu vou lendo;
A noite com a música entretendo;
Deito-me cedo, e mais cedo acordo.

Saudosíssimo a pátria eu recordo,
E, pra consolo versos lhe fazendo,
Desenho terras só aquela vendo,
E para não chorar os lábios mordo.

Enfim há de chegar, eu bem o sei,
Que o Brasil eu reveja jubiloso;
E, se outrora eu servi-lo só pensei,

Muito mais forte e muito mais zeloso,
Para ainda mais servi-lo, voltarei
Té que nele encontre o último repouso.

VII - A MEUS NETINHOS IMPRESSORES DE MEUS VERSOS

Versos feitos por mim na mocidade
O mérito só tem sentimento.
Eram, pra assim dizer, um instrumento
Mais que o prazer ecoando-me a saudade.

Pospondo a fantasia sempre à verdade
Melhor encontrei nesta o ornamento
E, no estudo apurando o sentimento,
Quanto tenho a saber disse-me a idade.

É isso o que vos quero eu ensinar,
Amando-vos qual pode um terno avô,
A quem para as suas cãs engrinaldar

Melhor só poderia o que eu vou
Em carícias tão vossas procurar,
Sentindo que de vós inda mais sou.

Fonte:
Sonetos. com

Nemésio Prata / CE (Verdade seja dita...)

O sujeito apaixonado
não enxerga com firmeza;
ante a "feia", este coitado,
só, bem, vê: “rara beleza"!

Ao meu prezado oculista-
poeta, peço explicação:
será que tem jeito, a "vista"
do apaixonado em questão?

Rogo, ao poeta potiguar,
que neste tema é doutor,
para que venha explicar
esta "cegueira de amor"!

Por fim, ao poeta José
Feldman, suplico que explique
de fato, como é que é
esta "arrumação" da psique!

Aqui deixo o meu palpite,
lavrado, por dedução;
deve ser uma neurite
nos "olhos" do coração!
------
Nota:
Poeta Oculista - Francisco Pessoa (CE)
Poeta Potiguar - Ademar Macedo (RN)

Fonte:
O Autor

Rachel de Queiroz (Marmota)

Aqui ninguém duvida de que marmota existe. Quase todo o mundo já viu. De noite, nas conversas do terreiro, é raro quem não tenha seu caso a contar. Marmota não é bem fantasma, pode ser alma do outro mundo, ou é uma aparência, uma coisa do mato, quem sabe? Às vezes é um bicho. Em geral é um vulto; e também um ruído, uma chama. Aparece de noite ou de dia.

Todo mundo encara as marmotas como realidades do cotidiano, que fazem um medo desgraçado, mas com as quais se tem que contar. E há delas passageiras, como há outras muito antigas. No caminho de chegada à fazenda de minha irmã, no Choró, existe uma pedra grande, escura, bem na descida de um alto. O povo a chama "Pedra do Bicho", porque ali costuma aparecer uma marmota; e já faz mais de cem anos que ela se mostra. Milhares de pessoas já a encontraram. Pode ser do tamanho de um porco, ou do tamanho de um cavalo, mas é sempre preta e com uma barriga mole, se arrastando. Às vezes se encontra cascavel morta junto da pedra, às vezes um preá. É o bicho que mata. Alguns falam que há muitos anos apareceu ali uma ossada de gente, ainda com as carnes. Engraçado, nesses anos todos nunca mudaram o caminho.

No corte da estrada de ferro, na saída da lagoa da Carnaúba, compadre Chico Barbosa vinha uma noite com o seu filho Eliseu e de repente lhes surgiu à frente aquele vulto preto, de andar arrastado, como um bicho grande e disforme, tomando o caminho. Eles desviaram à esquerda, o bicho também, desviaram à direita, o bicho também bandeou. Chico trazia um facão, brandiu o ferro, a marmota nem se importou. Riscaram um fósforo, sacudiram em cima, o bicho nada. Afinal resolveram fechar os olhos e o pai esgrimindo com o facão, o filho açoitando o ar com uma vara, correram em frente, com bicho e tudo. Não sabem como atravessaram nem como chegaram em casa. Mas ainda hoje ficam com as carnes tremendo quando se lembram.

Pedro Ferreira vinha de uma noitada de jogo, sozinho, pela meia-noite. Eis que numa vereda lhe apareceu a marmota - alta, de braços abertos, no sistema de uma pessoa. Ele trazia um pau grosso na mão, plantou o pau no bicho, facheou o pau todo, a visagem não se espantou. Pedro sentiu que o cabelo lhe crescia na cara, na nuca. Sentou-se no chão, ficou de olhos fechados, esperando, com vontade até de chorar. Afinal olhou - a marmota tinha sumido. E o pau, que ele largara no chão, ao seu lado, tinha sumido também.

Comadre Delurdes ia de manhã ao roçado, levar ao marido o “sonhim” de pão de milho. Junto à capoeira velha deu com uma coisa - não era bem uma marmota, era mais uma aparência, um rasgar forte de pano, e um rufar de asas grandes, uma coisa agitando o ar, aquele sorvo, que não se via mas se sentia. Ela correu tanto que ao chegar em casa teve uma oura, quase morreu. O marido zombou, no outro dia foi com ela - e aí quem correu foi ele. Ninguém da família vai mais sozinho ao roçado.

Certa noite um bando de gente vinha de uma festa, pela rodagem do Quixadá. Zéza, a hoje finada Dora, Terezinha, seu marido Chico Ferreira, e outros. Ao passarem perto do local onde foi encontrada a ossada de Chico Preto (morto misteriosamente há alguns anos), viram um vulto agachado ao pé de uma imburana. A coisa olhava de um lado e de outro da árvore, como quem brinca com criança. Chico Ferreira soltou um uivo e desabou; e as mulheres correram atrás, lutando para ver se chegavam na frente dos homens. E, se a visagem quisesse tinha até apanhado um menino, coitadinho, que ficou por último na disparada. Na hora do medo parece que até coração de mãe se esquece.

O mesmo Pedro Ferreira tem outra recordação do seu tempo de jogador. Vinha em noite escura, por um caminho que passa perto da represa do açude velho do Junco, cansado, com fome e frio. Nisso avistou um fogo e se alegrou - deviam ser uns amigos que planejavam uma pescaria. Parece que tinham tocado fogo num toco e as suas sombras iam e vinham ao redor. Pedro chamou, ninguém respondeu. Aí a chama baixou e voou brasa pra todo lado, como se alguém batesse com uma vara no fogo, estilhaçando-o. Assustado ele parou - firmou a vista - agora não tinha mais toco, nem fogo, nem brasa, só um escuro mais escuro, como um vulto, no lugar onde o fogo estivera. O chapéu lhe subiu nas alturas; ele sentiu que o vulto se deslocava em sua direção. Correu, botando a alma pela boca. Mas o bicho, lerdo, não o perseguiu.

E até mesmo aqui perto de casa, antes de se atravessar o riacho do açude, tem uma moita de mofungo, junto a um pé de violeta, onde o povo sempre encontra uma marmota. Tem dia em que ela balança a moita, e solta gemidos, aqueles ais. Ou se divisa um vulto por baixo da moita, e então se escuta um ruído forte de dentes, como um cachorrão quebrando ossos.

As pessoas que contam esses casos nunca mentem em outras coisas. São gente de respeito, nem é impressão de bebida - como se diz: "visagem de bêbedo fede a cachaça". Será que elas mentem só nesses casos? Ou se enganam, ou sonham?

Fonte:
Governo da Paraíba – A União.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 651)

Uma Trova de Ademar 
De sonhar eu não me oponho
nem sequer me desiludo.
Quem faz de “Paz” o seu sonho,
já fez metade de tudo!...
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Quando da vida eu me ausente,
e se assim meu Deus quiser,
quero voltar novamente,
e ser mãe, avó, mulher.
–Neoly Vargas/RS–

Uma Trova Potiguar 


Prosperidade é desejo,
condição muito esperada;
se bom não for o manejo,
ligeira termina em nada.
–Adelantha Sunnály/RN–

Uma Trova Premiada 


1999  -  Cachoeiras de Macacu/RJ
Tema  -  JORNAL  -  M/H


Procuro em cada jornal
-num devaneio profundo-
notícia que, afinal,
anuncie a Paz ao Mundo!
–Maria Madalena Ferreira/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram 


Mais uma ausência, outra ausência,
um adeus, um nunca mais.
E a longa e triste sequencia
dos momentos sempre iguais.
–Lucy Sother Rocha/MG–

U m a P o e s i a 

 
Moça bonita teu corpo
é tão perfeito e maneiro,
como que foram moldados
pelas mãos de hábil oleiro;
faz uma curva incomum
como um pé de Jerimum
enramando no terreiro.
–Brás Ivan Costa/PE–

Soneto do Dia 

SAUDADE ETÉREA.
–José Almir da Luz/PR–


Faz semanas que chove sem parar
e tudo se escurece na cidade.
Lama; folhas caídas; gélido ar...
Gotas tristes, repletas de saudade.

As horas resolveram entrevar,
pouco tempo parece eternidade.
Pensamentos circulam sem parar,
prejudicando a minha sanidade.

Pretendo revoltar contra o destino!
O coração plangente questiona,
busca serenidade num bom hino.

A impotência do luto, traz à tona
as certezas, sopradas bem de fino:
- a vida é tão fugaz, bela amazona.

João Cabral de Melo Neto (Catar Feijão)

"Catar Feijão" é um metapoema em que João Cabral, tendo como objeto a construção do poema, toma com referente um ato do cotidiano em que também o escolher, o combinar são necessários.

Catar feijão se limita com escrever: Joga-se os grãos na água do alguidar E as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo; pois catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. Ora, nesse catar feijão entra um, risco o de que entre os grão pesados entre um grão imastigável, de quebrar dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a com risco.

"Catar feijão" é um poema que faz parte do livro Educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto, cuja primeira edição foi publicada em 1966. O rigor composicional do poemas largamente difundido pela crítica nesse livro chega a seu ápice . São quarenta e oito poemas escritos em duas estrofes que muito se assemelham a quadros pictóricos, visualmente considerados. Ao todo cada poema atinge dezesseis ou vinte e quatro versos e o universo temático sempre tendo a ver com o Nordeste/Espanha, a condição humana e o fazer poético. Tudo isso numa rede de inter-relações lucidamente arquitetada. "Catar feijão" se apresenta composicionalmente em duas partes, com a marcação da segunda delas como o número 2.

Na primeira parte o poeta descreve o que se pode denominar de habitual, comum num ato de catar feijão: a limpa, isto é, "jogar fora o leve e oco, palha e eco" que é a sobra, a sujeira – o "eco", pois o bom do feijão fica no fundo.

Ocorre, porém, que já desde aí o poema conotativamente inicia seu jogo poético. A começar pelo título: "Catar feijão". Nada mais despistador. Na verdade, ao término de sua leitura, sabe-se que lhe interessa mesmo é o "catar" palavras. E nessa linha do despiste, o primeiro verso enuncia que "catar feijão se limita com escrever \, quando quer mesmo a idéia de que escrever se limita com catar feijão.

O jogo através do símile se faz o inverso, toma-se o real comparado na condição de comparante. A composição começa por demonstrar assim que ela toma-se a si mesma como modelo desse catar feijão em que "a pedra ‘da à frase seu grão mais vivo:

/ obstrui a leitura fluviante, flutual, /açula a atenção, isca-a com o risco".

O verbo catar assume o sentido de escolher. Porque catar feijão é, como catar palavras, recolher, retirar o que não é feijão ou não é feijão bom ,o que não é palavra adequada ou não é palavra boa. Nota-se que o rigor de escolha é mesmo exemplar. Conquanto haja o propósito de conceituar o ato de escrever, com a importância fundamental que lhe dá de ser dada, o poeta usa o verbo limitar para estabelecer proximidades (e não igualdade) entre comparante e comparado: "Catar feijão se limita com escrever", e não é o mesmo que catar feijão é como escrever.

As diferenças e semelhanças dos dois atos ficam garantidamente asseguradas nos versos do poema. E para demonstrar concretamente essa imagem, seguem-se os verso dois, três e quatro, com os quais estabelece simultaneamente a semelhança/diferença no ato de jogar:

"joga-se os grãos na água do alguidar" é semelhante apenas na intenção de escolher a "e as palavras na folha de papel".

E a imagem da diferença novamente se estabelece, pois, ao contrário dos grãos, as palavras não vão fundo, bóiam no papel, não obstante chumbo:

"Certo, toda palavra boiará no papel, / água congelada, por chumbo seu verbo".

A imagem é muito significativa, ainda mais quando se observa que a "água-papel" se contrasta com a "água – alguidar" não apenas quanto à imagem produzida: líquida, a do alguidar, sólida (e branca), a do papel, amas também porque a complexidade do verbo boiar é muito maior pelo efeito que o contexto lhe confere. Ora, na água – papel, efetivamente as palavras não bóiam porque não há fundo, mas conotativamente bóiam, quando ao texto não se ajustam, sendo então necessário "catá-las".

Com o visível propósito de evidenciar, concretizar a imagem buscada, o poema efetivamente se constrói sob o efeito de uma espécie de hipálage, atribui-se o que é próprio do catar feijão ao escrever (poesia) e vice-versa, numa estrutura sintática direcionada pelo símile. E nessa linha se fecha a primeira fase: "pois para catar esse feijão, soprar nele e jogar o leve e oco, a palha e eco. “

Esses são elementos concretamente próprios do ato de catar feijão jogado no alguidar: o que sobe é leve, palha, oco e, pois, eco (sujeira). Mas poeticamente é no "catar" palavras que ele se aplica: jogar fora as que são palha, ocas, portanto, eco. Deve-se atentar ainda para a especial conotação da palavra eco, que no poema é eco (sujeira de que se deve livrar) por fazer eco, (som desagradável, que se deve evitar).

Na Segunda parte, a Segunda estrofe, o poema expõe uma das consequências ou um dos resultados possíveis desse ato de catar feijão; o risco que se corre, pois pode ficar no fundo algo que, como o feijão, não bóia e que, estranho, é um perigo:

"um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente".

Isto para esse real catar feijão na água do alguidar. Entretanto par acatar palavra o efeito é outro bem contrário: "a pedra dá à frase seu grão mais vivo:" Como se verifica, o processo composicional estabelecido se mantém. Apenas que desta feita a implícita comparação se dá de forma direta. A pedra para o "catar palavra" não é indigesta, mas sim renovadora. Melhor dizendo, o indigesto em "catar palavras", qual seja, o que rompe o tradicional ( o habitual) não causa problemas, ao contrário, instaura o novo, criativamente considerado, "a pedra dá à frase se grão mais vivo: / obstrui a leitura fluviante, flutual."

Quanto ao ritmo, o primeiro dos recurso a chamar a atenção é a predominância do rigor com que as palavras oxítonas e paroxítonas se sucedem, determinadas ou interligadas por monossílabos, numa combinação de variabilidade harmônica dos pés-de-verso: a cadência binária fundamenta a estrutura.

À pauta rítmica também dá suporte o uso exaustivo da aliteração e da assonância. Pode-se mesmo dizer que elas são verdadeiros esteios da estrutura rítmica do poema. Basta apontar alguns exemplos dos muitos que permeiam todo o poema.

A aliteração em /g/: "joga-se os grão na água do alguidar", (v.2) em /p/: "pois para catar esse feijão soprar nele"(v.7). Reitere-se: a aliteração ocorre praticamente em todos os versos, com a incidência muitas vezes de mais de um consoante. Sirva-se ainda para isso de exemplo: "obstrui a leitura fluviante, flutual"(v.14) em que /t/ e o encontro consonantal /fl/ surgem, fonossemanticamente, perfeitamente empregados.

A assonância, com a aliteração , permeia todo a o poema. Exemplificá-la, seria citá-la inteiro. A incidência das vogais /i/ e /u/ no verso acima é um bom exemplo. Dois outros mais com vogais /o/ e /a/: "e depois joga-se fora o que boiar", (v.6) e "e jogar fora o leve e oco, palha e eco". (v.8)

Além desses elementos, tem papel fundamental, não apenas, mas também, para a realização rítmica do poema, a reiteração de palavras e expressões.

Outro aspecto esse que perpassa por todo o poema. Note-se, por exemplo, a grande frequência dos verbos que "catar", "jogar" e dos substantivos "feijão", "grãos" e "palavras". Evidentemente, esta estruturação formal não se dá isoladamente. A ela está acoplada num entrelaçamento indissociável para a significação do poema a outra face da linguagem, a do seu significado, ou seja, os elementos semânticos. E nesse sentido pode-se constatar perfeitamente em "Catar feijão" o que ensinam Roman Jackobsom: "A função Poética (da linguagem) projeta o princípio de equivalência do eixo de seleção sobre eixo de combinação"(1970).

Reduzido a dezesseis versos, o poema busca na potencialidade significativa de inter-relação de seus elementos fonéticos, semânticos e sintáticos a projeção de sua significação que é bastante densa. Daí que o jogo semântico atua na exploração de palavras que se repetem com significados diferentes, com o que o jogo rítmico se amálgama ao jogo semântico. Assim é que catar é denotação em "catar feijão", (v.1), mas é conotação nos versos 7 e 13; pedra é denotação em "um grão qualquer, pedra ou indigesto", (v.11), mas conotação em "A pedra dá à frase seu grão mais vivo"., (v.14). Veja-se que eco, (v.18), tem o duplo significado simultaneamente ao conotar mau som e sujeira que dá repugnação. Risco no verso 9 e denotação, mas já assume uma evidente ambigüidade no verso 16.

Atente-se ainda para o jogo sonoro – semântico conseguido com o emprego de entre preposição e verbo no verso 10. Grão é outra palavra cujo significado flutua a cada contexto frasal: são grãos de feijão no verso 2, são grãos quaisquer, algo não claramente definido nos versos 10, 11 e 12, e já no verso 14 assume caráter metafórico: "a pedra dá à frase seu grão mais vivo".

A sintaxe do poema é também bem peculiar. Sua estrutura dá sustentação à forma lógico-argumentativa em que se organiza. A reflexão sobre o fazer poético que busca limites no catar feijão se conduz por acirrada linguagem lógico – argumentativa. Os versos não as medidas extensas e variáveis, mais apropriados e adequados a esse tipo de raciocínio, no caso, poemático. Mas o que singulariza a sintaxe poemática de "Catar feijão" é a construção firmada em frase elípticas, o que concorre tanto para a economia vocabular do poema enquanto para a sua pauta rítmica.

Sirvam de exemplo: a elisão de água em: as palavras na da folha de papel;" v.3; e a intrincada construção com versos 5, 6 e 7: "Acertos, toda a palavra boiará no papel. Água congelada (que é água congelada), por chumbo seu verbo (por ser de chumbo o seu verbo); / pois para catar esse feijão, soprar nele (é necessário soprar nele)".

"Catar feijão" é, pois, uma poema em que a construção poemática é brevemente discutida, melhor diria, argumentada (em dezesseis versos), porém numa linguagem poética lógico – discursiva bastante densa e rigorosamente trabalhada, dando-se próprio poema como exemplo desse fazer poético que ele mesmo preconiza. Há uma perfeita sintonia entre a cadência rítmica assegurada pela freqüência quase exclusiva de vocábulos paroxítonos e oxítonos alternado-se, a grande incidência da aliteração, da assonância e a reiteração de determinadas palavras ou expressões como já se observou. Essa sintonia se faz presente no amálgama dessa camada sonora com o campo semântico e sintático, o que também já ficou aqui observado. Se há uma certa dissonância: a rima toante feita de forma bem peculiar, a variabilidade da métrica nos versos, a sintaxe singularmente elíptica e outros, é porque "quando ao catar palavras "a pedra dá à frase seu grão mais vivo”

Fonte:
Cola da Web

Rubem Braga (Chegou o Outono)

 Não consigo me lembrar exatamente o dia em que o outono começou no Rio de Janeiro neste 1935. Antes de começar na folhinha ele começou na Rua Marquês de Abrantes. Talvez no dia 12 de março. Sei que estava com Miguel em um reboque do bonde Praia Vermelha. Nunca precisei usar sistematicamente o bonde Praia Vermelha, mas sempre fui simpatizante. É o bonde dos soldados do Exército e dos estudantes de Medicina.

Raras mulatas no reboque; liberdade de colocar os pés e mesmo esticar as pernas sobre o banco da frente. Os condutores são amenos. Fatigaram-se naturalmente de advertir os soldados e estudantes; quando acontece alguma coisa eles suspiram e tocam o bonde. Também os loucos mansos viajam ali, rumo do hospício. Nunca viajou naquele bonde um empregado da City Improvements Company: Praia Vermelha não tem esgotos. Oh, a City! Assim mesmo se vive na Praia Vermelha. Essenciais são os esgotos da alma. Nossa pobre alma inesgotável! Mesmo depois do corpo dar com o rabo na cerca e parar no buraco do chão para ficar podre, ela, segundo consta, fica esvoaçando pra cá, pra lá. Umas vão ouvir Francesca da Rimini declamar versos de Dante, outras preferem a harpa de Santa Cecília. A maioria vai para o Purgatório. Outras perambulam pelas sessões espíritas, outras à meia-noite puxam o vosso pé, outras no firmamento viram estrelinhas. Os soldados do Exército não podem olhar as estrelas: lembram-se dos generais. Lá no céu tem três estrelas, todas três em carreirinha. Uma é minha, outra é sua. O cantor tem pena da que vai ficar sozinha. Que faremos, oh meu grande e velho amor, da estrela disponível? Que ela fique sendo propriedade das almas errantes. Nossas pobres almas erradas!

Eu ia no reboque, e o reboque tem vantagens e desvantagens. Vantagem é poder saltar ou subir de qualquer lado, e também a melhor ventilação. Desvantagem é o encosto reduzido. Além disso os vossos joelhos podem tocar o corpo da pessoa que vai no banco da frente; e isso tanto pode ser doce vantagem Como triste desvantagem. Eu havia tomado o bonde na Praça José de Alencar; e quando entramos na Rua Marquês de Abrantes, rumo de Botafogo, o outono invadiu o reboque. Invadiu e bateu no lado esquerdo de minha cara sob a forma de uma folha seca. Atrás dessa folha veio um vento, e era o vento do outono. Muitos passageiros do bonde suavam.

No Rio de Janeiro faz tanto calor que depois que acaba o calor a população continua a suar gratuitamente e por força do hábito durante quatro ou cinco semanas ainda.

Percebi com uma rapidez espantosa que o outono havia chegado. Mas eu não tinha relógio, nem Miguel. Tentei espiar as horas no interior de um botequim, nada conseguindo. Olhei para o lado. Ao lado estava um homem decentemente vestido, com cara de possuidor de relógio.

- O senhor pode ter a gentileza de me dar as horas?

Ele espantou-se um pouco e, embora sem nenhum ar gentil, me deu as horas: 13:48. Agradeci e murmurei: "chegou o outono". Ele deve ter ouvido essa frase tão lapidar, mas aparentemente não ficou comovido. Era um homem simples e tudo o que esperava era que o bonde chegasse a um determinado poste.

Chegara o outono. Vinha talvez do mar e, passando pelo nosso reboque, dirigia-se apressadamente ao centro da cidade, ainda ocupado pelo verão. Ele não vinha soluçando les sanglois longs des violons de Verlaine, vinha com tosse, na quaresma da cidade gripada.

As folhas secas davam pulinhos ao longo da sarjeta; e o vento era quase frio, quase morno, na Rua Marquês de Abrantes. E as folhas eram amarelas, e meu coração soluçava, e o bonde roncava.

Passamos diante de um edifício de apartamentos cuja construção está paralisada no mínimo desde 1930. Era iminente a entrada em Botafogo; penso que o resto da viagem não interessa ao grosso público. O próprio começo da viagem creio que também não interessou. Que bem me importa. O necessário é que todos saibam que chegou o outono. Chegou às 13:48 horas, na Rua Marquês de Abrantes, e continua em vigor. Em vista do que, ponhamo-nos melancólicos.

 Fonte:
200 Crônicas Escolhidas.

Vivaldo Terres (Como Posso Viver)

Como posso viver sem teus carinhos.
Se contigo, vivi dias cheios de felicidade.
Cheios de luz, paz e sem saudade.

Agora tudo mudou
E porque mudou... tu sabes o porquê.
A saudade é demais preciso te ver.

Simplesmente partiste, fugiste de mim.
Deixando-me sozinho me ferido coração.
Cravando-o de espinhos

A tristeza invade meu ser!
Eu não mais vivo e tu sabes por quê.
A saudade é demais preciso te ver

Não me digas não quero, não posso te ver!
Estou com outro alguém já não amo você.
Do meu triste passado prefiro esquecer...

Fonte:
O Autor