quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Câmara Brasileira do Livro ( Finalistas do 54ª Prêmio Jabuti) – Parte I


Em virtude de ser uma lista extensa, dividi em duas partes.

Já são conhecidos os finalistas do 54º Prêmio Jabuti. Em apuração aberta ao público nesta quinta-feira, 20, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) apresentou as notas atribuídas pelos jurados às dez melhores obras de cada uma das 29 categorias do prêmio. 

Esta foi apenas a primeira etapa do processo que irá apontar os melhores livros de 2011, e que culminará com a entrega dos prêmios de Livro do Ano Ficção e Livro do Ano Não Ficção, no dia 28 de novembro. 

A fase que se encerra foi resultado da análise de um total de 2.203 inscritos. Para chegar aos finalistas, três jurados especialistas em cada categoria atribuíram notas de 0 a 10 às dez melhores obras inscritas. Classificaram-se as que obtiveram as melhores médias. A avaliação teve como base os critérios estabelecidos para cada categoria no regulamento, disponível em: www.premiojabuti.com.br/content/regulamento.

Todos os resultados foram auditados pela Parker Randall. O curador do Prêmio Jabuti, José Luiz Goldfarb, e o Conselho de Curadores, formado por especialistas do setor editorial, ficaram responsáveis por checar se todas as obras classificadas cumpririam com os critérios estabelecidos pelo regulamento. Integram o Conselho de Curadores a escritora e membro da Academia Paulista de Letras Ana Maria Martins, o diretor científico da Fapesp, Carlos Brito, o vice-reitor de Extensão da Universidade Estácio de Sá, Deonísio da Silva, e o poeta Frederico Barbosa.

Na segunda fase do prêmio, os escolhidos serão submetidos a uma nova análise, cuja apuração está marcada para o dia 18 de outubro. Na ocasião, serão conhecidas as três melhores obras de cada categoria, que serão laureadas com o Jabuti. Além disso, os primeiros colocados receberão o prêmio em dinheiro de R$ 3,5 mil.

Os Livros do Ano, categorias Ficção e Não Ficção, serão escolhidos apenas entre os primeiros lugares das categorias. Além dos jurados, participam da escolha os associados das quatro entidades representativas do setor: CBL, SNEL, ANL e ABDL. 

Concorrem ao Livro do Ano Ficção os primeiros colocados nas categorias: “Romance”, “Contos e Crônicas”, “Poesia”, “Infantil” e “Juvenil”. 

Já para o Livro do Ano Não Ficção, participam as categorias: “Teoria/Crítica Literária”, “Reportagem”, “Ciências Exatas”, “Tecnologia e Informática”, “Economia, Administração e Negócios”, “Direito”, “Biografia”, “Ciências Naturais”, “Ciências da Saúde”, “Ciências Humanas”, “Didático e Paradidático”, “Educação”, “Psicologia e Psicanálise”, “Arquitetura e Urbanismo”, “Fotografia”, “Comunicação”, “Artes”, “Turismo e Hotelaria” e “Gastronomia”.

RELAÇÃO DOS FINALISTAS

1. Capa

1º - A anatomia de John Gray - Leonardo Iaccarino - Editora Record
2º - A máquina de fazer espanhóis - Lourenço Mutarelli - Cosac & Naify
3º - História do cabelo - Gabriela Castro - Cosac & Naify
4º - O circo do Dr. Lao - Retina78 - Leya
5º - Ratos - Laboratório Secreto - Editora Intrínseca
6º - Formação (bildung), educação e experimentação em Nietzsche - Marcos da Mata - Editora Eduel
7º - Dresden - Elmo Rosa - Editora Record
8º - Eu vi o mundo - Gabriela Castro - Cosac & Naify
9º - Primeiro Tempo - Marcelo Aflalo - Editora Magma cultural
10º - Bonita Maria do Capitão - Germana Gonçalves de Araujo - EdUNEB

2. Ilustração

1º - Bananas podres - Ferreira Gullar - Casa da palavra
2º - O ovo ou a galinha? - Gustavo Rosa - Editora Rideel
3º - Água sim - Andrés Sandoval - Companhia das letras
4º - Apolinário - O homem-dicionário - Daniel Bueno - Editora Original
5º - Disse me disse - Elma - Editora Paulinas
6º - Um dia de chuva - Guazzeli - Cosac & Naify
7º - Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente - Lourenço Mutarelli - Companhia das letras
8º - Animais - Grupo Xiloceasa - Editora 34
9º - Poemas de pé quebrado - Maria Tania Carneiro Leão - Editora Carpe diem
10º - Diário de navegação - Pero Lopes e a expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1532) - Vallandro Keating - Editora Terceiro nome

3. Ilustração de Livro Infantil e Juvenil

1º - Mil e uma estrelas - Marilda Castanha - Editora SM
2º - A visita - Lúcia Hiratsuka - Editora DCL
3º - Tati é especial - Jean-Claude R. Alphen - Editora Scipione
4º - Madiba - O menino africano - Renato Alarcão - Cortez Editora
5º - Carmela vai à escola - Elisabeth Teixeira - Editora Record
6º - Contradança - Roger Mello - Companhia das letras
7º - A Compoteira - Bebel Callage - Editora Prumo
8º - O esconderijo das vontades - Laura Michel - Callis Editora
9º - Marina e Mariana - Salmo Dansa - Editora Lafonte
10º - A Dona da Festa - Graça Lima - Editora Record

4. Arquitetura e Urbanismo 

1º - A arquitetura de Croce, Aflalo e Gasperini - Fernando Serapião - Editora Paralaxe
2º - Warchavchik fraturas da vanguarda - José Lira - Cosac & Naify
3º - Chai-Na - Otília Arantes - EDUSP
4º - Desenho e desígnio: O Brasil dos Engenheiros Militares (1500-1822) - Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno - EDUSP
5º - Paulo Casé 80 anos: vida, obra e pensamento - Alfredo Britto, Regina Zappa e Roberto Segre - Casa da palavra
6º - Galo cantou: A conquista da propriedade pelos moradores do Cantagalo - Paulo Rabello de Castro - Editora Record
7º - Glaziou e as raizes do paisagismo no brasil - Bia Hetzel E Silvia Negreiros - Editora Manati
8º - Neocolonial, modernismo e preservação do patrimônio no debate cultural dos anos 1920 no Brasil - Maria Lúcia Bressan Pinheiro - EDUSP
9º - São paulo uma interpretação - Jorge Wilheim - Editora SENAC
10º - Belle Époque dos Jardins - Guilherme Mazza Dourado - Editora SENAC

5. Artes

1º - Samico - Weydson Barros Leal - Editora Bem-te-vi
2º - Brecheret e a Escola de Paris - Daisy Peccinini - FM Editorial
3º - Antunes Filho, Poeta da cena - Sebastião Miralé - Edições SESC-SP
4º - Emanoel Araujo ? Escultor - Paulo Herkenhoff - Editora Via impressa
5º - Fayga Ostrower Ilustradora - Fayga Ostrower - Instituto Moreira Sales
6º - No mar = At sea - Luise Weiss - Imprensa oficial do estado
7º - Teatro Municipal de São Paulo 100 anos Palco e Platéia da Sociedade Paulistana - Organização: Carlos Eduardo Martins Macedo/Texto: Marcia Camargos/Ensaio Fotográfico:Cristiano Mascaro - Editora Dado Macedo
8º - Memória da Arte Franciscana na Cidade do Rio de Janeiro - Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho - Rosa Maria Costa Ribeiro - Cesar Augusto Tovar Silva - Editora Arteway
9º - Vai que nós levamos as partes que te faltam: Daniel Senise = Go we'll bring the parts you leave behind: Daniel Senise - Maria Iovino - Imprensa oficial do estado
10º - Artesãos da Sapucaí - Carlos Feijó e André Nazareth - Editores olhares

6. Biografia

1º - Fernando Pessoa: uma quase autobiografia - José Paulo Cavalcanti Filho - Editora Record
2º - Eu vi o mundo - Gabriela Castro - Cosac & Naify
3º - João Goulart: uma biografia - Jorge Ferreira - Editora Civilização brasileira
4º - Cláudio Manuel da Costa - Laura de Mello e Souza - Companhia das letras
5º - Antônio Vieira - Ronaldo Vainfas - Companhia das letras
6º - Solo - Cesar Camargo Mariano - Editora Leya
7º - Justa - Aracy de Carvalho e o resgate de judeus: trocando a Alemanha nazista pelo Brasil - Mônica Raisa Schpun - Editora Civilização brasileira
8º - A Bossa do Lobo - Ronaldo Bôscoli - João Baptista da Costa Aguiar - Editora Leya
9º - Angelo Agostini: A Imprensa Ilustrada da Corte à Capital Federal, 1864-1910 - Gilberto Maringoni - Editora Devir
10º - Roland Barthes -uma biografia intelectual - Leda Tenório da Motta - Editora Iluminuras

7. Ciências Exatas

1º - Eletrodinâmica de Ampére - André Koch Torres Assis e João Paulo Martins De Castro Chaib - Editora UNICAMP
2º - Química medicinal: Métodos e Fundamentos em Planejamento de Fármacos - Carlos A. Montanari (organizador) - EDUSP
3º - Substâncias orgânicas: Estrutura e Propriedades - Nídia Franca Roque - EDUSP
4º - O telescópio na magia natural de Giambattista della Porta - Fumikazu Saito - Editora da PUC-SP
5º - O observatório no telhado - Oscar T. Matsuura - Companhia editora de Pernambuco
6º - Processos Biológicos Avançados para Tratamento de Efluentes e Técnicas de Biologia Molecular para o Estudo da Diversidade Microbiana - Márcia Dezotti, Geraldo Lippel Sant'Anna Jr, João Paulo Bassin - Editora Interciência
7º - Mecânica Quântica - José Roberto Mahon - Grupo Gen
8º - Simulação computacional de circuitos elétricos - Luiz de Queiroz Orsini e Flávio Cipparrone - EDUSP
9º - Controle Linear de Sistemas Dinâmicos - Teoria, Ensaios Práticos e Exercícios - José C. Geromel e Rubens H. Korogui - Editora Edgard Blucher
10º - Tópicos de mecânica clássica - Marcus A. M. de Aguiar - Editora Livraria da física

8. Ciências Humanas

1º - ritmo espontaneo: organicismo em raizes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda - João Kennedy Eugenio - Editora da Universidade federal do Piauí
2º - Um estilo de história - Fernando Nicolazzi - Editora da UNESP
3º - A política da escravidão no Império do Brasil - Tâmis Parron - Editora Civilização Brasileira
4º - Mutações: A invenção das crenças - Adalto Novaes (org.) - Edições SESC-SP
5º - Entre a luxúria e o pudor: a história do sexo no Brasil - Paulo Sérgio do Carmo - Editora Octavo
6º - A sociologia e o mundo moderno - Octavio Ianni - Editora Civilização brasileira
6º - Dicionário da Antiguidade Africana - Nei Lopes - Editora Civilização brasileira
7º - Oniska: poética do xamanismo na amazônia - Pedro de Niemeyer Cesarino - Editora Perspectiva
8º - Lições de filosofia primeira - José Arthur Giannotti - Companhia das letras
9º - Para uma história da belle époque: a coleção de cardápios de Olavo Bilac - Lúcia Garcia - Imprensa oficial do estado
10º - In difesa della razza: Os Judeus Italianos Refugiados do Fascismo e o Antissemitismo do Governo Vargas, 1938-1945 - Anna Rosa Campagnano - EDUSP

9. Ciências Naturais

1º - Gestão do Saneamento Básico - Abastecimento de água e esgotamento sanitário - Coleção Ambiental - Arlindo Philippi Jr., Alceu de Castro Galvão - Editora Manole
2º - Fundamentos da Paleoparasitologia - Luiz Fernando Ferreira, Karl Jan Reinhard e Adauto Araújo (orgs.) - Editora Fiocruz
3º - Frutas da Amazônia Brasileira - Silvestre Silva - Metalivros
4º - Direito ambiental - do global ao local - Angela Barbarulo - Editora Global
5º - O futuro da Terra - H. Moysés Nussenzveig - Editora FGV
6º - Geografia- Práticas de Campo, Laboratório e Sala de Aula - Luis Antonio Bittar Venturi (organizador) - Editora Sarandi
7º - Educação Ambiental na Formação do Administrador - José Carlos Barbieri e Dirceu da Silva - Editora Cengage Learning
8º - O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil - Série Sustentabilidade - Vol. 5 - Vahan Agopyan e Vanderley M. John - Editora Edgard Blucher
9º - Energia Eólica - Série Sustentabilidade - Eliane A. Faria Amaral Fadigas - Editora Manole
10º - Irrigação e Fertirrigação em fruteiras tropicais e hortaliças. - Valdemício Ferreira de Sousa, Waldir Aparecido Marouelli, Eugênio Ferreira Coelho, José Maria Pinto/ Maurício Antonio Coelho Filho - Editora EMBRAPA

10. Ciências da Saúde

1º - Clínica Psiquiátrica - A visão do Depto. e do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP - Eurípedes Constantino Miguel, Valentim Gentil, Wagner Farid Gattaz - Editora Manole
2º - Tratado de Gastroenterologia - Federação Brasileira de Gastroenterologia - Editores: Schlioma Zaterka e Jaime Natan Eisig - Editora Atheneu
3º - Coluna vertebral - Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem - João Luiz Fernandes e Francisco Maciel Júnior - Editora Elsevier
4º - Estatística na área da saúde: conceitos aplicações e prática computacional - Arminda Lucia Siqueira, Jacqueline Domingues Tibúrcio - Editora CoopMed
5º - Artigos Científicos - Como Redigir, Publicar e Avaliar - Maurício Gomes Pereira - Grupo Gen
6º - Tratado de Fisioterapia Hospitalar - Assistência Integral ao Paciente - Joaquim Minuzzo Vega, Alexandre Luque, George Jerre V. Sarmento e Luiz Fernando de Oliveira Moderno - Editora Atheneu
7º - Epidemiologia e Saúde - Fundamentos, métodos e aplicações - Naomar de Almeida Filho - Grupo Gen
8º - clínica e laboratório "Prof. Celso Carlos de Campos Guerra" - João Carlos de Campos Guerra/Carlos Eduardo dos Santos Ferreira - Sarvier Editora
9º - PET e PET/CT em Oncologia - SBB Medicina Nuclear - Editores: Celso Darío Ramos e José Soares Junior - Editora Atheneu
10º - Farmácia Clínica - Segurança na Prática Hospitalar - Fábio Teixeira Ferracini e Wladmir Mendes Borges Filho - Editora Atheneu

11. Comunicação

1º - O império dos livros: Instituições e Práticas de Leitura na São Paulo Oitocentista - Marisa Midori Deaecto - EDUSP
2º - Linha do tempo do design gráfico no Brasil - Chico Homem de Melo e Elaine Ramos Coimbra - Cosaf & Naify
3º - Repressão e Resistência: Censura a Livros na Ditadura Militar - Sandra Reimão - EDUSP
4º - 70 anos de Radiojornalismo no Brasil, 1941-2011 - Sonia Virgínia Moreira - EDUERJ
5º - Olho de vidro: a televisão e o estado de exceção da imagem - Marcia Tiburi - Editora Record
6º - As Capas desta História - Ricardo Carvalho, Vladimir Sacchetta e Jose Luiz Del Roio - Instituto Vladmir Herzog
7º - Revistas de invenção - 100 revistas de cultura do modernismo ao século XXI - Sergio Cohn (organizador) - Azougue Editorial
8º - Lanterna Mágica: infância e cinema infantil - João Batista Melo - Editora Civilização Brasileira
9º - O negro nos espaços publicitários brasileiros: perspectivas contemporâneas em diálogo - Leandro Leonardo Batista e Francisco Leite (Orgs.) - Escola de comunicação e artes (USP) e Coordenadoria dos Assuntos da População Negra – CONE/ PMSP
10º - Música e Propaganda - Paulo Cezar Alves Goulart - Editora A9

12. Contos e Crônicas

1º - O livro de Praga - Sérgio Sant'Anna - Companhia das letras
2º - Vento sul - ficções - Vilma Arêas - Companhia das letras
3º - O anão e a ninfeta - Dalton Trevisan - Editora Record
4º - O Destino das metáforas - Sidney Rocha - Editora Iluminuras
5º - Nós passaremos em branco - Luís Henrique Pellanda - Editora Arquipélago
6º - Axilas e outras histórias Indecorosas - Rubem Fonseca - Nova Fronteira
7º - Enquanto água - Altair Martins - Editora Record
8º - Onde terminam os dias - Francisco de Morais Mendes - Editora 7 letras
9º - Contos de mentira - Luisa Geisler - Editora Record
10º - Passaporte para a China - crônicas de viagem - Lygia Fagundes Telles - Companhia das letras

Continua…

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mário Quintana (A Coisa)


Antonio Brás Constante (Zero a Esquerda ou Fora de Série?)


“Ninguém cometeu maior erro, do que aquele que errou ao fazer tudo errado”.
Antonio Brás Constante

Números. Números. Números. Não passamos de um conjunto numérico, perdido em uma equação qualquer. Uma equação ainda não totalmente resolvida, conhecida como vida. O ser humano na sua essência é feito de números. Somos compostos orgânicos com bilhões de células disto, sei lá mais quantos bilhões de outras células formando aquilo, etc.

Os números determinam padrões na sociedade. Somos classificados por um número variável chamado: “idade”, e nos dizem que devemos agir conforme esta idade. Ou seja, em alguns casos somos muito velhos, em outros nos acham muito novos e ainda em outros temos a idade certa, mesmo que seja para algo que naquele momento não nos interessa.

Apesar de não nos darmos conta, nós somos geralmente atraídos pelos números que compõe as outras pessoas. Por exemplo, na busca por relacionamentos amorosos, muitos procuram saber sobre a altura, peso, quadril, busto, idade e até conta bancária de seus pretendentes.

Ainda na parte dos relacionamentos, podemos imaginar a seguinte situação: você sai para passear com sua amada. Resolve levá-la a um lugar especial, onde possam namorar, trocando beijos e carícias. Então você, aproveitando aquele momento lindo, totalmente enlouquecido de amor, dá uma, duas, três, até quatro idéias de como o futuro seria maravilhoso se vocês ficassem juntos para sempre. É a matemática do amor, agindo nos pensamentos do enamorados.

Também no trabalho somos um mero número, conhecidos no sistema como o funcionário de matricula tal, que tem o RG tal e o CPF etecétera e tal. Em qualquer novo plano diretor, onde haja necessidade de cortes para maximizar custos, o fator humano é logo substituído por algum índice matemático, e de um instante para outro passamos de nove para seis, ou seja, nossa vida vira de cabeça para baixo.

A própria empresa é um emaranhado de números, que aparentemente parece ser feita de tijolos e movida através de carne e sangue, mas que no fim de cada semestre passa a ser um relatório contábil repleto de números e indicações positivas ou negativas, traçando geralmente perfis pouco amistosos sobre ações futuras.

Um assunto como este pode até causar insônia, algo que tentamos amenizar contando carneirinhos lanosos, que para desespero de qualquer fazendeiro, conseguem pular cercas com extrema facilidade. Em outros casos apenas contamos com algum tipo de calmante. Então percebemos que nossa saúde também é vista através de números, que medem pressão, batimentos cardíacos, taxa de glicose, entre outros tantos pontos que flutuam em nossos exames. Se notarmos, a própria política começa com a escolha de números, onde muitos se elegem apenas para fazer número e, principalmente, desviar números.

Sua classe social, sua localização em sua rua ou mesmo no universo (latitude e longitude), ou o máximo de caracteres que devo digitar neste texto, tudo é formado por números. Podemos dizer que Deus é um número. Talvez o número mais básico que exista e por isso tão complexo. Algo similar ao computador, que é capaz de efetuar maravilhas, feitas a partir da combinação de dois únicos dígitos (0s e 1s) que formam o código binário.

Enfim, na matemática da vida, não devemos ser apenas mais um número. Devemos somar esforços, dividir os problemas na busca de soluções, subtrair pensamentos negativos, e elevar a enésima potência às energias e ações positivas, passando a ser multiplicadores de algo melhor, deixando de ser um zero a esquerda para nos tornamos pessoas fora de série.

Fonte:
www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc

Haicai 12 - A. A. de Assis (PR)


Artur Azevedo (O Telefone)


Isto passou-se nos últimos tempos do Segundo Império:

O Chagas, moço de vinte e cinco anos, amanuense numa secretaria de estado, era tímido, o que, aliás, não o impediu de corresponder prontamente aos olhares libidinosos que certa noite - por sinal que era domingo - lhe atirou de um camarote, no Recreio Dramático, uma bonita mulher, um pouco mais velha que ele, acompanhada pelo marido, muito mais velho que ambos.

Este parecia interessado pelo espetáculo: tinha os olhos pregados no palco, sem desconfiar nem de leve que a sua cara-metade namorava escandalosamente às suas barbas, um jovem espectador da platéia.

Depois de castigado o vício e premiada a virtude, o Chagas acompanhou, a certa distância, o casal, até o Largo de São Francisco e, apesar de tímido, teve a coragem de sentar ao lado da senhora.

Dali até São Cristóvão, como não se pudessem falar, entenderam-se ambos, a principio com os cotovelos e os joelhos, depois com os pés e afinal com as próprias mãos, que se apertaram furtivamente, quando, nas alturas do canal do Mangue, o marido deixou de fazer considerações críticas sobre o dramalhão que ouvira, e começou a cochilar, como todos os maridos confiantes.

Alguns metros antes de chegar ao domicílio conjugal, ela preveniu o Chagas com uma joelhada mais enérgica e, voltando-se para o sonolento, disse-lhe:

- Acorda, Barroso, que estamos quase!

Apearam-se, e o Chagas tomou nota do número da casa.
***
No dia seguinte, o ditoso mancebo colheu todas as informações desejáveis. O Barroso era um honrado negociante, estabelecido perto do Mercado; saía de casa às seis da manhã e só voltava à noitinha - o que facilitou ao Chagas os meios de escrever a Clorinda, que assim se chamava a bela.

Pediu-se uma entrevista, e escusado é dizer que ela não opôs a esse pedido a menor resistência; exigiu apenas, depois do primeiro encontro, que os outros se efetuassem longe do bairro, e que o Chagas a esperasse no campo de São Cristóvão dentro de um carro fechado. Este os transportaria para um retiro longínquo e discreto.

O venturoso amante em pouco tempo se convenceu de que as mulheres mais caras são justamente as que se dão de graça. Os seus magros cobres de amanuense não chegavam 
para aquele carro escandalosamente misterioso e para o hotel com duas entradas, onde se escondiam aqueles amores ignóbeis. O pobre rapaz recorreu ao prego e ao usurário: encalacrou-se deveras.

Demais, o namoro estragou o funcionário. Como estivesse profundamente impressionado por Clorinda, e não pensasse noutra coisa que não fosse ela, e só ela, amanuense começou a meter os pés pelas mãos, errando os trabalhos mais insignificantes que lhe confiavam, tornando-se incapaz até de extrair uma simples cópia.

Junte-se a isto a circunstância de faltar pelo menos uma vez por semana repartição - nos dias em que, metido no carro, suando por todos os poros, trêmulo de impaciência e com o coração aos saltos, esperava que ela entrasse também, para voarem ambos ao miserável ninho das suas poucas-vergonhas.

Algumas vezes Clorinda faltava à entrevista, porque uma circunstância qualquer a impedia de sair de casa. Nessas ocasiões o Chagas passava por tormentos incríveis.

- Ainda nada, ó Maciel? - perguntava de vez em quando ao cocheiro, sempre o mesmo, que o servia naquelas arriscadas aventuras, homem já maduro, pai de filhos, e tão discreto que não encarava Clorinda quando esta apontava ao longe e vinha na direção do carro, protegida pela sombrinha e pelo véu, arregaçando a saia com muita elegância, e apressando os passinhos miúdos, lépida, saltitante como se houvesse saído de casa para boa coisa.

- Nada!

Mas, desde que a via, o cocheiro voltava-se para o Chagas e o avisava:

- Agora!

E o Chagas esperava-a com a portinhola entreaberta.

Um dia Clorinda deu-lhe uma notícia desagradável: o marido tinha mandado colocar em casa um aparelho telefônico.

- É um perigo - observou ela - mas por outro lado é bom, porque posso falar-te quando estiveres na secretaria. Vocês têm lá telefone?

- Naturalmente.
***

Poucos dias depois, estava o Chagas, sentado à sua mesa de amanuense, copiando pela terceira vez um aviso, quando se aproximou dele um contínuo e lhe disse:

- O sr. ministro chama-o.

- A mim?!

- Sim, senhor.

- Ora essa! Você não está enganado?...

- Não, senhor. S. Exª me perguntou: - Há aqui na casa algum empregado chamado Chagas? - Respondi-lhe que sim, ele disse-me: - Pois vá chamá-lo. 

- Que diabo será? - perguntou o amanuense aos seus botões. 

E foi para o gabinete do ministro.

Tremia que nem varas verdes.

O conselheiro, homem enfatuado e rebarbativo, estava sentado à secretária, com as barbas metidas numa papelada que o absorvia.

- Estou às ordens de V. Exª - gaguejou o Chagas.

Não teve resposta.

Dois minutos depois, repetiu:

- Estou às ordens de V. Exª.

S. Exª, sem se dignar erguer os olhos, perguntou em tom áspero: 

- É o sr. Chagas?

- Sim, senhor.

- Estão o chamando no telefone.

E, sempre de olhos baixos, e carrancudo, apontou para o telefone, que ficava a alguns passos de distância, e fazia ouvir o seu impertinente e desrespeitoso tiin-tiin-tiin.

O Chagas sentiu faltar-lhe o chão debaixo dos pés; entretanto, conseguiu aproximar-se do aparelho, e dizer engasgado pela comoção:

- Alô! Alô!

- Quem fala?

- É o amanuense Chagas.

- Ah! Bom! Sou eu, a tua Clorinda. Quem foi o sujeito que falou antes de ti? É um malcriado! Então? Não respondes?

- Não sei.

- Ele disse que era o ministro.

- Era. Que deseja a senhora?

- Por que me tratas por senhora?

- Não posso dizer neste momento!

- Por quê?

- Por... por nada... estou muito ocupado... a ocasião é imprópria.

- Já não me amas?

- Sim!

- Como sim? Já não me amas?

- Não... isto é, não posso... Diga o que deseja.

- Estás zangado comigo?

- Não.

- Então dize: não estou zangado e amo-te!

- Isso não posso. Depois explicarei por quê.

- Não vás amanhã: o Barroso faz anos e janta em casa... eu não me lembrava... mas dize ao menos que ainda me amas!

- Não posso agora.

- Por quê?

- Depois saberá.

O ministro, sem levantar os olhos da papelada:

- Veja se acaba com isso, meu caro senhor; quero trabalhar!

O Chagas estremeceu, largou das mãos o telefone, que ficou pendurado, e saiu do gabinete fazendo muitas mesuras.

O conselheiro ergueu-se para desligar o aparelho, mas levou o fone ao ouvido e ainda ouviu:

- Que modos são esses? Nunca me trataste assim! Já não me amas! E eu que por tua causa enganei o meu pobre marido! Está tudo acabado entre nós!...

- Tenha juízo, senhora! - bradou o ministro com a sua bela voz parlamentar.

E desligou o aparelho, sem suspeitar que ao mesmo tempo desligava dois amantes.

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

Evaldo da Veiga (Amor, o Canto e o Luar)


Amo bem porque amo o canto
O canto de dizer e o canto de ficar
Canto para o silêncio, outras vezes
Canto meu canto de ficar; canto ainda
Em uma espera de amor sem fim
A espera que gosto de esperar

Ainda bem que gosto do sol e da lua
Do vento que acaricia as ondas do mar
Da chuva que faz carinho e sacia minha sede
Gosto de tudo porque gosto de gostar
Se a lua não vem me acompanham as estrelas
E com elas faço amor de ficar e namorar
Não sou um inconseqüente qualquer, não
Por que amo um tanto de amor sem pecar

Simplesmente sou do amor, somente
E com exclusividade tão plena
Que sem amor aqui vou pra li e lá...
E faço ziguezague até encontrar

Ás vezes também não encontro a lua
Que para brincar se esconde entre nuvens
E lá no alto, bem no alto tenho as estrelas
Para me consolar, bem namorar e amar
Contemplo o céu pensativo
As estrelas serenas e a lua fugidia
Que sublime meu Deus, quero amar
Saudade está chegando, tona ao luar
Tal película, um inambu a voar
Estou no meu ânimo, fico silente
Quero ouvir um nome entre as estrelas
Não terei o que pensar e nem duvidar
Somente o som amor quero escutar

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 678)


Uma Trova de Ademar  

Perdão, palavra bonita 
que se pede, que se implora; 
palavra que é muito dita... 
Mas, só da boca pra fora! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Naquele encontro fatal, 
ao olhar nos olhos teus, 
tive a certeza afinal: 
não era encontro, era adeus! 
–Sônia Sobreira/RJ– 

Uma Trova Potiguar  

Primavera é a natureza 
se revestindo de cores, 
multiplicando a beleza 
nos sonhos dos trovadores. 
–Joamir Medeiros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2009  -  Nova Friburgo/RJ 
Tema  -  SAUDADE  -  M/H 

Ó Saudade, hoje me provas
que és a melhor das amigas,
porque fazes sempre novas
minhas saudades antigas…
–Ercy Maria M. de Faria/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Primavera... Vai-se o estio,
chega o outono. Solitário,
assisto ao cair sombrio
das folhas do calendário...
–Orlando Brito/MA– 

U m a P o e s i a  

Fui atrás da estrela guia 
que brilhava sobre o monte, 
já no entardecer da vida 
buscando a paz do horizonte... 
Na cascata da colina, 
bebi da paz tão divina 
que derramava da fonte! 
–Prof. Garcia/RN– 

Soneto do Dia  

A SEMENTE. 
–Sônia Sobreira/RJ–

Não vou plantar semente que me afaste
da luz perene e clara do luar,
nem vou deixar que a mágoa me desgaste,
ou que me faça em pedras tropeçar.

Não vou deixar que a solidão me arraste
nas tramas de uma história secular,
nem que uma dor no coração se engaste
e esta semente venha a germinar.

Eu vou plantar sementes de alegria
flores vermelhas, rimas de poesia
colher nas mãos um sonho que brotou.

Vou ser poeta e em minha estrada infinda,
mostrar que posso ser feliz ainda
e nunca mais serei o que hoje sou!

Alcéa Romano, Désio Cafiero, Clevane Pessoa e Norália de Mello Castro (Lançamento de Livros dia 29 de setembro)


Alcéa Romano - Mineira de Morro do Ferro / MG, morou em Oliveira e aos 17 anos mudou-se para Belo Horizonte. Trabalhou na área de comunicação, em agência de publicidade, empresas, rádio e televisão. Formada em Comunicação Visual e Gestão de Pessoas. 

Os poemas de Alcéa Romano falam de uma pureza deixada de lado. Sua poiesis resgata a inocência do desejo leal, deixando-nos surpresos a voar com seu homem de asas, anjo ou ser comum com quem nos identificamos. Alcéa Romano está no meio do "redemoinho" de Guimarães Rosa, a movimentar palavras sem medo de vibrar, de verter Vida. A poeta tinge de cor profunda os estágios o(vários) da mulher em busca - indo da criança à adulta fase por meio de aliterações e expressões prazerosas, plenas do necessário encantamento, a pincelar de ternura o existir.“ 
(Rogério Zola Santiago, Mestre em Crítica pela Indiana University, USA) 
Contato: alcearomano@gmail.com> 

Désio Cafiero - Désio Cafiero Filho, reside em Raposos, grande BH, também região das minas. É fiscal e Consultor Ambiental . Publicou textos na Estalo, a Revista e " Garimpando Emoções... É inspirado nessa região minerária em que vivemos. Mas, trata-se do bom garimpo: ao invés de degradar o solo, a água e a vegetação; massageia a alma, o ego, o coração..." 

o poeta, apaixonado,não fica pejado de colocar a nu sentimentos atonados, conforme faz nesses belíssimos versos:”Vã ilusão, malgrado sonho/ até quando deverei perder-me nos descaminhos/sangrar os pés, sufocar anseios/resgatar pesados ônus de um passado, talvez?”....(Clevane Pessoa) 
Contato: desiocaf@yahoo.com.br 

Clevane Pessoa - Clevane Pessoa de Araújo Lopes, escritora e poeta, psicóloga e desenhista, lança seus dois mais recentes livros, Centaura (Editora Pragtmatha-RS) e Lírios sem Delírios (Editora aBrace, Montevidéu/Uruguai) . Premiada no Brasil e no Exterior, iniciou-se na Literatura nos Anos 60, em Juiz de Fora, onde militou na imprensa. Transita livremente por todos os gêneros literários. A autora possui vinte e dois e-books, participa de mais de cem antologias e coletâneas, nacionais e estrangeiras, por premiação, cooperativismo ou a convite. Também é co-autora do compêndio "Adolescência, Aspectos Clínicos e Psicossociais", dos Drs Maria da Conceição de Oliveira e Ronald Pagnocelli (Editora ArtMed-Porto Alegre, RS ) nos capítulos de Homossexualidade e Sexualidade na Adolescência. Escreve e desenha desde a infância. A capa de Centaura traz desenho de seu filho Allez Pessoa .Vem prefaciando , posfaciando e escrevendo orelhas de vários livros, bem como sendo membro de júri em concursos literários. Resume assim sua trajetória: "Vim ao mundo dizer coisas/ /muito mais do que fazer./Mas como faço!...” No momento trabalha em dois livros: um de entrevistas e outro, romance que vem burilando há algum tempo. 
Contato: hana.haruko2@gmail.com 

Norália de Mello Castro - Mineira de Belo Horizonte, reside atualmente na cidade de Brumadinho/MG, é assistente social aposentada e sempre gostou de escrever e engavetar seus textos até publicar o primeiro Livro, “Rede de Pescador”, prêmio do Clube do Livro de 1987. Isto foi um grande estímulo para que outros livros fossem publicados como “Passos da Eternidade” e outros contos, (prêmio Gralha Azul de Curitiba em 1987); “Fios de Prata”, ou a história do Medalhão Azul, romance, menção honrosa no concurso Cidade de Belo Horizonte 1988; “Apenas Viva” (contos e crônicas/ Scortesse/REBRA (2010); participação na antologia Novos Contistas Mineiros, de 1988, antologia Show de Talentos em Prosa e Verso, (REBRA de 2010). É associada da Rede de Escritoras Brasileiras - REBRA desde 2009, e colabora com a revista VARAL DO BRASIL, de Genebra, e participou da antologia Varal Antológico 2 (2012).Prêmio da ABRAMES/RJ - 2011, 1º em conto e 2º em poesia. No prelo tem MOVIMENTOS, poesias. Em elaboração, seu quarto romance. Agora lança o romance "Realidade e Sonhos", com algumas ilustrações em desenho a nanquim, da artista plástica Iara Abreu . 
Contato: namello@yahoo.com.b 

Fonte:
Clevane Pessoa. 

Cecy Barbosa Campos (Poemas sobre a Primavera)


Primavera em Juiz de Fora/MG
INVASÃO 
( 2011- chegou às 2h da manhã ) 

A primavera chegou de madrugada 
e entrou pela janela do meu quarto 
vestida de prateado. 
Enluarando a minha cama 
cobriu o meu corpo insone 
e anestesiou os meus sentidos. 

2012 - chegou antes de meio-dia 

CHEGADA

A primavera chegou
ao final da manhã
sem alarde, discretamente
vestida de cinza.
Esperançosa, aguarda o domingo
com flores que se abrirão
em sorrisos azuis
à luz do sol.

PRIMAVERA EM MIM

Começou a primavera, 
nasceu ontem, é bebê, 
insegura e fragil 
ainda não teve coragem 
de se despir de núvens 
e mostrar o azul. 
Mesmo assim, algo muda 
comemorando o sábado o inverno que existe em mim 
transformado por uma profusão 
de flores e cores. 
De bem com o mundo 
já consigo ouvir 
sua manifestação triunfal, 
com o acorde dos pássaros 
em saudação inaugural.

Fonte:
A Autora

Pedro Du Bois (Poemas)


FUTURO

Não havia o traço esbranquiçado
rasgando o firmamento, nem a britadeira
e o caminhão misturando cimento e areia:

manualmente transportados
manualmente contados
manualmente colocados
blocos de pedras
superpostos
sobrepostos
erguiam paredes
em pequenos arcos
de telhados

sobre o topo o homem
sonhava traços de fumaça
cortando o firmamento.

HÁBIL

Hábil, rabisco verdades: levo o pão
sob o braço, comida faltante na mesa
do pai. Ofereço minha habilidade
desferida em tiros: atiro a esmo
nos cadáveres deixados. Vou
pelo caminho acrescentado
(no bolero reencontro os passos) 
onde me encontro na habilidade
recíproca do renascimento.

FABULAÇÕES

Da desmoralizada fábula 
retiro a lição antagônica 
do ato

fujo em cigarras
jogadas ao vento
na derrubada
da casa

(pela enésima vez
ofereço ao pastor
o lobo despedaçado)

no final da história
retorno em alisadas
frases. Em cada começo
reencontro a farsa.

SUBMISSÃO

Submeto o poder
ao gesto de renúncia

anuncio ao vento
a água fervente
da conversão anímica
dos espíritos corporificados

da renúncia retiro a verdade
escalada em elevados tetos

cubro a história em divisões
estéreis e no consenso
sei do início:

o poder sucumbe ao encontro
no desprazer da morte
em sequência.

A CONCRETUDE DA CASA

A casa se esforça em cumprimentos.
Mimética, esconde fissuras e a parede
desbotada do passado; reafirma cores
inexistentes, ilude; ouve as pessoas 
dizerem da vida lá fora e lembra 
sua construção: a edificação exige 
equilíbrio e graça na modificação 
dos materiais, na sobreposição
das lajes, no colocar tijolos e no cobrir
o corpo em telhado; a casa conhece 
cada pedaço do seu todo: as junções 
vitais dos encanamentos e a energia 
referida ao uso das utilidades.

RUDIMENTOS 

O corpo tosco, ideológico, a bebida 
barata do bar da esquina, o olhar
inerte sobre a toalha: a lembrança
é mortalha viva do intelecto e o longo
caminho percorrido no alongar o físico;
o contato contamina o todo destinado
e aos ouvidos se rebelam sons inaudíveis;
repete o gesto com que bebe o líquido,
repete as vezes despretensiosas da saudade;
reafirma ao homem da outra mesa a incerteza
da sobrevivência: ideológico, destila o humor
esbranquiçado da verdade: o homem ao lado
faz de conta que não é com ele e bebe
aos santos de todos os sábados.

PRÓDIGO

Destraçar o caminho
replantado na grama
sob os passos

desconsiderar o avanço
e retornar em plácido
andar de retomada

esquecer o desenho
mapeado em escuros
tesouros inatingíveis

ser diletante: pai e mãe
a recolocar no alpendre
espantalhos ao espantado
o filho.

Fonte:
O Autor