terça-feira, 3 de setembro de 2013

Marcelo Spalding (A literatura infanto-juvenil que vem de longe)

O livro sobre o qual escreverei hoje é um dos mais delicados, bonitos e profundos textos de literatura infanto-juvenil que já conheci. Por seus méritos literários e humanísticos (que talvez sejam os mais importantes), deveria figurar na lista de compra do MEC, entre os finalistas dos grandes prêmios, nas vitrines das livrarias. Não vai. Possivelmente (e isso é triste como o final da história) terá poucos e encantados leitores, alguns elogios como esse na internet, mas não conseguirá emergir da enxurrada de textos juvenis publicados.

Comecemos, então, por aí. A menina que veio de longe (2012, 82 p.) é o livro de estreia da contadora de histórias Andréa Ilha, professora da rede municipal de Caxias do Sul e moradora de Farroupilha, RS. Num tempo em que livros e mais livros são escritos para vender e distrair, distrair e vender, com histórias repletas de aventura e divertimento, A menina que veio de longe é um livro que faz pensar. Não que as palavras sejam difíceis; os temas é que o são. Difíceis — e complexos — como a vida.

Mas não é por isso que A menina que veio de longe não chegará aos tantos leitores que o amariam. E nem pela ausência de ilustrações internas, num mercado sedento por livros para serem vistos, não para serem lidos. O livro não vai ter o destaque merecido porque Andréa é uma escritora iniciante aqui no canto do Brasil; porque Andréa não faz salamaleques para a imprensa e não assina coluna em jornal; porque Andréa é professora municipal como tantas e trabalha muito; não é modelo, atriz, filha de famoso ou ex-BBB. E, talvez o mais decisivo, por tudo isso o livro foi lançado pela própria autora e não traz em sua capa um selo capaz de negociar com as livrarias, com o governo ou com os prêmios literários.

Sim, leitores, infelizmente em muito prêmios escolhe-se o livro sem ir além das capas (o festejado Portugal Telecom posso dizer que é um deles). E o governo só faz as generosas compras para o MEC das editoras por ele cadastradas (que além de não serem muitas, concentram-se sobremaneira no eixo Rio-SP). Mas aquele que abrir a capa e buscar o texto de Andréa Ilha terá uma das maiores e melhores surpresas que se pode ter no mundo literário: descobrir uma grande história.

A história começa fiel ao título, com a narradora saindo da cidade em que nasceu e vindo para Porto Alegre, cidade da família da mãe. A menina, sabe-se já pela capa, e é dito no começo, é mulata. Mas eis um dos primeiros méritos do livro: isso é uma informação, não o tema da história. A menina é mulata como poderia ser loira ou ruiva.

A mudança de cidade, aos poucos, se revela apenas a ponta do iceberg, consequência de problemas maiores, não causa. E a trama vai se tornando bem mais complexa. Logo no começo, depois de chegarem em Porto Alegre, os pais da menina Dulce partem para tentar a vida no Canadá, deixando a menina com muita saudade e sob cuidados da avó. O incrível é que, aos poucos, percebemos que esses pais não são exatamente os pais dos livros infanto-juvenis, sempre tão íntegros e amorosos e perfeitos. Não, os pais aqui somem, não têm tempo, têm medo, fraquezas. Os pais não são heróis, tampouco vilões. São personagens complexos como os pais de fora dos livros. Vejamos esse trecho em que um amigo de Dulce fala sobre sua família:

"— Sabe o que é, Dulce? — o Vítor saiu falando, com o rosto cada vez mais vermelho, e a voz um pouco trêmula — É que eu fui abandonado pela minha mãe. Quando eu e os meus irmãos, quando a gente era bem pequeno. A mãe conheceu um outro cara e foi embora com ele. Eu até me lembro de ter visto ela saindo com ele, indo embora no carro dele. Eu chorei muito, mas sempre fiquei esperando que ela ia voltar de novo. Mas ela não voltou. E ficamos só com o pai. Mas o pai trabalha tanto, tanto, que quase a gente não vê ele. É muito chato, e eu fico triste com isso, tem dias que eu chego até a ter saudade dele."

É esse realismo sincero e sem melodramas que chama a atenção no livro. Não é o primeiro a fazer isso, claro, mas o faz com leveza, profundidade. A narradora menina é obrigada a lidar com sentimentos e problemas que passam longe de sua idade, mas perto demais de sua casa. E de tantas casas.

Engana-se, porém, quem espera uma leitura pesada. Andréa cria na história um espaço lúdico, um mato fantástico e um ser em forma de cone que convivem sem dificuldades com a narrativa realista, dando um tom de suspense e ajudando sobremaneira nas cenas mais densas. Nesse aspecto lembra filmes como O Labirinto do Fauno ou O Jardim Secreto.

Embora pareça paradoxal, o tom que predomina é de pureza. Tal pureza da narrativa é bem representada, por exemplo, na fala final de Vítor, o melhor amigo de Dulce, uma fala curta que talvez sintetize o grande sonho que todos nós tivemos um dia, e também nossos pais, avós, bisavós, de geração para geração:

"- Nunca na minha vida eu vou precisar de outra pessoa. Eu tenho tu! Quando a gente fizer quatorze anos, eu vou te pedir em namoro pra vó. Ela vai deixar, e a gente vai namorar, e, depois, com dezoito ou dezenove, a gente vai casar. Mas a gente só vai ter filhos bem mais tarde, que é pra gente estudar, se curtir um montão, só os dois, e juntar dinheiro pra ter uma vida bem legal com as crianças. E, daí, a gente nunca, mas nunca mesmo, vai deixar os filhinhos da gente! A gente vai ficar junto com eles, sempre junto, até eles crescerem felizes de serem amados pelos pais bons que a gente vai ser!"

As coisas, nós sabemos, às vezes não saem como o planejado. Mas o final do livro, para um leitor jovem, é reconfortante. E para um adulto, aparentemente previsível. Só aparentemente, porque esse não é o verdadeiro final, já é o epílogo, a corda de um final trágico, porém necessário. Realista.

Nem é preciso dizer que eu quero muito estar errado, quero muito que o livro seja descoberto e distribuído para as tantas e tantas crianças que não têm a família perfeita dos comerciais de TV. É possível que da mesma pena de Andréa saiam outros e outros livros e a obra consiga o merecido destaque nessa geleia geral que virou nossa literatura juvenil. Ou, quem sabe, que essa resenha caia nas mãos de um editor atento e ele pelo menos abra o livro, deixando-se cativar pela simplicidade do texto e emocionar-se pela profundidade da trama.

O problema maior é que A menina que veio de longe é, sem duvidas, apenas um símbolo da quantidade de belas obras publicadas em todo o Brasil que nós sequer conhecemos, já que não são lucrativas para as livrarias (sempre tão sedentas por blockbusters estrangeiros). O que pode estar acontecendo é que temos muitos bons escritores, mas talvez estejam rareando os bons leitores.

Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?cid=707

Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 31

TERCEIRA PARTE


CAPÍTULO I

Rolou um ano sobre o casamento de Teobaldo com Branca, e moram estes agora em Botafogo, naquela mesma casa em que o comendador perecera estrangulado pelo seu amor paternal.

A casa é a mesma, mas ninguém dirá que o é, pois desde a entrada notam-se em toda ela consideráveis transformações. O bom gosto de Teobaldo, aquele gosto aristocrata, herdado com o sangue de seu avô, fez do velho casarão, tristonho e assombrado, um confortável ninho afestoado e tépido. Já se lhe não viram espetar do alto do frontispício as caducas telhas, negras e esborcinadas, por entre cujas fendas se extravasavam longos fios de lama barrenta, choradas sobre o pano da parede, que nem baba por velha boca desdentada. Agora, sente-se ali a mão de quem entra na vida disposto a viver; desde o portão da chácara vão os olhos descobrindo em que se regalar; caminhos de murta, canteiros de finas flores, repuxos, cascatas e estatuetas, globos de mil cores, caramanchões e pequenos bosques artificiais: tudo nos diz que ali reside
agora gente feliz e moça.

As escadas, até aquela mesma por onde Branca fugira ao pai, são hoje mais claras, mais enfeitadas de verdura e, só com vê-as, já se adivinha, já se sente o luxo que vai pelo interior da casa. Pelo esvaziamento da porta principal vê-se perpassar de quando em quando um vulto alto e magro, muito silencioso, vestido de libré cor de Havana com botões de ouro, a cabeça toda branca e o queixo tremulo: é o velho Caetano. E nas salas, que se seguem a essa de espera onde ele espaceia, encontram-se, restaurados e em novas molduras, aqueles célebres retratos de damas e cavaleiros da corte de D. José e D. Maria I, com os quais o defunto Barão do Palmar ilustrara outrora as paredes de suas fazendas em Minas.

Mas onde foste tu, belo boêmio excêntrico e aborrecido, descobrir todas essas tafularias do gosto; donde houveste o desenho de teus tapetes, a esquisitice da tua mobília, das tuas cortinas e de todo esse luxo em que se atufam os teus aposentos?

E tudo obra do dinheiro?

Segundo, porém, dizem todos, não foi tão grande o legado do pobre comendador e o dote de Branca não justifica semelhante opulência. Gastas como um milionário! E, posto te apoderasses da vaga que o desgraçado velho abriu no comércio com a sua morte, a vida que estadeias é um mistério!

Ora queira Deus, Teobaldo! Que não tenhas feito entrada de leão, sem saber ainda com a saída de que bicho hajam de comparar a tua retirada!.

Isto dizia a boca do mundo, todas as vezes que ele e mais a mulher atravessavam a praia de Botafogo ou as ruas da cidade, no seu magnífico landau, tirado por duas éguas de raça.

Estes passeios faziam sempre os dois sozinhos porque Mme. de Nangis, depois de fechar os olhos do defunto protetor e depois de tirar dos próprios as lágrimas que pode recolheu o que lhe tocava de herança, chamou do Banco as suas economias, emalou tudo e bateu para França, naturalmente com a piedosa intenção de tornar ao lado do marido.

A discípula despediu-se dela em seco, com a egoística frieza dos que amam por aqueles que não são o objeto do seu amor.

Branca era então feliz como seria qualquer moça nas suas circunstâncias, quer dizer, estava na lua-de-mel e não tinha perdido ainda para o esposo o encanto da novidade; Teobaldo cercava-a de carinhos e desvelos, procurava afinar os seus gostos pelos dela, fazia-se bom, cordato, muito amigo de sua casa, muito escrupuloso na escolha das pessoas que atraía às suas reuniões de cada semana.

E toda ela se embelezara de um modo admirável; toda ela se fez mais formosa, mais mulher; carnearam-se-lhe os braços e o colo; a garganta refez-se em doçuras de curva e torneamento de linhas; os olhos volveram-se mais rasgados, mais ternos e mais doces; a boca abriu as suas pétalas cor-de-rosa ao calor dos primeiros beijos do esposo, como a flor que desabotoa ao fecundo sopro das brisas fecundas.

Entretanto, um ligeiro véu de tristeza, talvez devido à morte do pai, talvez devido à sua própria ventura que, de tão completa não podia durar muito, lhe anuviava a beleza, fazendo-a todavia realçar ainda mais, à semelhança dessas formosas paisagens que mais lindas se tornam quando o crepúsculo derrama sobre elas a melancolia de suas primeiras sombras.

Não se conseguiria imaginar dois seres mais aparentemente afinados, mais completos entre si e mais adequados um ao outro! Se os contemplassem juntos, na intimidade do amor, diriam talhados no mesmo bloco de mármore pela mão inspirada de um só artista.

— Mete gosto, consideravam os amigos — Vê-los em meio dos seus convidados, tão amáveis, tão espirituosos e tão fidalgos.

E em breve as reuniões de Teobaldo tornaram-se disputadas; velhos ódios se extinguiram e novas simpatias se formaram em torno dele. Um dos mais acérrimos freqüentadores da casa era o Aguiar. Depois do casamento da prima, fora ao encontro do amigo. declarou que estava disposto a esquecer tudo e caiu-lhe nos braços, muito comovido.

E continuou a ser aquele mesmo "bom rapaz", insuportavelmente bonito, sempre risonho e sempre feliz de sua vida e com aquele eterno ar de quem faz da roupa uma das suas melhores preocupações. Achar-lo-iam talvez um pouco mais magro e mais descorado; chegariam talvez a dizer que ele, depois que a prima casou, envelheceu uns cinco anos pelo menos; mas ninguém em consciência afirmaria que o vira um só momento mais triste do que dantes ou menos expansivo. Ao contrário, nunca pareceu tão bem disposto de gênio.

É verdade que muita vez o surpreendiam com os olhos pregados em Branca, a fitá-la, como se a vira pela primeira vez; mas que podia haver de extraordinário em semelhante coisa, se a formosa senhora prendia a atenção de quantos se aproximavam dela?

Outra pessoa com quem não contara Teobaldo e que lá ia constantemente, era o velho Hipólito, marido de D. Geminiana.

Todo o seu azedume contra o sobrinho desaparecera, desde que o bom homem se convenceu de que não seria jamais incomodado por ele. Quando lhe chegou aos ouvidos a notícia do casamento, dissera:

— Ora, sim, senhor, até que o demônio do rapaz fez uma coisa com jeito! Perdôo-lhe tudo e hei de visitá-lo sempre que for à corte.

E, como já então as estradas-de-ferro facilitaram essas viagens, Hipólito consentia em levar a mulher a visitar o sobrinho. Outro, que também brigara com Teobaldo e que agora o freqüentava, era o Sampaio, o seu ex-correspondente. Esquecera-se da antiga rixa com o vadio estudante e decidira-se a reatar a consideração que dantes lhe dedicara.

Teobaldo encarava tudo isso com verdadeiro orgulho, sem que aliás ninguém de tal desconfiasse. Sentia-se vitorioso, não pelo dinheiro, que esse muito pouco lhe podia lisonjear o amor-próprio, mas pelo bom resultado dos planos que ele concebera para chegar a seus fins.

Consistia o seu sistema no seguinte: desde que a inesperada morte do comendador lhe fez ver quão magra era a fortuna de Branca, o seu primeiro cuidado foi esconder de todos a verdade e manter a ilusão em que se achavam a respeito dos bens do morto; o que não podia ser muito difícil nas circunstâncias especiais em que falecera o velho. Então, para melhor cegar ao público, Teobaldo tomou da metade do que lhe trouxe a mulher e dedicou-a exclusivamente ao luxo, reservando a outra metade para o comércio.

— As aparências são tudo! Considerava ele, ainda dominado pelas teorias paternas. Julguem-me rico e hão de ver se em breve o não serei de fato!

E, durante todo o seu primeiro ano de casado, fez prodígios de especulação comercial só com a parte do dinheiro que escapara à ostentação e mais a pequena prática adquirida ao lado do comendador. Apenas Branca e o Coruja sabiam destes particulares, porque até aos próprios sócios sobreviventes ao velho Aguiar conseguiu o mágico iludir, fazendo-lhes  supor que, além do capital com que jogava na praça, dispunha ele ainda, como fundo de reserva, de um dote imaginário que pertencia à mulher.

O caso é que o pouco parecia muito e, como no comércio o crédito é dinheiro, não eram de todo infundadas as esperanças que ele depositava no seu sistema de vida.
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continua...

domingo, 1 de setembro de 2013

Mensagem em Imagens 3 - John Turner e Geoffrey Parsons


Manuel Alegre e António Portugal (Trova do Vento que Passa)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Fonte:
http://delta4.no.sapo.pt/malegre13.html
Imagem = http://cronutopia.blogspot.com.br/2013/06/a-mulher-que-conversava-com-os-ventos.html

Dicas Multiplub para Escritores (Vai submeter seu original à editora? Revise antes!)

É complicado dizer se um livro é bom ou ruim. É sempre mais fácil dizer que não é bom e pronto. Sobretudo quando os “escritores” não sabem escrever.

E não estamos falando aqui de norma culta e nem demais frescuras semânticas aliteraralizadas de pseudo-coloquialismos. Estamos falando da Língua Portuguesa corrente, ou melhor: Língua Brasileira tal qual nós falamos e lemos no dia a dia e temos acesso nos jornais, nos anúncios (salvo a “excessão” das propagandas com os erros intencionais). Estamos falando do básico do básico: o bom senso.

Os escritores tem grandes ideias. São geniais. Alguns são bons até em copiar. Copiam Harry Potter, Senhor dos Anéis, Trilogia Eclipse, Game of  Thrones, copiam até Jorge Amado, Machado, Graciliano, e isso não só nas ideias, nas passagens, nos traços, nas palavras e nos termos: copiam nos defeitos.

Tudo bem, nada se cria, tudo se copia – sendo a melhor obra aquela que copiou melhor sem dar bandeira de ter sido copiada. Shakespeare e Goethe foram grandes copiões, sobretudo do povo, do folclore e tem até hoje o título de gênios autores de obras primas.

Mas todos os grandes nomes que citamos acima tem uma coisa muito importante em comum: eles sabiam escrever. Antes de qualquer coisa: eles entendiam que a palavra é uma faca de vários gumes.

E daí veio a internet. Veio o Word, e depois o Google Tradutor. Daí todos os que sabem apertar algumas teclas no teclado acham que sabem escrever (ou pior: não acham nada, pouco importa saber ou não). Basta ir lá no botãozinho e clicar para corrigir o texto.

Seria bom se tudo fosse levado à excelência com um simples botão. Este débil texto aqui, cheio de erros e equívocos, sairia bem melhor. Mas isso não rola no mundo real, fora das telas dos computadores.

Acontece muito de um editor receber um livro bem, de braços abertos, e nem chegar a ler a segunda página. Logo na primeira linha os erros agridem seus olhos de tal forma que torna-se um sacrifício continuar a ler. Ele até tenta, mas a cada novo erro passado com os olhos a palavra certa buzina em sua mente, e ele vai prestando mais atenção nos erros do que na obra, assim como um professor faz ao avaliar o trabalho de um aluno.

Portanto, amigo(a) escritor(a): aprenda a escrever. Aprenda a usar a Língua Portuguesa. Não precisa ser expert. Não precisa escrever de acordo com a ABNT (isso nem existe) , apenas: escreva de um modo a ser entendido.

E COMO FAZER ISSO?

Contrate um revisor ou um leitor! Ele fará uma leitura crítica sobre a sua obra, passando a lê-la assim como um editor faria, só que fornecendo um feedback expressivo do que está bom ou ruim de acordo com o que você pretende. Não estamos aconselhando: “já que você não escreve bem, contrate alguém que faça isso”. Não, estamos aconselhando você a aprender a escrever suas ideias geniais e depois ir consultar um profissional, até para poder entender o que ele for te diagnosticar e te indicar a fazer com a sua obra.

 Um revisor você pode contratar aqui e um leitor aqui por um preço camarada que não passa de R$ 200,00.

COMO APRENDER A ESCREVER?

Não pague uma fortuna em cursos e aulas particulares. Vá até o sebo mais próximo e compre livros de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries. Simples assim. Leia cada livro, faça cada um dos exercícios. Com menos de R$ 30,00 e em até 6 meses você saberá escrever bem e descobrirá coisas muito legais e importantes como: concordância, vozes passiva e ativa, predicado, sujeito, e outras até mais complexas, como os advérbios.

Isso é o básico, como dissemos, e você até pode dar risada e achar que já sabe e até que nem precisa saber disso, mas acredite: você precisa. Um escritor que não sabe como escrever é como alguém que tem a direção para onde ir mas que não sabe o caminho.

Fonte:
http://publicarumlivro.com/artigos/vai-submeter-seu-original-a-editora-revise-antes/

Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 30

CAPÍTULO XXII

Às nove horas da noite Teobaldo partira para Botafogo dentro de um cupê, em cuja boléia o Coruja e mais o Sabino empertigavam-se denodadamente como se foram legítimos cocheiros.

Era para ver o grave professor enfronhado naquela libré já russa, de botões enverdecidos de azinhavre, e todo austero, inalterável, possuído da mesma gravidade com que se assentava ao lado da noiva ou recolhia na aula as lições dos seus rapazes.

Não se lhe desfranzira o sobrolho, nem lhe fugira dos lábios a triste rispidez favorita, como também os seus pequeninos olhos mal abertos conservavam aquela dura expressão antipática e sem graça, que a todos desagradava e repelia. Pelas aproximações da casa do comendador o carro seguiu mais lentamente e abordou-a pelos fundos, sem se lhe ouvir o rodar, porque a rua era de areia.

A certa altura, Teobaldo segredou uma palavra ao amigo, saltou em terra e dirigiu-se para o portão traseiro da chácara; aí escondeu-se atrás de uma árvore que havia e assoviou três vezes. Só no fim de alguns minutos um leve rumor de saias fê-lo compreender que alguém se aproximava.

— Teobaldo... Disse uma voz medrosa e tímida.

— Estás pronta?

E ele viu desenhar-se na escadaria de pedra, frouxamente iluminado pelas estrelas, o gracioso vulto de Branca. Ela desceu trêmula e confusa, apoiando-se ao corrimão engrinaldado de verdura, a olhar espavorida para todos os lados, até chegar embaixo.

— Vem, disse Teobaldo a meia voz.

— Tenho medo... Balbuciou a menina, encostando-se ao pilar da escada, sem ânimo de dar um passo em frente.

O rapaz abriu cautelosamente o portão e foi ter com ela.

— Não tenhas receio, minha Branca, segredou-lhe, passando-lhe um braço na cintura. — Lembra-te de que, se não aproveitarmos esta ocasião, nunca mais seremos um do outro. Dei já todas as providencias: uma família espera por ti e ao raiar do dia estaremos casados. Vem! Nada de hesitações, vem, antes que nos surpreendam aqui.

— Vê como estou gelada... Balbuciou ela, pousando a sua mãozinha fria sobre o rosto do namorado. O coração parece que me quer saltar de dentro do peito... Oh! Não pensei que me custaria tanto a dar este passo...

Teobaldo puxou-a brandamente até à rua e, com um sinal, fez aproximar-se o carro, para onde ele a levou nos braços.

— Deus me proteja!... Suspirou Branca, deixando--se cair sobre as almofadas, como se perdera os sentidos.

— Toca! Ordenou o raptor ao Coruja.

O carro disparou. Então a menina deixou pender a cabeça sobre o colo do amante e abriu a soluçar.

D. Margarida e a filha esperavam por eles.

Não foi, porém, sem dificuldade que o Coruja logrou capacitar a velha de que não devia fugir a semelhante obséquio, e é de crer que ela cedesse mais por espírito de curiosidade do que pelo simples gosto de servir ao futuro genro: aquilo, afinal, era um escândalo, e a mãe de Inês dava o cavaquinho pelos escândalos.

Branca chegou lá às dez e meia da noite, e D. Margarida, ao dar com o Coruja muito sério e disfarçado em cocheiro, exclamou benzendo-se — Credo, seu Miranda! Que trajos são esses, homem de Deus?

Teobaldo despediu o carro, fez servir uma ceia que mandara trazer do hotel e ordenou ao Sabino que tornasse a Botafogo e ficasse até pela madrugada a rondar a casa do comendador, para ver se haveria alguma novidade. Puseram-se todos à mesa e, a despeito da crescente aflição da foragida, riram e conversaram, sem cuidar nas horas que fugiam, porque estavam mais que dispostos a passar a noite inteira na palestra e na bisca de sete.

— Vê!... Disse Margarida, dirigindo-se a André e apontando para Branca e Teobaldo, que alheados conversavam juntos, quando a gente quer as coisas deveras faz como aqueles...

O Coruja remexeu-se ao lado de Inês, e a velha acrescentou:

— E note-se que estes para casar topavam outras dificuldades que já o senhor não encontra para casar com minha filha!...

— O meu caso é muito diferente... resmungou por fim o Coruja — mas muito diferente... Quanto a mim, não se trata de vencer oposições de família; trata-se é de obter os meios necessários para que a senhora e sua filha não venham a sofrer dificuldades depois do meu casamento...

— Ora! Quem tudo quer, tudo perde!

Teobaldo interveio a favor da velha, aconselhando ao amigo que acabasse por uma vez com aquela história, que se casasse logo com a moça, e, depois de apresentar em linguagem colorida as vantagens do matrimonio, fechou o discurso oferecendo a sua casa e a sua mesa ao amigo, apesar de não saber ainda onde havia de se refugiar com Branca depois que a igreja os tivesse legalmente unido.

André abanou as orelhas a tais palavras.

— E por que não? insistiu o outro — não temos porventura conseguido viver juntos até hoje e em perfeita harmonia?... Para que havemos, pois, de separar-nos daqui em diante...

— Para não termos o desgosto, contraveio André, de vermos nossas famílias em guerra constante. Dois rapazes viverão eternamente em boa paz debaixo do mesmo teto; com duas senhoras a coisa é mais difícil e com mais de duas é impossível.

— Agora, isto é exato... Confirmou a velha.

— É! Arriscou Inês — Quem casa, quer casa!...

Mas declarou logo que, apesar disso, estaria por tudo que deliberassem.

— Pois eu, replicou Teobaldo, afianço desde já que não estou disposto, seja pelo que for, a dispensar a companhia do Coruja, ache-se ele casado, solteiro ou viúvo!

— Se sua mulher ou a dele estiverem por isso!... Observou a velha, já em tom de contenda e disposta a armar questão.

— Ora! D. Inês não me parece das mais difíceis de contentar... Disse Teobaldo sorrindo.

— Ah! Eu estou sempre por tudo... Confirmou Inês.

— E quanto a Branca... Prosseguiu aquele.

— Desde que me case, atalhou a filha do comendador. — Serei sempre da opinião de meu marido. Só a ele compete decidir.

D. Margarida, pela cara, mostrou não gostar de semelhante teoria; mas a filha em compensação por uma risonha careta que fez ao Coruja, deu a entender que subscrevia as palavras de Branca.

E por este caminho, a conversa deu ainda algumas voltas, até cair de novo no principal assunto: — o rapto, e, às cinco da manhã, quando se dispunham a levantar o vôo para a igreja, ouviram bater à porta da rua.

Teobaldo foi logo abrir.

Era o Sabino. Vinha a botar os bofes pela boca, e com muito custo declarou que estivera por um triz a cair nas unhas da Polícia.

— Mas fala por uma vez! Disse-lhe o senhor impacientando-se. — Houve alguma novidade?

— Já se sabe de tudo na casa do homem! Explicou o moleque.

— O diabo!

— Ali pela volta das três horas, prosseguiu aquele, ouvi rumor dentro da casa, e, com poucas, era gente a passar com luz para uma banda e para outra, assim como coisa que caçassem alguém; eu me escondi na rua, atrás de uma árvore; eles desceram à chácara, deram com o portão aberto e, pelo jeito, toparam um lenço ou coisa que o valha, porque tudo ficou assanhado!

— E depois?

— Depois vieram á rua, não me bisparam e, tudo seguiu outra vez para riba, e aí foi um berreiro de todos os diabos, que nem se tivesse morrido alguém.

— Mas que teria sucedido, não sabes?

— Não sei não senhor, porque vim me embora...

Embalde procurou Teobaldo esconder de Branca o que acabava de ouvir: foi preciso dizer-lhe tudo, e ela desde então pôs-se a chorar, dominada por terríveis apreensões.

Daí a algumas horas boquejava-se em toda a cidade que a filha do comendador Rodrigues de Aguiar fugira de casa com um vadio de marca maior chamado Teobaldo, o qual a desposara clandestinamente às cinco e meia da madrugada na igreja de Santana; e que o pai da moça, assim que eu por falta desta e quando soube quem era raptor, caíra fulminado por uma congestão cerebral, morrendo logo em seguida, sem dar uma palavra.

Bem dizia o Aguiar que o homem, se lhe chegassem um charuto aceso à ponta do nariz — Estourava. E, com efeito, estourou.

FIM DA SEGUNDA PARTE

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continua…

1a. Edição da Festiva - Festa da Escrita Criativa na PUC-RS (2 a 6 de setembro)

Evento acontece de 2 a 6 de setembro; Diego Grando, Luís Roberto Amabile, Reginaldo Pujol e Rodrigo Rosp são alguns dos escritores participantes

A Iª Festiva – Festa da Escrita Criativa é uma iniciativa inédita dos alunos do curso de Escrita Criativa da PUCRS. Em uma semana de debates sobre o tema, serão cinco mesas, que contarão com a presença de escritores. O objetivo do evento é promover a área de Escrita Criativa e incentivar discussões em volta da criação literária e da vida do escritor.

A Iª Festiva – Festa da Escrita Criativa acontece de 2 a 6 de setembro (segunda a sexta), com mesas diariamente das 18h às 19h, na sala 305 da Faculdade de Letras (FALE) da PUCRS.

Desde 1985, quando Luiz Antonio de Assis Brasil começou a ministrar uma oficina de criação literária, a Escrita Criativa na PUCRS firmou-se como um reconhecido celeiro de escritores. A hoje famosa oficina continua; além dela, a Escrita Criativa tornou-se uma área de concentração no Programa de Pós-Graduação em Letras, com opções de mestrado e doutorado – únicos em todo o Brasil.

Os cursos da área de Escrita Criativa não apenas qualificam alunos que tenham interesse em seguir a carreira de escritor, dramaturgo, roteirista, mas também atraem autores já publicados e reconhecidos, que chegam em busca de um espaço de discussão sobre o fazer literário.

Inspirada em outras festas que celebram a literatura pelo mundo afora, a Festiva pretende abrir um debate inédito e dar espaço para que o público conheça os autores da Escrita Criativa. O evento é organizado pelos escritores e alunos Luís Roberto Amabile, Moema Vilela e Rodrigo Rosp.

Iª FESTIVA – FESTA DA ESCRITA CRIATIVA

ONDE: Faculdade de Letras (FALE) – PUCRS
QUANDO: 2 A 6 de setembro, das 18h às 19h
Entrada franca e aberto ao público.
www.festivapuc.wix.com/festiva

PROGRAMAÇÃO

2/9 (segunda)
A FORMAÇÃO DO ESCRITOR NA PRÁTICA – E NA TEORIA

Entre oficinas, mestrados, leituras e saraus: escritores debatem modos de aprimorar a escrita.
Moema Vilela, Reginaldo Pujol Filho e Eduardo Cabeda (mediação).

3/9 (terça)
LIBERDADE DO VERSO, NECESSIDADE DO POETA

Uma reflexão sobre a técnica e a pulsão. Afinal, o que é fazer poesia hoje?
Diego Grando, Daniela Damaris e Natasha Centenaro (mediação).

4/9 (quarta)
ALGUNS MEIOS PARA LEGITIMAÇÃO DO ARTISTA

A experiência de jovens autores em concursos e editais que movimentam o sistema literário.
Guilherme Castro, Patrícia Silveira e Natalia Borges Polesso (mediação).

5/9 (quinta)
A DISTÂNCIA NÃO EXISTE PRA QUEM AMA (A LITERATURA)

Mudar de cidade, deixar o emprego, largar tudo: um papo com autores que cruzaram o país para estudar Escrita Criativa.
Davi Boaventura, Luís Roberto Amabile e Vanessa Sila (mediação).

6/9 (sexta)
O QUE NÃO É DITO EM SALA DE AULA

Novos aspectos de mercado, de gêneros, o escritor profissional e os desafios de fazer literatura no século 21.
Cristiano Baldi, Rodrigo Rosp e Juliana Grünhäuser (mediação).

Fonte:
http://concursos-literarios.blogspot.com

sábado, 31 de agosto de 2013

Mensagem em Imagens 2 - Machado de Assis


Alfredo Santos Mendes (Livro de Sonetos)

PLAGIADORES

Há poetas que sabem enganar.
Pois nasceram eternos fingidores!
E fingem serem grandes escritores,
Mas palavras de outros, vão buscar!

Já dissera Pessoa, a versejar:
Que chegava a fingir que suas dores,
Das quais ia sentindo seus horrores,
Eram dores, que fingia acreditar!

Por isso muita gente anda a fingir,
Que escreve nos poemas seu sentir,
E orgulhoso os lê, à descarada!

O seu fingir é forte, tem poder!
Que consegue a si próprio fazer crer,
Que não é poesia plagiada!

A MEIA LARANJA

Senti meu coração alvoraçado,
Bater desordenado no meu peito.
Impávido fiquei! Fiquei sem jeito!
Que raio o pôs assim em tal estado?

Olhei em meu redor, desconfiado.
Senti-me desolado, contrafeito!
Por não compreender, a causa efeito,
Que o pusera a bater descontrolado!

Tive depois, a estranha sensação.
Que me tinham aberto o coração,
E dentro dele, alguém se aboletava!

Aos poucos o meu ser se aquietou.
Pois percebeu, que o ser, que se alojou…
Era a meia laranja que faltava!

ADEUS JUVENTUDE

Depois da juventude ultrapassada,
a vida passa a ter outro sentido.
E todo o aprendizado adquirido,
Será o nosso guia de jornada!

Teremos pela frente, tudo ou nada.
Qual deles será de nós, o nosso adido?
Será que ficaremos no olvido?
Nossa porta estará sempre fechada?

Há que sorrir em cada despertar.
E nunca esquecer de comentar:
que há mais um dia todas as manhãs!

E quando já passados muitos anos,
não devemos chorar os desenganos,
mas olhar com orgulho nossas cãs!

AGRADECIMENTO

Eu agradeço a Deus tanta ventura,
que orna a minha vida, o meu caminho!
Não deixar que em meus pés, um só espinho,
os façam fraquejar pela tortura!

Enfeitar os meus dias, de ternura,
rechear minhas horas de carinho!
Nunca deixar, que ficasse sozinho,
em triste solidão, torpe amargura!

Obrigado meu Deus, pelos amigos,
que me abraçam, me livram dos perigos,
e que por Ti, estão ao meu dispor!

A todos que me dão tanta amizade,
eu desejo a maior felicidade,
muitas graças de Deus, e muito amor!

AMAR O PRÓXIMO

Amar sem condição, amar somente!
Abrir o coração ao semelhante.
Fazer do nosso amor, uma constante,
E nas horas amargas, ‘star presente!

Amar sem condição, devotamente.
Amar só por amar, ser tolerante.
Com o próximo, não ser arrogante,
P’ra com seus impropérios, indulgente!

Tratemos toda a gente tal e qual.
Com a mesma ternura, e modo igual,
Como gostamos nós de ser tratados!

Se estendermos a todos nossas mãos!
E fizermos vivência como irmãos!
Por certo nós seremos mais amados!

CANÇÃO NAVEGANTE

Compus uma canção, lancei ao mar!
Pedi-lhe humildemente que a levasse!
E em caso de procela a amparasse,
Para nenhuma estrofe se afundar!

Às estrelas pedi para a guiar,
Ao luar que o seu rumo iluminasse.
A Neptuno roguei, que não deixasse,
De a um porto seguro a acompanhar!

Eu sei que alguém espera esta canção.
Terá seu peito arfando de emoção,
P’ra ouvir a melodia, e seu cantar!

Meus versos, um a um recolherá!
Seu peito generoso se abrirá,
Para nele a canção se aboletar!

CORAÇÃO AMANTE

Fui fazer um electrocardiograma.
Quis o meu coração compreender!
Saber se ele alterou o seu bater,
Quando se apercebeu quanto te ama!

Teria lá ficado a dita chama,
A crepitar no peito, sem se ver,
E ficará teimosamente arder…
Numa severidade desumana?

As agulhas da máquina vibraram.
Nas folhas de papel elas deixaram,
Um tracejado torto, transversal!

Diz o cardiologista, meio sem jeito:
Você tem a pular dentro do peito.
Um coração amante sem igual!

DEUS QUEIRA

Ficar sem ti, amor, será meu fim.
Não irei suportar tua partida.
És um órgão vital na minha vida…
És um gene que faz parte de mim!

És parte do meu corpo…tu és, enfim,
A fonte alimentar mais requerida.
Não podes fraquejar, sê aguerrida…
Não aceites a morte e o seu afim!

Não permitas que ceifem teu viver.
Minha vida darei para te ter,
Sempre juntinha a mim, à minha beira!

Mas se eu te vir partir para o além,
Mais nada neste mundo me detém,
Breve irei ter contigo, assim Deus queira

DIREITOS HUMANOS

Cortaram meu cordão umbilical!
Fiquei um ser liberto nesse dia!
Foi como receber a alforria…
O ter deixado o ventre maternal!

A vida não seria mais igual!
O conforto uterino acabaria!
Seria mais um ser que enfrentaria…
A crueza de um mundo desigual!

Iria ser exposto à crueldade!
Teria de enfrentar a sociedade,
Aonde proliferam seres ufanos!

Teria no futuro, de gritar:
A todo aquele que gosta de humilhar.
Senhor, respeite os direitos humanos!

  FLOR SEM PECADO

Queria ser teu par, na dança ardente.
Ser chama que desperta tua alma.
Serpentear teu corpo em doce calma,
E beijar tua boca, avidamente!

Quero ouvir-te dizer em voz plangente:
Devora meus desejos, me acalma.
Aperta-me em teus braços, me espalma…
Seremos sintonia eloquente!

Eu ficarei braseiro nos teus braços.
Resistirei a todos os cansaços,
Em apagar o fogo que te envolve!

Teu corpo junto ao meu, jamais se inflama.
Não vai haver por certo alguma chama,
Pois teu beijo de amor, tudo resolve!

FRENESI

Semicerrei os olhos p’ra não ver,
A luz que teu olhar irradiava.
Eu receei o brilho que emanava,
E o frenesi que via, transparecer!

Teu corpo sedutor me fez tremer,
Pois tua formosura me ofuscava.
O teu porte de deusa dominava…
Ali fiquei refém do teu poder!

Miríades de estrelas te envolviam.
Meus lacrimantes olhos não te viam…
Perante o esplendor do teu olhar!

Cerrei de novo os olhos p’ra não ver!
Chorei por teu amor não poder ter,
Ceguinho por amor irei ficar!

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A. A. de Assis (Revista Virtual Trovia - n. 165 - setembro de 2013)



            Eu amo a vida, querida,        
com todo o mal que ela tem,
só pelo bem - que há na vida,
de se poder querer bem.
Anis Murad
 

És rico... Mas que tristeza,
  tens vazio o coração... 
Não ter amor é pobreza
mais triste que não ter pão.
Jesy Barbosa

Tua visão permanece
no meu olhar. Não fugiu.
O lago nunca se esquece
da estrela que refletiu.
Raul Serrano

Não me chames de senhor
que não sou tão velho assim,
e ao teu lado, meu amor,
não sou senhor... nem de mim!
Rodrigues Crespo

 
Foi um choque e muita mágoa
para quem acreditou:
a tua barriga d'água
com nove meses chorou...
Edmar Japiassu Maia – RJ

– Não tem perigo, mãezinha,
meu noivo é como um bebê...
– Eu acredito, filhinha:
eu não confio é em você!
Heloisa Zanconatto – MG

Sai do bar – e já sem prumo –
tropeçando, cuca em brasa,
pergunta, todo sem-rumo:
– “Onde mora a minha casa?”
Héron Patrício – SP

Da sua casa ao cartório
apenas um quarteirão...
Dada a preguiça, o casório
se fez por procuração.
Lucília Decarli – PR

Um sujeito extravagante
com “cc” meio bodoso
bebia desodorante
para suar mais cheiroso...
Maria Nascimento – RJ

Olhando o escorregador,
palco da infância sem pressa,
filosofa o trovador:
 – Os anos passam depressa!
Olympio Coutinho – MG

Na cozinha, quebra o galho,
mas é tão lerda e pateta
que para poupar trabalho
em vez de “torta” faz reta!
Regiane Ornellas – SP
 

Contra a vontade do amado,
nada faça... e se conforme.
Dizia o velho ditado:
“Quando um não quer... o outro dorme”.
Renata Paccola – SP
Se a justiça, um dia, enfim,
a todos der vez e voz,
Deus dirá  que agora, sim,
mora no meio de nós!
A. A. de Assis – PR

Xadrez? Tenha paciência!...
Amor, não quero jogar;
opto pela transparência
que brilha no teu olhar.
Agostinho Rodrigues – RJ

Do tempo em que tu me amavas
guardo a doçura que vinha
nas uvas que tu passavas
da tua boca pra minha.
Almerinda Liporage – RJ

Enviei aos céus um recado,
Deus não viu o meu apelo.
Porém, se O tenho a meu lado,
para que preciso vê-lo ?
Almir Pinto de Azevedo – RJ

A vida é um laço apertado
que nos tortura sem dó;
e quanto mais amarrado,
mais atado fica o nó!
A.M.A. Sardenberg – RJ

A natureza agredida
não se defende nem xinga,
mas no decorrer da vida
cedo ou tarde, ela se vinga.
Amilton Maciel – SP

Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
poesia em mim fez pousada,
sem ter qualquer leviandade.
Andréa Motta – PR

La medianoche ha llegado
pero no llegas con ella,
pasa el tiempo despiadado
dejando en mi alma honda huella.
Ángela Desirée – Venezuela

Estando nos braços teus,
vítima da ingenuidade,
não lembrei que existe adeus,
vivo agora na saudade!
Ângela Stefanelli – RJ

Felicidade – brinquedo
que todos querem, porém,
se para alguns chega cedo,
para outros tarda ou não vem...
Antonio Juraci Siqueira – PA

Na feirinha da amizade,
de produtos desiguais,
a cebola da saudade
já me fez chorar demais.
Carolina Ramos – SP

No contorno do teu rosto
– flor em forma de buquê –
vejo que tenho bom gosto
de ser louco por você
Clênio Borges – RS

No colo a filha do filho
pela avó é acalentada,
qual noite sem luz e brilho
embalando a madrugada.
Conceição Assis – MG

Pra que possa haver perdão,
estenda a mão o ofensor
ao ofendido – e do irmão
cure a dor com muito amor.
Cônego Telles – PR
 

Los Mandamientos Sagrados
confirman con su nirvana
que a ti estarán hilvanados
para salvarte mañana...
Cristina Oliveira Chávez – EUA

Enquanto me redesenho,
faço o esboço do passado:
quero ver o que mantenho
pra deixar como legado.
Dáguima Verônica – MG

Tinha portas de poesia
e janelas de luar
essa morada que um dia
deixou meu amor entrar.
Delcy Canalles – RS

Ser feliz é ser poeta;
mais feliz, só trovador:
ambos, sendo um só esteta,
dizem tudo com amor!
Diamantino Ferreira – RJ

Deprimida, com saudade,
por saber que foste embora,
só me restou a vontade
de eu mesma jogar-me fora...
Djalda Winter Santos – RJ

Com as “notas” da alegria,
ou “dissonância” sofrida,
Deus compõe a melodia
da partitura da vida.
Domitilla Borges Beltrame – SP
 
É símbolo de confiança
e a tensão nos descontrai
a mãozinha da criança
aninhada à mão do pai.
Dorothy Jansson Moretti – SP

Cada qual com seu quinhão
de tristeza ou de alegria:
bem viver é aceitação
da jornada, a cada dia.
Eliana Jimenez – SC

A mão que vai e que vem,
lenta e triste, num aceno,
pertence ao braço de alguém
que ama e perde, mas sereno.
Eliana Palma – PR

Tenho saudades de mim,
saudades, e eu sei por quê...
do tempo em que fui, enfim,
muito feliz com você!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

As pedras do meu caminho
vou transpondo-as com ardor,
e cada dia um trechinho
vira caminho de amor.
Flávio Stefani – RS

A natureza resiste,
mas a tristeza do monte
é enxugar o pranto triste
dos olhos tristes da fonte.
Francisco Garcia – RN

Todo coração ferido
mostra sua cicatriz...
O sentir sem ser sentido,
o sorrir sem ser feliz!
Francisco Pessoa – CE

Para abrandar desatinos
e a violência dos marmanjos,
Deus põe em nossos meninos
a inocência dos seus anjos!
Gabriel Bicalho – MG

Se o tempo voltasse atrás
e eu soubesse a minha sina
de certeza era capaz
de ficar sempre menina!
Gisela Sinfrónio – Portugal

Vivemos juntos, mas sós.
Nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!
Gislaine Canales – SC

Um sorriso, uma indulgência,
um gesto ingênuo de adeus...
Por onde houver inocência
há um pedacinho de Deus...
J.B. Xavier – SP

Que tu estejas presente,
junto a mim, é o que desejo,
inda que seja somente
o tempo exato de um beijo.
Jeanette De Cnop – PR

Dei a ti meu coração,
muito te amei e te quis.
Se tudo foi ilusão,
não importa, fui feliz!...
João Costa – RJ

Ontem plantaste uma flor
na rocha da solidão.
Hoje dou-te com amor
um postal do coração.
José Feldman – PR

Se a saudade me machuca,
Longe da terra querida,
Eu tenho a impressão maluca
De estar distante da vida!
José Lucas de Barros – RN

O tempo passa depressa
mas, quem diz que eu envelheço?
- cada olhar é uma promessa!
- cada espera... um recomeço!
José Ouverney – SP

Nesta terra, qual tesouro
nos traz só felicidade?
– Não é fama, não é ouro...
É paz, saúde, amizade!
Laérson Quaresma – SP

Benditas fotografias,
que contam fatos passados,
retalhos de alegres dias,
pelo tempo,  costurados!
Lisete Johnson – RS

Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
Luiz Carlos Abritta – MG

À medida que envelheço
mais me dói e sem clemência
o que nunca mais esqueço:
presença da tua ausência.
Manoel F. Menendez – SP

Muito pouco foi preciso
para em Deus acreditar.
No encanto do teu sorriso
eu vejo o céu se espelhar.
Mª Luíza Walendowsky – SC

Existe muita tristeza
que ao rosto jamais aflora,
guardada na profundeza
dos olhos de quem não chora.
Mª Thereza Cavalheiro – SP

A força de uma palavra
semeia uma flor em mim;
palavra, essa pá que lavra
poemas no meu jardim!
Mário Zamataro – PR

Toda trova sintetiza
o que pensa o seu autor;
e, nos versos, simboliza
seus sentimentos de amor!
Maurício Friedrich – PR

Cascatas de paz eleitas
cultivadas no jardim
são rosas brancas perfeitas
que despetalam assim...
Mifori – SP

Revendo porta-retratos,
que o tempo guarda, sem fim,
vejo, nos tempos exatos,
cada pedaço de mim.
Nei Garcez – PR

Tua amizade eu guardei
com muito amor e afeição.
Quando de ti precisei,
fui buscar no coração.
Neiva Fernandes – RJ

No colo do solo bruto,
se a semente é bem tratada,
por prêmio colhe-se o fruto
da esperança ali plantada.
Olga Agulhon – PR

O sonho, eterna magia,
ao retratar o passado,
mostra a doce fantasia
de estar, ainda, a teu lado.
Olga Maria Ferreira – RS

O amor é muito exigente,
jamais tira férias não...
Dia e noite pede à gente
que aos irmãos estenda a mão.
Osvaldo Reis – PR

De que vale o estardalhaço
de quem grita que é cristão,
quando a Bíblia, sob o braço,
não está no coração?
Pedro Melo – SP

O mestre faz da alma um templo
para ouvir nossa oração
e nos mostra que é o exemplo
que ensina qualquer lição!
Renato Alves – RJ

O meu prazer se renova
e a minha alma se extasia
ao perceber numa trova
um canteiro de poesia!
Roza de Oliveira – PR

Ante o terror das queimadas
na floresta, com carinho,
as árvores abraçadas
tentam proteger os ninhos.
Ruth Farah – RJ

Tu lês os versos que eu faço,
e nem sequer adivinhas
o segredo que eu te passo
no espaço das entrelinhas...
Selma Patti Spinelli – SP

Pediste: “Espere, querida”,
no  cartãozinho assinado...
E eu fiquei, por toda a vida,
refém de um simples recado!
Thereza Costa Val – MG

Eu olho a rua e, se o vejo,
a razão já sai de perto.
Fecho a janela... e o desejo
esquece o cadeado aberto!
Therezinha Brisolla – SP

Em meus tempos de criança,
pelas poças, num tropel,
lançava minha esperança,
em barquinhos de papel...
Vanda Alves da Silva – PR

Mesmo em trovas mais dispersas,
por laços universais,
identidades diversas
congregam sonhos iguais.
Wandira F. Queiroz – PR

Assim como a vida soube,
sem dó, romper nossos laços,
a saudade também coube
nos meus braços sem abraços.
Walneide F. Guedes – PR

Minha insensata paixão
passou – transpondo barreiras –
das fronteiras da ilusão
para a ilusão sem fronteiras...
Wanda Mourthé – MG
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Luiz Eduardo Caminha (Poemas Escolhidos)

VELEJADOR

Um barco.
Uma vela (branca).
Uma aragem.
Oceano.

Lá se vai,
o poeta velejador!

Um lápis.
Uma folha (em branco).
Um sopro.
Pensamento.

Lá se vai,
velejando o poeta!

Mar.
Vela.
Folha.
Versos.
Tudo se lhe assemelha!

Um remo.
Um lápis.
Um, quase nada.
Outro, quase tudo.

OUTONO

O compasso da vida
Me abre os olhos,
A bruma cobre,
Densa, silente,
O leito do rio,
A roupagem da mata.

A brisa fresca da manhã,
Faz a pele aquecida,
Contrastar com a natureza,
O calor do corpo, da noite.

A vida,
Parte deste ar outonal,
Desperta alegre,
Aos primeiros raios,
Do astro rei.

Num cochilo do tempo,
De repente,
Como se um hiato houvesse,
A névoa some,
A mata descortina seu verde,
É manhã.

O céu azul límpido,
Perpassa à bicharada,
A onda cálida,
Do novo dia.

A sinfônica dos pássaros,
A voz dos bichos,
A melodia das águas,
Serpenteando a corrida do rio,
Misturam-se ao som,
Barulho da cidade.

O tempo passa,
A tribo humana,
Segue seu passo.
A natureza aguarda,
Como mágica,
A volta do crepúsculo,
O sumir do novo dia.

AMIZADE

Uma estrada que acaba,
Num ponto do horizonte.
Um cais que finda, no infinito
Que é mar,
Um feixe doirado refletido. Do sol.
No oceano sem fim,
Uma canoa, um pescador. Solitários,
Solidários navegam.

Como guia o feixe prateado.
Da lua,
O luar.

Tudo, tudo é infinitude,
Tudo, tudo leva. (Todos).
A algum ponto. Distante.
Horizonte de esperança.

Um fio, como se fosse de espada,
Conduz, passo a passo.
Qual equilibrista,
Na corda de arame.

Certeza mesmo, uma só.
Haverá lá no fim,
Alguém.
Um amigo,
Um abraço,
Um ombro,
Um teto a nos colher.

Amizade.
Um meio?

Um fim.

NATL MENDIGO

Natal lembra um novo rebento,
Esperança que o mendigo sente
Triste alegria que se faz semente
Fé convertida, novo advento.

Natal estrela que lhe alumia
Por mais que lhe sofra a dor parida
Molhe o rosto a lágrima furtiva.
É menino, caminho que nos guia.

Natal é partilha do pão dormido
Que aplaca a fome do desvalido.
É felicidade quase certa.

Até que soe o sino da manhã,
Que volva mendaz a esperança vã.
Sonho vai. O mendigo desperta.

RAÍZES

Que seja ela,
A poesia,
Firme como a árvore.
Embora estática
Finca raízes,
Suga da terra...

E mostra, um dia
Nas folhas e frutos,
A razão que a move.

Que exprima ela,
A poesia,
Como a árvore,
Da seiva, o fruto.
Rabiscos de letras,
Amores e paixões,
No leito virgem, papel,
O seu doce cantar.

Sobretudo,
Que seja ela,
A poesia,
Como a água
Que se move
Corredeira abaixo.
Busca mar oceano,
Onde singram velas,
Horizontes sem fim...

FONTES

Lua cheia,
Estrelas que faíscam,

Sol nascente,
Poente eterno,

Fontes inspiram,
Respiram,
Poesias.

SONHOS

Estás louco poeta?
Queres tu imaginar,
Que o imponderável
Acontece?

Sonha, sonha, oh! Poeta.
Ainda bem que dormes,
Melhor: existes.

E sonhas...
Poesias!

PRENÚNCIO DE VERÃO
Que os ventos de Agosto,
Tão frios cá no Sul,
Tragam breve, a gosto,
O céu de Primavera, azul.

Pássaros a cantar,
Ninhos a fazer, então,
Amores a desbravar,
Prenúncio de verão.

POEMÍNIMO


no
sul
é

frio
que


quiçá
saudade
do
verão

é
tão
frio
que
não

pra
mim
mas

um
bom
surf
prá
pinguim

RODA DE VIOLA

O som,
Enche de romantismo,
O ambiente cálido
Da cantina acolhedora.

Lá está êle,
Cinquenta anos após,
A dedilhar as notas
Que lhe mandam o coração.

Olhos cerrados,
Cabeça inclinada,
Violeiro e Violão,
Misturam-se ao transe,
Da platéia; apoteose.

As mãos,
Aquelas mãos cheias de rugas,
Dedos finos,
Mostram um movimento frenético.

O toque suave,
Compasso a compasso
Sobre as cordas do violão,
Embaraçam solos e arpejos,
Maviosa sinfonia.

A seu lado,
Um copo de cerveja,
Um bandolim afinado,
Uma mesa vazia.

A platéia delira,
Canta contente :
Naquela mesa,
Eles sentavam sempre...

P.S.: Homenagem aos anônimos boêmios, a Jacó do Bandolim e a Velha Guarda, que fizeram da música brasileira, o romantismo, que até hoje, embalou tantas décadas.

Fonte:
http://caminhapoetando.blogspot.com.br/search/label/meus%20poemas

Conhecendo o Mundo Acadêmico (Quais são as diferenças entre monografia, dissertação e tese?)

Muitas pessoas confundem os termos monografia, dissertação e tese. Entretanto, esses erros não se restringem apenas ao significado dos termos e muito menos às pessoas que não estão ligadas à área acadêmica.

É possível encontrar, em alguns programas de pós-graduação, alunos de doutorado defendendo dissertações e chamando-as de teses, o que é algo muito sério.

Uma dissertação não é uma tese de pior qualidade ou mais superficial. Da mesma forma, uma tese não é uma dissertação com mais páginas ou um conjunto de dissertações em um trabalho só. A diferença fundamental não é o número de páginas. É a originalidade.

Monografia

A monografia é um trabalho acadêmico Lato sensu que tem por objetivo a reflexão sobre um tema ou problema específico e que resulta de processo de investigação sistemática. As monografias tratam de temas circunscritos, com abordagem que implica análise, crítica, reflexão e aprofundamento por parte do autor.

Dissertação

A dissertação é um trabalho acadêmico Stricto sensu que se destina à obtenção do grau acadêmico de mestre. Os projetos de dissertação não precisam abordar temas e/ou métodos inéditos. O aluno de mestrado deve demonstrar a habilidade em realizar estudos científicos e em seguir linhas mestras na área de formação escolhida.

Tese

A tese é um trabalho acadêmico Stricto sensu que importa em contribuição inédita para o conhecimento e visa a obtenção do grau acadêmico de doutor. O doutorando deve defender uma ideia, um método, uma descoberta, uma conclusão obtida a partir de uma exaustiva pesquisa e trabalho científicos.

Fonte:
http://www.posgraduando.com/blog/quais-sao-as-diferencas-entre-monografia-dissertacao-e-tese

Maria Inez Fontes Ricco (Projeto de Trovas para uma Vida Melhor. PARTICIPE!!! Prazo: 21 de outubro)

OBJETIVOS E FINALIDADE:

- Incentivar o gosto pela trova e pela participação em concursos culturais saudáveis;

- divulgar valores e princípios humanitários, religiosos e sociais;

- ousar querer uma vida melhor, despertando a capacidade de criação; por meio desta modalidade poética – TROVA;

- descobrir novos trovadores e publicar boas trovas.

Este projeto tem por fim difundir o conhecimento, para uma vida melhor, por meio de trovas, atingindo alunos do ensino básico(GR. 3), e todos os amantes desta modalidade poética. Grupo 1 – Trovadores Consagrados - que tem trovas premiadas(não considerar Menção Honrosa, nem Menção Especial); Grupo 2 – Trovadores iniciantes e/ou não Consagrados - não premiados ainda.

Serão realizados, bimestralmente, um concurso de trovas em nível Nacional e Internacional, por meio da Internet, em língua portuguesa e em espanhol.

Cada Etapa do Projeto é comporta seis Concursos

Apenas uma (01) trova, inédita, por tema e por autor, conforme cronograma.
Endereço de encaminhamento das trovas: mifori14@yahoo.com.br

Cada trova virá com o nome e endereço completo do autor

Já estamos no 2º Concurso - tema: ESCOLA da 4ª Etapa do Projeto DE TROVAS PARA UMA VIDA MELHOR

4ª ETAPA DO PROJETO DE TROVAS PARA UMA VIDA MELHOR

2º CONCURSO DA 4ª ETAPA DO PROJETO: Tema - ESCOLA
de 21/08/2013 a 21/10/2013 – resultado em 20/11/2013

CONVIVENDO EM SOCIEDADE

Vamos desenvolver princípios e valores, por meio de trovas com...

Temas sobre:

A família, primeira célula da sociedade, compete a semeadura dos valores e princípios universais, assim como a ESCOLA , por seu desenvolvimento, reforçando e aprimorando-os, a educação como um todo.

A tomada de atitude, a autenticidade e coerência, no convívio em sociedade, é de suma importância, alem de serem verdadeiros valores, contribuem para a formação dos princípios universais e humanitários.

Apenas uma trova inédita por trovador(a),via Internet, em Língua portuguesa ou em Língua Espanhola

O tema deverá constar da trova:

4 versos setessílabos, rimando o 1º com o 3º e o 2º verso com o 4º, tendo sentido completo.

Enviar para: mifori14@yahoo.com.br

OBS: Após as classificações, as trovas corretas que não atingiram os pontos necessários, serão colocadas em destaque, pois irão para a Ciranda de mesmo nome. As demais trovas, com erros de Portugues (de espanhol) de métrica e sonoridade, sem sentido serão deletadas.

O julgamento da Comissão escolhida é soberano.

(Aquele procedimento anterior, de enviar as trovas com falhas ao autor, para que o mesmo a corrija, tendo seus erros apontados, e assim fazer parte da Ciranda não haverá mais. )
trova:
Tema – ESCOLA
A
B
A
B
Lembrem-se de colocar o grupo:

GR 1 - trovador consagrado(trova premiada - não contar Menção Honrosa nem M. especial)

GR 2 - trovador não consagrado (não premiado) e iniciante

GR 3 - Grupo de língua hispanica - Trovadores concorrendo em espanhol

GR 4 - Aluno da Educação Básica(ginásio e colégio; 1º e 2º grau) e Ensino Médio.

Nome:
Cidade:.........SP - Brasil
Escola que estuda
Idade e série.
E-mail

VENHAM PARTICIPAR DOS CONCURSOS DE TROVAS DA 4ª ETAPA DO PROJETO DE TROVAS PARA UMA VIDA MELHOR

RESULTADO DOS CONCURSO ATUAIS(até o dia 20/08) e ANTERIORES
Neste Endereço e http://www.falandodetrovas/trovas/índice.htm

Guilherme de Azevedo (Alma Nova) IV

foi mantida a grafia original.
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ASTRO DA RUA

Fazia ontem já tarde um nevoeiro espesso.
— Que insónia em mim produz este húmido vapor! -
Eu vinha enfastiado, ou turvo, enfim confesso,
Dos fumos do café, da luz e do rumor.

Um fantástico véu cobria as longas praças;
E o gás ria através da grande cerração
Que em lágrimas descia ao longo das vidraças
E em flocos de alva neve humedecia o chão.

Eu mesmo achava em tudo um tom maravilhoso.
Dispus-me a crer no céu a amar este ideal:
De súbito eis que passa um astro radioso
Luzindo-me através do mágico cendal!
Que vaga exalação ó coisas vis que adoro!
Que belo olhar de Deus, deixai-me assim dizer!
Pelo sulco de luz julguei um meteoro,
Pelo aroma subtil sonhei uma mulher!

Passou porém, fugiu: no fim eis em resumo
A sua breve história! O sonho é sempre assim!
Há cousas que ao passar ainda deixam fumo:
Aquela só deixava um vácuo dentro de mim.

Arcanjos caminhai, que eu espero o grande dia
Da nossa atirou vingança, ó déspotas do céu!
Nossa alma anda algemada à vossa tirania
Mas há de erguer-se a escrava... — Assim dizia eu
E a mesma aparição de novo a deslumbrar-me!

De novo a mesma aurora o espaço a iluminar!
Agora pude vê-la e posso recordar-me
Dos abismos de luz que havia em seu olhar.

O astro vinha envolto em nuvens de escumilha:
De resto era uma fada, eu mais não sei dizer.
Deixava atrás de si um aroma de baunilha
De um louco se abismar de um pobre enlouquecer!

Quem quer que sejas tu, que sejam sempre belos
Teus céus sem vendaval, teus dias sem revés!
Feliz de quem puder beijar os teus cabelos
E aos lábios aquentar os teus pequenos pés!

— Dizendo caminhei. Porém novo prodígio!
Ainda a perseguir-me a mesma aparição
E eu ainda sentia o lúcido vestígio
Que há pouco em mim deixara a outra exalação!

Mas agora reparo, atento na sua chama!
Que olhar tão insolente, o céu não luz assim!
Na gaze que ela arrasta há um debrum de lama,
Na face macerada uns traços de carmim!

Oh! Astro! Enfim conheço a órbita que traça
O teu curso veloz! Bem sei onde tu vais!
Prossegue no teu giro em volta dessa praça
E Deus te dê mais luz e menos lamaçais.

Quando Marta morrer, depois do extremo arranco,
Não tratem de orações;
Desprendam-lhe o cabelo e vistam-na de branco
À moda das visões.

Desejo vê-la então passar desta maneira
Depois de tal revés,
Por entre a chama azul e ténue da poncheira
No fumo dos cafés.

Aquele bom país das pálidas quimeras,
Monotonia azul;
Não temam que ela vá no fogo das esferas
Queimar o véu de tule.

Assusta-a muito o frio, a chuva, o sol dos trópicos
A nuvem triste e vã,
E podem-lhe prender os pés tão microscópicos
As névoas da manhã!

De noite ela virá com seus trajes singelos,
Arcanjo doutros céus,
Nos suspiros febris dos meigos violoncelos
Dizer-nos mal de Deus.

Contar-nos porque foge à doce transparência
Que o céu formoso tem,
Meiga filha gentil da mesma decadência
Que é nossa boa mãe.

Se as lágrimas de luz que chora o firmamento
Em noites de luar,
Ao seu pescoço nu pudessem, num momento,
Cingir-me num colar;

Decerto ela daria ao pálido cometa
E à estrela trivial,
A mesma adoração que dava à cançoneta
Que amou até final!
E à saída do circo, ao astro romanesco,
A noite iria, então,
Contar, ainda a sorrir, o ardor funambulesco
Do lívido truão!

Assim, não quer ouvir aos coros invisíveis
Um hino de enfadar,
Cantado por milhões de arcanos insensíveis
Sem um que a possa amar!

E não lhe esquecem nunca os rápidos instantes
Do que ela amava mais:
— a vida iluminada à luz dos restaurantes
Num sonho de cristais!

Fonte:
http://luso-livros.net/

Curiosidades Multiplub sobre Livros (Publicar livro com uma editora vale a pena?)

Publicar um livro hoje em dia pode ser algo fácil por conta da grande quantidade de ferramentas disponíveis na internet, além de softwares e demais acessórios e meios, só que o mais importante de se publicar é a pós - publicação, e é isso que as editoras ainda podem oferecer aos autores, pois a parte do serviço que garante a compra do livro não é efetiva se feita somente por uma pessoa, com seus canais pessoais básicos, e sim merece um amparo mais institucional.

Além do mais: temos tantas ferramentas, mas todas elas são “fabricadas para serem fáceis de usar” e acabam, com isso, sendo básicas demais, não oferecendo uma funcionalidade tão profissional quanto os bons e velhos: PageMaker, InDesign, Corel Draw e o bom olho do editor, coisas que só uma editora pode oferecer – pois se a prática leva à perfeição: um editor que já editou 100 livros pode fazer melhor do que um escritor que “editou” um ou dois exemplares.
 
A Editora não morreu

Temos tantos sites de self-publishing hoje em dia, mas vejamos que a quantidade de exemplares vendidos nestes sites é incrivelmente desproporcional à chuva de obras que neles são cadastradas diariamente – isso porque as pessoas querem conteúdos direcionados, querem bons livros, e não qualquer livro, e em uma editora: só boas obras entram e só bons livros saem, pois se não: a editora fecha.

Mesmo que bons livros estejam também como self-publishing, o número de pessoas que lê a obra antes dela ser publicada é bem menor (na maioria das vezes: só autor mesmo), e com isso retira-se o processo de lapidação que toda obra merece.
Nasceu uma nova editora

A MultiPlub alia a tecnologia e os meios atuais de publicação com o bom e velho conceito de editora: filtrar, lapidar e publicar bons livros, de todos os gêneros e autores. Só que nem tudo é igual: a editora está aberta somente a autores nacionais, inéditos ou não, e se recusa a “traduzir” autores de fora por acreditar que nossa cultura está mesmo aqui, entre tantos autores aguardando sua obra e oportunidade de publicar.

Portas abertas

Escreveu um bom livro e deseja publicá-lo? Conheça a MultiPlub! (http://multiplub.com.br/)

Fonte:
http://publicarumlivro.com/artigos/como-e-a-publicacao-de-um-livro/
Imagem = http://multiplub.com.br

Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 29

CAPÍTULO XXI

E no entanto, à noite desse mesmo dia, travava-se entre o Coruja, D. Margarida e a filha desta o seguinte torneio de palavras:

— Então, seu Miranda; o senhor decide ou não decide o diabo deste casamento?

— Agora, agora Sra. D. Margarida, é que as coisas vão endireitando e, se Deus não mandar o contrário, pode bem ser que tudo se realize até mais cedo do que esperamos.

— Ora! Já não é de hoje que o senhor diz isso mesmo!

E note-se que, depois que Teobaldo melhorara de circunstâncias, D. Margarida havia abrandado muito a 8spereza de suas palavras para com o futuro genro; isto quer dizer que ultimamente podia André, como no princípio de seu namoro, levar alguns presentes à noiva e mais à velha. Mas, nem por isso, deixava esta de falar às vizinhas, desde pela manhã até à noite, a respeito do célebre casamento da filha, que, segundo a sua expressão, parecia encantado.

— Pois se tu também não te mexes! Gritava ela às vezes, ralhando com a rapariga. A ti tanto se te dá que as coisas corram bem como que não corram. Nunca vi tamanho descanso, credo! Ninguém dirá que és a mais interessada no negócio!

— Ora, mamãe, mais vale a nossa saúde!... Respondia Inês, invariavelmente. O que tem de ser traz força!

— Oh! Que raiva me metes tu quando dizes isso, criatura!

— Mas se é…

— Qual é o que! Cada um que não trate de si para ver como elas lhe saem! Não me tiram da cabeça que, se apertasses um pouco o rapaz, ele talvez até já tivesse aviado por uma vez com isto! Já com a tal história do ensino foi a mesma coisa; tu, tanto remancheaste, tanto te descuidaste, que afinal lá se foi tudo por água abaixo!

— Ora, eu ensino em casa da mesma forma...

— A quatro pintos pelados, que levam aí todo o santo dia a me atenazarem os ouvidos com o "b-a faz bá, b-e faz bé!" Ora; Deus me livre!

— Rendem quase tanto como uma cadeira...

— Mas não são certos. De um momento para o outro podes ficar sem nenhum... Ao passo que a cadeira...

— Mais vale a quem Deus ajuda...

— Sim, mas Cristo disse: "Faze por ti que eu te ajudarei". E é justamente do que não te importas — é de fazer por ti!

Estas conversas acabavam quase sempre arreliando a velha, que por fim lançava à conta do Coruja toda a responsabilidade do seu azedume. Porém o que mais a mortificava era o falatório da vizinhança, era o comentário dos conhecidos da casa, que principiavam já a zombar abertamente do "tal casório". A mezinha está só esperando a idade para casar... diziam eles em ar de chacota, para mexer com o gênio da velha. E conseguiam, porque D. Margarida ficava furiosa; mas não contra aquele e sim contra o pobre André.

Este, todavia, com a regularidade de um cronometro, não faltava à casa da noiva, às horas do costume. Apresentava-se lá com a mesmíssima cara do primeiro dia, sempre muito sério, muito respeitoso e muito dedicado; Inês, também inalterável, vinha assentar-se ao lado dele, enquanto a velha Se postava defronte dos dois. E assim conversavam das sete às dez horas todos os domingos e das sete às nove nas terças, quintas e sábados.

E lá se iam cinco anos em que isto se verificava com a mesma pontualidade. André era já conhecido no quarteirão e, quando ele surgia na esquina da rua, resmungavam os vizinhos de D. Margarida:

— Ali vem o noivo empedrado!

Houve espanto geral em vê-lo passar uma sexta-feira fora das horas costumeiras e muito mais apressado e mais preocupado que das outras vezes. Ia pedir à velha um obséquio bastante melindroso: e, que nesse dia, pela volta das onze, Teobaldo lhe surgira no colégio, com um ar levado dos diabos, o chapéu à ré, o rosto em fogo, para lhe dizer:

— Sabes? Fiz o pedido ao velho!

— Já? Acho que foste precipitado!

— Pois se ele quer enterrar a filha em Paquetá, até que ela se resolva a casar com o primo!

— Mas então?

— Negou-ma!

— Negou-ta?

— Abertamente! Chegou até a contar-me uma porção de histórias, que me fizeram subir o sangue à cabeça!

— Que disse ele?

— Ora! Que eu não estava no caso de fazer a felicidade da filha; que eu era um estróina, um doido; que eu tinha mais amantes do que dentes na boca (foi a sua frase) e que eu, para prova de que não gostava do trabalho, nunca tomara a sério o emprego que ele me dera em sua casa; e que eu entrava sempre mais tarde que os outros; que eu era isto e que era aquilo, e que, ainda mesmo que eu não fosse quem sou, ele não podia me dar a filha, porque já estava comprometido com outro...

— O Aguiar...

— Já se vê!

— E tu, que lhe respondeste.

— Eu? Eu olhei muito sério para ele e disse-lhe: Você sempre é um ginja muito idiota! O velho ficou mais vermelho que o lacre, tremeu da cabeça aos pés, cresceu meio palmo e não pode dar uma palavra, porque estava completamente gago. Então agarrei no chapéu, enterrei-o na cabeça e bati para Botafogo!

— Para a casa dele? Ah! Isto se passou aqui em baixo...

— Sim. Entrei na chácara e fui enfiando até à escadaria do fundo. O acaso protegeu-me; Branca bispou-me da janela e veio logo ter comigo a um sinal que lhe fiz. "Sabes? Disse-lhe, pedi-te ao comendador; ele declarou que por coisa alguma consentirá que eu seja teu marido e jurou que hás de casar com o Aguiar!" Ela pôs-se a chorar. "Tu me amas?" perguntei-lhe. Ela respondeu que me adorava e que estava disposta a tudo afrontar por minha causa. "Pois então, repliquei, se queres ser minha esposa, só há um meio, é fugirmos! Estás disposta a isso?" Ela disse que sim e ficou decidido que hoje mesmo às dez horas da noite eu a iria buscar. Por conseguinte, tem paciência, preciso de ti, pede licença ao diretor e saiamos, que não há tempo a perder.

— Estou às tuas ordens...

— Tens dinheiro?

— Um pouquinho, mas em casa.

— Ora!

— Podemos dar um pulo até lá! Espera um instante por mim; não me demoro.

Durante o caminho, Teobaldo contou mais minuciosamente a sua conversa com Branca e pintou com exagero de cores a opressão que lhe fazia o pai, para a constranger a casar com o bisbórria do primo. Chegados à casa, mal Teobaldo embolsou o que havia em dinheiro, disse ao amigo:

— Bem! Então, antes de mais nada, enquanto eu vou falar ao cônego Evaristo e depois ver se arranjo mais algum cobre, vai ter à casa de tua noiva e pede à velha que consinta depositarmos lá a menina. Creio que ela não se oporá a isto; que achas!

— Não sei, vou ver...

— Pois então vai quanto antes e volta aqui imediatamente. E quase meio-dia, às duas horas podemos estar juntos; iremos então tratar do carro e do resto; depois jantaremos no hotel e às nove partiremos para Botafogo. A ocasião não pode ser mais favorável ao rapto; a noite há de ser escura; a francesa está doente e de cama e, quando chegarmos, é natural que o comendador já se ache no segundo sono e os criados no terceiro!

— Eu serei o cocheiro do carro, disse Coruja; sabes que tenho boa mão de rédea.

— Bem lembrado! Escusa de metermos estranhos no negócio. E, olha, para melhor disfarce, porás a libré do Caetano e levarás o seu chapéu de feltro.

— A libré do Caetano há de chegar-me até aos pés...

— Melhor, ninguém te reconhecerá.

— Isso é verdade...

— Sabino?

— Meu senhor.

— Preciso hoje de você. Às quatro e meia no hotel. Ouviu?

— Já ouvi, sim senhor.

— Olha! Traze-me uma garrafa daquelas que estão no guarda-louça.

Era um presente de Moscatel d'Asti espumoso, que lhe fizera Leonília no dia dos anos dele.

— Vais beber agora? perguntou o Coruja.

— Vou; sinto-me sufocado! Preciso de um estimulante. Conserva tu em perfeito juízo a tua cabeça e deixa-me beber à vontade.

Encheu duas taças e, erguendo uma delas, disse ao amigo:

— Ao novo horizonte que se rasga defronte de nossos olhos! Ao amor e à fortuna!

Coruja levou a sua taça aos lábios, bebericou uma gota de vinho e afastou-se logo para ir à casa de D. Margarida; enquanto o outro, esticando-se melhor na cadeira em que estava e soprando com volúpia o fumo do seu charuto, murmurava de si para si:

— Amanhã a estas horas tenho à minha disposição uma mulher encantadora e um dote de cem contos de réis! Ah! Geração de imbecis, agora é que vais saber quem é Teobaldo Henrique de Albuquerque!
–––––––––
continua…

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mensagem em Imagens 1 - Machado de Assis

Foto por José Feldman. Cherie dormindo no fogão.

A. A. de Assis (Bela alma a do poeta, ou o “Hiato” na Trova)

Quantos sons você conta aí?... Suponhamos que sete: Be-la-al-maa-do-po-e-ta. Mas por certo haverá quem conte seis, ou mesmo cinco, dependendo do ouvido de cada um.

Dá-se isso por obra do bendito hiato, o inimigo número um da métrica. Parece que para a maioria dos poetas brasileiros o verso fica mais agradável quando se respeitam os hiatos, porém outros acham mais natural fundir as vogais. E como é que se resolve isso? Sabe-se lá...

O maior drama é nos concursos. Você não sabe se conta poe-ta ou po-e-ta. O jeito é torcer para que os julgadores acatem o sotaque de cada autor.

Em regra, não se derruba nenhuma trova em razão desse problema; entretanto, mesmo assim, o concorrente fica de pé atrás, pelo medo de quebrar o cujo...

A tendência,  como foi dito, é pronunciar po-e-ta, vi-a-gem, a-in-da, a-al-ma, a-ho-ra, o-ho-mem, o-ou-ro, po-ei-ra, su-a, to-a-da etc. Mas... e se você não concordar? Tudo bem. Você continuará escrevendo seus versos do modo que mais lhe agrade, e ponto.

Afinal de contas, quem manda no texto é o autor. Alguns, porém, por via das dúvidas, procuram de toda forma evitar hiatos... Pelo menos assim podem livrar a trova do risco de perder pontos por não soar bem no ouvido do julgador. São ossos que o poeta encontra em seu delicioso ofício...

Em algumas regiões, palavras como  fri-o, ri-o são pronunciadas friu, riu (numa única sílaba). O Decálogo de Metrificação adotado pela UBT estabelece, entretanto, que, em tais casos, em benefício da uniformidade, não será aceita a ditongação: rio será sempre ri-o.
1. Recordemos: hiato é o encontro de duas vogais pronunciadas em dois impulsos distintos, ficando portanto em sílabas separadas.

     2. Nos hiatos em que a vogal átona vem antes da tônica, se esta é distintamente mais forte que aquela, a separação  é obrigatória (a-é-reo, a/es-mo, ba-ú, sa-í-da); se a tônica é pouco mais forte que a átona, a separação é facultativa (na-al-ma ou nal-ma, po-e-ta ou poe-ta, su-a-ve ou sua-ve). Mas atenção: nos casos de separação facultativa, é importante observar a coerência, isto é, nunca usar critérios diferentes na mesma trova.

3. Nos hiatos em que a vogal átona vem depois da tônica, a separação é obrigatória (bo-a, des-vi-o, ri-o, ru-a, tu-a).

4. Em algumas regiões do Brasil, palavras como  fri-o, ri-o são pronunciadas friu, riu (numa única sílaba).

5. Tudo isso precisa ficar bem claro, especialmente quando se trata de concursos, a fim de que o concorrente tenha certeza de que nenhum julgador “despremiará” sua trova por incompatibilidade de sotaque.

Fonte:
Revista Virtual “Trovia” – Ano 8 – n. 88 – Outubro 2006