quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Contemporâneos do Clã – Rachel de Queiróz

Além dos grandes nomes do conto cearense surgidos com o Grupo Clã, se destacaram no cultivo da narrativa curta no Ceará outros escritores nascidos nos primeiros anos do século XX ou que despontaram durante o período de ouro daquela “agremiação”, sem a ela pertencerem.

Em 1965 se editou Uma Antologia do Conto Cearense, precedido do famoso ensaio de Braga Montenegro “Evolução e natureza do conto cearense”, publicado na revista Clã nº 12 de fevereiro de 1952. Não se sabe quem organizou a antologia, se o próprio Braga, se Artur Eduardo Benevcides, se ambos, se outro. O certo é que fazem parte dela quatro novos contistas (José Maia, Juarez Barroso, Margarida Saboia de Carvalho e Sinval Sá), ao lado dos mais importantes nomes do Clã, como os mencionados Artur e Braga, Eduardo Campos, Fran Martins, João Clímaco Bezerra, Lúcia Fernandes Martins, Milton Dias e Moreira Campos. José Maia teria um conjunto de narrativas curtas intitulado A Noite a Nudez. De Juarez Barroso é dito que figurou no Panorama do Novo Conto Brasileiro, 1964, organizado por Esdras do Nascimento, e “tem pronto o livro Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal”, publicado anos depois. De Margarida Saboia se diz que publicou crônicas, contos e artigos no jornal Diário do Povo, que circulou de 1947 a 1961. Estreou em 1964 com um livro de crônicas. Preparava o segundo volume de contos. De Sinval Sá (paraibano) é dito que em 1959 “reuniu em livro alguns contos publicados em Clã e na imprensa.”

Longe do Ceará, alguns escritores cearenses conseguiram projeção nacional, não como contistas, mas como romancistas, poetas e cronistas. É o caso de Rachel de Queiroz (1910), um dos nomes mais conhecidos da Literatura Brasileira. Seu livro O Brasileiro Perplexo (1962) aparece na análise de Braga Montenegro no ensaio muitas vezes aqui mencionado. Entretanto, seus contos se misturam às crônicas e não sobrepujam os romances.

Um que se dedicou mais ao conto é Caio Porfírio Carneiro (1928), talvez o escritor mais vocacionado para a composição ficcional curta no Ceará, depois de Moreira Campos. Sua estreia em livro de contos é de 1961, com Trapiá.

Juarez Barroso (1934), falecido muito cedo, deixou dois volumes de contos e um romance. A publicação do primeiro livro de contos ocorreu somente em 1969.

Outros escritores importantes desse período que também se dedicaram à narrativa breve são Gerardo Mello Mourão (1917), que se dedidou ao poema e ao romance e somente em 1979 apresentou o livro de contos Piero Della Francesca ou As Vizinhas Chilenas; José Alcides Pinto (1923), que estreou no gênero conto, em livro, em 1965, com Editor de Insônia; e Moacir C. Lopes (1927) – outro que, embora veterano das letras, apareceu como contista muito tarde, em 1995, com O Navio Morto e Outras Tentações do Mar.
 
Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz (Fortaleza, 1910 - Rio de Janeiro, 2003) estreou em 1930, com o romance O Quinze (“Prêmio Graça Aranha”). Em 1932 publicou João Miguel. Seguiram-se, em 1937, Caminho de Pedra; em 1939, Três Marias (“Prêmio Felipe d´Oliveira”); em 1950, O Galo de Ouro; e em 1975, Dora, Doralina. Colaborou por muito tempo no Diário de Notícias, nas revistas O Cruzeiro e Manchete e outros órgãos. Publicou várias coletâneas de crônicas e escreveu peças de teatro. Em 1992 editou o último romance, Memorial de Maria Moura. De sua vasta obra se destacam dois livros que contém contos mesclados com crônicas: O Brasileiro Perplexo (Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963) e A Casa do Moro Branco (São Paulo: Ed. Siciliano, 1999). Publicou mais os seguintes volumes de crônicas e, em meio a elas, alguns contos: A donzela e a moura torta (1948); 100 Crônicas escolhidas (1958); O caçador de tatu (1967); As menininhas e outras crônicas (1976); O jogador de sinuca e mais historinhas (1980); Mapinguari (1964); As terras ásperas (1993); O homem e o tempo (74 crônicas escolhidas); A longa vida que já vivemos; Um alpendre, uma rede, um açude: 100 crônicas escolhidas; Cenas brasileiras. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Traduziu mais de quarenta obras. Traduções para o alemão, o francês, o inglês, o japonês. Diversos prêmios, condecorações e títulos.

Quando publicou, em 1965, o famoso ensaio “Evolução e Natureza do Conto Cearense”, Braga Montenegro fez a seguinte observação: “‘Monólogo’, ‘Romance’, ‘Luisinha, a Manicura’ e mais um punhado de contos a ser retirado em meio a uma avalanche de crônicas, notadamente em O Brasileiro Perplexo (1963), constituem a limitada bagagem de Rachel de Queiroz. Entretanto, a escassez não insinua a inaptidão. Rachel de Queiroz, se quisesse, seria contista na mesma altura por que é romancista, e até não há exagero em afirmar-se que poucas de suas páginas superam a humanidade, a contagiante ternura, a discreta beleza de ‘Monólogo’”.

No volume A Casa do Morro Branco, catalogado como crônicas, observa-se com nitidez a presença da contista.

Na verdade, o livro é composto de 13 contos ou narrativas curtas e um ensaio sobre a Soberba ou o Leviatã. Nas 13 histórias o espaço geográfico da ação quase nunca se repete. Em “Ma-Hôre” o drama se inicia no mar de um planeta desconhecido e, em seguida, no interior de um navio espacial. Em “Natal no Paraguai”, como o título indica, a ação se desenrola naquele país. “O mato era ralo; mas visto do chão parecia fechado” (...). O protagonista, um soldado brasileiro, se achava caído no chão, em algum lugar do Paraguai. “Não sabia onde estava. Paraguai, era. Léguas e léguas, Paraguai adentro.”

Em “A Casa do Morro Branco” os episódios ocorrem numa casa (e seus arredores) situada num morro “num desses ricos estados do Brasil adentro”, possivelmente São Paulo: “A casa caiada, cercada de alpendres, é tão antiga que certa gente pretende que ela vem dos tempos do Anhanguera.” O primeiro protagonista é fugido de Pernambuco, por crime político, ao tempo da Confederação do Equador. Em “Os dois bonitos e os dois feios” a ação se desenvolve no sertão. Não há nenhuma referência a localidades apontadas em mapas. Sabe-se apenas que os dois heróis da história “eram vaqueiros”, “campeiros da mesma fazenda”. É o sertão nordestino: novilhas, bois, cavalos, mulungus, cumarus, imburanas, veredas. Em “Isabel” as ações se dão no Ceará, “numa capoeira deserta, na seca ribeira do Sitiá”, proximidades de Quixadá. Os personagens vivem numa terra pedregosa. Isabel e o marido viviam de um “roçado pequeno, quase no quintal da casa”. Ela criava galinhas, ele “ganhava uns vinténs no corte de lenha”. Outro conto ambientado no sertão do  Ceará é “Cabeça-Rosilha”, nas fazendas Junco e Califórnia. História de touros bons de briga. E ainda no Ceará, na cidade de Aroeiras, se desenrola a narrativa intitulada “O telefone”. Um dos personagens tem casa na praça da Matriz, “com dezoito portas e janelas de frente, oito para a praça e dez no oitão”, típica casa dos ricos nas pequenas cidades do interior nordestino nos séculos XIX e XX.

Em “O vendedor de ovos” o episódio é narrado numa delegacia de polícia de cidade pequena. A trama, porém, ocorre nas ruas. O personagem Anjinho vive “pelos trens, comprando ovo aqui, vendendo ovo na cidade.” Os personagens de “O jogador de sinuca” participam de drama na cidade mineira de Lafaiete, mais precisamente no salão do Bar Campestre, onde disputam uma partida de sinuca.

Em “Vozes d’África” os personagens vivem “isolados, como num sertão longínquo”, no Estado do Rio de Janeiro. Moram numa casa de taipa com telhado de sapé. Uma comunidade de negros. Em “Cremilda e o fantasma” o drama se desenrola numa cidade grande (Rio de Janeiro?) ou, mais especificamente, numa mansão, “trabalho de mestre-de-obras português, portais de cantaria, varandim, sacadas de ferro batido, soalho de acapu e amarelo e até vitrais de cores nos janelões”. Também no Rio de Janeiro se desenvolvem as ações de “O homem que plantava maconha ou Exu Tranca-Rua”. O protagonista morava no Morro do Bugue-Iúgue e vendia diamba a um motorista de caminhão que tinha ponto no Campo de São Cristóvão.

Em “Tangerine-Girl” não há referência a nenhuma localidade específica. A narradora menciona a casa da protagonista, localizada “a algumas centenas de metros” da “base aérea dos soldados americanos”. A garota é brasileira, posto que “pôs-se a estudar com mais afinco o seu livro de conversação inglesa”, a fim de poder entender as mensagens dos marinheiros estrangeiros.

Os dramas dos contos de A Casa do Morro Branco abordam os mais variados temas. Ma-Hôre, o homúnculo da raça dos Zira-Nura, “dois palmos de estatura”, se vê diante de quatro gigantes humanos, numa nave espacial avariada. A história pode ser lida como ficção científica, mas também como mensagem aos exploradores do espaço sideral, sempre certos de que são seres superiores. Ma-Hôre é visto como “anão intruso”, “pequeno humanoide”. No entanto, acaba matando os astronautas e tripulando a nave, “na marcha de regresso à terra dos Zira-Nura”. Os heróis humanos são vítimas de um minúsculo ser de outro planeta.

A morte também está presente em “Natal no Paraguai”. E também a “vingança” do inimigo do suposto herói, no caso o soldado brasileiro. O tempo histórico aqui é o da Guerra do Paraguai, a do “tirano López” e de Pedro II, “imperador brasileiro”. Rachel utiliza na narração a mistura de falas: ora do narrador onisciente, ora do protagonista, em monólogo interior. A cena final (o surgimento de dois meninos paraguaios), até o desfecho (a morte do soldado brasileiro), é magnífica enquanto narração. Outra vingança é de Isabel, no conto que leva o seu nome. O marido vivia bêbado, a roncar na cama feita de “quatro forquilhas de palmo e meio de altura, dois caibros fazendo as barras e a estiva de varas servindo de enxerga”. Isabel vivia de “costas magoadas”, de tanto apanhar do marido: (...) “enrolou a mulher com o relho, que sibilou no ar, com um silvo de cobra”. A cena da morte do homem é de um realismo alucinante. São quase três páginas de narração: “Esteve algum tempo a olhar a criatura.” Segue-se a cena em que ela ajeita na rede o corpo dormido do homem. “Isabel tirou a agulha que enfiara no peito do casaco. E rapidamente costurou uma contra a outra, as duas beiradas da rede” (...). Finalmente “malhou a cabeça que a rede envolvia e o pilão amparava por baixo.” Dá-se a primeira pancada. O corpo se imobiliza. Mesmo assim “Isabel continuou batendo, batendo ritmicamente, até perder a força no braço.”

Em alguns contos a escritora se serve da sua vocação de cronista e vez por outra se imiscui na história. Em “A Casa do Morro Branco” é assim: “Só conheço o lugar de vista.” Ou ao dizer “nós do Nordeste”. A cronista também se mostra em “Os dois bonitos e os dois feios”. A narrativa se inicia com uma longa digressão sobre o amor: “Nunca se sabe direito a razão de um amor.” No segundo parágrafo anuncia: “O caso que vou contar” (...). E mais ainda aqui: “nós mulheres estamos habituadas” (...). Em “Cremilda e o fantasma” a narradora-escritora não se contém: “sei que pela manhã viu-se” (...). Ou: “se me permitem dizer.” E ainda: “esqueci de contar que em vida o moço” (...). Em “O jogador de sinuca” a cronista reaparece logo no início da narrativa, a tecer loas às cidades históricas de Minas Gerais. E no meio da narração: “nunca vi ninguém produzir tal impressão” (...). Em “Tangerine Girl” a narradora põe a língua de fora no meio da narração: “Não sei por que custou tanto a ocorrer aos rapazes a ideia de atirar um bilhete.” E em “O homem que plantava maconha ou Exu Tranca-Rua”, na primeira frase: “Esta história é um pouco comprida e complicada.” No início da segunda parte do conto pergunta ao leitor: “Já falei que o nosso amigo se chamava Henrique?” Em “Cabeça-Rosilha” a narradora escreve: “ainda me lembro”. Mais adiante esclarece ao leitor que a fazenda Califórnia “era de minha avó”. Nada disso, porém, impede que denominemos de contos as histórias deste livro, exceção feita ao “ensaio” intitulado “A presença de Leviatã”.

O tempo se dilata por anos e anos em “A Casa do Morro Branco”, dividida em três partes e três tempos. Na primeira, “O avô”, é mencionado o ano de 1825, data da chegada de Chico Aruéte ao Morro Branco. Na segunda, “O filho”, “o vigário se saiu com um relaxo em latim”. Na terceira, “O neto”, apareceu “um bando de cavaleiros desconhecidos, que se diziam revoltosos da Coluna Prestes.” No mais das vezes, no entanto, o episódio ou os episódios decorrem num restrito lapso de tempo, como em “O vendedor de ovos” – apenas o tempo de um curto interrogatório numa delegacia de polícia. Em “Cremilda e o fantasma” o episódio central é narrado após uma série de delongas, até que “alguns anos atrás” “dera-se um crime impressionante.” Narrados o crime (a morte de Armando, “um moço solteiro, herdeiro universal da avó”) e suas consequências, são “passados tempos”, o personagem chamado de “o velho” ou “o apóstolo” ou “o pai de Cremilda” passa a habitar a casa onde ocorrera a morte do rapaz. “Passados os primeiros dias” (...), “em certa manhã da segunda semana”, “Armando aparecera”. Inicia-se o episódio principal, que decorre em dias e dias, depois em meses e meses, até o desfecho, com o parto de Cremilda: o menino “nasceu morto”, porque filho do fantasma de Armando.

Além desta história de espiritismo, Rachel de Queiroz dedica outro conto à religião, o de Exu. O aparecimento de “um homem morto na esquina do Tenaro” atrai curiosos e a polícia. A narradora conta fases da vida do morto, o Henrique, ou o Rico, desde quando cultivava um roçadinho de diamba em Alagoas, ao tempo do governo de Arnon de Melo. De plantador passa a consumidor ou usuário. Além disso, adota a magia negra e se transforma em cavalo de Exu. Ao mexer num despacho de outro Exu: “Baixou a mão, revolveu a farofa com o dedo, atirou longe uma moeda, sonâmbulo, sonâmbulo de todo. Apanhou o charuto, que chegou aos lábios, mas soltou antes de morder. Por fim pegou na garrafa, tirou a chapinha nos dentes – imagine que força de transe – e foi tacando o marafo na boca.” E a seguir principia a morrer, até “cair de borco por cima do despacho. Morto.”

Tirante o extraterrestre Ma-Hôre, os personagens de Rachel de Queiroz são tipos sertanejos, urbanos, metropolitanos de um Brasil atrasado (em oposição a globalizado), mas culturalmente rico, mesmo quando essa riqueza se manifesta em ardis espiritistas (fantasmáticos) ou quimbandistas. Esses tipos comuns da gente brasileira nada têm de caricatural, mesmo em contos em que a sátira ou o cômico se manifestam. Enfim, são personagens cujos nomes podem figurar nas galerias mais requintadas da arte de contar.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel) (Sonetos Escolhidos 5)

NÓS E O PLANETA
-
Nascemos num oceano de incertezas,
São vidas sobre vidas, muitas vidas.
Que no combate até desconhecemos
Se são amigos nossos ou inimigos.

A ciência desvenda-nos perigos
De vírus a bactérias, faz vacinas
Contra os males fatais que nos imolam,
Pois somos nós os monstros. E sorrimos.

Também, com relação ao universo,
Somos futuros vírus já dispersos,
Na Terra, onde seremos os seus réus.

Fazemos, desta casa azul, um lixo...
Pensando (ou sem pensar) que com tudo isto
Estamos, corpo e alma, indo pro céu.
-
JANEIRO
-
Janeiro, enfim, colhe a primeira folha
Já pelas frinchas da manhã que vem,
Não sabe o que virá, não tem escolha,
Dirá amanhã: a morte, o mal, o bem...

Não olha, com olhos doces, para trás,
Nem sequer se arrepende de algum erro.
Mas vai, segue, danado como um perro,
Puxando o ano em tudo quanto faz.

Na alvorada, sozinho, só consigo,
Sem fama ou gloriolas pra contar,
Nascido forte, enfrentará o perigo.

Mas agora, na calma de quem ama,
Vendo, do dia, a clara, a acesa chama,
Confia e toca as bolas pra rolar.
-
GÊMEOS
-
Razão e sentimento – a contradança,
da natureza, em seio feminino,
onde nascem saber, suor, destino,
vida, tristeza, glória... o que se alcança.

Porém, se um prato pende da balança,
se pesa mais razão que sentimento,
de Deus se quebra todo o pensamento
e o homem perde o estribo da esperança.

Sem os tons, sem o ritmo dessa dança,
é quando a vida se transforma, ou cansa,
é quando a dor é luto... E morre a paz.

Inseparáveis dons, duplas crianças
gêmeas no corpo, na alma e nas heranças,
se se separam, morrem. Nunca mais!
-
CONTRA A TEORIA
-
Meus mestres do fazer por sentimento
me põem guardas contra as teorias,
de religiões, partidos, guerras frias,
quentes, mornas, e deuses...Que tormento!

Lendo o verbo, seus versos em poemas,
vindos de longe mas chegados cedo,
sem ter medo de ser, para que medo?
Humanidade, amor são nossos temas!

No mundo velho, o tudo é o tecer novo,
o melhor vem de nós e vem do povo,
porque, dizendo assim é que não minto.

E eu, sem acreditar em tanto aleijo,
descreio nas verdades que não vejo,
confio ao coração o que amo e sinto.
-
A VOZ DO FETO
-
Mamãe querida, tenha fé em Deus,
Não tome esse remédio que envenena,
Ainda sou pessoinha tão pequena,
Não me troque por vãos prazeres seus.

Respeite: a minha vida é sua vida,
Você pode ser boa e dar carinho,
Quando aí eu chegar com meu chorinho
Você se sentirá bem comovida.

Quando eu nascer serei a recompensa.
Ai, sou pequeno! E como defender-me?
Posso saber por que em mim não pensa?

Quero dormir, não ser expulso agora,
Não me possua qual se fosse um verme.
Só Deus nos diga: “Já chegou a hora!”
-
SUTILEZAS DO PRETO
-
Ninguém falou nem me escreveu ainda
do preto – as sutilezas e o sentido.
Serão verbais por existir o branco?
Ou o homem-natureza contradiz-se?

Da beleza e fealdade, qual o espírito?
A luz que vem do sol nos ilumina
O dia. E, à noite, então, por que esconder,
Dentro do escuro, as curvas e as esquinas?

Ser linhas sem contorno? Nesta vida,
Só existe a luz porque dois olhos temos,,
Assim, as manchas negras nunca vistas.

Furos de negro, atrás dos olhos, vejam
O que há no mundo que nós nem sonhamos,
E o que perdemos na hora de nascer.
-
A LÍNGUA
-
A língua portuguesa que falamos
palmilhou, no Brasil, ínvios caminhos,
ganhando mais bondades e carinhos,
debaixo deste sol que muito amamos.

Junto à mãe preta e junto à índia em flor,
o português saudoso em seu transporte,
aqui chegado do hemisfério norte,
pega brilho na voz, nos olhos, cor.

Selvagem, forte, dúctil, na verdade,
rica e serena, triste na saudade,
franca nas decisões, porém com calma.

A língua portuguesa é, docemente,
a minha voz (e a de milhões de gente)
como parte profunda de minh’alma.
-
A COISA BRABA
-
Quando acordo e me vejo pelo espelho
do meu quarto, a janela inda fechada,
nada do que já fui, nada do velho
me vem à frente. Onde perdi a estrada?

Sinto-me preso a um mundo que desaba,
sem graça, sem amor, sem segurança.
Não sei de onde é que vem a coisa braba,
se é por defeito meu, se é por vingança.

Tudo foge de mim. Onde está o homem?
O tórax sufocado pelo abdômen
e é tudo que me sobra do “eu” aflito.

Tento entender meus males, fecho o senho,
mas não sei por que diabos me contenho,
sem forças de gritar...Retenho o grito.
-
SONETOS BRANCOS (1)
-
Andei por outros ritmos altos, brancos,
No tempo em que as palavras me mordiam,
Porém se foram com meus devaneios...
E a vida me agarrou pelos cabelos.

Por rosto e carne, amor fui e voltei
Ao pecado do amor, na escuridão
Dos dias claros, fosse maio ou agosto,
Fosse praia ou inverno, vento ou calma.

O amor negou-me. Mas por que negar
Tranquilidade, o bom humor, a luz
Para vencer o que outros já venceram?

E eu reneguei-o então, só por vaidade,
Fui sozinho e mais triste que sozinho,
E me fiz, me desfiz em toda parte.
-
SONETOS BRANCOS (2)
-
Se sofri, se gozei, ninguém me aborda,
Que ninguém quer saber do amor alheio,
Nem do sabor dos beijos que, não dados,
Foram belas fatias noutros beijos.

O que vale é o desejo mais intenso,
Ou a paixão invisível que nos cega.
Que o mundo diga: “amigo, tu és tolo”,

Ninguém quer ter a morte sem peleja.
Das faltas, a lembrança viva e forte,
De vez em quando, rompe meus lençóis,

De verdade ou na pura indiferença.
Tantas vezes no sonho é que se vive,
Inventa e reinventa o ser feliz,
Mesmo depois de estarmos acordados.
-
SONETOS BRANCOS (3)
-
Branco é o linho e branca é a pureza,
E se eu sou branco, as cores não me atingem,
Negra, amarela, verde... No meu baile,
Todas dançam com a mesma sutileza.

Por dançar mal, conheço, sou levado,
No vai-e-vem das buscas atrasadas.
Quantas vezes não minto, contrariando,
Porque, no descansar, o gozo é ver-se!

Nada melhor que um riso feiticeiro,
Mesmo sem ter certeza pra onde vai...
Que alegria a pesar-lhe na cabeça!

Melhor nem pensar nisto e antegozar
O céu do amor num leito quente e fofo
Pondo alvorada em seus amanheceres.

Fonte:
O Autor

Ialmar Pio Schneider (Caderno de Trovas)


Acabou-se da memória
o desejo de te amar,
mas ninguém me rouba a glória
de em meus versos te cantar!...
* * *
A desculpa não aceites
de que o relógio parou,
pois na cabeça os enfeites
foi ela que te botou.
* * *
Alta noite, escrevo versos,
sentindo a falta de alguém;
quem me dera que dispersos,
ela os ouvisse também...
* * *
Amiga de muitos anos,
companheira de verdade,
enfrentando os desenganos,
ela se chama: saudade.
* * *
Amor platônico, medo
de não ser correspondido;
quando alguém ama em segredo,
depois fica arrependido…
* * *
Andei por árduo caminho
no qual não quero andar mais;
e voltei para o meu ninho
como voltam os pardais...
* * *
Anoitece lentamente
quando medito sozinho
e me quedo descontente
distante do teu carinho.
* * *
A noite desceu aos poucos
e no céu surgiu a lua
para os boêmios e loucos
que vagam a esmo na rua.
* * *
Ao tentar criar poemas
para contar minha história,
me deparei com dilemas
na fase contraditória...
* * *
Aquela que um dia fez
meu coração palpitar,
hoje não saiba, talvez,
desta saudade sem par.
* * *
Às vezes me contradigo
sem querer, naturalmente,
pois corro sempre o perigo
de te amar inutilmente.
* * *
A trova que canto agora
tem sabor de nostalgia,
por alguém que foi embora
quando mais bem a queria.
* * *
Busco na trova a harmonia
para equilibrar a vida;
é o resumo da poesia
em quatro linhas contida.
* * *
Cada paixão que me invade
surge do amor que não tive;
e representa a saudade
de quem neste mundo vive.
* * *
Chega em casa quando quer,
mas o dia já raiou,
e vai dizendo à mulher:
- O meu relógio parou!
* * *
Como tarda anoitecer
nestes dias de verão,
quanto é difícil viver
mergulhado em solidão.
* * *
Contigo no pensamento,
eu vou compondo esta trova,
porque neste sentimento
minha paixão se renova.
* * *
Coração aventureiro,
vive sonhando um amor,
que pode ser verdadeiro,
infeliz ou enganador.
* * *
Cresce a planta no jardim
por força da natureza;
e cresce dentro de mim
o amor à tua beleza.
* * *
Desejo fazer somente
o que deveras me apraz,
levando os sonhos em frente,
deixando as mágoas pra trás.
* * *
De manhã cedo levanto
e ao Senhor dos Céus imploro,
que me ajude quando canto
e me console se choro.
* * *
Desejo que o nosso amor
nunca seja de mentira;
por isto sou trovador
romântico, ao som da lira.
* * *
De tudo que amo e venero,
vem em primeiro lugar,
teu beijo doce e sincero
que me faz revigorar.
* * *
Devo te dizer cantando
para que escutes sorrindo
e assim vás acreditando
que eu não esteja fingindo...
* * *
Dos versos soltos que faço,
um deles tem mais calor;
porque lembra teu abraço
e nossos beijos de amor..
* * *
Duas coisas levo medo,...
faço pouco e até duvido:
mulher que guarde segredo,
livro ao dono devolvido!
* * *
Eis que chega a primavera,
trazendo-me novo alento,
vivo o “suspense” da espera
de te encontrar num momento…
* * *
Escrevo trovas sentidas
num desabafo de dor:
são as ilusões perdidas
de certo frustrado amor.
* * *
Esse amor que tu me deste
foi efêmero, fugaz...
Por isto a tristeza investe,
arrebatando-me a paz.
* * *
Este amor que não resiste
às tentações deste mundo,
se não fosse assim tão triste,
pudera ser mais profundo.
* * *
Estivemos frente a frente,
mas nenhum de nós sorriu;
parecias diferente
que me deixaste arredio.
* * *
És uma estrela tão alta,
brilhando no firmamento,
que a minha canção exalta
no calor do sentimento.
* * *
É tão tarde... a madrugada
daqui a pouco vai raiar;
e pensando em minha amada
quero dormir e sonhar...
* * *
Eu agora não me espanto
e nem me causa pavor,
o terrível desencanto
que sofri por teu amor.
* * *
Eu caminho lentamente
pelas areias do mar,
debaixo do sol ardente
que descamba devagar...
* * *
Eu fui ficando distante
e vivendo da saudade,
pois desejo, doravante,
somente a sinceridade...
* * *
Eu fui te ver certo dia
e apenas me confundiste;
ia cheio de alegria
e voltei magoado e triste.
* * *
Eu fui vivendo meus dias,
procurando te olvidar,
e quantas horas vazias
se arrastavam devagar...
* * *
Eu já vou me convencendo
que nada sei pra ensinar;
amei tanto e não compreendo
o que significa amar.
* * *
Eu levo a vida cantando
minhas trovas e canções;
só assim vou afastando
mágoas e desilusões.
* * *
Eu não sou navegador,
mas enfrento o mar da vida,
por causa do nosso amor
que não teve despedida.
* * *
Eu te esperei tantos anos,
até não conseguir mais
aguentar os desenganos
que o teu desprezo me traz.
* * *
Eu te quis com tanto afã,
não pude te conquistar;
pela tentativa vã,
peço perdão por te amar...
* * *
Faço de conta que penso
e me concentro demais;
todavia me convenço
que não me encontro jamais...
* * *
Faço versos para alguém
que surgiu em minha vida
e agora com seu desdém
me deixou a alma ferida.
* * *
Faze da trova teu lema
com grande satisfação
e terás em cada tema
um motivo de emoção.
* * *
Fiquei contente ao saber
que realizaste teu sonho,
pois fazes por merecer
um futuro assaz risonho.
* * *
Fora bom que tu partisses
para nunca mais voltar;
assim talvez conseguisses
que eu pudesse te olvidar...
* * *
Foste a morena brejeira
que surgiu em meu amor
como o botão da roseira
que agora não dá mais flor.
* * *
Fui feliz antigamente,
quando era um pobre menino;
e só vivia o presente,
sem me importar com o destino.
* * *
Hoje não tenho alegria
por sentir esta saudade
que nasce de quem fazia
a minha felicidade.
* * *
Iremos os dois sozinhos
em meio da multidão,
por diferentes caminhos
que jamais se encontrarão.
* * *
Já não canto por desgosto
e nem por felicidade,
mas, à tardinha, ao sol-posto,
eu me quedo na saudade...
* * *
Mesmo depois de velhinho,
se Deus me der esta graça,
quero sentir o carinho
do amor total que não passa...
* * *
Meu amor foi o mais louco,
pois nasceu de uma esperança,
que não vingou nem um pouco
e transformou-se em lembrança.
* * *
Meu amor simples em tudo
não te convenceu bastante,
porque permaneço mudo
ao te ver tão deslumbrante.
* * *
Meu coração se consterna
olhando a noite estrelada;
no mundo quem me governa
são as carícias da amada.
* * *
Meu coração se enternece
quando vejo os passarinhos,
no instante que a noite desce,
retornarem aos seus ninhos.
* * *
Meu coração treme ainda
ao lembrar-te com saudade,
porque por seres tão linda
eras a felicidade!
* * *
Minhas mágoas já são tantas
que não posso descrevê-las;
é como se pelas tantas
fosse contar as estrelas...
* * *
Nada te digo nem quero
que alguma coisa me digas;
se às vezes me desespero
eu me desfaço em cantigas...
* * *
Não estás junto comigo
nestes momentos adversos;
no entanto, pra meu castigo,
vives inteira em meus versos!
* * *
Não façamos desta vida
um motivo de revolta;
nesta estrada sem saída
é tão difícil a volta.
* * *
Não foram horas perdidas
as que passei junto a ti;
são lembranças bem vividas
que nunca mais esqueci...
* * *
Não há mentira mais louca
da que sai do coração,
pois a que nasce da boca
quase sempre é pretensão.
* * *
Não há poder que consiga
me demover da vontade,
de tê-la só como amiga
quando me assalta a saudade.
* * *
Não me iludem teus olhares
e nem tampouco teus risos:
são expansões singulares
ou desejos indecisos ?!
* * *
Não te desprezo, nem quero
o teu desprezo, igualmente;
se o amor não é sincero
procuro esquecer, somente...
* * *
Não vais chorar, certamente,
ao saberes que te quero
e creias, porém, somente
que tudo... tudo é sincero.
* * *
Nesta manhã radiante
de sol claro e resplendente,
por seres tão inconstante,
me deixas tão descontente...
* * *
Nosso amor já teve fim,
pois não esteve ao alcance
o que você quis de mim
pra ter sucesso o romance.
* * *
O amor à primeira vista
visitou meu coração,
mas no instante da conquista
vi que tudo foi em vão.
* * *
O amor de quem não desiste,
seja forte, seja brando,
há de permanecer triste
que nem flor que vai murchando.
* * *
O amor platônico vive
em minhas trovas também;
foi um que uma vez eu tive
e não me fez muito bem.
* * *
O amor tem prazer e pranto,
também mágoas e carinhos;
pois assim sendo, portanto,
não há rosas sem espinhos!
* * *
O calor convida ao mar
aonde o meu desejo vai,
preciso te procurar
quando a tarde aos poucos cai.
* * *
O que me causa tristeza
não é saber que não me amas,
é tão-somente a certeza
que sofres e não reclamas !
* * *
O tempo que tudo apaga
só deixa recordação,
que nem uma viva chaga
sangrando no coração.
* * *
Para esquecer-te procuro
me envolver na multidão,
mas não me sinto seguro
e retorno à solidão.
* * *
Para sofrer tanto assim
fora melhor não revê-la;
está tão longe de mim
como se fosse uma estrela.
* * *
Para te amar me concentro,
esperando chegar a hora;
pois quem não ama por dentro,
não adianta amar por fora.
* * *
Para tê-la novamente
andei por muitos caminhos
e retornei descontente
sem conseguir seus carinhos...
* * *
Para viver com carinho
procurei amar alguém;
hoje sinto que sozinho
eu vivia muito bem.
* * *
Pelo amor sempre sonhado
e nunca correspondido,
vou cantar um verso alado
pra que chegue ao teu ouvido.
* * *
Pelos caminhos da vida
fui deixando para trás,
como em cada despedida
um sonho que se desfaz.
* * *
Penso em ti quando a saudade
me visita de surpresa
e na minha soledade
recordo a tua beleza.
* * *
Perambulando sozinho
pelas ruas da cidade,
procuro achar o caminho
que leva à felicidade.
* * *
Perdido em divagações
sento à beira do caminho,
como se as recordações
não me deixassem sozinho.
* * *
Perto de ti me convenço
que nada posso fazer,
sem empregar o bom senso
para afinal te esquecer.
* * *
Por mais que tente esquecê-la,
não consigo meu intento,
sempre será qual estrela,
brilhando no firmamento.
* * *
Posso perder-te... que importa
se não queres me aceitar...
Há muito tempo está morta
a vontade de te amar.
* * *
Proclamas que és minha amiga...
ou foges da realidade ?!
Não te importas que eu te diga
desejar mais que amizade ?!
* * *
Quando te vejo sorrindo,
não consigo disfarçar,
este desespero infindo
de não poder te beijar.
* * *
Quantos amores têm fim
por falta de persistência,
não concretizando assim
a base da convivência.
* * *
Quem há de saber do enredo
de um romance fracassado,
se tudo fica em segredo
e nenhum quer ser culpado?!
* * *
Quem quiser ser trovador,
seja primeiro aprendiz,
mesmo em matéria de amor
se aprende pra ser feliz.
* * *
Roubei-lhe um beijo, ao passar
ao meu lado, sorridente;
e lembrando seu olhar,
de noite, dormi contente...
* * *
Saudade!... palavra viva
do que ficou no passado;
és o bem que nos cativa
para sempre ser lembrado!
* * *
Se amar causa sofrimento;
é preciso suportar...
pois não há pior tormento
do que sofrer sem amar...
* * *
Se amei e fui preterido,
pouco me importa até quando,
pois não me dou por vencido
e continuo te amando.
* * *
Se eu não sentisse saudade
daquela que tanto quis,
talvez a felicidade
não me fizesse infeliz.
* * *
Segue teu rumo que eu sigo
o meu destino também,
se não pude andar contigo
vou procurar outro alguém...
* * *
Segura o pouco que tens
e amanhã podes ter mais,
porque de todos teus bens
preponderam ideais.
* * *
Se leres os versos soltos
neste livro de lamentos,
que não te assaltem revoltos,
infelizes sentimentos...
* * *
Sempre existe na existência
pra nos fazer infeliz,
um amor sem convivência
que a gente esperou e quis.
* * *
Sendo um simples aprendiz
de saber da trova o enredo,
sinto que não sou feliz
e me condeno em segredo.
* * *
Se o amor não tem futuro
e vive só da esperança,
é qual um tiro no escuro
e sem querer você “dança”.
* * *
Se pudesses compreender
a paixão que me enlouquece,
nunca mais o teu viver
uma só mágoa tivesse...
* * *
Se tens amor e resistes
às ligações perigosas,
teus dias não serão tristes
e viverás entre rosas...
* * *
Se tens amor não escondas,
muito sofri por contê-los;
ele surge como as ondas
e foge ao não ter desvelo...
* * *
Se tens amor não o escondas,
proclame-o para quem é;
as paixões são como as ondas
que aproveitam a maré.
* * *
Se te querer foi loucura,
eu serei um triste louco,
por te dar tanta fartura
e ter em troca tão pouco.
* * *
Sócrates assim dizia:
“Eu só sei que nada sei.”
E com tal filosofia
eu também responderei.
* * *
Sofro por ti, me atormento
a cada instante que passa;
e neste martírio lento
vou vivendo na desgraça...
* * *
Tenta fazer do teu verso
uma lição de ternura;
então terás do Universo
a mais sublime ventura...
* * *
Trovas de amor e saudade
trazem mil temas diversos,
mas predomina a amizade
nascendo de tantos versos...
* * *
Tudo não passou de um sonho
tão rápido e fugidio;
um pensamento enfadonho
que de nada me serviu.
* * *
Tu me procuras sorrindo
e te recebo contente,
como se fosse surgindo
um novo amor de repente!
* * *
Tu mereces muito mais
daquilo que posso dar-te,
mas um dia entenderás
que te dei toda minha arte.
* * *
Tudo tem o seu começo
e um fim também há de ter,
mas das dores que conheço
a pior é não te ver...
* * *
Vai-se um amor... outro vem...
e assim se passam os dias.
Os nossos sonhos também
são de mágoas e alegrias.
* * *
Vida de amor e saudade,
que junto com nossos sonhos,
também traz a realidade
e momentos enfadonhos.
* * *
Vive de amor, se te apraz,
e nunca percas a calma;
porque a verdadeira paz
só se encontra dentro da alma.

Fonte:
O Autor

Ialmar Pio Schneider (1942)

Entrevista realizada virtualmente por José Feldman (PR) com o poeta e trovador Ialmar Pio Schneider (RS), para o blog Pavilhão Literário Singrando Horizontes.
JF: Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou, sua trajetória literária.

Nasci no município de Sertão/RS em 26-08-1942. Filho de Henrique Schneider Filho e dona Amábile Tressino  Schneider, ambos falecidos.

Cursei o primário em minha terra natal na Escola Pio XII das Irmãs Franciscanas onde diplomei-me inclusive em datilografia com 13 anos de idade. Ingressei no Ginásio Cristo Rei dos Irmãos Maristas em Getúlio Vargas/RS que conclui após 4 anos, em 1959, período em que iniciei a compor poesias. Daí transferi-me para Passo Fundo/RS onde ingressei no Colégio N. Sra. da Conceição dos Irmãos Maristas cursando então simultaneamente o Curso Científico e a Escola Técnica de Contabilidade por um ano e meio, continuando a escrever poesias inclusive gauchescas, algumas das quais foram publicadas no Jornal do Dia, de Porto Alegre, até que um concurso público para o Banco do Brasil S.A. me levou a Cruz Alta/RS, onde assumi em 1961, poucos dias antes de completar 19 anos de idade.

Posteriormente integrei o corpo de funcionários da agência de Soledade/RS, que estava em Instalação, o que ocorreu em 1962. Completei o curso em Técnico de Contabilidade em 1962, permanecendo por 5 anos na cidade, onde exerci o cargo de Fiscal da Carteira Agrícola do Banco até ser transferido para a Metr. Tiradentes do Rio onde não cheguei a tomar posse, tendo feito uma permuta tríplice com outros dois colegas, vindo a assumir em Canoas/RS, em 1967, para logo após um ano se transferir para São Leopoldo/RS em nova permuta com outro colega, onde tencionava tirar o Curso de Direito da Unissinos, o que não se concretizou.

Casei-me em 1968 com Helena Dias Hilário, de Soledade/RS e transferi-me para a Agência Centro do Banco do Brasil S.A de Porto Alegre, em 1969. Residindo em Canoas, nasceu minha filha Ana Cristina Hilário Schneider. Permaneceu por 3 ou 4 anos compondo poesias diversas inclusive a maior parte de seus poemas gauchescos ainda inéditos bem como muitos sonetos então com 30 anos de idade. Resolvi novamente transferir-me de cidade a fim de ficar mais próximo dos meus parentes e os de minha esposa e pleiteei uma permuta, que consegui para a cidade de Passo Fundo, tendo lá permanecido por cerca de 3 anos, ocasião na qual requeri e fui transferido para a agência do Banco em Palmas/ PR, onde residiam minha mãe e irmãos, de cuja remoção desisti pelo motivo de minha esposa ser professora estadual e não ter conseguido aproveitamento naquela cidade. Com dificuldade em adquirir casa de moradia retornei a Canoas voltando a residir e a trabalhar no Banco até que em uma concorrência nacional para fiscal da Carteira Agrícola do Banco fui nomeado para a cidade de Antônio Prado/RS, onde permaneci por 2 anos e meio aproximadamente.

Em 1980, regressei a Canoas onde adquiri um apartamento em que resido até hoje, na rua que leva o nome do grande pintor Pedro Weingartner tendo feito vestibular para a Faculdade de Direito do Instituto Ritter dos Reis, classificado em segundo lugar de que também participou o ilustre jogador de futebol do Internacional Paulo Roberto Falcão, que logo depois transferiu-se para a Itália.

Trabalhando no Banco do Brasil- agência de Canoas e estudando, só consegui formar-me em Direito nas Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis em 1990, após 10 anos de curso superior. Enfim, antes tarde do que nunca.

Transferi-me para o CESEC do Banco do Brasil Sete de Setembro em Porto Alegre, onde trabalhei até 1991, tendo completado 30 anos e alguns dias de serviço no Banco quando me aposentei por tempo de serviço.

Por enquanto, resido na cidade de Porto Alegre/RS, no Bairro Tristeza, com uma vista maravilhosa para o Rio Guaíba, em uma janela do qual até um joão-de-barro já fez um ninho há uns dois anos. Como diz o inigualável poeta gauchesco saudoso Jayme Caetano Braun: “Eu até fiquei contente/ Dizem que dás muita sorte !”em seu poema “João Barreiro”.

Atualmente minha filha é casada, ambos advogados, com escritório.

Durante os meses de verão, dezembro até fevereiro, permaneço em Capão da Canoa/ RS, cidade praiana, onde produzo diversas poesias: poemas, sonetos e trovas. Nos últimos dois anos desloquei-me com a família por uns dez dias em final de temporada para a praia de Canavieiras, precisamente Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis/SC.

Eis em rápidas pinceladas a sucinta biografia rotineira de um poeta menor.

JF: Ialmar, se é poeta menor, então eu nem existo, precisaria um ultra microscópio para me encontrar (risos). Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Total estímulo e incentivo inclusive éramos 6 filhos, 4 irmãos e 2 irmãs e nossos pais só tinham como meta o nosso estudo.

JF: Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever.

Muitos livros de poesias: Fagundes Varela, Casemiro de Abreu, romances de Paulo Setúbal, os grandes romances do Cristianismo, trovas de Adelmar Tavares e diversos outros. Mas o romancista que mais me agradou foi Lima Barreto, antes Dostoiewsky, Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, Cronin, uma infinidade de autores, enfim. Desculpe se não cito todos, nem um por cento talvez.

JF: Teve a influência de alguém para começar a escrever?

Foi naturalmente através das leituras escolares.

JF: Tem Home Page própria (não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)?

Tenho diversos blogs que podem ser encontrados procurando por IALMAR PIO SCHNEIDER no Google, como http://ialmar.pio.schneider.zip.net/; http://ialmarpioschneider.blogspot.com http://ial123.blog.terra.com.br

JF: Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

Nunca pensei nisto. No Brasil acho que só meia dúzia o consegue.

JF: Como começou a tomar gosto pela escrita?

Para conhecer e aprender, pois acho que todo o livro é de auto-ajuda.

JF: Você possui livros?

Fiz a estréia editorial na obra TROVADORES DO RIO GRANDE DO SUL, org. por Nelson Fachinelli, em 1982. Publiquei a obra poética SONETOS E CÂNTICOS DISPERSOS, em 1987. Figuro em outras coletâneas. A última obra, POESIAS ESPARSAS DIVERSAS, de 2000.

JF: Como definiria seu estilo literário?

Eclético para poesia e crônicas também.

JF: Que acha de seus textos: O que representam para si? E para os leitores?

Acho que são a expressão do meu pensamento. A maioria dos leitores dizem gostar.

JF: Qual a sua opinião a respeito da Internet? Tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

Tem contribuído muito e eu considero o mais valioso meio de publicação atual, ainda mais para quem não tem a grande mídia ao seu dispor.

JF: Tem prêmios literários?
Alguns.

JF: Participa de Concursos Literários? Qual sua visão sobre eles? Acha que eles tem “marmelada”?
Participo às vezes. Tenho visto trovas sem nenhum fundamento serem premiadas.

JF: Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente precisa de algum ambiente especial ?
Surge de repente, não sei de onde nem quando.

JF: Você acredita que para ser poeta ou trovador basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

Tudo é essencial, principalmente muita leitura.

JF: No processo de formação do escritor é preciso que ele leia livros de baixa qualidade?

É preciso distinguir.

JF: Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós chega apenas o que a mídia divulga. Na sua opinião que livro ou livros da literatura da língua portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

Os clássicos: Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Rui Barbosa. Paulo Setúbal, Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, Lya Luft e outros. Os bons escritores. A lista é infindável. Poesias de Vinicius de Moraes, Guilherme de Almeida e os clássicos também Castro Alves, Fagundes Varela, Alvares de Azevedo, Olavo Bilac, tantos e tantos.

JF: Qual o papel do escritor na sociedade?

Ensinar e divertir também.

JF: Há lugar para a poesia em nossos tempos?

Há sim. Aqui no sul principalmente a poesia gauchesca, os sonetos românticos. Basta declamar uma poesia atraente todos gostam.

JF: A pessoa por trás do escritor

Um bancário aposentado, um advogado não militante e um diletante em literatura.

JF: O que o choca hoje em dia?

A violência e a falta de saúde pública.

JF: O que lê hoje?

Romances e poesias. Estou curtindo um ócio criativo. Nada de muito profundo.

JF: Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Continuar escrevendo nos blogs e talvez preparar um livro de poemas e poesias gauchescas.

JF: De que forma você vê a cultura popular nos tempos atuais de globalização?

Vai andando aos trancos e barrancos, mas com o andar da carroça as abóboras se ajeitam na caixa.

JF: Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?

Ler bastante e escrever mesmo errando.

JF: O que é preciso para ser um bom poeta ou/e trovador?

Muita leitura e perspicácia.

JF: Trovas de sua autoria.

Cada paixão que me invade
surge do amor que não tive;
e representa a saudade
de quem neste mundo vive.

Eu não sou navegador,
mas enfrento o mar da vida,
por causa do nosso amor
que não teve despedida.

Foste a morena brejeira
que surgiu em meu amor
como o botão da roseira
que agora não dá mais flor.

Não foram horas perdidas
as que passei junto a ti;
são lembranças bem vividas
que nunca mais esqueci...

Perambulando sozinho
pelas ruas da cidade,
procuro achar o caminho
que leva à felicidade.

JF: Finalmente, se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos quais seriam?

Boa saúde, meios para continuar vivendo e a felicidade da Humanidade inteira.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

José Feldman (Aquarela de Trovas n. 4)

Xô inverno... vá-se o frio...
      volte depressa o calor...
que as rosas já estão no cio,
à espera do beija-flor!
A. A. DE ASSIS – Maringá/PR
-
Repare que nossa alma
rende-se sempre bem mais
por um olhar que se espalma
que por ouvir tristes ais.
AMILTON MONTEIRO – São José dos Campos/SP
-
Quero de novo aprender
para depois ensinar
como se deve viver
conjugando o verbo amar.
ANTÔNIO MANOEL ABREU SARDENBERG – São Fidélis/RJ
-
Nem futuro nem presente,
só mesmo o passado impera,
pois não mais que de repente
o que seria já era.
ANTÔNIO ROBERTO – Campos/RJ
-
A minha roça eu troquei
pelas luzes da cidade.
Nesse dia eu comecei
meu plantio de saudade!
ARLINDO TADEU HAGEN – Juiz de Fora/MG
-
O amor ficou no passado...
– Hoje eu sei por que ficou:
o nosso encontro marcado,
o destino desmarcou!
CLENIR NEVES RIBEIRO – Nova Friburgo/RJ
-
Desprezei tua amizade,
queria mais, muito mais!...
Hoje sou nau da saudade,
apodrecendo no cais.
CONCEIÇÃO DE ASSIS – Pouso Alegre/MG
-
Olhei a foto atrevida
de uma cena de nós dois:
Era o retrato da vida,
tão diferente depois!
DELCY CANALLES – Porto Alegre/RS
-
Se “Mãe” não tem com que rime,
não desistas, trovador...
Troca a palavra sublime
pelo sinônimo “Amor”!
DOROTHY JANSSON MORETTI – Sorocaba/SP
-
Amanhece... e eu me agasalho
na mais fria solidão,
porque o sol enxuga o orvalho,
mas minhas lágrimas... não!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA – Rio de Janeiro/RJ
-
Orgulho bobo... vaidade...
caprichos do amor sobejo...
Eu, morrendo de saudade,
fingir que nem te desejo!
ELISABETH SOUZA CRUZ – Nova Friburgo/RJ
-
Lembrando o que tu dizias
do amor que tinhas por mim,
eu vi, enquanto partias,
quanto o infinito... tem fim!
ERCY MARQUES DE FARIA - Bauru/SP
-
Meia luz...noite...a vidraça...
a cama... o beijo... e depois...
um brinde... o champanhe... a taça...
o amor... o sonho... nós dois.
FLÁVIO ROBERTO STEFANI – Porto Alegre/RS
-
O progresso traz mudanças,
cria fábricas e usinas,
mas se esquece das crianças
que dormem pelas esquinas!
GERSON CÉSAR SOUZA - São Mateus do Sul/PR
-
Meus lábios apaixonados
bebem o orvalho dos teus,
desses teus lábios molhados,
que sonham com os lábios meus!
GISLAINE CANALES – Porto Alegre/RS
-
Qual um pastor diligente
cuidando do seu rebanho,
pastoreio no presente
minhas saudades de antanho.
GUTEMBERG ANDRADE – Fortaleza/CE
-
Se no passado ou futuro,
de um homem, tristeza houver,
pode crer que essa tristeza
tem por essência a mulher.
HÉRON PATRÍCIO – São Paulo/SP
-
Saio da luta ferida;
logo depois me refaço...
Volto na dança da vida
com mais certeza em meu passo!
IVONE T. PRADO - Belo Horizonte/MG
-
Há dois mil anos o brilho
de um grande amor sobressai:
– o sacrifício de Um Filho
pelos filhos de Seu Pai!!!
IZO GOLDMAN – São Paulo/SP
-
Floresta amiga, perdoa
o fogo, a serra, a agressão:
a humanidade ainda é boa,
certos homens é que não!
JOÃO FREIRE FILHO - Rio de Janeiro/RJ
-
As tuas rosas vermelhas
levei-as ao meu jardim.
Nunca vi tantas abelhas
voando em torno de mim!
JUDAS ISGOROGOTA – Lagoa da Canoa/AL
-
O sonho que idealizo
tem, na sua intensidade,
o tamanho do sorriso
de quem mata uma saudade.
JOSÉ MESSIAS BRAZ – Juiz de Fora/MG
-
Se a vida pede uma pausa,
       faça isso, por favor,
ou por amor a uma causa,
ou por causa de um amor!
  JOSÉ OUVERNEY – Pindamonhangaba/SP
-
Quem a família coordena
e a sua casa não trai,
quem não tem alma pequena
é um bom modelo de pai.
   LÓLA PRATA – Bragança Paulista/SP
-
O meu amor desmedido,
 sem ter cais para ancorar,
parece um barco perdido...
longe da praia... a vagar...
  MARIA LUA – Nova Friburgo/RJ
-
Com dois cálices de vinho,
na ilusão de “alguém” comigo,
bebo os dois, mas um restinho
finjo que é seu... e prossigo!
MARIA LÚCIA DALOCE CASTANHO - Bandeirantes/PR
-
A distância, achando meios
para unir nossas metades,
somou nossos devaneios
e dividiu as saudades!...
MARIA NASCIMENTO – Rio  de Janeiro/RJ
-
No grande páreo da vida,
o amor luta contra o ódio.
Não permita que a corrida
finde sem o amor no pódio.
MIGUEL RUSSOWSKY – Joaçaba/SC
-
Naquele seco torrão
de terra o pobre coitado
só colheu desilusão;
mesmo não tendo plantado!
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO – Fortaleza/CE
-
Guarda no olhar a doçura
com que me embalou um dia.
Mãe lembra sempre a figura
e a ternura de Maria.
NILCI GUIMARÃES – Rio de Janeiro/RJ
-
 Planta um beijo em meu jardim,
meu amor, quando te fores,
que ao ver teu beijo florir
murcharão as outras flores!
PEDRO EMÍLIO – São Fidélis/RJ
-
Amor de perdas e danos,
triste contabilidade:
resgate dos desenganos,
sobras de caixa-saudade!
SELMA PATTI SPINELLI – São Paulo/SP
-
No mar da vida, meu barco,
mesmo ao sabor da maré,
tem a esperança por marco
e por farol tem a fé!
THEREZA COSTA VAL – Belo Horizonte/MG
-
Vou dormir porque preciso
com você, mamãe, sonhar,
e sonolenta analiso:
não vou querer acordar!
VÂNIA ENNES – Curitiba/PR
-
Amizade é sã vivência
do bom relacionamento,
e se estrutura na essência
do mais belo sentimento.
VIDAL IDONY STOCKLER – Curitiba/PR
-
Almejo trilhas sem fim,
ornamentadas de rosas!...
Mãe, vais à frente de mim,
cultivando as mais formosas!
WAGNER LOPES – Pedro Leopoldo/MG

Nilto Maciel (A Reunião)

Os homens se acomodaram ao redor da grande mesa. Falavam baixo, cochichavam, mãos postas sobre a tábua ou os papéis. Que notícia traria o Presidente? Teria alguma relação com a morte do vereador de Sapoapé? Não, Sapoapé não – Cipoaté. Ou com o nascimento do cabrito com duas cabeças? Possivelmente não. Aquilo interessava muito mais aos biólogos do que aos políticos. Um ou outro alisava garrafinhas com água e copos. A luz das lâmpadas no teto não provocava sombras. Súbito a grande porta se abriu e por ela entrou o Presidente, boca cheia de sorrisos e bons-dias. Os ministros se levantaram de uma vez, como se tomados de repentino susto. Estrépito de cadeiras arrastadas no chão. O coro de vozes roucas retribuiu a saudação. A autoridade maior se sentou e, com um aceno, autorizou o sentar-se de seus auxiliares. Olhos fitos no rosto do comandante, os homens nem sequer piscavam, paralisados, imóveis, inertes. O que diria o chefão? Sapoapé, Cipoaté, cabrito, vereador? Olhar vidrado, ele engolia palavras, sem mastigar. Um ou outro ministro cruzava as mãos suadas. Nenhuma sombra se mexia sobre a mesa, nas paredes, no chão. E nada de o mandachuva abrir a boca. Ao longe, garçons cochilavam, surdos e mudos. A ponta do sapato de um cupincha encontrou a ponta do sapato de outro cupincha à sua frente. Arregalaram os olhos. Qual o significado daquilo? Estaria ficando louco? Retirasse o pé dali, imediatamente. Deixasse de gracinhas. Alguém ousou levar as mãos a um copo. Reprimenda geral, com os olhos. Não fizesse aquilo. Deixasse a autoridade se servir primeiro. O silêncio fazia ouvirem-se os mais remotos e insignificantes ruídos: na boca de um, nos lábios de outro, a respiração de fulano. Olhares se cruzavam de ponta a ponta. O do vizinho à esquerda do chefe fulminava o sétimo à direita dele. O terceiro à direita piscou discretamente para o quinto da coluna frontal ao frontispício central. Por que o homem não falava nada? Teria perdido a fala? Estaria dormindo? Seria sonâmbulo? Teria enlouquecido? E se o interpelassem? Quem o faria? Não, ninguém ousaria interromper o sono do Presidente.

A mim cabia somente filmar a reunião. E também nada dizer ou perguntar.

Fontes:
MACIEL, Nilto. A leste da morte. Editora Bestiário, 2006.
Imagem = http://www.lisriopreto.com.br

Goulart Gomes (Poemas Avulsos)

O ANALFABETO IDEOLÓGICO
ou Carta Aberta a Herr Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto ideológico.
Ele desconhece a importância
do respeito ao ser humano
e é capaz até de destruir tudo à sua volta
pelas suas crenças.
Ele é o pai de todas as guerras.
O analfabeto ideológico é tão burro
que ignora que milhões de pessoas foram mortas
em Auschwitz, em Kronstadt, no Arquipélago Gulag,
em Hanói, em Saigon, em Leningrado, Havana,
Hiroshima e Nagasáki
pela ignorância dos politicamente alfabetizados.

O analfabeto ideológico já não se lembra
do napalm atirado em crianças, no Vietnã
dos tanques esmagando jovens em Beijing
nem da Primavera de Praga.
Ele esqueceu dos desaparecidos
no Araguaia, em Buenos Aires,
em Santiago do Chile.
O analfabeto ideológico
explode bombas contra católicos e protestantes
em Dublin
e contra judeus e muçulmanos
em Jerusalém.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância
nasce o mutilado, o órfão,
o neurótico de guerra, a viúva,
las madres de Plaza de Mayo,
as ditaduras.
Tudo isso porque
o analfabeto ideológico tem uma visão estreita,
uma amnésia do passado
e nenhum compromisso com o futuro.

Já leu todas as biografias dos grandes estadistas,
mas nunca a do Mahatma Gandhi,
que foi líder sem ser governante
e por isso desconhece ahimsa:
a lei da não-violência.
Em seu radicalismo
ele não ouve, não respeita, não conhece
(ainda que seja para criticar)
outras ideologias, que não a sua.

Ele está preocupado em promover
a discórdia, o confronto,
e não tem o menor respeito à Vida:
nem à sua, nem à dos outros.

L’ANA

A tarde amorenava o dia
permutando cores onde pousava
o seu toque
Lançava sobretudo sua tez
abria um leque à cara do sol
e tingia de penumbra os espaços
dos olhos dela fugia a claridão
e à volta se tingia
aquela cor de pele
espargindo a noite

A quem contar segredos?
Inútil degredo dentro
de nós mesmos
ânsia de ouvir espelhos
clamor de anos que não vieram

L’Ana e su’alma de caranguejo
subterrânea/submarina
tenazes fortes e cor baiana:
a mais doce mistura destas tendas;
seu corpo espraia-se
num descobrir de terras macias
além do Oceano (rio mais grande,
lágrimas de Orixá)
dança, noturna, feito estrela
lua-mãe cheia nos leitos
de um homem e dos rios
fazendo canastras de tarot
Só L’Ana amortece a dor
no parapeito do riso
e seus lábios rubros e ciganos
traçam caminhos, deixam vestígios
úmidos no meu corpo
e palavras em gemidos

TEMPO FARPADO

Matamos o tempo; o tempo nos enterra
(Machado de Assis)

arame farpado
o Tempo recurva
até os pregos;
nos ferros
depõe suas marcas
amarga as madeiras
descendo as ladeiras
dos dias

A flor impera
promessa da semente
e do húmus da terra
espinhos e farpas
não cortam o vento

(o Tempo se cala)
a pétala fala
também somos eternos

DÁDIVA DA VIDA

a ninguém devia nada
no colo, apaixonada
deu por si

ALUNISSAR
um dia chegarei com passos firmes
sem cavalo
e não direi palavra;
o simples gesto da presença
apaga mágoas
e pressupõe surpresas

será um dia comum
- nenhuma ânsia -
com sol, nuvens e pássaros
no rádio, alguma música romântica
estará tocando
a torneira da pia, como sempre
pingando

um dia chegarei em silêncio
e tudo flutuará
por absoluta falta de gravidade

ISTMO

ela, tão triste
ele, tão ausente
nem a lua se fez presente

Fonte:
Goulart Gomes (organizador). Antologia do Pórtico. 2003.

Artur Eduardo Benevides (Depoimento Sigiloso)

Não. Eu não estava sentado à janela de meu apartamento, olhando para o mar, nem tudo ficou bem claro de repente e uma súbita luz desceu do céu. Não eram vinte e três horas. Não estava tudo calmo. Não havia um brando e inesperado vento leste-oeste, suavizando o tremendo calor de 33 graus.

Eu não bebera minha costumeira dose de rum com coca, limão e gelo. Não falara com minha tia Onalda, que não me perguntara se não havia algo estranho lá fora.

Não fico sozinho aqui, todas as noites, a comer pizza com orégano, desde que meu filho se foi para sempre. Não senti o drama da morte de minha mulher, apunhalada na rua por um assaltante. Nem a partida de minha filha, pouco depois, para terras distantes, acompanhando o marido aviador.

Minha vida não é terrivelmente monótona e vazia. Não sou infeliz. Não vivo a olhar o infinito através de uma pequena luneta astronômica, de fabricação japonesa. Nem vi, outro dia, uma imagem bastante estranha surgir, às três da manhã, no meu aparelho de televisão a cores, de vinte e cinco polegadas, e desaparecer lentamente, emitindo sinais numa frequência desconhecida.

Não acredito em vida fora da terra. Não gosto de falar em tais assuntos. Não me fascinam. Não me empolgam. Não me levam a adquirir mais de trezentos volumes sobre literatura de antecipação.

Não converso tais cousas com ninguém. Meu genro nunca me disse que a Força Aérea desconfia seriamente da existência de objetos voadores não identificados. Nem me falou de certo Projeto Pente – Fino, em que há provas irrefutáveis de passagem ou permanência entre nós de viajantes de outras galáxias, o que, aliás, se encontra registrado nos mais velhos livros do mundo. Ou melhor, retificando: não se encontra registrado em livro nenhum.

Quem disser que recebo comunicação telepática de alguém chamado U-Thor está mentindo. Não recebo comunicação nenhuma. Não fui até o paredão de pedras negras, para ver, de repente, aqueça maravilhosa luz vinda do céu. Nem fiquei, na noite seguinte, sentado em meu carro, tentando fazer a gravação da mensagem prometida.

É pura mentira a existência daquelas palavras: “Saudações cósmicas, ó povo do planeta azul! Necessitamos urgentemente de vós. Nossa civilização está perecendo e tendes espaço e oxigênio suficientes para o que resta de nossa população. Não vos faremos mal. Já não somos muitos. Temos informações extraordinárias para os vossos cientistas. Moramos alguns anos-luz, mas podemos chegar em sete-de-força para proteger as nossas cubas, pois estais muito próximos do sol e somos todos albinos. Aguardamos para breve a vossa generosa decisão. Paz! Paz! Paz! Alegrias para todos, ó irmãos do planeta azul!”

Tudo isso é inverdade. Utopia. Ilusão. Ou fantasia. Na realidade, U-Thor não me disse que já se impacienta e os seus acabarão por chegar de qualquer maneira. Não sei se as vanguardas já desembarcaram ou estão a desembarcar no Canadá, escolhido como Ponto Alfa. Nunca vi nada. Não sei de nada. Estive aqui, meio paralítico, por cinco anos.

Ignoro por que motivos satânicos minha nora foi declarar tais cousas nos jornais. Não acredito em disco-voador. Não existem Óvnis. Ou Ufos. Nos altos céus, só as estrelas, os planetas, os asteroides e os cometas. Nada mais. O resto é pura imaginação. E U-Thor? Ora, quem é U-Thor? U-Thor não existe. Sua luminosa nave não pousa, de sete em sete dias, de madrugada, naquela praia deserta. Nem ele me curou de paralisia no braço esquerdo usando um pequeno facho de luz violácea. Nem livrou tia Onalda de um tumor maligno no seio.

Nada disso aconteceu. Quem disser o contrário é louco. Os senhores, do Serviço de Inteligência, podem anotar que assino. Com firma reconhecida e tudo. E, por favor, me esqueçam. Não mais há nada a declarar. Juro que minha mente continua sendo minha. Inteiramente minha. Não a cedi, em momento algum, aos mensageiros do segundo planeta da Terceira Constelação. Continuo a ser terráqueo. Não estou começando a enxergar no tempo ou a exercitar-me em telecinesia. Não principio a perceber o inesquecível mundo da quarta dimensão. Não sendo iniciado no Grau Psi Beta. Nego tudo. Não sei de nada. Não vi nada. Só quero que me deixem em paz. Preciso viajar com urgência para o Canadá. Desculpem: foi um engano. Não preciso viajar com urgência para o Canadá. Nada tenho a fazer lá. Ou em parte alguma. Ninguém me espera. Rigorosamente, ninguém. Nem aqui, nem na curva do horizonte, nem nos frios espaços das estrelas.

 (Artur Eduardo Benevides, A Revolta do Computador e outros contos de mistério)

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Artur Eduardo Benevides

Artur Eduardo Benevides (Pacatuba, 1923) cedo se mudou para Fortaleza, onde militou no jornalismo e se diplomou em Direito. Ocupou diversos cargos administrativos. Licenciou-se em Letras. Professor da Faculdade Católica de Filosofia do Ceará, da qual foi também Diretor. Professor Titular do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará, tendo sido ainda Diretor do Centro de Humanidades da mesma universidade. Exerceu o cargo de Diretor do Centro de Estudos Brasileiros em Rosário, Argentina. Portador de várias medalhas, vencedor de inúmeros prêmios literários, como o prestigiado Prêmio Nestlé de Literatura. Eleito por diversas entidades culturais do Ceará o Príncipe dos Poetas Cearenses. Membro fundador do Grupo Clã. Sua bibliografia é vasta, principalmente no campo da poesia, sendo autor de 46 títulos, entre os quais dois de contos: Caminho sem horizonte (1958) e A revolta do computador e outros contos de mistério (2001). Da Academia Cearense de Letras e Academia Cearense da Língua Portuguesa, dentre outras. Está também presente na Antologia do Conto Cearense (1990), organizada por Mary Ann Leitão Karam, com “Depoimento Sigiloso”, premiado em 1984 no Concurso Nacional de Contos promovido pela Editora Abril Cultural.

Nas dobras da capa do segundo volume, Révia Herculano assim se manifesta: “Esta é uma coleção de contos de suspense, ou mistério, descendentes, em linha reta, dos contos góticos dos ingleses do século XVIII”.

Tido como um dos maiores poetas cearenses de seu tempo, Artur Eduardo Benevides pratica o conto também desde longas datas. Braga Montenegro, o mais completo estudioso da história curta no Ceará, no ensaio “Evolução e natureza do conto cearense”, lembra do poeta “um conto muito bom, premiado num concurso, demonstrando ali acentuadas inclinações para o gênero, sobretudo a facilidade de realçar a justa gradação trágica, contudo numa forma nem de todo isenta do transbordamento vocabular”. Lembra também o livro Caminho Sem Horizonte, “em que reúne nove estórias, todas acomodadas numa estreita faixa de temas, sem maior esforço experimentalista e sem penetração no espaço da literatura, isto é, no espaço dos mitos e dos símbolos poéticos”. Com a publicação do volume A Revolta do Computador e Outros Contos de Mistério, Artur demonstrou ser contista não somente inclinado para o gênero, mas capaz de compor um conjunto de peças insólitas em dialeto irrepreensível e, ao mesmo tempo, de agradável leitura. A coleção abarca 17 narrativas curtas, em linguagem concisa, enxuta, límpida e livre de transbordamentos vocabulares.

                Há, pelo menos, três tipos de história no livro: os realistas, os neogóticos, como quer Révia Herculano, e os de ficção científica. Nos dramas vividos pelos personagens dos dois primeiros grupos a realidade cede lugar à fantasia, ao mistério, ao inusitado, ao extraordinário, ao inesperado. Podem ser vistos como realistas aqueles em que pouco de mistério se pode vislumbrar em suas tramas, embora nos desfechos se encontrem laivos de obscuridade dos fatos. Em “O Grito Final”, o narrador Nimrod, domador de serpentes, fala para gravador portátil, momentos antes de sua morte. Picado pela serpente Peralta, ao se distrair com a presença de Moya, sua “pequena” de anos atrás, espera a morte. Em “A Sede”, o narrador é “doido varrido”, em cidade pequena, fustigado por alucinações e, ao mesmo tempo, alucinado por mulheres. Estranhamente, essas mulheres vão morrendo, sem que se saiba se ele as matou ou não. Primeiro a tia Ana, encontrada no chão sem vida, “depois de uma trovoada sem fim”. Depois Lindalva, que trabalhou em sua casa algumas semanas. Logo em seguida, Tiana. “E outras mais”. História realista, mas ao mesmo tempo de cunho misterioso. De feitio semelhante a este é “Pesadelo”. O narrador conta episódios de sua infância nas matas de Marajó. Como em outras narrativas, a selva amazônica é o palco desta trama. O protagonista tem pesadelos e em sua mente se embaralham as figuras do avô, do pai desconhecido, da mãe prisioneira em casa, de índio xapacura que guardava a mãe do narrador e um dia o empurrou e pôs o pé enorme no seu peito, da professora morta e, finalmente, da filha manca, Aglaê. A selva é misteriosa, a vida na selva é misteriosa, o narrador é misterioso e mais misterioso é o desfecho, no qual pode ser entrevisto relacionamento incestuoso: “Chamo-a docemente, (...) Ela vem devagar e sinto suas pisadas como se fossem o pé enorme do xapacura sobre o meu peito, nas noites de longos pesadelos e relâmpagos clareando o pantanal (...)”.

Em “A Serpente Enciumada”, uma das mais belas peças da coleção, outra cobra é fundamental no enredo. O narrador é herdeiro de fortuna deixada por tio exótico, colecionador de “cousas e bichos”. Diferente do morto, o homem se livra, aos poucos, de quase todas as coleções, menos de uma serpente, Dafne. Em dado momento planta no leitor uma dúvida: “Não sei se Dafne é mulher. Para mim, é apenas uma serpente”. Ora, no imaginário popular (em lendas e mitologias) a mulher é serpente. “Tia Heliodora ou o Clarão da Súbita Bondade” (título inadequado para a beleza da peça) é tipicamente realista. Narrado por menino, os personagens principais são a solteirona Heliodora e um leproso. A trama se desenrola num tempo em que os hansenianos eram recolhidos em asilos e, quando saíam às ruas, tocavam sineta, para avisar os cidadãos de sua presença. O pânico se instalava nas pessoas, que corriam e se trancavam nas casas. No final, a mulher abre a porta e dá água ao doente, em gesto considerado imperdoável pelos demais cidadãos.

                A presença de cobras nas narrativas de Artur é relevante. Nuns, como ente simbólico; noutro, “O Encantado”, como ser lendário. O protagonista é o homem encantado pela serpente que vive nas águas amazônicas. O drama se inicia quando se perde na selva e “senti qualquer coisa extraordinária à minha volta”. Socorrido por bolivianos, é avisado de que “está encantado”. E conduzido para o seringal: “Aqui, nas proximidades, deve haver uma grande jiboia, com olhos na sua nuca”. Passa a ter pesadelos. Certa vez sonha com imensa cobra e acorda “com o corpo moído, como se algo incomum me houvesse apertado durante a noite”.

Em “Trevas”, o protagonista sem nome explícito (como muitos outros) fala ou pensa (monólogo ou solilóquio), enquanto assiste sozinho a filmes na televisão. E ora se comunica, pela visão e pela audição, com os personagens dos filmes (Conde Drácula, Tom Mix, Flash Gordon) e até com a atriz Catherine Deneuve, como se também fizesse parte da história; ora com os próprios fantasmas, como a sua irmã paralítica já morta, o menino morto na lagoa, aranhas gigantescas. Na realidade, está só, mas “percebe” que há outra pessoa na sala, “invisível e presente”. O tema da narrativa é a solidão: “Sou um lobo solitário. Um homem sozinho. Com medo”. Em “O Último Rosto” também o realismo cede lugar ao mistério. O narrador, ex-funcionário da Sinfônica Municipal, vê desaparecem um a um os rostos de seus companheiros da foto do grupo de sete pessoas, à medida que iam morrendo.

Em mais de uma obra, protagonistas veem e se comunicam com pessoas mortas. Um deles, o de “Trevas”, chega a falar em mediunidade ou hipersensibilidade. Outro, em “A Boa Velhinha”, imagina-se louco, após ter estado com uma senhora, em visita oficial aos moradores de rua cujas casas seriam demolidas para dar lugar à “grande maternidade municipal”. Dias depois, volta ao local e é informado de que a tal mulher “morreu há uns vinte anos” e “nessa casa não mora ninguém desde então...” O mesmo fenômeno se verifica em “O Retrato Pendurado no Tempo”. O narrador é cavaleiro de sociedade hípica. Na primeira cena, nas proximidades do Convento do Carmo, se depara com dois anõezinhos malucos que “estavam a rasgar, aos gritos, as roupas do frade”. Indignado, expulsa a chicotadas os agressores. Dias depois, visita o convento e procura Frei Vitalino, o personagem do primeiro momento da trama. Surpreende-se ao ouvir do zelador a frase: “Frei Vitalino não existe, meu caro. É uma lenda”. Mais adiante o funcionário avisa: “Cuidado! Por aqui aparece visagem. É mal-assombrado. Aqui e na sala dos retratos”. E no final a confirmação de que havia estado com um morto: em placa de prata abaixo do retrato do frade viam-se duas datas: 1820-1896. Em “A Senhora de Azul, com Cabelos Grisalhos”, o narrador conhece estranha personagem, “jovem senhora, vestida de azul”, cuja presença é garantia de tragédia ou acontecimento funesto. Seria a própria morte, ser fictício simbólico.

Os contos de fundo científico (science-fiction) de Artur envolvem seres humanos, extraterrestres e máquinas, alguns destes alcançando a posição de protagonistas. O mistério neles é de outra natureza, menos psicológica e mais ontológica. Em “Depoimento Sigiloso” o narrador é homem afeiçoado aos objetos voadores não identificados que nega conhecer os estranhos acontecimentos relacionados a Ovnis. Aliás, toda a narrativa é composta de negativas. A história que dá título ao volume se enquadra perfeitamente no subgênero ficção científica. Narrado também por ser humano, o protagonista é, no entanto, um computador superinteligente, de nome Stanley, um semideus, no ano de 2106. Em “Zyw” o ser fictício principal é alienígena, vindo de satélite de Júpiter, “um garotão de quase três metros de altura”, criado em fazenda experimental no Araguaia. O narrador é também extraterrestre, nascido em Tritão.

O poeta está presente nas narrações e descrições de quase todas as peças. “A Sede” é obra poética, sem deixar de ser narrativa. Há frases em que a poesia se mostra em sua plenitude: “Estava a chover nos telhados da infância” (p. 61). A última peça, “As Carruagens do Sem-Fim” é composição de fino lavor, talvez o mais misterioso dos contos do livro. É poesia pura. Os personagens, que não são poucos, vêm dos confins das lendas e dos mitos e viajam na grande nave interestelar, até que o círculo se feche. E Artur Eduardo Benevides fecha o seu livro com chave de ouro, como só os narradores criativos, os poetas, os iluminados sabem e podem fazê-lo: envolto em mistérios.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Prof. Garcia (Caderno de Trovas)


A dor que se intensifica
e amedronta os dias meus,
é pensar na dor que fica
depois da palavra adeus!
* * *
A estrela da mocidade,
que em minha infância brilhou;
brilha em meu céu de saudade,
depois que a infância passou!
* * *
A existência é dividida
em dois extremos da idade:
um, alvorada da vida,
outro, arrebol de saudade!
* * *
A insensatez, na verdade,
separou nossos lençóis;
e agora a dor da saudade
dói muito mais entre nós!
* * *
A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
* * *
Amores na mocidade!...
Depois, a contrapartida:
cansaço, dor e saudade
na curva extrema da vida!
* * *
A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
* * *
A natureza resiste,
mas a tristeza do monte,
é enxugar o pranto triste
dos olhos tristes da fonte!
* * *
Antes que a aurora desponte
dando vida à luz do dia,
tenho que cruzar a ponte
nos braços da poesia.
* * *
Aos  ritos do amor se entrega
um casal apaixonado,
que até nos olhos carrega
o silêncio do pecado!
* * *
A poesia se engalana,
mas só se torna completa,
quando se faz soberana
na voz do próprio poeta!
* * *
As cordas desafinadas
e esta voz chegando ao fim!...
São mimos das madrugadas
guardados dentro de mim!
* * *
A solidão me angustia
e à noite aumenta o meu drama,
vendo a cadeira vazia
que a tua ausência reclama!
* * *
Às vezes, me falta estima,
vendo a multidão que passa...
Muita gente se aproxima,
mas pouca gente se abraça!
* * *
A terra inteira secou!…
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
* * *
A virtude que mais rego,
vive em mim, nunca passou:
é a FÉ que sempre carrego
de ser feliz como sou.
* * *
Beije e abrace uma criança,
como se beija uma flor!
Pois, nesta rosa se alcança
a essência pura do amor!
* * *
Busquei no universo um dia,
uma resposta eficaz;
que transformasse a POESIA
num hino de amor e paz!!!
* * *
Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
* * *
Cadeira velha!...Esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
* * *
Cascata, teu pranto triste,
parece que não tem fim!...
Comparo ao pranto que existe
doendo dentro de mim!
* * *
Como quem faz uma prece,
braços erguidos se abrindo,
a borboleta parece
um anjo da paz dormindo!
* * *
Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua…
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
* * *
Desperto e fico tristonho,
é triste o meu despertar,
ver acabado o meu sonho
antes do sonho acabar!
* * *
Deus - pintor da natureza,
usando a tinta mais viva:
pinta o céu, de azul-turquesa
e os mares, de verde-oliva!
* * *
De volta ao lar que eu não via,
desde a minha mocidade...
Enquanto a emoção crescia,
crescia a dor da saudade!
* * *
Distante dos teus afagos,
nesta inquieta nostalgia,
meus olhos formam dois lagos
que me afogam todo dia!
* * *
Do sino, ouvindo a amargura,
da tarde que já morria,
fiz da triste partitura
a mais feliz melodia !
* * *
Em cada beijo roubado,
que roubo de ti, meu bem,
sinto o gosto do pecado
que o beijo roubado tem.
* * *
Em seu vai-e-vem bonito,
a lua em seu caminhar...
Enche de luz o infinito,
de prata, as ondas do mar!
* * *
Enquanto a ciência avança,
fato novo se descobre…
E o fruto do que se alcança
torna a ciência mais nobre
* * *
Esta aliança que um dia,
já guardou nossos segredos;
hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
* * *
Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o AMOR e a saudade!
* * *
Esta dor que em mim persiste
e não me deixa dormir!...
é "aquela" lembrança triste
do que deixou de existir!
* * *
Este amor que em mim fervilha,
quando estamos sempre a sós...
se for bem feita a partilha,
será eterno entre nós!
* * *
Eu me curvo ante os conselhos
que recebo todo dia,
quando dobro os meus joelhos
aos pés da Virgem Maria!
* * *
Eu vejo ó linda criança,
neste teu sorriso lindo,
a mais feliz esperança
das esperanças dormindo!!!
* * *
Há uma sombra em meu caminho
que me segue…e, mesmo assim…
Nem quer me deixar sozinho
nem diz o que quer de mim!
* * *
Já escalei morros medonhos,
caminhando passo a passo.
Mas nunca pude em meus sonhos
escalar nuvens no espaço!
* * *
Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
* * *
Larga a tristeza e acalanta
teus sonhos, por onde fores.
Nada no mundo suplanta
teus lindos sonhos de amores!
* * *
Mãe preta! teu negro seio
deu-me o mais puro sabor;
nele eu bebi sem receio
a eternidade do amor!
* * *
Meu Deus! se a chuva caída,
fecunda o sertão no estio,
o inverno é fonte de vida
do sertanejo bravio!
* * *
Meus sonhos da mocidade,
hoje são meus pesadelos;
lembrados, sinto saudade,
mas é tolice esquecê-los!
* * *
Minha renúncia...quem sabe...
não seja a chave secreta,
de tudo quanto só cabe
na inspiração de um poeta!
* * *
Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
* * *
Morre a tarde!...E ao fim do dia,
na imagem do sol poente,
há tintas de nostalgia
do fim da tarde da gente!
* * *
Na sinfonia das almas
ensaia-se lindo canto;
ouvem-se preces e palmas:
- Padre João Maria é santo!
* * *
Na loucura dos meus versos,
e em quase todos seus traços,
há pedacinhos dispersos
do amor que tive em teus braços.
* * *
Na manjedoura em Belém,
nasce um mistério profundo:
Uma luz vinda do além,
que se fez a luz do mundo!
* * *
Não me faça mais perguntas,
erro assim, não mais cometa...
Talvez, só nossas mãos juntas
possam salvar o planeta!
* * *
Nas asas de um vento brando,
na espuma branca do mar…
as ondas chegam cantando,
trazendo o sal potiguar!
* * *
Na vida que se renova,
no Natal que se aproxima,
eu forro a mesa com trova,
e brindo a noite com rima.
* * *
Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
* * *
Ninguém é pedra polida,
se não mudar de conduta;
pois, a pedreira da vida
é feita de pedra bruta!
* * *
No outono triste da idade,
meu lago de solidão
transborda só de saudade
dos meus dias que se vão!
* * *
Nosso casebre, é de palha
de pau-a-pique a parede.
O amor que aqui se agasalha,
dorme comigo na rede!
* * *
O aborto, triste ferida,
que nos faz tanto sofrer;
como dói matar a vida,
antes da vida nascer!
* * *
Ó cigarra destemida
o seu disfarce me encanta,
por não ter nada na vida
e ser feliz quando canta!
* * *
Ó coqueiro pequenino,
que tanta água nos deu!
Que ironia o teu destino:
por falta d’agua morreu!!!
* * *
O mundo é roda gigante,
girando sempre a girar,
e eu sou passageiro errante
procurando meu lugar!
* * *
O outono da vida ingrata,
chega fazendo atropelos:
Joga tinta cor de prata,
na tinta dos meus cabelos!
* * *
O Seridó se enternece,
reza e clama todo dia,
orando, em forma de prece,
pelo Padre João Maria.
* * *
Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
* * *
Pesa a cruz do meu fadário,
mas tenho fé em Jesus
que se aumentar meu calvário
não sinto o peso da cruz!
* * *
Porteira velha, o gemido
desta dor que te corrói...
é o teu passado esquecido
que em teu presente inda dói!
* * *
Por teu amor sofri tanto,
foi tão grande o meu desgosto,
que cada gota de pranto
se fez cascata em meu rosto!
* * *
Prazer é sentir os dedos
de nossas mãos artesãs
pintando os lindos segredos
das auroras das manhãs!
* * *
Primavera é foto linda,
de uma infância toda em flor,
parece que nunca finda
a primavera do amor!
* * *
Quando a minha fé se esmera,
penso que tudo se alcança.
Por longa que seja a espera,
não perco nunca a esperança!
* * *
Quando a tarde veste o manto,
torna escura a luz do dia...
Saudade dói outro tanto
do tanto que já doía!
* * *
Quando um jardim perde as flores,
a mão de Deus recupera,
pintando as mais lindas cores
nas flores da primavera!
* * *
Quantas lições primorosas,
num pequeno beija-flor,
que beija todas as rosas
enchendo o mundo de amor!
* * *
Quase seca...E a fonte insiste
em seu lamento de dor!
É o canto ficando triste
e a fonte jorrando amor!
* * *
Rasga o manto que te cobre,
mostra teu riso e esplendor…
Pois, a cortina, mais nobre,
não cobre um riso de amor!
* * *
Revendo entulhos e tacos,
na tapera dos meus sonhos,
chorei por ver tantos cacos
dos meus dias mais risonhos!
* * *
Saudade de amor… lembrança,
que dói mais que qualquer dor!
Nem na velhice descansa,
quem tem saudade de amor!
* * *
Saudade – no fim do dia,
já sei por que me dói tanto:
aumenta a melancolia,
dobra as dores do meu pranto!
* * *
Saudade – seja onde for,
sempre é saudade, meu bem.
Um sentimento de amor
que dói no peito de alguém!
* * *
Sempre sozinha, aos farrapos,
mas de rosário na mão...
A fé tecida entre os trapos,
remendava a solidão!
* * *
Sempre tristonho…No entanto,
se a alegria é um grande bem,
eu tento esconder meu pranto
por trás do riso de alguém!
* * *
Se o tempo me desse tempo,
de fazer mais do que faço,
queimava a sobra do tempo
no calor do teu abraço!
* * *
Se descobre essa verdade
depois da idade vencida:
que a cada passo da idade,
se encurta o passo da vida!
* * *
Se o mar por insensatez,
naufragar o meu batel...
mando o recado outra vez
pelo barco de papel!
* * *
Sinalizando o caminho,
do nauta na escuridão;
o farol velho, sozinho
é fantasma e solidão!
* * *
Sonho repetidamente,
vendo um clone em tristes ais,
chorando porque não sente
o carinho dos pais.
* * *
Sou sertanejo e não nego
crestei meus pés neste chão.
Nestas marcas que carrego ,
carrego o próprio sertão!
* * *
Teu amor que me enternece,
que acaba todo meu pranto,
da sobra faço uma prece,
e ainda sobra outro tanto.
* * *
Toda tarde o passarinho
bate as asas, quando canta.
Quanto mais longe do ninho,
mais afinada a garganta!
* * *
Um beijo em ti, tão criança,
que agora tão longe vai…
Tudo me sai da lembrança,
mas o teu beijo não sai!
* * *
Velho sino, és sentinela,
a repetir sem maldade...
a dor da saudade dela,
na dor de minha saudade!
* * *
Vem das águas cristalinas
e vem da espuma do mar,
o sal das brancas salinas
do meu rincão potiguar!
* * *
Viver por viver somente,
faz teu mundo tão perjuro,
que este teu falso presente,
é o presente do futuro.

Prof. Garcia (Outros Versos)

SETILHAS

Distante de minha terra
só sinto tristeza e dor,
ao lembrar de minha infância
simples com tanto esplendor;
podia me faltar tudo
mas era rica de amor.
* * *
Enfrentei ventos fracos e refregas,
calmarias e fortes vendavais,
a procura da musa que me inspira
nos refrões dos antigos madrigais;
mas a sorte, madrasta dos meus planos,
só me deu versos soltos e profanos
e os gemidos sofridos dos meus ais!
* * *
Foi assim que eu pensei e sempre quis
e este meu pensamento eu não desfaço,
acredito na força do destino
confiando no verso que inda faço;
pois da fonte da santa inspiração,
eu bebi gotas d'água de ilusão
afastando as loucuras do fracasso.
* * *
Sempre tive a maior veneração,
por Deus Pai, nosso eterno criador,
que me quis pequenino deste jeito
e me fez seu eterno sonhador;
como quem diz abrace o que te dei,
e a poesia, feliz eu abracei,
me tornando poeta e Trovador.
* * *
Podem ver que os colibris
são amantes sonhadores,
que apesar de pequeninos
são felizes sedutores,
vivem beijando, e beijando,
de manhã cedo roubando
a virgindade das flores!
* * *
Sempre vi na grandeza do Senhor,
esta mão benfeitora e artesã:
no trinado das aves seresteiras,
despertando a floresta, o morro e a chã,
num concriz quando canta uma toada,
que enfeitiça o romper da madrugada
nos primeiros gorjeios da manhã!
* * *
Esqueci das barreiras que transpus
percorrendo as vertentes da poesia,
sempre em busca da forma mais completa
das origens dos versos que eu fazia;
só depois que bebi desta vertente,
Deus me fez tangerino do repente
e tropeiro do verso que me guia!

SEXTILHAS

É um eterno labutar
essa luta sempre a sós;
um no Sul, outro no Norte,
e o verso frio, sem voz,
quebrando o silêncio mudo
desta distância, entre nós.
* * *
A inspiração de meus versos
vem do infinito, do além;
dos arpejos dos suspiros
que as cordas da lira tem,
e do sorriso da noite,
de todo canto ela vem!
* * *
A saudade é um grande bem
na vida de um sonhador;
pois se não fosse a saudade
que provoca pranto e dor,
não havia entre os amantes
os lindos sonhos de amor!
* * *
Nossos versos não merecem
tratamentos desiguais;
são os fiéis guardiãs
que amamos  cada vez mais,
e a mais feliz harmonia
das liras celestiais!
* * *
Se o destino na verdade
aponta o nosso caminho,
que me dê a inspiração
de um poeta passarinho,
que canta versos ao vento
e faz serestas no ninho!
* * *
Penso na vida que passa
ligeira como quem voa,
no amor que se faz presente
no lar de cada pessoa,
e em tudo quanto se alcança
na graça de quem perdoa!
* * *
Eu vivo sempre a rezar
neste mundo em desatino,
peregrinando no tempo
igualmente a um beduino,
que leva o terço na mão
e a fé na luz do destino!
* * *
É na força da oração,
que a inspiração nos convém.
Quando dobramos o orgulho
erguemos um grande bem,
vão-se as tristezas da vida
e os desenganos também!
* * *
No mar onde a poesia,
beijando as ondas passeia;
meu barco cheio de encanto
por todo canto vagueia,
buscando as ondas dos versos
para adormecer na areia!
* * *
Que bom na vida seria
um sono à luz do luar,
onde um poeta cantasse
linda canção de ninar,
e a lua beijasse os lábios
dos versos que vem do mar!
* * *
Fontes:
Prof. Garcia, Zé Lucas e Ademar Macedo. Debate em Setilha Agalopada. RN, 2012.
Zé Lucas, Gislaine Canales, Ademar Macedo, A. A. de Assis, Delcy Canalles e Prof. Garcia. Sexteto em sextilhas: debate pela internet.

Prof. Garcia (1946)

Francisco Garcia de Araujo (Prof. Garcia), nasceu na fazenda Acari, Município de Malta-PB, em 27 de novembro de 1946. Em 1959, foi para Caicó-RN, na companhia do tio, poeta e amigo José Lucas de Barros, com quem morou vários anos, e vive até hoje.

    Licenciado em Letras (Português e Inglês), Bacharel em Direito pela UFPB e Pós-graduado em Teologia e Éticas Especiais.

    Poeta, trovador, escritor e compositor.

    Publicou em 1974 o livro TROVAS QUE SONHEI CANTAR.

    Foi bancário, vereador e secretário municipal em Caicó-RN.     

    Lecionou Português, Francês, Inglês e Espanhol.

    Casado com Anunciada Laura de Araujo Garcia, com quem tem três filhas: Mara Melinni de Araujo Garcia (Advogada, Pós-graduada e poetisa), Ava Murielli de Araujo Garcia (Pedagoga e Pós-graduada) e Eva Yanni de Araujo  Garcia (Formanda em Pedagogia e poetisa).

    Presidente do Clube dos Trovadores do Seridó (CTS),

    Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Caicó-RN,

    Delegado do Portal Cen para o RN.

    Sócio-efetivo da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte e da União Brasileira de Trovadores, seção de Natal-RN.

    Detentor de várias premiações em concursos de trovas e outras modalidades poéticas no Brasil e em Portugal.

    Radio Amador com prefixo PS7-ACK, e em 26 anos de radioamadorismo já fez mais de 53 mil contatos internacionais, tendo colaborado em situações extremas para salvar vidas humanas.

    Atualmente, é pequeno empresário no ramo de atacado, em Caicó-RN.

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro – Portal CEN – http://www.caestamosnos.org/autores/autores_p/Professor_Garcia.htm