sexta-feira, 4 de abril de 2014

Pedro Du Bois (Navegando nos Versos) 3

APENAS

Você
      pode alcançar
      o inatingível
      mas não quer correr riscos
                         e não sabe gerenciar o tormento
                    ou se alegrar com pequenos gestos

 apática
          aguarda a sua hora   
fosse o estopim e a corda
          ao redor do pescoço
 ou a espoleta sob a pedra

a espera desglorifica o sentido
e a consciência cede ao impulso
                           em quase nada.

TERRAS 

 
A terra entre mãos desperta
a forma e a fome. Sintetiza
e reserva o espaço ao vazio.

Escorre a terra na conquista
           e reconhece na placa
            o nome antepassado.


A terra sobre o corpo em mortalha
na batalha vencida pelo cansaço
e desistência na indolência
do corpo
          superficial
                     da entrega.


A terra morta é abandono
em ávidas carícias.

FEITOS

Feito aço: a lâmina assusta
o corpo indefeso.

O olhar perdido em divagação
ao remoer o espaço


zune a lâmina atravessada
na distância do corpo trespassado.


Feito espaço: o aço é remetida
                       vida em cansaço.

PREFERIR
 

A preferência se apresenta
                          na alteração das cores
                                                 e traços:

 destroços do navio
casco submerso
boias
e botes


             mulheres
                 crianças
                      e ratos.

DESENREDO

                    Chovo
                    o tempo
                    dedicado
                    à seca.

Seco a hora enredada.

Falam em catástrofes: finalizo
                                     o inexistente.

Na esterilidade do planeta
aposto verdes plantas
e azuis marítimos: dói

              a água derramada sobre o solo
castigado em vazios. O relógio desperta
o sono irreparável da espécie.

FUGIR
 

Onde passado
tenso passo
cadenciado

botas sobre pedras
na infância esquecida
em pés n'água
e mãos na árvore

rito e coragem
risco

a vida no mais e menos
da escadaria íngreme
da baixada

pesado passo com que foge
                      de sua vida passada.

REPETIÇÕES

gestos se repetem
na lenta agonia
do olhar sobre a pessoa
que passa ereta e fria

não há o cumprimento formal
no esquecimento e no desânimo
fossem inimigos ou estrangeiros
desconhecidos em árido abrigo

loucos assumidos em  praças
de assustados ladrões
entre árvores

gestos repetidos em adeus
prenunciam a chegada imprópria
e o saber-se longe: é longa
a despedida antes do embarque

CRESCIMENTO

A criança
    chave do crescimento
    hormônio da sempre vida
no orgasmo em que o pai
                   personagem
                   deposita em sua mãe
            fúlgida companheira
                       das primeiras horas
                       em todas as noites

no acelerado infinito
a criança cresce problemas
no desabrochar adulto isento
                                      de culpas
na robotização das letras
inconsumidas em regras
                               e regulamentos

o pai insiste no momento do espasmo
e a mãe se esconde sob o corpo
                    na entrega da razão
                           e na fé dos cometas

ao filho resta remediados efeitos
no tédio da presença em frentes
de batalhas onde se iguala
                           em arrependimentos.

LOUCURA

estranhos anúncios
mal feitos na execução
da ilusão - extrema -
da possibilidade
de mudanças

nada muda: o fogo
e a violência cristalizam
o fim em resultado
inconsistente

o animal se aferra
na derrubada da última
esperança de convivência

FIM
 

Retorcido o ferro
obedece e sustenta
estrutura maiores

oxidado desmancha
no que se deforma

enferrujado corpo
em finas partículas
na dor de quem sabe
que tudo acaba.

PASSADO

Onde armazeno as coisas
 desprovidas de matéria: acode ao cego
                                  a bengala
                                      o cachorro
                                 acorre ao surdo
                            em sinais e gestos
escondo na criança o crescer e a seriedade
em gavetas trancadas
                  o mistério transparece
                  na mão conduzida em chaves

apelo ao senso
           o desuso e a catraca
arrepia o sujo
           a água e a macela
ausentam o corpo
           a matéria e a ilusão
roubam do portador a entrada

forço a gaveta
            minha mão é forte
e avanço lerdo o caminho no instante
atravessado ao mundo
            a conversa e o barulho
acendem o fogo
            na imagem e gosto
jogados aos mortos

a ventura recupera meu medo
em conversas baixas

           o silêncio impera.

AMAR

Sou o castigo
em postiça forma
culpada na tipicidade do ato

amo
   como amam os insanos
   - como os vejo amando -
em inimagináveis fases
de fragmento e enlevo

torço o rosto ao desgosto
da lâmina brilhante sobre a face
no assalto concluído em fuga

fuga de sentimentos
irrealizados em ondas
deletérias de paixão

retoco a tinta no sentido
do vento a balançar a flor
sobre a amurada
da minha ausência

amo
sendo o amor
             agora.
.
Fonte:
O Autor

Antologia Jovem Escritor de Teófilo Ottoni/MG (Crônicas) II

ANA CLARA BLANC
Ensino Médio da Escola Particular Santo Agostinho

Preserve hoje para colher amanhã


O meio ambiente comumente chamado apenas de ambiente, envolve todas as coisas vivas e não vivas que ocorrem na terra, ou alguma região dela, que afetam os ecossistemas e a vida dos humanos. Se a temos como benefício, por qual motivo a destruímos? Se nela em que vivemos, em que construímos nossas casas, por que a prejudicar?

Os humanos massacram, destroem o ambiente por qualquer motivo, seja para a própria subsistência ou até mesmo a venda de produtos advindos da natureza, são egocêntricos, pensam que a natureza é apenas uma fonte de onde pode se obter lucro, não a encaram como realmente deve ser vista, como uma forma de vida, em que sua capacidade de regeneração é surpreendentemente rápida e eficaz, mas infelizmente não consegue acompanhar o ritmo de destruição causada sobre ela.

Aquecimento global, queimadas de florestas, poluição dos mares e do ar, desmatamento são problemas a ser tratados urgentemente, porém comum, qualquer pessoa sabe o que é, e nada faz. Ao contrário, sabem o que é, os problemas que trazem e ainda trarão futuramente, ainda assim em vez de tentar combatê–los, apenas os aumentam gradativamente. Cada vez mais vemos mais queimadas, mais desmatamentos, mais indústrias que jogam seu lixo em locais inapropriados, indústrias que lançam gases poluentes na nossa atmosfera e ficamos parados.

Desde o início dos tempos, pensadores destacam a importância da natureza para nossa vida, alguns chegaram até citá–la como princípio formador da vida, como o filósofo Thales de Mileto e aqui estamos, séculos depois, em vez de desenvolvermos essa ideia, e proteger a nossa “mãe” estamos apenas a destruindo; onde está a lógica em destruir o nosso lar, o nosso criador? A cada árvore cortada, a cada gás lançado, a cada litro de água poluída, uma parte de nossa vida se vai, pois ao prejudicar a natureza, nós nos prejudicamos, estamos na verdade nos destruindo.

Fonte:
3a. Antologia Jovem Escritor. Academia de Letras de Teófilo Ottoni.
Participação dos estudantes do ensino fundamental, médio e superior classificados no 3º Prêmio Jovem Escritor promovido, em 2013, pela Academia de Letras de Teófilo Otoni, União Estudantil de Teófilo Otoni e o Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri.

Dáguima Collection - Trova 5


Machado de Assis (As Academias de Sião)

Conhecem as academias de Sião? Bem sei que em Sião nunca houve academias: mas suponhamos que sim, e que eram quatro, e escutem-me.

I

As estrelas, quando viam subir, através da noite, muitos vagalumes cor de leite, costumavam dizer que eram os suspiros do rei de Sião, que se divertia com as suas trezentas concubinas. E, piscando o olho umas às outras, perguntavam: — Reais suspiros, em que é que se ocupa esta noite o lindo Kalaphangko? Ao que os vagalumes respondiam com gravidade: — Nós somos os pensamentos sublimes das quatro academias de Sião; trazemos conosco toda a sabedoria do universo.

Uma noite, foram em tal quantidade os vagalumes, que as estrelas, de medrosas, refugiaram-se nas alcovas, e eles tomaram conta de uma parte do espaço, onde se fixaram para sempre com o nome de via-láctea.

Deu lugar a essa enorme ascensão de pensamentos o fato de quererem as quatro academias de Sião resolver este singular problema: — por que é que há homens femininos e mulheres masculinas? E o que as induziu a isso foi a índole do jovem rei. Kalaphangko era virtualmente uma dama. Tudo nele respirava a mais esquisita feminilidade: tinha os olhos doces, a voz argentina, atitudes moles e obedientes e um cordial horror às armas. Os guerreiros siameses gemiam, mas a nação vivia alegre, tudo eram danças, comédias e cantigas, à maneira do rei que não cuidava de outra coisa. Daí a ilusão das estrelas.

Vai senão quando, uma das academias achou esta solução ao problema: — Umas almas são masculinas, outras femininas. A anomalia que se observa é uma questão de corpos errados.

— Nego, bradaram as outras três; a alma é neutra; nada tem com o contraste exterior.

Não foi preciso mais para que as vielas e águas de Bangkok se tingissem de sangue acadêmico. Veio primeiramente a controvérsia, depois a descompostura, e finalmente a pancada. No princípio da descompostura tudo andou menos mal; nenhuma das rivais arremessou um impropério que não fosse escrupulosamente derivado do sânscrito, que era a língua acadêmica, o latim de Sião. Mas dali em diante perderam a vergonha. A rivalidade desgrenhou-se, pôs as mãos na cintura, baixou à lama, à pedrada, ao murro, ao gesto vil, até que a academia sexual, exasperada, resolveu dar cabo das outras, e organizou um plano sinistro... Ventos que passais, se quisesseis levar convosco estas folhas de papel, para que eu não contasse a tragédia de Sião! Custa-me (ai de mim!), custa-me escrever a singular desforra. Os acadêmicos armaram-se em segredo, e foram ter com os outros, justamente quando estes, curvados sobre o famoso problema, faziam subir ao céu uma nuvem de vagalumes.

Nem preâmbulo, nem piedade. Caíram-lhes em cima, espumando de raiva. Os que puderam fugir, não fugiram por muitas horas; perseguidos e atacados, morreram na beira do rio, a bordo das lanchas, ou nas vielas escusas. Ao todo, trinta e oito cadáveres. Cortaram uma orelha aos principais, e fizeram delas colares e braceletes para o presidente vencedor, o sublime U-Tong. Ébrios da vitória, celebraram o feito com um grande festim, no qual cantaram este hino magnífico: "Glória a nós, que somos o arroz da ciência e a luminária do universo." A cidade acordou estupefata. O terror apoderou-se da multidão. Ninguém podia absolver uma ação tão crua e feia; alguns chegavam mesmo a duvidar do que viam... Uma só pessoa aprovou tudo: foi a bela Kinnara, a flor das concubinas régias.

II

Molemente deitado aos pés da bela Kinnara, o jovem rei pedia-lhe uma cantiga.

— Não dou outra cantiga que não seja esta: creio na alma sexual.

— Crês no absurdo, Kinnara.

— Vossa Majestade crê então na alma neutra? — Outro absurdo, Kinnara. Não, não creio na alma neutra, nem na alma sexual.

— Mas então em que é que Vossa Majestade crê, se não crê em nenhuma delas? — Creio nos teus olhos, Kinnara, que são o sol e a luz do universo.

— Mas cumpre-lhe escolher: — ou crer na alma neutra, e punir a academia viva, ou crer na alma sexual, e absolvê-la.

— Que deliciosa que é a tua boca, minha doce Kinnara! Creio na tua boca: é a fonte da sabedoria.

Kinnara levantou-se agitada. Assim como o rei era o homem feminino, ela era a mulher máscula — um búfalo com penas de cisne. Era o búfalo que andava agora no aposento, mas daí a pouco foi o cisne que parou, e, inclinando o pescoço, pediu e obteve do rei, entre duas carícias, um decreto em que a doutrina da alma sexual foi declarada legítima e ortodoxa, e a outra absurda e perversa. Nesse mesmo dia, foi o decreto mandado à academia triunfante, aos pagodes, aos mandarins, a todo o reino. A academia pôs luminárias; restabeleceu-se a paz pública.

III

Entretanto, a bela Kinnara tinha um plano engenhoso e secreto. Uma noite, como o rei examinasse alguns papéis do Estado, perguntou-lhe ela se os impostos eram pagos com pontualidade.

— Ohimé! exclamou ele, repetindo essa palavra que lhe ficara de um missionário italiano. Poucos impostos têm sido pagos. Eu não quisera mandar cortar a cabeça aos contribuintes... Não, isso nunca... Sangue? sangue? não, não quero sangue...

— E se eu lhe der um remédio a tudo? — Qual? — Vossa Majestade decretou que as almas eram femininas e masculinas, disse Kinnara depois de um beijo. Suponha que os nossos corpos estão trocados. Basta restituir cada alma ao corpo que lhe pertence. Troquemos os nossos...

Kalaphangko riu muito da ideia, e perguntou-lhe como é que fariam a troca. Ela respondeu que pelo método Mukunda, rei dos hindus, que se meteu no cadáver de um brâmane, enquanto um truão se metia no dele Mukunda, — velha lenda passada aos turcos, persas e cristãos. Sim, mas a fórmula da invocação? Kinnara declarou que a possuía; um velho bonzo achara cópia dela nas ruínas de um templo.

— Valeu? — Não creio no meu próprio decreto, redarguiu ele rindo; mas vá lá, se for verdade, troquemos... mas por um semestre, não mais. No fim do semestre destroçaremos os corpos.

Ajustaram que seria nessa mesma noite. Quando toda a cidade dormia, eles mandaram vir a piroga real, meteram-se dentro e deixaram-se ir à toa. Nenhum dos remadores os via. Quando a aurora começou a aparecer, fustigando as vacas rútilas, Kinnara proferiu a misteriosa invocação; a alma desprendeu-se-lhe, e ficou pairando, à espera que o corpo do rei vagasse também. O dela caíra no tapete.

— Pronto? disse Kalaphangko.

— Pronto, aqui estou no ar, esperando. Desculpe Vossa Majestade a indignidade da minha pessoa...

Mas a alma do rei não ouviu o resto. Lépida e cintilante, deixou o seu vaso físico e penetrou no corpo de Kinnara, enquanto a desta se apoderava do despojo real. Ambos os corpos ergueram-se e olharam um para o outro, imagine-se com que assombro. Era a situação do Buoso e da cobra, segundo conta o velho Dante; mas vede aqui a minha audácia. O poeta manda calar Ovídio e Lucano, por achar que a sua metamorfose vale mais que a deles dois. Eu mando-os calar a todos três. Buoso e a cobra não se encontram mais, ao passo que os meus dois heróis, uma vez trocados, continuam a falar e a viver juntos — coisa evidentemente mais dantesca, em que me pese à modéstia.

— Realmente, disse Kalaphangko, isto de olhar para mim mesmo e dar-me majestade é esquisito. Vossa Majestade não sente a mesma coisa? Um e outro estavam bem, como pessoas que acham finalmente uma casa adequada.

Kalaphangko espreguiçava-se todo nas curvas femininas de Kinnara. Esta inteiriçava-se no tronco rijo de Kalaphangko. Sião tinha, finalmente, um rei.

IV

A primeira ação de Kalaphangko (daqui em diante entenda-se que é o corpo do rei com a alma de Kinnara, e Kinnara o corpo da bela siamesa com a alma do Kalaphangko) foi nada menos que dar as maiores honrarias à academia sexual. Não elevou os seus membros ao mandarinato, pois eram mais homens de pensamento que de ação e administração, dados à filosofia e à literatura, mas decretou que todos se prosternassem diante deles, como é de uso aos mandarins. Além disso, fez-lhes grandes presentes, coisas raras ou de valia, crocodilos empalhados, cadeiras de marfim, aparelhos de esmeralda para almoço, diamantes, relíquias. A academia, grata a tantos benefícios, pediu mais o direito de usar oficialmente o título de Claridade do Mundo, que lhe foi outorgado.

Feito isso, cuidou Kalaphangko da fazenda pública, da justiça, do culto e do cerimonial. A nação começou de sentir o peso grosso, para falar como o excelso Camões, pois nada menos de onze contribuintes remissos foram logo decapitados. Naturalmente os outros, preferindo a cabeça ao dinheiro, correram a pagar as taxas, e tudo se regularizou. A justiça e a legislação tiveram grandes melhoras. Construíram-se novos pagodes; e a religião pareceu até ganhar outro impulso, desde que Kalaphangko, copiando as antigas artes espanholas, mandou queimar uma dúzia de pobres missionários cristãos que por lá andavam; ação que os bonzos da terra chamaram a pérola do reinado.

Faltava uma guerra. Kalaphangko, com um pretexto mais ou menos diplomático, atacou a outro reino, e fez a campanha mais breve e gloriosa do século. Na volta a Bangkok, achou grandes festas esplêndidas. Trezentos barcos, forrados de seda escarlate e azul, foram recebê-lo. Cada um destes tinha na proa um cisne ou um dragão de ouro, e era tripulado pela mais fina gente da cidade; músicas e aclamações atroaram os ares. De noite, acabadas as festas, sussurrou ao ouvido a bela concubina: — Meu jovem guerreiro, paga-me as saudades que curti na ausência; dize-me que a melhor das festas é a tua meiga Kinnara.

Kalaphangko respondeu com um beijo.

— Os teus beiços têm o frio da morte ou do desdém, suspirou ela.

Era verdade, o rei estava distraído e preocupado; meditava uma tragédia. Ia-se aproximando o termo do prazo em que deviam destrocar os corpos, e ele cuidava em iludir a cláusula, matando a linda siamesa. Hesitava por não saber se padeceria com a morte dela visto que o corpo era seu, ou mesmo se teria de sucumbir também. Era esta a dúvida de Kalaphangko; mas a idéia da morte sombreava-lhe a fronte, enquanto ele afagava ao peito um frasquinho com veneno, imitado dos Bórgias.

De repente, pensou na douta academia; podia consultá-la, não claramente, mas por hipótese. Mandou chamar os acadêmicos; vieram todos menos o presidente, o ilustre UTong, que estava enfermo. Eram treze; prosternaram-se e disseram ao modo de Sião: — Nós, desprezíveis palhas, corremos ao chamado de Kalaphangko.

— Erguei-vos, disse benevolamente o rei.

— O lugar da poeira é o chão, teimaram eles com os cotovelos e joelhos em terra.

— Pois serei o vento que subleva a poeira, redarguiu Kalaphangko; e, com um gesto cheio de graça e tolerância, estendeu-lhes as mãos.

Em seguida, começou a falar de coisas diversas, para que o principal assunto viesse de si mesmo; falou nas últimas notícias do ocidente e nas leis de Manu. Referindo-se a UTong, perguntou-lhes se realmente era um grande sábio, como parecia; mas, vendo que mastigavam a resposta, ordenou-lhes que dissessem a verdade inteira. Com exemplar unanimidade, confessaram eles que U-Tong era um dos mais singulares estúpidos do reino, espírito raso, sem valor, nada sabendo e incapaz de aprender nada. Kalaphangko estava pasmado. Um estúpido? — Custa-nos dizê-lo, mas não é outra coisa; é um espírito raso e chocho. O coração é excelente, caráter puro, elevado...

Kalaphangko, quando voltou a si do espanto, mandou embora os acadêmicos, sem lhes perguntar o que queria. Um estúpido? Era mister tirá-lo da cadeira sem molestá-lo.

Três dias depois, U-Tong compareceu ao chamado do rei. Este perguntou-lhe carinhosamente pela saúde; depois disse que queria mandar alguém ao Japão estudar uns documentos, negócio que só podia ser confiado a pessoa esclarecida. Qual dos seus colegas da academia lhe parecia idôneo para tal mister? Compreende-se o plano artificioso do rei: era ouvir dois ou três nomes, e concluir que a todos preferia o do próprio U-Tong; mas eis aqui o que este lhe respondeu: — Real Senhor, perdoai a familiaridade da palavra: são treze camelos, com a diferença que os camelos são modestos, e eles não; comparam-se ao sol e à lua. Mas, na verdade, nunca a lua nem o sol cobriram mais singulares pulhas do que esses treze...

Compreendo o assombro de Vossa Majestade; mas eu não seria digno de mim se não dissesse isto com lealdade, embora confidencialmente...

Kalaphangko tinha a boca aberta. Treze camelos? Treze, treze. U-Tong ressalvou tão-somente o coração de todos, que declarou excelente; nada superior a eles pelo lado do caráter. Kalaphangko, com um fino gesto de complacência, despediu o sublime U-Tong, e ficou pensativo. Quais fossem as suas reflexões, não o soube ninguém. Sabe-se que ele mandou chamar os outros acadêmicos, mas desta vez separadamente, a fim de não dar na vista, e para obter maior expansão. O primeiro que chegou, ignorando aliás a opinião de UTong, confirmou-a integralmente com a única emenda de serem doze os camelos, ou treze, contando o próprio U-Tong. O segundo não teve opinião diferente, nem o terceiro, nem os restantes acadêmicos. Diferiam no estilo; uns diziam camelos, outro usavam circunlóquios e metáforas, que vinham a dar na mesma coisa. E, entretanto, nenhuma injúria ao caráter moral das pessoas. Kalaphangko estava atônito.

Mas não foi esse o último espanto do rei. Não podendo consultar a academia, tratou de deliberar por si, no que gastou dois dias, até que a linda Kinnara lhe segredou que era mãe. Esta notícia fê-lo recuar do crime. Como destruir o vaso eleito da flor que tinha de vir com a primavera próxima? Jurou ao céu e à terra que o filho havia de nascer e viver.

Chegou ao fim do semestre; chegou o momento de destroçar os corpos.

Como da primeira vez, meteram-se no barco real, à noite, e deixaram-se ir águas abaixo, ambos de má vontade, saudosos do corpo que iam restituir um ao outro. Quando as vacas cintilantes da madrugada começaram de pisar vagarosamente o céu, proferiram eles a fórmula misteriosa, e cada alma foi devolvida ao corpo anterior. Kinnara, tornando ao seu, teve a comoção materna, como tivera a paterna quando ocupava o corpo de Kalaphangko.

Parecia-lhe até que era ao mesmo tempo mãe e pai da criança.

— Pai e mãe? repetiu o príncipe restituído à forma anterior.

Foram interrompidos por uma deleitosa música, ao longe. Era algum junco ou piroga que subia o rio, pois a música aproximava-se rapidamente. Já então o sol alagava de luz as águas e as margens verdes, dando ao quadro um tom de vida e renascença, que de algum modo fazia esquecer aos dois amantes a restituição física. E a música vinha chegando, agora mais distinta, até que, numa curva do rio, apareceu aos olhos de ambos um barco magnífico, adornado de plumas e flâmulas. Vinham dentro os quatorze membros da academia (contando U-Tong) e todos em coro mandavam aos ares o velho hino: "Glória a nós, que somos o arroz da ciência e a claridade do mundo!" A bela Kinnara (antigo Kalaphangko) tinha os olhos esbugalhados de assombro.

Não podia entender como é que quatorze varões reunidos em academia eram a claridade do mundo, e separadamente uma multidão de camelos. Kalaphangko, consultado por ela, não achou explicação. Se alguém descobrir alguma, pode obsequiar uma das mais graciosas damas do Oriente, mandando-lha em carta fechada, e, para maior segurança, sobrescrita ao nosso cônsul em Xangai, China.

Fonte:
www.dominiopublico.gov.br

Academia Paranaense da Poesia (Boletim de abril de 2014)

ACADEMIA PARANAENSE DA POESIA Antiga Sala do Poeta, fundada em 7 de abril de 1973, por  Pompília Lopes dos Santos – Academia Paranaense da Poesia  desde  17 de  setembro  de  2002.

“Os  livros são os túmulos dos que não podem morrer”
                                        George Crabbe

 

OFICINA PERMANENTE DE POESIA
                                 
Projeto da Academia Paranaense da Poesia em parceria com a Biblioteca Pública do Paraná – VOLUNTARIADO DA POESIA desde 2002 (de março a junho e de agosto a novembro) – todas as quintas-feiras – das 18 às 19h: Aula sobre Poesia por um dos poetas da nossa Academia ou de outros poetas do Paraná ou do Brasil; das 19 às 19:45h: Declamação de Poemas pelos participantes da Oficina.  Rua Cândido Lopes, 133 - 3º andar - Centro.
  
10- A POESIA DE GONÇALVES DIAS -  Poeta  Mamed  Zauíth

17 - VÉSPERA DE FERIADO – NÃO HAVERÁ OFICINA

24- UBT- OFICINA DE TROVA – Trovadora Andrea Motta

                                                        
TARDE DA SERESTA

12/04 –das  17:30h às  21h: no Restaurante San Domingos – Rua Voluntários da Pátria, 368, 1º andar – (antiga Confeitaria Iguaçu) – Café Colonial

TARDE DE MÚSICA E POESIA

15/04 – 17:00h – no Centro de Letras do Paraná – Rua Prof. Fernando Moreira, 370 –   Centro – O quadro  5 minutos com meu Patrono será apresentado pela Acadêmica Anna Maria  Rocha,  da cadeira nº  4 das Artes Plásticas.

ALMOÇANDO COM MÚSICA E POESIA

26/04 – às 12:30h – no Restaurante  Prato Fino – Rua José Loureiro,  385, Centro (entre as Ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco) – Buffet por quilo – Confirmar presença até  24 de abril.

ANIVERSARIANTES DO MÊS DE ABRIL NA GALERIA DA SAUDADE:
06 – Aluísio França;
14 – Silvas do Brasil;  
23 – Walfrido Pilotto.

Sua presença e sua alegria fazem a festa da Poesia.

Roza de Oliveira
Presidente

Tânia Du Bois (Lançamento do Livro "O Exercício das Vozes")

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José Vieira (Lançamento de “Sozinho não sou ninguém”, em Formiga/MG)

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Itaú Cultural (Encontros Poéticos com Ferréz)

Encontros Poéticos com Ferréz
terça 8 de abril de 2014
às 20h
Sala Itaú Cultural – 249 lugares

[transmissão ao vivo, em áudio, pelo site]

A web-rádio do Itaú Cultural apresenta em abril a segunda edição de 2014 do Encontros Poéticos, programa apresentado pelo poeta Sérgio Vaz, um dos criadores da Cooperifa. No dia 8, às 20h, Vaz recebe o poeta e romancista Ferréz.

Nascido Reginaldo Ferreira da Silva, Ferréz lançou seu primeiro livro de poesias, Fortaleza da Desilusão, em 1997. Passou a publicar prosas de ficção em 2000, com Capão Pecado, e destacou-se com a antologia Literatura Marginal: Talentos da Escrita Periférica (2005). Além de escritor, Ferréz também é fundador do grupo 1DaSul, possui um quadro no programa Manos e Minas da TV Cultura e integra o time de debatedores do Programa Piloto, exibido pela TV Carta, da revista Carta Capital.

O Encontros Poéticos tem uma hora de duração e pode ser acompanhado no instituto ou, em transmissão ao vivo, pelo site. A cada terça-feira do mês, Sérgio Vaz, com a intenção de valorizar a palavra e a poesia, convida músicos, poetas, produtores e artistas em geral para um bate-papo.

O apresentador Sérgio Vaz é autor dos livros Colecionador de Pedras e Antropofagia Periférica. Na aba Vídeos, assista à sua entrevista para o Jogo de Ideias, em que fala do processo de criação da Cooperifa, sobre sua formação e seus objetivos. Confira também a mesa de debates Palavras das Ruas, da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), da qual Vaz foi mediador, e o espetáculo Pedras Não Falam Mas Quebram Vidraças, realizado por ele e por Ferréz para o AuTORES EM CENA.

Encontros Poéticos com Ferréz
terça 8 de abril de 2014
às 20h
Sala Itaú Cultural – 249 lugares

[transmissão ao vivo, em áudio, pelo site]

Entrada franca – ingressos distribuídos com meia hora de antecedência
[classificação indicativa: 12 anos]

Fonte:
Itaú Cultural, por e-mail

sexta-feira, 28 de março de 2014

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas Trovia n. 172 – abril de 2014)


 


 
Da minha vida, a metade,
levaste, sem compaixão.
Ficou-me o resto – a saudade
num resto de coração.
AUGUSTA CAMPOS

Neste mundo desumano,
em que brinquei de sonhar,
fui simples bola de pano
para o destino chutar!. . .
CÉLIO GRÜNEWALD

Põe o melhor dos sapatos,
se vais dar um passo em falso.
– O mundo apenas condena
quem deu tal passo descalço...
EDSON MACEDO

Miséria de pão maltrata...
Mas quanta gente, Senhor,
sabeis que morre ou se mata
quando há miséria de amor!
LILINHA FERNANDES

De tudo quanto maltrata,
mais cruel não pode haver
do que amar e ser amado
sem que se possa dizer...
LINDOURO GOMES

Meu velho criado-mudo,
minha discreta almofada,
vocês, que sabem de tudo,
por favor, não contem nada.
LUCY SOTHER ROCHA


 
Nunca fui águia altaneira,
como nunca fui condor:
– remédios à cabeceira,
somente um velho... com dor.
DIAMANTINO FERREIRA – RJ

Porque os sapos afugenta
com chilique e confusão,
no brejo o que se comenta
é que a sapa é sapa... tão!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA – RJ

Na pescaria, de fato,
notei teu jeito chinfrim,
mas o olhar era de gato:
um no peixe e outro em mim...
FLÁVIO STEFANI – RS

Sai do bar – e já sem prumo –
tropeçando, cuca em brasa,
pergunta, todo sem-rumo:
– “Onde mora a minha casa?”
HÉRON PATRÍCIO – SP

A grila, às vezes, se toca
dando voltinhas... e aquilo,
com certeza, é que coloca
"grilos" na cuca do grilo!
MARIA NASCIMENTO – RJ

“Tem quantas partes o crânio?”,
pergunta a mestra à piazada.
Responde unzinho, instantâneo:
“Depende da cacetada!”
OSVALDO REIS – PR

Passa o efeito do remédio
e o velho, sem jeito, avisa:
– Demorou demais o assédio
e o “furacão” virou "brisa"!
THEREZINHA DIEGUEZ  BRISOLLA – SP



Grande mesmo é quem descobre
que ser grande é ser alguém
que abre espaço para o pobre
tornar-se grande também.
A. A. DE ASSIS – PR
 

Não irá jamais embora
quem deixou tanta amizade;
a despedida de agora
é presença na saudade.
ALMIR PINTO DE AZEVEDO – RJ
 

Eu quero ser o seu vinho,
o cálice que inebria;
ser seu parceiro no ninho,
ser madrugada, seu dia!
ANTONIO M. A. SARDENBERG – RJ

Faço versos com carinho
– mas a musa intrometida
quer mexer, e faz beicinho,
na minha Trova da Vida!...
ARI SANTOS DE CAMPOS – SC

Longe, perdidos na bruma,
vão meus sonhos a vagar...
Sem dó, no rastro da espuma,
lancei-os todos ao mar!
AMARYLLIS SCHLOENBACH – SP

Te quiero siempre a mi lado
te quiero con el rocío,
te quiero porque me has dado
cobijo para mi frío...
ANGELA DESIRÉE – VENEZUELA

Sussurrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta,
como é possível ser pura,
mesmo tendo lama em volta!
CAROLINA RAMOS – SP

Meu amor, vamos fazer
uma aposta gostosinha?
Tu me ganhas se eu perder,
se eu ganhar tu serás minha...
CLÊNIO BORGES – RS
 

O domingo é do Senhor,
dia pascal do cristão.
Vamos ao altar do Amor
enriquecer-nos do irmão.
CÔNEGO TELLES – PR

Quien no sabe respetar
nunca será respetado.
Respeto es poder lograr
el ser, por el mundo honrado.
CRISTINA OLIVERA CHÁVEZ – EUA

No silêncio do meu grito
ouço a voz da solidão...
Nos meus versos deixo escrito
como está meu coração.
DÁGUIMA VERÔNICA – MG
 

O estilingue... a mira... o ataque...
o despencar no vazio...
o peito sangrando... o baque...
e o som pungente de um pio...
DARLY O. BARROS – SP

Que tenhas muita ventura
no  universo do teu lar,
que só o amor e a ternura
possam  contigo,  ficar!
DELCY CANALLES – RS

O que tem de mais bonito
na vida de um sonhador,
é poder ver o infinito
da beleza interior.
DJALMA DA MOTA – RN

Foste embora e, na saudade,
a ofensa se fez lição:
descobri que o amor-verdade
se alicerça no perdão!
DOMITILLA BORGES BELTRAME – SP

Foto, lembrança embaçada
que invade o meu coração,
minha infância perpetuada
num pedaço de cartão.
DOROTHY JANSSON MORETTI – SP

Nossos silêncios serenos
não nos constrangem jamais:
quando lábios falam menos,
olhos dizem muito mais...
ÉLBEA PRISCILA – SP

O pedestal de granito,
que me tolhe o movimento,
eu reesculpo no grito
e um novo destino invento.
ELIANA JIMENEZ – SC

A mulher trai por amor,
o homem por conveniência...
Cada qual, sendo um traidor,
trai a própria consciência.
EUCLIMAR BARRETO PORTO – RJ

A dor que se intensifica
e amedronta os dias meus
é pensar na dor que fica
depois da palavra adeus!
FRANCISCO GARCIA – RN

O mar é o mais doce amante,
pois não cansa de beijar,
num lirismo alucinante,
toda praia que encontrar!
GISLAINE CANALES – RS

Procurei no seu olhar,
encontrei nele uma ponte,
para seus lábios beijar
e o amor jorrar da fonte.
HULDA RAMOS – PR

O bilro, velho instrumento,
que entrelaçou tantas rendas,
tece, agora, num momento,
as rimas de minhas lendas.
IEDA LIMA – RN

Não choro o tempo perdido
num caminho mal traçado;
o que já foi percorrido,
bem ou mal foi caminhado...
ISTELA MARINA – PR

Se o coração de quem ama
fosse capaz de compor,
o eletrocardiograma
seria um hino de amor!
JAIME PINA DA SILVEIRA – SP

Luzes! Músicas! E a mesa
como nunca alguém sonhou!
Mas havia uma tristeza
que eu não sei por onde entrou…
JANSKE SCHLENKER – PR
 

A mais formosa das flores
não emite um só queixume
e mesmo por entre dores
não se extingue o seu perfume
J.B. XAVIER – SP

Sentimento de ternura
se intromete na lembrança
dos sorrisos de ventura
dos meus tempos de criança.
JEANETTE DE CNOP – PR
 

Tão longe busquei o amor,
por que fui tão longe assim?
Tanta busca, tanta dor,
e estavas perto de mim...
JESSÉ NASCIMENTO – RJ
 

Cessa a chuva... e por instantes
o arco-íris, lá em cima,
ilumina os habitantes
e o poeta encontra a rima.
JORGE FREGADOLLI – PR

Cultivemos o jardim
do amor, com perseverança,
para que seja o estopim
de um futuro de esperança.
JOSÉ FELDMAN – PR
 

Eu fico muito contente
se alguém, com desembaraço,
ao ler os meus versos, sente
o que eu sinto quando os faço.
JOSÉ LUCAS DE BARROS – RN

Quebrado e quase a ruir,
o coqueiro sobre o mar
parece quem vai partir,
com vontade de ficar!
JOSÉ MESSIAS BRAZ – MG
 

Enquanto os corpos fugiam
e as mãos nem eram tocadas,
nossas almas já dormiam
há muito tempo abraçadas!
JOSÉ OUVERNEY – SP

Cante a paz, o amor fecundo,
torne a vida mais risonha
e sem mágoas, porque o mundo
não perdoa a quem não sonha!
JOSÉ VALDEZ – SP

Levo pela vida afora
este dilema sem fim:
o "sim" que eu neguei outrora
fez mal ou bem para mim?!...
LUCÍLIA DECARLI – PR

Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
LUIZ CARLOS ABRITTA – MG

Suba até Vós meu clamor,
protegei-nos da maldade,
eu vo-lo peço, Senhor,
em nome da humanidade!
LUIZ DAMO – RS

Tem seu momento assinado,
desde o ventre, o filho arteiro:
um gol à vida marcado,
naquele chute primeiro!
MARIA DA CONCEIÇÃO FAGUNDES – PR
 

Buscar caminhos amenos,
inovar o dia a dia,
errar menos...sempre menos...
também é sabedoria.
MARIA DA GRAÇA DE ARAÚJO – PR
 

No plano da minha vida,
repleto de paz e luz,
em Deus encontro a saída,
caminho que me conduz!
MARIA LUIZA WALENDOWSKY – SC
 

Olho a praça abandonada
e me ponho a imaginar
uma saudade sentada
sem ter com quem conversar!
MARIA MADALENA FERREIRA – RJ

Ante os pobres, ter piedade,
ter doçura e compaixão,
é provar a suavidade
que brota do coração.
MARINA VALENTE – SP

É  pura  e  doce  poesia
caminhar  à beira-mar,
envolvida em fantasia,
sem ver o tempo passar.
MARTA CAMPISTA CODEÇO – RJ

Vais partir e as minhas queixas,
ao te perder por inteiro,
são as esperas que deixas
dormindo em meu travesseiro...
MARTHA M. PAES DE BARROS – SP
 

As marcas do teu batom
deixadas no meu cristal,
têm sabor e têm o tom
de um grande amor, no final...
MAURÍCIO FRIEDRICH – PR

O astronauta que flutua
muito tem a lamentar:
quanto mais perto da lua
mais distante do luar.
NEI GARCEZ – PR

Sonhos são fios de seda
entrelaçando os espinhos
que encontro pela vereda
em busca dos teus carinhos...
NILTON MANOEL – SP
 

Se nada é assim tão lindo
do jeito  que foi sonhado,
que tudo seja bem-vindo...
e, vindo, que seja amado.
OLGA AGULHON – PR

Em meu retorno ao passado,
fantasias, ilusão,
ainda corro a teu lado,
nas ondas do coração...
OLGA MARIA FERREIRA – RS
 

Amor cigano, utopia,
triste  busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
OLYMPIO COUTINHO – MG
 

Pra que serve a trova enfim?
– É singular terapia,
que não me permite, a mim,
cair na melancolia.
RAYMUNDO SALLES BRASIL – BA

O mestre faz da alma um templo
para ouvir nossa oração,
e nos mostra que é o exemplo
que ensina qualquer lição.
RENATO ALVES – RJ
 

Cansada, sem me deter,
venho de longe, mas venho.
Bem melhor que interromper
é ter a idade que eu tenho.
RITA MOURÃO – SP

A vida é mesmo um sabão:
muito zelo ao caminhar...
Um simples escorregão
pode a tua vida anular.
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE – RJ

A semente pequenina,
sob a terra, protegida,
é a assinatura divina
no grande livro da vida!
SELMA PATTI SPINELLI – SP

Na calada desta noite
míseras vozes ouvi...
Soaram como um açoite
no conforto do organdi.
SINCLAIR POZZA CASEMIRO – PR
 

Entre as pedras do caminho,
deixei um sonho disperso,
que morreu longe, sozinho,
nas rimas tristes de um verso!
SÔNIA SOBREIRA – RJ

Sou navegante do rio
que tem por fonte a paixão
e deságua, sem desvio,
na foz do teu coração!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ – MG
 

Causador da minha insônia,
motivo do meu sorriso,
sem nenhuma cerimônia
me transporta ao paraíso!
VÂNIA ENNES – PR
 

Honestidade é a conduta
de quem escolhe na vida
a liberdade, absoluta,
de andar de cabeça erguida.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ – PR
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Letícia Eliote Leles (Um Novo Lugar)

LETÍCIA ELIOTE LELES
Ensino Médio da Escola Particular Santo Agostinho
Antologia Jovem Escritor de Teófilo Ottoni/MG (Crônicas: Primeiro Lugar)
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Em um dia simples como todos os outros, em um lugar na floresta, havia uma movimentação diferente, mas precisamente, tratava–se de uma reunião entre os animais que, insatisfeitos com as condições ambientais em que se encontravam, reuniram–se para lutar por melhorias.

Leão – Silêncio, mantenham a calma, sei que não nos encontramos em situação muito favorável devido às poluições que vêm acontecendo, mas não devemos perder a calma.

Os outros animais ficaram em silêncio e ouviram com calma, o que o leão tinha para dizer.

Leão – Amigos, infelizmente o ser humano se descontrolou. Ele não pára de poluir. Os rios se encontram sujos, há pouquíssimas árvores que restaram das queimadas e a floresta se encontra como um verdadeiro lixo. Ainda não sei que atitude devemos tomar, mas estou aberto à sugestões.

Coelho – Não é necessário que façamos isso, mas se mudássemos também não adiantaria já que a poluição está em todo lugar. E também, pra que mudar se esse é o nosso lar, o nosso território é esse!

Raposa – E se de alguma forma, tentássemos conscientizar o homem? Assim não passaríamos por condições tão ruins, e o homem pararia de poluir.

Coelho – E de que forma faremos isso? Lembre–se de que há uma diferença entre nós e os humanos, como nos comunicaremos com eles?

– Por placas! Disse uma voz vinda lá do fundo; era o Sr. Esquilo, um velho esquilo da floresta que tinha várias ideias e criava várias invenções.

Sr. Esquilo – Nós poderíamos fazer placas, cartazes que simbolizassem a proibição da poluição.

Coelho – E como faremos isso?

Sr. Esquilo – Vamos ao menos uma vez dar uma utilidade à poluição!

O quê? Como assim? – Os animais perguntaram.

Sr. Esquilo – Podemos utilizar folhas e papéis velhos como cartolinas, e com frutas e outras coisas da natureza faremos a “tinta”.

Com animação e disposição, os animais foram em busca do que era necessário para fazer as placas.

Acharam restos de folhas e com algumas frutas fizeram a tintura.

Quando terminaram reuniram–se novamente e colocaram o plano em ação, como não sabiam escrever, eles fizeram círculos traçados como se proibissem algo, e depois de prontas as placas, fixaram–nas nas árvores e colocaram algumas perto dos rios.

Dias depois, perceberam que o plano começou a funcionar, as pessoas não estavam jogando lixo nos rios com medo, pois não sabiam o que significavam aqueles símbolos tortos, e um dia se surpreenderam com um lenhador que, ao ver a placa retornou com seu machado sem ter cortado nenhuma árvore, diferente do que sempre fazia antes.

Visto que o plano havia ocorrido com sucesso, os animais festejaram.

O coelho chamou pelo Leão e tiveram uma conversa.

Coelho – será possível que o mundo em que vivemos hoje é tão incompreensível que até nós animais temos que lutar para conscientizar o homem, que é um ser mais inteligente e superior, para que ele não polua o ambiente? – Disse o coelho triste com a situação.

Leão – Não diga isso meu amigo, o homem pode ser mais superior sim, mas, inteligente? Parece que não, se ele tivesse tanta inteligência não poluiria tanto, será que ele não percebe que isso prejudica a ele mesmo? E os animais esbanjaram alegria pelo o que haviam conquistado. E assim que recuperaram tudo o que haviam perdido devido à poluição, eles viveram felizes novamente.

Fonte:
3a. Antologia Jovem Escritor. Academia de Letras de Teófilo Ottoni.
Participação dos estudantes do ensino fundamental, médio e superior classificados no 3º Prêmio Jovem Escritor promovido, em 2013, pela Academia de Letras de Teófilo Otoni, União Estudantil de Teófilo Otoni e o Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri.

Dáguima Collection - Trova 4

Fonte: Facebook da autora

Machado de Assis (Antes da Rocha Tapéia)

Como é que me achei ali em cima? Era um pedaço de telhado, inclinado, velho, estreitinho, com cinco palmos de muro por trás. Não sei se fui ali buscar alguma coisa; parece que sim, mas qualquer que ela fosse, tinha caído ou voado, já não estava comigo.

Eu é que fiquei ali no alto, sozinho, sem nenhum meio de voltar abaixo.

Começara a entender que era pesadelo. Já lá vão alguns anos. A rua ou estrada em que se achava aquela construção era deserta. Eu, do alto, olhava para todos os lados sem descobrir sombra de homem. Nada que me salvasse; pau nem corda. Ia aflito de um para outro lado, vagaroso, cauteloso, porque as telhas eram antigas, e também porque o menor descuido far-me-ia escorregar e ir ao chão. Continuava a olhar ao longe, a ver se aparecia um salvador; olhava também para baixo, mas a idéia de dar um pulo era impossível; a altura era grande, a morte certa.

De repente, sem saber de onde tinham vindo, vi em baixo algumas pessoas, em pequeno número, andando, umas da direita, outras da esquerda. Bradei de cima à que passava mais perto: — Ó senhor! acuda-me! Mas o sujeito não ouviu nada, e foi andando. Bradei a outro e outro; todos iam passando sem ouvir a minha voz. Eu, parado, cosido ao muro, gritava mais alto, como um trovão. O temor ia crescendo, a vertigem começava; e eu gritava que me acudissem, que me salvassem a vida, pela escada, corda, um pau, pedia um lençol, ao menos, que me apanhasse na queda. Tudo era vão. Das pessoas que passavam só restavam três, depois duas, depois uma. Bradei a essa última com todas as forças que me restavam: — Acuda! acuda! Era um rapaz, vestido de novo, que ia andando e mirando as botas e as calças. Não me ouviu, continuou a andar, e desapareceu.

Ficando só, nem por isso cessei de gritar. Não via ninguém, mas via o perigo. A aflição era já insuportável, o terror chegara ao paroxismo... Olhava para baixo, olhava para longe, bradava que me acudissem, e tinha a cabeça tonta e os cabelos em pé... Não sei se cheguei a cair; de repente, achei-me na cama acordado.

Respirei à larga, com o sentimento da pessoa que sai de um pesadelo. Mas aqui deu-se um fenômeno particular; livre de perigo, entrei a saboreá-lo. Em verdade, tivera alguns minutos ou segundos de sensações extraordinárias; vivi de puro terror, vertigem e desespero, entre a vida e a morte, como uma peteca entre as mãos destes dois mistérios.

A certeza, porém, de que tinha sido sonho dava agora outro aspecto ao perigo, e trazia à alma o desejo vago de achar-me nele outra vez. Que tinha, se era sonho? Ia assim pensando, com os olhos fechados, meio adormecido; não esquecera as circunstâncias do pesadelo, e a certeza de que não chegaria a cair acendeu de todo o desejo de achar-me outra vez no alto do muro, desamparado e aterrado. Então apertei muito os olhos para não despertar de todo, e para que a imaginação não tivesse tempo de passar a outra ordem de visões.

Dormi logo. Os sonhos vieram vindo, aos pedaços, aqui uma voz, ali um perfil, grupos de gente, de casas, um morro, gás, sol, trinta mil coisas confusas, que se cosiam e descosiam. De repente vi um telhado, lembrei-me do outro, e como dormira com a esperança de reatar o pesadelo, tive uma sensação misturada de gosto e pavor. Era o telhado de uma casa; a casa tinha uma janela; à janela estava um homem; este homem, cumprimentou-me risonho, abriu a porta, fez-me entrar, fechou a porta outra vez e meteu a chave no bolso.

— Que é isto? perguntei-lhe.

— É para que nos não incomodem, acudiu ele risonho.

Contou-me depois que trazia um livro entre mãos, tinha uma demanda e era candidato a um lugar de deputado: três matérias infinitas. Falou-me do livro, trezentas páginas, com citações, notas, apêndices; referiu-me a doutrina, o método, o estilo, leu-me três capítulos. Gabei-os, leu-me mais quatro. Depois, enrolando o manuscrito, disse-me que previa as críticas e objeções; declarou quais eram e refutou-as uma por uma.

Eu, sentado, afiava o ouvido, a ver se aparecia alguém; pedia a Deus um salteador ou a justiça, que arrombasse a porta. Ele, se falou em justiça, foi para contar-me a demanda, que era uma ladroeira do adversário, mas havia de vencê-lo a todo custo. Não me ocultou nada; ouvi o motivo, e todos os trâmites da causa, com anedotas pelo meio, uma do escrivão que estava vendido ao adversário, outra de um procurador, as conversações com os juízes, três acórdãos e os respectivos fundamentos. À força de pleitear, o homem conhecia muito texto, decretos, leis, ordenações, citava os livros e os parágrafos, salpicava tudo de perdigotos latinos. As vezes, falava andando, para descrever o terreno — era uma questão de terras —, aqui o rio, descendo por ali, pegando com o outro mais abaixo; deste lado as terras de Fulano, daquele as de Sicrano... Uma ladroeira clara; que me parecia? — Que sim.

Enxugou a testa, e passou à candidatura. Era legítima; não negava que pudesse haver outras aceitáveis; mas a dele era a mais legítima. Tinha serviços ao partido, não era aí qualquer coisa, não vinha pedir esmola de votos. E contava os serviços prestados em vinte anos de lutas eleitorais, luta de imprensa, apoio aos amigos, obediência aos chefes.

E isso não se premiava? Devia ceder o seu lugar a filhos? Leu a circular, tinha três páginas apenas; com os comentários verbais, sete. E era a um homem destes que queriam deter o passo? Podiam intrigá-lo; ele sabia que o estavam intrigando, choviam cartas anônimas... Que chovessem! Podiam vasculhar no passado dele, não achariam nada, nada mais que uma vida pura, e, modéstia à parte, um modelo de excelentes qualidades. Começou pobre, muito pobre; se tinha alguma coisa era graças ao trabalho e à economia — as duas alavancas do progresso.

Uma só dessas velhas alavancas que ali estivesse bastava para deitar a porta abaixo; mas nem uma nem outra, era só ele, que prosseguia, dizendo-me tudo o que era, o que não era, o que seria, e o que teria sido e o que viria a ser — um Hércules, que limparia a estrebaria de Áugias —, um varão forte, que não pedia mais que tempo e justiça.

Fizessem-lhe justiça, dando-lhe votos, e ele se incumbiria do resto. E o resto foi ainda muito mais do que pensei... Eu, abatido, olhava para a porta, e a porta calada, impenetrável, não me dava a menor esperança. Lasciati ogni speranza...

Não, cá está mais que a esperança; a realidade deu outra vez comigo acordado, na cama. Era ainda noite alta; mas nem por isso tentei, como da primeira vez, conciliar o sono. Fui ler para não dormir. Por quê? Um homem, um livro, uma demanda, uma candidatura, por que é que temi reavê-los, se ia antes, de cara alegre, meter-me outra vez no telhado em que...? Leitor, a razão é simples. Cuido que há na vida em perigo um sabor particular e atrativo; mas na paciência em perigo não há nada. A gente recorda-se de um abismo com prazer; não se pode recordar de um maçante sem pavor. Antes a rocha Tapéia que um autor de má nota.

Fonte: 
www.dominiopublico.gov.br

Olivaldo Junior (Trovas para o Dia do Circo : 27 de março)

Para o grande Piolin,
com a graça desse artista,
hoje o dia fora assim,
do palhaço "modernista".

Sob a lona azul brilhante,
entre irmãos e capitais,
o circense segue adiante,
na ribalta dos quintais.

Não se sabe se é feliz,
nem se um dia ela será,
mas é nossa "Beatriz",
uma atriz ao deus-dará.

Um palhaço não é clown,
uma vida não é life,
mas um homem fica down
quando foge sua wife...

Lá detrás da tal cortina,
parecendo uma ilusão,
é que surge a bailarina:
pé com pé, fascinação.

Misticismo e poesia,
lona em hastes, holofotes:
todo circo é fantasia,
Dulcinéias, Dons Quixotes!

De Edu Lobo e de Buarque,
nosso Chico lá de Holanda,
picadeiro vira um parque,
carrossel que nos ciranda.

Fonte:
O Autor

O Teatro (História – Portugal – Brasil)

Fonte: Fundação Jaime Câmara
Ninguém sabe ao certo como e quando surgiu o teatro. Provavelmente nasceu junto com a curiosidade do homem, que desde o tempo das cavernas já devia imaginar como seria ser um pássaro, ou outro bicho qualquer. De tanto observar, ele acabou conseguindo imitar esses bichos, para se aproximar deles sem ser visto numa caçada, por exemplo.

          Depois, o homem primitivo deve ter encenado toda essa caçada para seus companheiros das cavernas só para contar a eles como foi, já que não existia ainda linguagem como a gente conhece hoje. Isso tudo era teatro, mas ainda não era um espetáculo.

          Egito Antigo, Índia, China, Creta e a própria Grécia possuíam um teatro, antes mesmo do então chamado teatro grego. Tinha como característica principal sua estruturação toda baseada na religião, podemos, portanto, apontar o teatro apenas litúrgico. Este mesmo aspecto é o que de fato diferencia os egípcios, hindu, chinês, cretense e o teatro apenas litúrgico grego do teatro grego.

          No século VI a.C., a mistificação na Grécia em relação aos seus deuses e crenças extrapolava o campo religioso e passava a fazer parte da rotina das pessoas. Essa religião politeísta dava um panorama ao homem grego de todas as ocorrências inexplicáveis do mundo sem a ajuda da ainda arcaica ciência ocidental. Os deuses eram os benfeitores ou malfeitores da Terra e possuíam um poder sobre o homem, sobre o céu e sobre a terra. Assim surgiram lendas que, divulgadas por mecanismo de oralidade primária, ou seja, oralmente, de pai para filho, procuravam instruir toda a civilização para que essa atuasse em detrimento da subjetividade daquela sociedade e do bem em comum, seguindo regras de comportamento e um padrão paradigmático que não podia jamais ser quebrado.

          Só para ter uma ideia da grandeza dessa credulidade, quando o Colosso de Rodes foi parcialmente destruído por um terremoto, em 248 a.C., o rei egípcio Ptolomeu se propôs a reconstruir a enorme estátua (que homenageava o Deus Apolo, o Deus do Sol), sofrendo porém a recusa da população de Rodes, que ao consultar um dos oráculos (que segundo os gregos, eram homens que representavam os deuses na Terra) foi desmotivada a permitir a reconstrução, pois, segundo o oráculo, o terremoto havia sido um recado do deus que não tinha gostado da homenagem. Assim, o Colosso de Rodes, até hoje reconhecido como uma das sete maravilhas do mundo, ficou aos pedaços, sendo completamente destruído pelos árabes, na invasão em 654 d.C.

          Como a vida dos deuses estavam diretamente relacionada à vida dos homens na Grécia antiga, a ciência e a arte tenderam a seguir esse mesmo percurso, de forma que os deuses influenciavam até mesmo as guerras dos homens, como a Guerra de Tróia, que foi narrada pelos gregos com um misto de fábula e realidade, com um laço muito tênue entre a mitologia e o acontecimento real, de forma que os historiadores nunca souberam muito bem o que realmente aconteceu durante essa famosa guerra entre gregos e troianos. A arte por si própria não deixa de ser mítica, ou até mesmo mística, pois é elevada pelo homem como elemento fundamental para a relação humana, em seu sentido mais amplo, no tocante às emoções, ao sentimento humano, ao caráter, à personalidade, cultura e expressão do homem social. A ciência é a busca do bem comunitário, das inovações, da quebra incessante de barreiras que impedem o crescimento humano. A ciência e a arte tornam-se elementos biunívocos, ou seja, ligados entre si, pois o homem possui a vontade de exteriorizar todas as suas curiosidades, a fim de desenvolver métodos para criar, construir, transformar, unir, pesquisar, compreender e finalmente explicar.

          A cultura na Grécia antiga era restrita à louvação dos deuses, em festas e cultos religiosos, de forma que, as pessoas reuniam-se para aclamar aos deuses, agradecê-los ou fazer oferendas. As festas em respeito a Dionisio, o Deus da Alegria e do Vinho, realizava-se sob rígida fiscalização do legislador, que não permitia sacrilégios e manifestações cuja retórica fosse avessa à concepção religiosa da sociedade. Porém, para entreter a massa, Sólon, o tirano legislador da época (Séc. VI a.C.) permitiu em certa ocasião que um homem, que possuía um talento especial para imitar os outros, fizesse uma apresentação para o público. Eis que esse homem, a quem chamavam de Tespis, subiu em uma carroça diante do público afoito por novidades, colocou uma máscara, vestiu uma túnica e, impondo-se dramaticamente, expressou: "eu sou Dionisio, o Deus da Alegria". A forma como o homem postou-se diante de todos, como um deus, causou revolta e medo em alguns, porém muitos viram essa postura como um louvor ao Deus do Vinho. Sólon impediu a apresentação, mas o público queria mais, pois era fascinante e surpreendente a forma como aquele homem demonstrava seu talento. Durante um bom tempo foi proibido esse tipo de apresentação, julgada como um grande sacrilégio, de forma que a proibição perdurou até o começo da era mais brilhante da Grécia: a era democrática. Sem restrições e maior opressão ao livre arbítrio da sociedade (salvo mulheres e escravos), as pessoas tomaram gosto por essa arte tão criativa de se imitar, de forma que, com a democracia, os governantes começaram a incentivar aqueles que, por ventura se interessavam em entreter o público nas festas que homenageavam os deuses, realizando competições e distribuindo prêmios diversos para aqueles que imitassem melhor pessoas e deuses.

          No começo, a arte dramática restringiu-se apenas às festas dionisíacas, passando a ocupar um espaço maior na cultura grega com o passar dos anos, tornando-se mais acessível e mais aceita pelos gregos, que começaram a elaborar no Séc. V a.C. melhores formas de entretenimento pelo viés da arte cênica. Assim, constituíram fábulas e histórias diversas a serem encenadas para o público. Essa forma inovadora de se passar mensagens através de histórias dramáticas ficou conhecida como Tragédia Grega, onde os atores utilizavam máscaras e túnicas para interpretar seus personagens. A tragédia se passava em uma ampla plataforma chamada proskénion, situada na costa sudeste de Acrópole, local sagrado de Dionisio, no théatron ("local onde se vê"), cuja plateia era reservada para os espectadores. As apresentações cênicas eram compostas por um coro que narrava e tecia comentários a respeito da história principal que era interpretada pelos atores principais. As Tragédias foram escritas por homens que marcaram seus nomes na história da humanidade. Os mais conhecidos são Eurípedes (485 – 406 a.C., autor de "Alceste" e "Ifigênia em Tauride"), Ésquilo (525 – 456 a.C., autor de "Os Persas"), Sófocles (496? – 406? a.C., autor de "Édipo Rei", "Antígona" e "Electra") e Aristófanes (autor de "As Nuvens", "Plutão" e "As Rãs"). Esses autores buscavam passar para o público a visão divina da natureza, expressavam a imagem dos deuses e as crenças do povo.

          O respeito pelo théatron começava a fazer um efeito que perdura até hoje: a arte cênica tornou-se uma forma de ritual, onde quem encenava no proskénion pretendia passar uma informação de grande necessidade para a sociedade, com um trabalho corporal, com voz e interpretação, submetendo-se à catarse, cuja explicação advém de Aristóteles (384 – 322 a.C.), o primeiro filósofos que proferiu teses sobre a arte dramática. Segundo Aristóteles, a catarse faz com que as emoções do intérprete sejam liberadas numa construção fictícia. Aristóteles constituiu a primeira estética da arte dramática, cujo nome era bem apropriado: "Poética". As Tragédias seguiam causando furor, em espetáculos longos, com poesias e grandes textos que pretendiam mostrar um enredo. Para maior receptividade do público, que demandava de tramas bem articuladas e enredos intrigantes, os gregos criaram dois elementos até hoje reconhecidos: o protagonista (o herói) e o antagonista (o vilão), de forma que as tragédias falavam a respeito da realidade e da mitologia, versando contextos de conhecimento de todos. Os temas eram atribuídos a grandes heróis, aos deuses, sob argumento fundamental de expor uma ética, uma lição de vida e a moralidade.
          
          Apesar de sua profunda religiosidade, o tipo mais comumente satirizado por Gil Vicente é o frade que se entrega a amores proibidos (chegando a enlouquecer de amor), à ganância na venda de indulgências, ao exagerado misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Criticou desde o frade de aldeia até o clero dos bispos, cardeais e mesmo o papa. Criticou também aqueles que rezavam mecanicamente; os que, invocando Deus, solicitavam favores pessoais; e os que assistiam à missa por obrigação social. Para exemplificar, leia-se este diálogo entre um sapateiro e o Diabo:
        
Sapateiro: Quantas missas eu ouvi, não me hão elas de prestar?

Diabo: Ouvir missa, então roubar - é caminho para aqui. (Auto da barca do Inferno)

Curioso é perceber que o Diabo nunca força ninguém ao pecado, ele apenas trabalha com as atitudes das próprias pessoas. Na peça Auto da feira, o Diabo, ao montar sua banca para oferecer os pecados, é interpelado por um serafim e assim argumenta:

E há de homens ruins,
mais mil vezes que não bons,
como vós mui bem sentis

E estes hão-de-comprar
disto que trago a vender,
que são artes de enganar,
e cousas para esquecer
o que deviam lembrar.
Toda a glória de viver
das gentes é ter dinheiro,
e quem muito quiser ter
cumpre-lhe de ser primeiro
 o mais ruim que puder.

(...)mas cada um veja o que faz,
porque eu não forço ninguém.
Se me vem comprar qualquer
clérigo, ou leigo, ou frade
falsas manhas de viver,
muito por sua vontade,
senhor, que lhe hei-de-fazer?
(...)

          A baixa nobreza representada pelo fidalgo decadente e pelo escudeiro é outra faixa social insistentemente criticada pelo autor. Por outro lado, o teatro vicentino satiriza o povo que abandona o campo em direção à cidade ou mesmo aqueles que sempre viveram na cidade, mas que, em ambos os casos, se deixam corromper pela perspectiva do lucro fácil. Isso explica a defesa e o carinho que Gil Vicente tem para com um tipo: o Lavrador, talvez o verdadeiro povo, vítima da exploração de toda a estrutura social.

          Riquíssima é a galeria de tipos humanos que formam o teatro vicentino: o velho apaixonado que se deixa roubar; a alcoviteira; a velha beata; o sapateiro que rouba o povo; o escudeiro fanfarrão; o médico incompetente; o judeu ganancioso; o fidalgo decadente; a mulher adúltera; o padre corrupto. Gil Vicente não tem a preocupação de fixar tipos psicológicos, e sim a de fixar tipos sociais. Observe que a maior parte dos personagens do teatro vicentino não tem nome de batismo, sendo designados pela profissão ou pelo tipo humano.

          Quanto à forma, à utilização de cenários e montagens, o teatro de Gil Vicente é extremamente simples. Tampouco obedece às três unidades do teatro clássico - ação, lugar e tempo. Seu texto apresenta uma estrutura poética, com o predomínio da redondilha maior, havendo mesmo várias cantigas no corpo de suas peças.

          Outro aspecto a salientar no teatro vicentino aparece como consequência natural de seu momento histórico: ao lado de algumas características tipicamente medievais (religiosidade, uso de alegorias, de redondilhas, não-obediência às três unidades do teatro clássico), percebem-se características humanistas, tais como a presença de figuras mitológicas, a condenação à perseguição aos judeus e cristãos-novos, a crítica social.
          
Curiosidades

          O teatro mais antigo de Lisboa, é  o Teatro Nacional de São Carlos, inaugurado em 1793, e mandado construir por um grupo de homens de negócios, de entre os quais se destacava Joaquim Pedro Quintella, pai do 1. Conde de Farrobo, grande benemérito e empresário teatral. O Teatro Nacional D. Maria II foi, por sua vez, inaugurado em 1846, tendo sido construído por iniciativa de Almeida Garrett.
         
          Em 1752, foi chamado à corte de Lisboa pelo rei D. José, Giovan Carlo Bibiena, que se encarregaria de construir a infeliz ópera do Tejo, inaugurada em 1755 e logo destruída pelo terremoto de 1 de Novembro desse mesmo ano.
         
          O Teatro D. Maria ll assinala Dia Mundial do Teatro com dois dias de espetáculos gratuitos

O TEATRO NO BRASIL


O teatro brasileiro surgiu quando Portugal começou a fazer do Brasil sua colônia (Século XVI). Os Jesuítas, com o intuito de catequizar os índios, trouxeram não só a nova religião católica, mas também uma cultura diferente, em que se incluía a literatura e o teatro. Aliada aos rituais festivos e danças indígenas, a primeira forma de teatro que os brasileiros conheceram foi a dos portugueses, que tinha um caráter pedagógico baseado na Bíblia. Nessa época, o maior responsável pelo ensinamento do teatro, bem como pela autoria das peças, foi Padre Anchieta.

Teatro dos jesuítas - Século XVI

Nos primeiros anos da colonização, os padres da chamada Companhia de Jesus (Jesuítas), que vieram para o Brasil, tinham como principal objetivo a catequese dos índios. Eles encontraram nas tribos brasileiras uma inclinação natural para a música, a dança e a oratória. Ou seja: tendências positivas para o desenvolvimento do teatro, que passou a ser usado como instrumento de "civilização" e de educação religiosa, além de diversão. O teatro, pelo "fascínio" da imagem representativa, era muito mais eficaz do que um sermão, pôr exemplo.

As primeiras peças foram, então, escritas pelos Jesuítas, que se utilizavam de elementos da cultura indígena (a começar pelo caráter de "sagrado" que o índio já tinha absorvido em sua cultura), até porque era preciso "tocar" o índio, falando de coisas que ele conhecia. Misturados a esses elementos, estavam os dogmas da Igreja Católica, para que o objetivo da Companhia - a catequese - não se perdesse.

As peças eram escritas em tupi, português ou espanhol (isso se deu até 1584, quando então "chegou" o latim). Nelas, os personagens eram santos, demônios, imperadores e, pôr vezes, representavam apenas simbolismos, como o Amor ou o Temor a Deus. Com a catequese, o teatro acabou se tornando matéria obrigatória para os estudantes da área de Humanas, nos colégios da Companhia de Jesus. No entanto, os personagens femininos eram proibidos (com exceção das Santas), para se evitar uma certa "empolgação" nos jovens.

Os atores, nessa época, eram os índios domesticados, os futuros padres, os brancos e os mamelucos. Todos amadores, que atuavam de improviso nas peças apresentadas nas Igrejas, nas praças e nos colégios. No que diz respeito aos autores, o nome

de mais destaque da época é o de Padre Anchieta . É dele a autoria de Auto de Pregação Universal, escrito entre 1567 e 1570, e representado em diversos locais do Brasil, pôr vários anos.

Outro auto de Anchieta é Na festa de São Lourenço, também conhecido como Mistério de Jesus. Os autos sacramentais, que continham caráter dramático, eram preferidos às comédias e tragédias, porque eram neles que estavam impregnadas as características da catequese. Eles tinham sempre um fundo religioso, moral e didático, e eram repletos de personagens alegóricos.

Além dos autos, outros "estilos teatrais" introduzidos pelos Jesuítas foram o presépio, que passou a ser incorporado nas festas folclóricas, e os pastoris.

Século - XVII

No século XVII, as representações de peças escritas pelos Jesuítas - pelo menos aquelas com a clara finalidade de catequese- começaram a ficar cada vez mais escassas. Este período, em que a obra missionária já estava praticamente consolidada, é inclusive chamado de Declínio do Teatro dos Jesuítas. No entanto, outros tipos de atividades teatrais também eram escassos, pôr conta deste século constituir um tempo de crise. As encenações existiam, fossem elas prejudicadas ou inspiradas pelas lutas da época (como pôr exemplo, as lutas contra os holandeses). Mas dependiam de ocasiões como festas religiosas ou cívicas para que fossem realizadas.

Das peças encenadas na época, podemos destacar as comédias apresentadas nos eventos de aclamação a D. João IV, em 1641, e as encenações promovidas pelos franciscanos do Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, com a finalidade de distrair a comunidade. Também se realizaram representações teatrais pôr conta das festas de instalação da província franciscana da Imaculada Conceição, em 1678, no Rio.

O que podemos notar neste século é a repercussão do teatro espanhol em nosso país, e a existência de um nome - ligado ao teatro - de destaque: Manuel Botelho de Oliveira (Bahia, 1636-1711). Ele foi o primeiro poeta brasileiro a ter suas obras publicadas, tendo escrito duas comédias em espanhol (Hay amigo para amigo e Amor, Engaños y Celos).

Século - XVIII

Foi somente na segunda metade do século XVIII que as peças teatrais passaram a ser apresentadas com uma certa frequência. Palcos (tablados) montados em praças públicas eram os locais das representações. Assim como as igrejas e, pôr vezes, o palácio de um ou outro governante. Nessa época, era forte a característica educacional do teatro. E uma atividade tão instrutiva acabou pôr merecer ser presenteada com locais fixos para as peças: as chamadas Casas da Ópera ou Casas da Comédia, que começaram a se espalhar pelo país.

Em seguida à fixação dos locais "de teatro", e em consequência disso, surgiram as primeiras companhias teatrais. Os atores eram contratados para fazer um determinado número de apresentações nas Casas da Ópera, durante todo o ano, ou apenas pôr alguns meses. Sendo assim, com os locais e elencos fixos, a atividade teatral do século XVIII começou a ser mais contínua o que em épocas anteriores. No século XVIII e início do XIX, os atores eram pessoas das classes mais baixas, em sua maioria mulatos. Havia um preconceito contra a atividade, chegando inclusive a ser proibida a participação de mulheres nos elencos. Dessa forma, eram os próprios homens que representavam os papéis femininos, passando a ser chamados de "travestis". Mesmo quando a presença de atrizes já havia sido "liberada", a má fama da classe de artistas, bem como a reclusão das mulheres na sociedade da época, as afastava dos palcos.

Quanto ao repertório, destaca-se a grande influência estrangeira no teatro brasileiro dessa época. Dentre nomes mais citados estavam os de Molière, Voltaire, Maffei, Goldoni e Metastásio. Apesar da maior influência estrangeira, alguns nomes nacionais também merecem ser lembrados. São eles: Luís Alves Pinto, que escreveu a comédia em verso Amor Mal Correspondido, Alexandre de Gusmão, que traduziu a comédia francesa O Marido Confundido, Cláudio Manuel da Costa, que escreveu O Parnaso Obsequioso e outros poemas representados em todo o país, e Inácio José de Alvarenga Peixoto, autor do drama Enéias no Lácio.

Século XIX Transição para o teatro nacional

A vinda da família real para o Brasil, em 1808, trouxe uma série de melhorias para o Brasil. Uma delas foi direcionada ao teatro. D. João VI, no decreto de 28 de maio de 1810, reconhecia a necessidade da construção de "teatros decentes".

Na verdade, o decreto representou um estímulo para a inauguração de vários teatros. As companhias teatrais, pôr vezes de canto e/ou dança (bailado), passaram a tomar conta dos teatros, trazendo com elas um público cada vez maior. A primeira delas, realmente brasileira, estreou em 1833, em Niterói, dirigida pôr João Caetano, com o drama O Príncipe Amante da Liberdade ou A Independência da Escócia. Uma consequência da estabilidade que iam ganhando as companhias dramáticas foi o crescimento, paralelo, do amadorismo.

A agitação que antecipou a Independência do Brasil foi refletida no teatro. As platéias eram muito agressivas, aproveitavam as encenações para promover manifestações, com direito a gritos que exaltavam a República. No entanto, toda esta "bagunça" representou uma preparação do espírito das pessoas, e também do teatro, para a existência de uma nação livre. Eram os primórdios da fundação do teatro - e de uma vida - realmente nacional. Até porque, em consequência do nacionalismo exacerbado do público, os atores estrangeiros começaram a ser substituídos pôr nacionais.

Ao contrário desse quadro, o respeito tomava conta do público quando D.Pedro estava presente no teatro ( fato que acontecia em épocas e lugares que viviam condições "normais", isto é, onde e quando não havia este tipo de manifestação). Nestas ocasiões, era mais interessante se admirar os espectadores - principalmente as senhoras ricamente vestidas - do que os atores. Além do luxo, podia se notar o preconceito contra os negros, que não compareciam aos teatros. Já os atores eram quase todos mulatos, mas cobriam os rostos com maquiagem branca e vermelha.

Século -XIX: Época Romântica

Desde a Independência, em 1822, um exacerbado sentimento nacionalista tomou conta das nossas manifestações culturais. Este espírito nacionalista também atingiu o teatro. No entanto, a literatura dramática brasileira ainda era incipiente e dependia de iniciativas isoladas. Muitas peças, a partir de 1838, foram influenciadas pelo Romantismo, movimento literário em voga na época. O romancista Joaquim Manuel de Macedo destacou alguns mitos do nascente sentimento de nacionalidade da época: o mito da grandeza territorial do Brasil, da opulência da natureza do país, da igualdade de todos os brasileiros, da hospitalidade do povo, entre outros. Estes mitos nortearam, em grande parte, os artistas românticos desse período.

A tragédia Antônio José ou O poeta e a inquisição escrita pôr Gonçalves de Magalhães (1811-1882) e levada à cena pôr João Caetano (1808-1863), a 13 de março de 1838, no teatro Constitucional Fluminense, foi o primeiro passo para a implantação de um teatro considerado brasileiro.

No mesmo ano, a 4 de outubro, foi representada pela primeira vez a comédia O juiz de paz da roça, de Martins Pena (1815-1848), também no teatro Constitucional Fluminense pela mesma companhia de João Caetano. A peça foi o pontapé inicial para a consolidação da comédia de costumes como gênero preferido do público. As peças de Martins Pena estavam integradas ao Romantismo, portanto, eram bem recebidas pelo público, cansado do formalismo clássico anterior. O autor é considerado o verdadeiro fundador do teatro nacional, pela quantidade - em quase dez anos, escreveu 28 peças - e qualidade de sua produção. Sua obra, pela grande popularidade que atingiu, foi muito importante para a consolidação do teatro no Brasil.

Época Realista Metade o Século XIX

Realismo na dramaturgia nacional pode ser subdividido em dois períodos: o primeiro, de 1855 - quando o empresário Joaquim Heliodoro monta sua companhia - até 1884 com a representação de O mandarim, de Artur Azevedo, que consolida o gênero revista e os dramas de casaca. O segundo período vai de 1884 aos primeiros anos do século XX, quando a opereta e a revista são os gêneros preferidos do público.

Essa primeira fase não se completa em um teatro naturalista. À exceção de uma ou outra tentativa, a literatura dramática não acompanhou o naturalismo pôr conta da preferência do público pelo "vaudeville", a revista e a paródia.

A renovação do teatro brasileiro, com a consolidação da comédia como gênero preferido do público, iniciou-se quando Joaquim Heliodoro Gomes dos Santos montou seu teatro, o Ginásio Dramático, em 1855. Esse novo espaço tinha como ensaiador e diretor de cena o francês Emílio Doux que trouxe as peças mais modernas da França da época.

O realismo importado da França introduziu a temática social, ou seja, as questões sociais mais relevantes do momento eram discutidas nos dramas de casaca. Era o teatro da tese social e da análise psicológica.

Nome de grande importância para o teatro dessa fase é o do dramaturgo Artur Azevedo (1855-1908). Segundo J. Galante de Souza ( O Teatro no Brasil, vol.1), Artur Azevedo "foi mais aplaudido nas suas bambochatas, nas suas revistas, escritas sem preocupação artística, do que quando escreveu teatro sério. O seu talento era o da improvisação, fácil, natural, mas sem fôlego para composições que exigissem amadurecimento, e para empreendimentos artísticos de larga envergadura".

Fernando Peixoto define bem a história do teatro no Brasil e no mundo em seu livro "O que é teatro", e nos traz referências de datas que ajudam entender sua trajetória no decorrer dos séculos.

A história do teatro brasileiro dramático surgiu em 1564, coincidentemente com a data de nascimento de Willian Shakespeare, quando foi encenado o Auto de Santiago pôr missionários jesuítas, na Bahia.

No Brasil o teatro surge como instrumento pedagógico. Eram Autos utilizados para a catequização dos índios, os quais o padre Manuel da Nóbrega encomendava-os ao padre José de Anchieta.

Já no século XIX (mais ou menos 1838), o teatro fica marcado pela tragédia romântica de Gonçalves Magalhães com a peça: "O Poeta e a Inquisição" e também Martins Pena com "O juiz de paz na roça". Martins Pena com toda sua simplicidade para escrever, porém justa eficácia para descrever o painel da época, teve seguidores "clássicos" de seus trabalhos, como Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis e José de Alencar.

Foi em 1880 , em Lagos, na Nigéria que escravos brasileiros libertados deram um enorme salto no desenvolvimento do teatro, fundando a primeira companhia dramática brasileira – a Brazilian Dramatic Company .

Em 1900, o teatro deu seu grito de liberdade. Embora tenha enfrentado as mais duras crises políticas do país, conseguiu com muita luta estacar sua bandeira e marcar sua história.

De 1937 a 1945, a ditadura procura silenciar o teatro, mas a ideologia populista, através do teatro de revista, mantém-se ativa. Surgem as primeiras companhias estáveis do país, com nomes como: Procópio Ferreira, Jaime Costa, Dulcina de Moraes, Odilon Azevedo, Eva Tudor, entre outros.

Uma nova ideologia começava a surgir, juntamente com um dos maiores patrimônios do teatro brasileiro: Oswald de Andrade, que escreveu O Rei da Vela (1933), O Homem e o Cavalo (1934) e A Morta (1937), enfrentando desinibido e corajoso, a sufocante ditadura de Getúlio Vargas.

Em 1938, Paschoal Carlos Magno funda o Teatro do Estudante do Brasil. Começam surgir companhias experimentais de teatro, que estendem-se ao longo dos anos, marcando a introdução do modelo estrangeiro de teatro entre nós, consagrando então o princípio da encenação moderna no Brasil.

No ano de 1948 surge o TBC uma companhia que produzia teatro da burguesia para a burguesia, importando técnica e repertório, com tendências para o culturalismo estético. Já em 57, meio a preocupações sócio-políticas surge o Teatro de Arena de São Paulo. Relatos de jornais noticiavam que o Teatro de Arena foi a porta de entrada de muitos amadores para o teatro profissional, e que nos anos posteriores tornaram-se verdadeiras personalidades do mundo artístico.

Em 1958, em São Paulo, o Teatro Arena trazia a revolucionária "Eles não usam Black-tie", de Gianfrancesco Guarnieri, escancarando problemas sociais e políticos.  Em 1965, a encenação de "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto com música de Chico Buarque, estarreceu a crítica brasileira por sua poética pungente e montagem sensível. "A peça veio com uma encenação primorosa e marcou toda uma época", lembra Celso Nunes.  Em 1967, José Celso Martinez Correa quebrou tabus com "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade. Provocativo e cáustico, ele chegava para estapear a burguesia.

O teatro contemporâneo


"...São infindáveis as tendências do teatro contemporâneo. Há uma permanência do realismo e paralelamente uma contestação do mesmo. As tendências muitas vezes são opostas, mas frequentemente se incorporam umas as outras..." (Fernando Peixoto – O que é teatro).

Os governos militares silenciaram tudo. Zé Celso, Boal e outros importantes artistas foram exilados. Antunes Filho, que ficou no Brasil, abriu nosso teatro contemporâneo com seu Centro de Pesquisa Teatral. "Com Macunaíma, ele rompeu com aquilo que ele próprio chama de teatrão e começou a trabalhar só com jovens, com uma atuação menos armada. O espetáculo tem uma cara nova, que não dá para comparar com nada que foi feito antes", fala João Roberto.

Marcando a abertura política, Celso Nunes finalmente estreia sua peça que havia sido proibida durante sete anos. Em "Patética", ele conta a morte do jornalista Vladmir Herzog. "A peça tinha sido premiada como melhor texto e proibida no mesmo ano, pelo regime. Só em 81 consegui montar", conta Nunes. Nesse ínterim, Boal desenvolveu o Teatro do Oprimido, com a democratização dos meios de produção teatral e acesso das camadas sociais menos favorecidas.

Nos anos seguintes, surge o que se chama de teatro de encenadores, com diretores como Gerald Thomas, Bia Lessa e Gabriel Vilela, dialogando com as vanguardas internacionais. Zé Celso volta do exílio e reabre o Oficina, com montagens impactantes como "As Boas", com Raul Cortez, "Hamlet", "Cacilda!", "Bacantes" e "Sertões". A partir dos anos 2000, o Brasil recebe muitos musicais internacionais.

Fontes:
HISTORIA DO TEATRO E O TEATRO EM PORTUGAL
Carlos Leite Ribeiro (enviado por e-mail)

HISTORIA DO TEATRO NO BRASIL
Barão em Foco
Rede Globo