segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Olivaldo Júnior (Asas)

Trabalho numa escola pública municipal, na secretaria. Hoje saí do trabalho um pouco mais cedo e fui ao centro da cidade, para, depois, ainda voltar à Escola e, de lá, partir para casa com a cesta básica do mês.

No caminho de volta para lá, um passarinho me chamou a atenção e, por uns momentos, parei e, de olho nele, que andava de um lado para o outro no chão, como se quisesse voar e não pudesse, pensei: Será que esse pobre passarinho sabe que é um pássaro e que tem o espaço todo a seus pés, digo, suas asas? Não sei, nunca parei muito para pensar nisso, nem sei se já chegaram a estudar o mundo das aves tão a fundo, ao ponto de descobrirem como realmente funciona sua consciência de si. Será que eles sabem que são pássaros? Eu, por exemplo, na fila dos que vêm à luz, lá no Céu, devo ter bobeado, me distraído com algum anjo serelepe e, por engano, tomado a fila dos homens, quando queria mesmo era ter pegado a de um sabiá cantor, de uma andorinha livre, de um bem-te-vi que fica o tempo todo no passado, dizendo que me viu. Logo eu, o sem-asas!

Nunca voei de avião e tenho medo de altura, vertigem que me dá subir numa escada! Mas queria ter asas, singrar os azuis dos olhos da Terra e pousar no fio quase nulo de uma existência que só faz ver o mundo cá de baixo lá de cima dos montes. Talvez, assim, tivesse um monte de histórias, um mundo de estrelas, um lote de amigos. Será?

As crianças da escola em que trabalho, quando em vias de entrar em sala, pouco antes de bater ou o sinal de entrada, ou o de saída, com suas vozes misturadas, camufladas, encobertando-se umas às outras, parecem um ruidoso bando de passarinhos que, coitado, também mal sabe que tem/temos asas!... De papel, de algodão, de isopor, duas asas nuas.

Tomando um "coffee", pensando em nada, em quase nada, recolho as asas da ação, e o pensamento voa. Nas asas da xícara, um biscoito se quebra. As asas são fortes, mas também se quebram. Sem elas, voamos baixo, ficamos térreos, caímos logo, pesados, de chumbo. Cantando, cantando mais, sinto que as tenho, que tenho asas!... E voo.
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domingo, 7 de fevereiro de 2016

Jorge Luis Borges (O labirinto)

Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto.

Fonte:
Pequena Antologia para se Ler Jorge Luis Borges. Digital Source.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Olivaldo Júnior (Unha-de-gato)

Ontem, ao entrar numa loja de produtos naturais na cidade onde moro, passou por mim uma menina de ou uns oito, ou nove anos, e disse ao avô:

- Vô, olha aqui! Unha de gato moída! Eles pegam a unha do gato e ralam! - O avô, sem lhe dar muita atenção, falou qualquer coisa como se concordasse e já se afastaram da prateleira.

Vejo que tem sido assim em muitos relacionamentos entre adultos e crianças. A pressa, que era inimiga da perfeição, tem sido inimiga também da comunicação. Amizades ou se desfazem, ou sequer começam, porque há muito trabalho a fazer, muito horário a cumprir, e a vida é que se desfaz sem nem ao menos ter sido vivida. As crianças, que são filhos e filhas, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas, alunos e alunas, então, têm amargado a indiferença dos adultos, que, entre um zap e outro, se esquecem de que o tempo dos pequenos não segue o dos ponteiros do relógio e ignoram compromissos. Não sou criança, mas, muitas vezes, me sinto ignorado também. O tempo dos músicos, dos poetas e de outros artistas é o tempo das crianças. Disso, tenho certeza. E, igual a elas, ainda que fique calado, não diga nada, sinto toda essa indiferença.

Se o avô que vi ontem com aquela menina tivesse parado um pouco de correr, teria lhe explicado que a unha de gato em questão era uma erva, a unha-de-gato, originária da Amazônia, usada para tratar desde asma até câncer. Mas não. Era preciso ir embora, chegar logo ao destino. Mas a qual, se o mais importante era parar um pouco e se abaixar até a altura da criança e lhe explicar qualquer coisa sobre o que ela via? Acho que ele nunca ouviu aqueles versos perfeitos da dupla Palavra Cantada: "Criança não trabalha / Criança dá trabalho". Quem não quiser ter trabalho, que não tenha filhos, porque dão trabalho mesmo. Eu não os tenho, mas ajudei minha mãe a cuidar do irmão caçula. Deu trabalho.

Crianças querem um pouco de atenção e de carinho, tudo o que lhes têm faltado. Não é por acaso que acreditam em uma casa muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada; ou, ainda, na Chácara do Chico Bolacha, onde o que se procura nunca se acha e numa aquarela que, um dia, descolorirá, com unha-de-gato (erva) e unha de gato mesmo, moída, como se fosse ingrediente de um caldeirão mágico de bruxa má; crianças acreditam nisso porque a fantasia que o tempo permite quando nós o permitimos passar devagar é o que as move e o que nos move para a felicidade, que roda, roda, roda, pé, pé, pé, roda, roda, roda, falso adulto bobo é.
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Fontes:
O Autor
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Contos Populares do Tibete (A Árvore-Sombrinha)

Havia uma vez um homem chamado Palden. Era um grande viajante. Percorrera o mundo inteiro e vira coisas magníficas e maravilhosas. Um dia, quando atravessava a sua terra natal — o Tibete —, encontrou um grande bosque, em cujo centro, numa clareira, se levantava uma árvore enorme. Era belíssima, de folhas verde-escuras e se estendia como uma sombrinha por sobre toda a terra à sua volta.

Sentindo-se cansado, Palden decidiu deitar-se sob a árvore-sombrinha.1 Acomodando-se entre as raízes salientes, logo adormeceu. De repente, despertou sobressaltado. Era noite fechada e havia um grande alvoroço. Sem fazer nenhum ruído, mudou de posição para poder observar melhor e ficou escondido detrás do enorme tronco da árvore-sombrinha. O que viu o assustou muito: ali, na escuridão da noite, como estrelas do firmamento, brilhavam centenas de olhinhos: os olhos de muitos animais, das mais variadas espécies.

Sigilosamente, Palden se levantou e, com muito cuidado, para não espantar os animais, subiu pelos galhos da árvore-sombrinha e, desde ali, ficou espiando o que se passava embaixo. Um enorme leão das neves emergiu da escuridão, e foi sentar-se sob a árvore, seguido logo de um lobo, um urso, um macaco, aves e muitos outros animais. Todos os animais que viviam nos arredores do grande bosque tinham enviado um representante à reunião.

O leão das neves, que era sem dúvida o chefe,2 passou os olhos pela vasta assembleia e disse:

— Boa-noite a todos!

E, como resposta, todos os animais saudaram o leão e se cumprimentaram uns aos outros, com suas vozes e gorjeios.

Palden ficou tão pasmo com o que viu, que quase caiu dos galhos da árvore quando o leão falou. Segurando-se firmemente num galho forte, foi contemplando — olhos desorbitados — a reunião dos animais.

— Digam-me — disse o leão —, que tal foi o dia de hoje para vocês?

— Eu sinto muita fome, respondeu um lobo.

Caminhei muitos quilômetros, hoje, e não consegui comida suficiente.

— Já eu tive sorte — disse a tartaruga —, passei um dia ótimo, nadando e brincando entre as ramagens.

Todos os animais contaram o seu dia e, enquanto o faziam, o leão acrescentava os seus comentários, confirmava com a cabeça ou a balançava em sinal de desgosto; de vez em quando, dava algum conselho ao animal que o precisava.

Passado algum tempo, já se ia fazendo silêncio e todos os animais se preparavam para voltar aos seus territórios, quando se escutou um surdo rouco:

— Perdão, disse uma voz baixa. Tratava-se de um macaco muito velho e enrugado, que se levantou e se dirigiu para o auditório:

— Tenho um relato triste para contar a vocês, hoje. Está relacionado com a estupidez dos humanos.

— Conte-nos, então — disse o leão. Que foi que fizeram, hoje, os humanos?

O macaco continuou:

— Bem, para falar a verdade, o que eu gostaria mesmo é de ser humano também — disse, pois, se o fosse, poderia fazer muito mais pela felicidade dos outros. Mas, sendo as coisas como são, eles, os humanos, jamais escutam os chios de um velho macaco.

— Vamos logo com essa história — disse o raposo com impaciência, e um rumor de descontentamento se levantou dentre a multidão.

O leão das neves levantou uma das garras para impor silêncio:

— Deixem que o macaco conte o seu relato, disse.

— Bem — disse o macaco —, há uma família que vive junto do rio. Eles têm uma filha, uma única filha, que está muito doente. Já faz três meses que ela sofreu um ferimento na perna, e seus pais não sabem como curá-lo. Pois bem, se eu fosse humano — continuou —, lhes diria como curar a perna da menina.

Todos os animais concordaram com a cabeça, pois todos conheciam muito bem a estupidez dos humanos. E o macaco prosseguiu:

— Diante da casa, há uma grande rocha sob a qual vive uma rã. A rã está muito doente e não pode se mover por falta de água. Pois bem, se os pais da menina recolhessem essa rã, a colocassem num pratinho de ouro do santuário doméstico e a levassem ao rio, a perna de sua filha sararia rapidamente.

— É certo, falou o leão das neves. O macaco conhece o meio de curar a perna ferida da menina.

Mas, das outras vezes que tentamos falar com os humanos, eles não nos quiseram escutar, aliás, nunca nos escutam. Por isso, agora, que se arranjem sozinhos!

Depois que todos os animais se foram, Palden desceu da árvore-sombrinha. Estava muito pensativo e se perguntava o que devia fazer.

— Os animais me ensinaram o caminho a seguir — pensou. Devo encontrar essa família e ajudá-los a curar a perna de sua filha.

Quando Palden chegou à casa, o sol já havia aparecido no céu e a manhã ia avançando. Foi até a porta e chamou. Seu chamado foi logo atendido pelo pai da menina, que o olhou intrigado e perguntou o que queria.

— Sou médico — disse Palden. — Vim ajudar à sua filha.

O pai se afastou para deixar Palden entrar na casa e o conduziu até o leito onde jazia a filha, pálida e enferma, à beira já da morte. Palden se ajoelhou junto ao leito e tomou a mão da menina entre as suas.

— Vou fazer com que você fique boa de novo, sussurrou-lhe. Mas a menina não o ouvia. Palden viu que tinha que se apressar se quisesse salvar-lhe a vida.

Dirigindo-se ao exterior da casa, Palden encontrou a pedra grande. Afastou-a, com jeito, uns centímetros, e ali estava a rã, desidratada e morrendo por falta de água. Palden pediu ao pai da menina que lhe trouxesse uma echarpe branca limpa sobre um pratinho de ouro do santuário doméstico. Então, com muito cuidado, apanhou a rã e a colocou no pratinho, tal como o macaco havia mencionado.

Passando o pratinho ao pai da menina, Palden lhe disse que levasse a rã ao rio e que a colocasse no fundo:

— Se o senhor assim o fizer e se a rã se recuperar, a sua filha se salvará.

O pai não compreendia a medicina que o estranho doutor lhe aconselhava, mas, como havia experimentado de tudo para curar a menina, e sem resultado, procedeu tal como aquele homem lhe pedia.

Ao voltar do rio, o pai não coube em si de contentamento, ao ver que sua filha tinha se levantado da cama e já ajudava à sua mãe na cozinha. Voltando-se para Palden, o pai disse:

— Tudo o que tenho de valor é seu, é só dizer o que quer, pois o senhor salvou da morte a nossa única filha, e todo o ouro do mundo não seria suficiente para pagar-lhe o bem que nos fez.

— Eu não quero nada, disse Palden, a não ser trazer felicidade às pessoas.

O pai insistiu para que Palden ficasse e que comesse com eles, pelo menos. Prepararam uma grande festa em sua honra. Todos os vizinhos vieram e, nessa tarde, houve grande alegria no bosque, pois todos acreditaram que se houvesse realizado um milagre.

Ao cair da noite, Palden se despediu da família e, levando consigo os presentes com que o haviam acumulado, dirigiu-se novamente ao centro do bosque, à clareira na qual se erguia a árvore-sombrinha. Quando chegou à árvore, a reunião já havia começado. Todos os animais estavam congregados e contavam ao leão das neves as suas histórias. Lentamente e sem fazer ruído, Palden se encarapitou na árvore e subiu pelos galhos até ficar escondido da vista de quem quer que fosse.

Dessa vez, foi um tigre que falou dos humanos, contando sobre uma família que vivia no outro lado do bosque, longe do rio.

— São tão ignorantes — disse o tigre —, que todos os dias percorrem quilômetros e quilômetros até o rio, para se abastecerem de água.

Uma vez mais, os animais concordaram com a cabeça e soltaram grunhidos de compreensão, enquanto o tigre continuava o seu relato:

— Pois bem, se eu estivesse em seu lugar, arrancaria o grande toco de árvore que há junto à casa deles, cavaria até um metro de profundidade, e dali tiraria toda a água que necessitasse.

Palden escutava. Quando os animais terminaram, desceu da árvore e adormeceu profundamente. Contudo, ao despertar, recordou perfeitamente o relato do tigre, na noite anterior. "Foi um sonho?", perguntava-se; mas, quando levantou os olhos na direção dos galhos da árvore-sombrinha, persuadiu-se de que o que havia ouvido era absolutamente real, e de que tinha de encontrar a família que necessitava de água tão desesperadamente.

Palden chegou à casa da família no mesmo momento em que o sol se escondia detrás do horizonte, mas ainda havia luz suficiente para ver o grande toco. Aproximou-se do mesmo para inspecioná-lo e viu que estava profundamente fincado ao solo. "Será preciso a força de uns cinquenta homens para arrancar este toco — pensou —, pois ele está com as raízes enterradas fundo no solo. Sentou-se junto ao toco, tirou um pouco de comida da sua chuba, comeu, e logo voltou a dormir.

Raiou a aurora. Os pássaros do bosque cantavam e alguns sinais de movimento dentro da casa indicavam que a família já se havia levantado e se preparava para a jornada. Palden foi até a porta de entrada da casa e chamou, pedindo aos de dentro que o deixassem entrar.

Quando a mulher da casa respondeu ao seu chamado, Palden lhe pediu um pouco de água, mas ela disse que a que tinham já não era suficiente sequer para eles mesmos; e, sendo assim, não podia dar nem uma gota a estranhos.

— Temos que andar muitos quilômetros todos os dias —disse —, pois vivemos longe do rio e não temos outra fonte perto de casa.

— Talvez eu possa ajudá-los — disse Palden —, pois sou perito nestas questões.

— E o que o senhor vai querer por isso? — perguntou a mulher. — Se nos ajudar a encontrar água, tudo o que temos será seu.

— Tudo o que eu quero — disse Palden — são vinte e cinco metros de corda e doze iaques. Com isso proporcionarei a vocês toda a água que possam necessitar.

A mulher chamou o resto da família e, juntos, pegaram os iaques e a corda. Palden tomou a corda, amarrou-a ao toco de árvore, e depois a prendeu aos doze iaques. Conduzindo os iaques, fez com que eles puxassem e puxassem, até que, finalmente, o toco foi arrancado do chão. Então, pediu à mulher que chamasse todos os vizinhos mais próximos e que lhes dissesse que trouxessem pás para cavar.

Todos se juntaram e se revezaram para cavar o buraco deixado pelo toco. Em pouco tempo, a água apareceu. Água de fonte, água de manancial, clara e fresca, que encheu o buraco e jorrou abundante pelo solo.

Todos gritavam, riam, saltavam de contentamento, abraçando-se uns aos outros, cheios de felicidade. De repente, uma voz gritou dentre a multidão: "Silêncio!"

Fez-se silêncio entre todos, pois o ancião que havia lançado a ordem era sábio e muito reverenciado por seu povo.

— Durante sessenta e cinco anos — disse, dirigindo-se a Palden —, tratei de ajudar a essa gente.

Vi crescerem seus filhos e os filhos de seus filhos.

Vi morrer muita gente. Entretanto, nem eu nem nenhum outro foi capaz de fazer o que você fez.

Você é alguém muito especial — continuou. Deve ser, então, o chefe do nosso povo, pois trouxe muita alegria a seus corações e, mesmo assim, não está pedindo nada para si mesmo.

Palden respondeu:

— Darei o melhor de mim para conduzir o povo do bosque e fazer a todos felizes. Agradeço-lhes por me pedirem isso. Na verdade, eu sou apenas um pobre homem.

Assim que disse isto, a multidão levantou Palden e o levou aos ombros por todo o bosque, proclamando-o seu novo chefe.

Passaram alguns anos. Palden vivia feliz entre o seu povo. Sucedeu, então, que um velho amigo seu, inteirado da sua sorte, decidiu fazer-lhe uma visita, no bosque, para investigar como Palden havia chegado a ser tão famoso e querido.

Palden deu boas-vindas ao amigo, recebendo-o de braços abertos.

— O que o trouxe aqui, Kunjo? — perguntou.

— Desejo saber — respondeu Kunjo — o que fez você para ter tanta sorte.

— Oh! foi tudo muito simples — disse Palden.

E contou ao amigo tudo sobre a história da árvore-sombrinha e as reuniões dos animais.

Kunjo escutou atentamente o relato de Palden e, considerando o quanto gostaria de ser, também, chefe de um povo, decidiu encontrar a árvore-som-brinha e escutar os animais em seu colóquio. "Isso vai me fazer muito rico e famoso — pensou Kunjo; — terei todo o ouro e a prata que desejar".

E assim, nessa mesma tarde, despedindo-se de Palden, dirigiu-se à clareira do centro do bosque e subiu aos galhos da árvore-sombrinha para esperar a chegada dos animais.

Pouco tempo depois, dentro da noite iluminada apenas pelos tênues raios de lua que se filtravam entre os galhos das árvores, chegaram os animais.

Bem no momento em que iam começar a reunião, ouviu-se um estalido nos galhos da árvore-sombrinha. O leão das neves olhou para cima justo no instante em que Kunjo caía aos pés de um urso enorme.

— Pois vejam só! — disse o urso. Com que então, temos alguém para escutar a nossa reunião!

E, estreitando o homem em seus poderosos braços, espremeu-o tanto e tanto, que o último alento escapou do corpo de Kunjo e este morreu.

As aves e todos os (outros) animais banquetearam-se, naquela noite. E, quando o sol saiu, tudo o que restava do pobre Kunjo eram uns poucos ossos, que as aves carniceiras, com seus bicos, se encarregaram de deixar limpinhos.
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Notas
1. Em inglês, conhece-se com o nome de "Umbrella Tree" ("árvore guarda-chuva" ou "árvore-sombrinha") uma árvore americana do gênero das magnólias (Magnolia tiipetala), bastante alta e de folhas muito grandes, que oferecem um magnífico abrigo contra a chuva. Mas esta classificação se estende, igualmente, a outras árvores de características parecidas. Assim, pois, e dado que em nosso conto não se podia tratar desta árvore, pois o refúgio que oferece ao seu protagonista não é tanto da chuva, mas do sol, preferimos traduzi-la como "Árvore-sombrinha".
2. Não existem leões no Tibete, e desde o ponto de vista zoológico, esta designação de "leão das neves" poderia ser aplicada, talvez, ao írbis, conhecido como "pantera das neves", que é própria desta região da Ásia Central. De qualquer maneira, no Tibete o leão ocupa um lugar destacado como animal simbólico, de acordo, quanto aos demais, com a significação especial que tem o leão no budismo. E a presença do leão como animal simbólico na tradição popular tibetana era muito ampla; em algumas festas, como a do Ano Novo, celebrava-se a "Dança do Leão". Pois bem, a figura realmente importante nessa tradição era a da "Leoa branca das neves", ou "dos geleiros", que era considerada a personificação destes últimos. E a água que escorria deles, reputada como medicinal, era conhecida como o "leite da leoa branca dos geleiros".

Fonte:
Jayang Rinpoche. Contos Populares do Tibete. (Tradução: Lenis E. Gemignani de Almeida).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Olivaldo Júnior (A morte da cigarra)

Eu, que vendo como compro as imagens que ou vislumbro, ou imagino, vi esta manhã uma cigarra morta. Eu estava chegando ao trabalho, e lá estava ela, intacta, parada, com a barriga para baixo e as translúcidas asas para cima, reluzentes, sólidas, ao sol. Lembrei-me na hora de um verso bonito de Cecília Meireles que diz: Não tenho inveja às cigarras: / também vou morrer de cantar. Isso é bonito, porque um poeta é meio cigarra também. Digo meio e não inteiro por causa do próprio ofício de escrever poemas, que, quase sempre, leva o poeta a ter outro trabalho, a fim de garantir o leite das crianças e, o que não é raro, seu próprio. Assim, meio cigarra, meio formiga, atravesso as páginas de meus dias, cantando e escrevendo o que vejo. Hoje, pela manhã, vi uma das minhas caída, morta na calçada. Se foi macho, cantou até morrer por sua amada. Se foi fêmea, amou, até morrer, seu bem-amado. Se eu fumasse, acenderia um cigarro e ganharia um trocadilho. Como não fumo, me resta, mais tarde, quando em casa, pegar a guitarra e me lembrar de que as cigarras, como os brutos, os músicos, os poetas e outras formas de inocência distraída, também amam. Com seu canto de moído vidro, seus cacos na garganta atroz, suas asas que desfocam o sol, recolhem-se e morrem.
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O Autor
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Contos Populares Portugueses (O Cego e o Mealheiro)

Era uma vez um cego que tinha ajuntado no peditório uma boa quantidade de moedas. Para que ninguém elas roubasse, tinha-as metido dentro duma panela, que guardava enterrada no quintal, debaixo duma figueira. Ele lá sabia o lugar, e, quando arranjava outra boa maquia, desenterrava a panela, contava tudo e tornava a esconder o seu tesouro.

Ora um vizinho espreitou-o, viu onde é que ele tinha a panela e foi lá e roubou tudo. Quando o cego deu pela falta, ficou muito calado, mas começou a dar voltas ao miolo para ver se arranjava maneira de tornar a apanhar o seu dinheiro. Pôs-se a considerar quem seria o ladrão e achou que por força teria de ser o vizinho. Tratou de ir à fala com ele e disse-lhe:

- Olhe, meu amigo, quero contar-lhe uma coisa muito em particular, que ninguém nos ouça.

- Então o que é, senhor vizinho?

- Eu ando doente, e isto há viver e morrer. Por isso quero dar-lhe parte que tenho algumas moedas enterradas no quintal, dentro de uma panela, mesmo debaixo da figueira. Já se sabe, como não tenho parentes, há de ficar tudo para si, que sempre tem sido um bom vizinho e me tem tratado bem. Ainda tinha aí num buraco mais umas moedas de ouro e quero guardar tudo junto, para o que der e vier.

O vizinho, ao ouvir aquilo, agradeceu-lhe muito a intenção, e naquela noite tratou logo de ir enterrar outra vez a panela de dinheiro aonde ela estava, no fito de apanhar o resto do tesouro. Quando bem entendeu, o cego foi ao sítio, encontrou a panela e levou-a para casa. Depois desatou num grande berreiro, para que o vizinho o ouvisse:

- Roubaram-me! Roubaram-me tudo!

E daí em diante guardou as suas moedas num sítio onde nunca ninguém soube.

Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Olivaldo Júnior (O nó)

Não, não era o nó dos sapatos, nem o da gravata que o incomodava. O nó era mais fundo, profundo, que um simples nó cego numa corda capaz de aguentar mil pessoas de um lado até o outro da ponte. Mais fértil que um campo minado por beija-flores, que esparramam pólen pela terra em transe do mundo, o nó transgredia os costumes e calava os trinados de qualquer ave. Não, já não era mais a época da repressão política e social iniciada em 1964 neste país, mas este nó, essa nódoa na roupa intelectual de quem se deixasse por isso enredar, este nó o reprimia como nunca. "Pai, afasta de mim esse cálice"... Nossa Senhora! Que nó era esse? Nós, que não tínhamos nada convosco, nem conosco, nos livrávamos desse nó. Era assim mesmo? Quantas vezes esse nó nos norteara rumo ao roubo das rimas, ao ramo das rosas que só era por nós quando nos convinha e, cá entre nós, não reparávamos que, quase sempre, nos perdíamos nele como peixes na rede de nós habitualmente trançada por um pescador experiente. Entrávamos e sentíamos esse nó que nos nublava a visão... Cego, feito o amor, sente hoje na garganta desnuda um cordão umbilical, primeiro nó, que lhe aperta o pomo de Adão, o nó de sua alma, cordão de prata que liga seu corpo à fonte, às mãos do Pai e da Mãe que o alimentam, sem nem mesmo ser nenhuma das aves do céu, nenhum dos peixes do mar. O nó, invisível, essencial, prende sua voz e solta suas lágrimas. Sim, sempre afrouxa os nós dos sapatos e os da gravata que, é bom que se diga, não usa. Mais fundo, profundo, o nó da existência.
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Jorge Luís Borges (A sedução do tigre)

Na infância pratiquei com fervor a adoração ao tigre; não o tigre cor de pêssego dos camalotes do Paraná e da confusão amazônica mas o tigre rajado, asiático, real, que só pode ser enfrentado pelos homens de guerra, encastelados sobre um elefante. Costumava demorar-me infindavelmente diante de uma das jaulas no Zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural pelo esplendor dos seus tigres. (Lembro-me ainda dessas figuras: eu que não posso recordar sem horror o rosto ou sorriso de uma mulher). A infância passou, caducaram os tigres, e a paixão por eles, mas eles ainda permanecem em meus sonhos. Nessa lembrança submersa ou caótica, continuam a prevalecer, e assim: adormecido, um sonho qualquer distrai-me e eu sei de imediato que é um sonho. Costumo então pensar: Este é um sonho, uma pura diversão de minha vontade e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre.

         Oh incompetência! Meus sonhos nunca sabem engendrar a apetecida fera. Aparece o tigre, isso sim, mas dissecado e débil, ou com impuras variações de forma, ou bastante fugaz, ou tirante a cão e a pássaro.

Fonte:
Pequena Antologia para se Ler Jorge Luis Borges. Digital Source.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Olivaldo Júnior (Parabéns para um menino )

Há um ano nascia um menino que chamaram Arthur. Sim, Arthur, nome de rei, o da Távola Redonda. Seu pai, Luís Felipe, também nome de rei, mandou-me uma fotografia de seu pequeno, que mal nascera e já estava lá, sorrindo, aberto para a vida. Por causa desse sorriso, fiz uma música, uma canção de ninar e passei a cantá-la para minha mãe sempre que ela me pedia, até que, finalmente, a mostrei para o pai da criança. Não sei se ele costuma cantá-la para o filho. Muita, muita água rolou desde então, sob a ponte e pelos olhos, que a vida vem da água, vive em água e volta para a água. Se existe algum pó em nossos corpos e em nossas almas é o do tempo, que nos cobre e nos recobre de poeira de estrelas, nossa cosmicidade natural, tão clichê, que nem a notamos. Somos de tempo, os tais seres históricos. De história em história, viramos memória e voltamos para as águas, de rio e de mar, com seus afluentes. Eu, que, em meio ao trajeto, me perco em lagos, pequenas fontes, parabenizo os pais pelo nascimento do menino Arthur há exatamente um ano.

A imagem de seu sorriso é a primeira e a única que tenho. Quando o vi ao vivo, ele estava dormindo. Não é à toa que as crianças e os velhos dormem tanto. No caso delas, por estarem se acostumando ao nosso mundo; no dos velhos, porque já estão se preparando para o outro, que, no fundo, é o mesmo, dois lados do eterno espelho em que nos vemos todos. Pela água, pela luz e pelas fotografias, como essa, a do Arthur.
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Fontes:
O Autor
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Contos Populares do Tibete (A Oração que foi Escutada)

O pequeno cômodo brilhava à luz das lamparinas de gordura colocadas com esmo sobre a mesinha baixa diante do altar. Neste, podiam-se distinguir os objetos sagrados: os livros santos envolvidos num pano, a imagem de Buda, um retrato emoldurado do Dalai lama, xícaras de ofertório de prata; e, na parede do fundo, com a fumaça do incenso enroscando-se à sua volta, o tanka1 que reproduzia a divindade tutelar e padroeira do Tibete: Chenrezik, o bodhisattva da compaixão, com onze cabeças e mil braços. Pelas outras paredes do pequeno cômodo, havia quadros de outras divindades, todas elas objeto de devoção para o povo do Tibete. Havia uma representando Dolma, o aspecto feminino da compaixão, e Jamyang (Manjushri), o bodhisattva da sabedoria.2

Esse cômodo, o oratório, era o mais rico da pequenina vivenda. O povo do Tibete era muito religioso, e suas vidas giravam em torno dos ensinamentos de Buda, tal como estes haviam sido explicados pelos grandes mestres e santos que tinham alcançado o estado final de iluminação. As pessoas acreditavam que os grandes santos, embora tendo chegado ao estado de iluminação, ainda se preocupavam pelo bem de todos os seres, e que aqui permaneciam para protegê-los e guiá-los em seu caminho por esta e por suas outras vidas futuras.

Assim o acreditava também uma velhinha que estava sentada num canto da capela, a desfiar nos dedos as contas do seu rosário e a repetir, lentamente, a oração de Chenrezik: OM MANI PADME HUM. Uma e outra vez, a poderosa oração brotava dos seus lábios. A anciã vivia preocupada, pois era uma viúva sem dinheiro nem terras: tudo o que possuía no mundo era a sua única filha.. E ela achava que, sem um dote pata oferecer, a moça jamais iria ser pretendida pelos homens ricos da região, e, portanto. iria viver a vida inteira na miséria. Não era por sua própria vida que ela se preocupava, pois a sua vida quase já se havia consumido, mas desejava, de todo o coração que a vida de sua filha pudesse ser próspera e feliz. Por isto é que rezava.

E sucedeu que um homem pobre, de uma aldeia vizinha, tinha ouvido falar da filha da anciã, e, quando a vira, ficara tão impressionado com a sua beleza, que determinou faze-la sua esposa. Ele sabia que não seria fácil que a mãe da moça consentisse no casamento da filha com um homem de uma condição tão humilde quanto a sua. Por isso, tramou fazer com que a mãe acreditasse que era um homem próspero e rico.

Escondendo-se na capela da casa da velhinha, ele esperou que ela entrasse, fizesse as suas oferendas de alimentos e se sentasse num canto a rezar. A anciã rezava e rezava com fervor, pedindo aos deuses que mandassem um rico marido para tomar sua filha em casamento. O pobre homem ficou escutando até que ela terminasse o pedido. E, no exato momento em que ela se dispunha a deixar a capela, ele falou:

A velhinha se assustou ao ouvir a voz. E, como não visse ninguém mais no local, acreditou que fosse a voz dos deuses. Ouviu a voz dizer-lhe que, no dia seguinte num cavalo branco, apareceria um homem rico para pedir-lhe a filha em casamento.

A anciã não cabia em si de contentamento. Ela e a filha limparam a casa inteirinha, a fim de deixá-la preparada para receber o homem rico que os deuses iam enviar para marido da moça. Depois de preparar a comida, a velhinha foi dizer aos vizinhos que ficassem prevenidos para a grande festa do dia seguinte, pois que a sua única filha ia se casar com um homem rico.

E, no outro dia, a anciã e a filha se levantaram bem cedo. Os pássaros cantavam e o azul do céu contrastava com o vermelho dos picos das montanhas, banhados pela luz do sol que nascia A velhinha e a moça estavam emocionadas e contentes. Sentaram-se na parte de fora da pequena casa e ficaram esperando a chegada do homem do cavalo.

Não muito tempo depois, ele apareceu no horizonte. E, enquanto o homem se aproximava a cavalo da casa, a filha ia sentindo a angústia cansada pelos súbitos pressentimentos que a dominavam. Perguntava-se como seria ele, se elegante e bom; se a sua vida de casada iria ser tranquila e feliz como ela sempre havia desejado; e perguntas como estas lhe vinham a mente. Mas depois lembrou que este homem era uma dádiva dos deuses, de modo que ela não deveria sentir temor algum.

Até que, enfim, homem pobre, vestido com roupas que os vizinhos lhe haviam emprestado e montado no cavalo branco que era o único que possuía parou diante da casinha da anciã. Desmontou, sorriu para a moça e tomou a mão dela entre as suas. Contendo a emoção com muita dificuldade, a velhinha pediu ao homem que entrasse na casa e descansasse um pouco. Ele assim o fez. E, depois de terem conversado por algum tempo, ele pediu à anciã a mão de sua filha em casamento.

O regozijo foi grande. Celebrou-se a festa e todos os vizinhos e amigos vieram para desejar ao casal a maior felicidade, pois dava para se perceber que aquele casamento havia sido mesmo determinado pelo céu.

O homem pobre chamou a moça e, colocadas as poucas coisas que pertenciam a ela num baú, os dois partiram rumo à humilde casa dele, numa aldeia vizinha. Durante a viagem, o homem começou a se inquietar pela impostura que havia praticado. Tinha medo que a moça gritasse e berrasse quando soubesse que ele não era, em absoluto, um homem rico, mas, sim, um camponês muito humilde; temia, também, que ela fugisse e ele a perdesse para sempre.

Preocupado por esses pensamentos, o homem pobre concebeu um plano. Tirou as coisas da moça do baú e as enterrou. Depois, disse a ela que se enfiasse no baú, pois iria fazer-lhe uma surpresa quando chegassem à casa. Quando a moça já estava dentro do baú, o homem o fechou à chave e o colocou numa valeta que havia num caminho da floresta. Depois, se dirigiu à sua casa.

Chegando lá, o homem pobre foi correndo aos vizinhos mais próximos, e, contando-lhes que trazia para casa uma recém-casada, logicamente nervosa, preveniu-os de que, se ouvissem gritos e berros durante a noite, não se preocupassem. Depois, pôs ferrolhos novos e fortes na casa, a fim de que a moça não pudesse escapar.

Enquanto o homem pobre estava em sua casa, um homem rico e de influência foi dar justo no lugar onde a moça estava fechada no baú, esperando a volta do marido. O homem rico e influente ordenou a seus servidores que abrissem o baú, e, quando viu a moça dentro, ficou tão impressionado com a sua rara e delicada beleza, que a levou com ele. Dentro do baú, no lugar da moça, deixou um urso feroz.

O homem pobre voltou em busca da esposa; amarrou uma corda em volta do baú e o arrastou até a sua casa. Já dentro desta, abriu o baú e... ficou aterrado diante do urso feroz — de uma ferocidade que, naturalmente, se havia exacerbado durante o trajeto dentro do baú e pela violência do tratamento. O homem pobre gritou e berrou a mais não poder, pedindo ajuda, enquanto o urso o atacava, mas os vizinhos não fizeram caso do barulho, pois o próprio homem os havia prevenido a respeito.

E assim, o homem pobre, que havia tramado todo aquele embuste com a pretensão de ser um deus, acabou morrendo nas garras de um urso selvagem. E a moça viveu para sempre mais feliz do que nunca, como esposa de um homem rico e influente. As orações da anciã haviam sido escutadas.
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Notas
1. Um tanka (thang-sku, "algo que se enrola") é uma pintura sobre tela geralmente de algodão, que num dos bordos, ou em ambos, leva uma ripa ou uma vara de bambu que permite possa ser enrolada. Quase sempre a pintura é emoldurada com um brocado de seda.
A confecção de um lanka está sujeita a regras precisas, transmitidas pela tradição, e nada deve à improvisação ou ao subjetivismo. Os lankas, no geral, são de tema sagrado e constituem, rigorosamente, da mesma forma que os ícones cristãos, suportes de medição. Não obstante, os narradores ambulantes também levavam lankas com representações de caráter épico e narrativo, que ilustravam lendas populares e acontecimentos.
2. Manjusrí (em tibetano, 'Jam-d pai) é um bodhisattva que personifica a Sabedoria da mente completamente iluminada. Aparece sempre, na iconografia tibetana, brandindo na mão direita uma espada flamígera, a qual corta a raiz da ignorância.


Fonte:
Jayang Rinpoche. Contos Populares do Tibete. (Tradução: Lenis E. Gemignani de Almeida).