terça-feira, 7 de junho de 2016

Concurso de Trovas Orlando Woczikosky (Resultado Final)

Comemoração ao Cinquentenário de fundação da UBT-Curitiba

Festividades acontecerão nos dias 14 e 15 de setembro vindouro, cuja programação será divulgada nos próximos dias.

Tema: Plantio

Categoria: Veterano

1º Lugar: 
Manoel Cavalcante 
(Pau dos Ferros - RN)
Quão triste é ver na paisagem
a esperança do plantio
morrer impressa na imagem
da lama seca de um rio...

2º Lugar: 
Luiz Damo 
(Caxias do Sul - RS)
Vitrine, fonte de encanto,
de traje em exposição,
pouco faz lembrar, no entanto,
o plantio do algodão.

3º Lugar: 
Dodora Galinari 
(Belo Horizonte - MG)
Mesmo pisando em espinhos
por travessias penosas,
em todos os meus caminhos
farei plantio de rosas!

4º Lugar: 
Carolina Ramos 
(Santos - SP)
Planta, com garra e ternura,
esse chão ao teu redor,
mesmo a terra seca e dura
se abranda com teu suor!

5º Lugar: 
Maria Luíza Walendowsky 
(Brusque - SC)
Desde o plantio a semente
cumpre um destino fecundo:
o combate permanente 
à fome que ameaça o mundo.

6º Lugar: 
Edmar Japiassú Maia 
(Nova Friburgo - RJ)
Semeia o bem no vazio
de um coração, que ele aceita...
E se é de amor o plantio,
será de amor a colheita!

7º Lugar:
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho 
(Juiz de Fora - MG)
Quando a seca em solo ardido
toda a plantação alcança,
o que não fica perdido
é o plantio da esperança.

8º Lugar: 
Jaime Pina da Silveira 
(São Paulo - SP)
Só saciar-lhe a fome, é vão.
Ensina o plantio, amigo.
Quem tem fácil, sempre, o pão,
nunca vai plantar o trigo!
9º Lugar: 
Carolina Ramos 
(Santos - SP)
No solo certo e fecundo,
Senhor, que eu saiba plantar
as sementes que, no mundo,
só frutos bons possam dar!!!

10º Lugar: 
Jaime Pina da Silveira 
(São Paulo - SP)
Era um terreno vazio...
estéril...seco...Entretanto,
a enxada... o suor e o plantio,
devolvem verde o que planto.

11 º Lugar: 
Antonio de Oliveira 
(Rio Claro - SP)
Comete um grave desvio
a sociedade que aceita
ver o suor do plantio
não se fartar da colheita!

12º Lugar: 
Gilvan Carneiro da Silva 
(São Gonçalo - RJ)
Regue o plantio que eu ponho
certeza no que plantamos,
porque a semente de um sonho
nunca morre se a regamos!

Tema: Plantio
Categoria: NOVO TROVADOR

1° lugar: 
Aparecida Gianello 
(Martinópolis - SP)
É quando amoleço o peito,
que Ele chega com a semente...
Deus tem lá seu próprio jeito
de plantar o amor na gente.

2° lugar: 
Tarcísio José Fernandes Lopes 
(Brasília- DF)
Meu pai deu-me um desafio
ao me dar a educação:
repassá-la no "plantio"
da terceira geração.

3° lugar: 
Maria do Carmo M. Zerbinato 
(Niterói - RJ)
Terra fértil, terra santa
é a que enfrenta o desafio
de salvar aquela planta
que atrofiou no plantio!

4° lugar: 
Valter Rodrigues Mota 
(Taubaté - SP)
No campo quando amanhece,
camponês faz o plantio.
E de noite ele agradece
Por mais esse desafio.

RESULTADO ÂMBITO ESTADUAL -

Tema: Colheita
Categoria: Veterano

1º Lugar: 
Maria Helena Oliveira Costa 
(Ponta Grossa)
Terra infértil, ressecada,
teu peito negou-me - eu sei -
toda a colheita sonhada
dos grãos de amor que plantei!

2º Lugar: 
Lilia Maria Machado Souza 
(Curitiba)
Ao findar a madrugada,
toda a serra se extasia,
e o vermelho da alvorada
nas mãos colhe um novo dia!

3º Lugar: 
Janske Niemann Schlenker 
(Curitiba)
Na vida, as coisas têm preço
e da colheita, hoje sei:
eu ganho mais que mereço,
colho mais do que plantei.

4º Lugar: 
Sônia Maria Ditzel Martelo 
(Ponta Grossa)
Quando a colheita se faz
de uma maneira bem feita
o mundo cintila em paz
e a vida fica perfeita!...

5º Lugar: 
Mário Zamataro 
(Curitiba)
Já não tenho o que falar, 
já não choro, já não rio, 
já não tenho o seu olhar... 
Colho a saudade e o vazio.

6º Lugar: 
Lucília Alzira Trindade Decarli 
(Bandeirantes)
Quem se ocupa do plantio
e zela pela colheita,
não tem celeiro vazio
e nem mente insatisfeita...

7º Lugar: 
Maria Aparecida Pires 
(Curitiba) 
Tenho a colheita no colo,
mas meu olhar não se cansa
de ver plantado no solo
o punhado da esperança!

8º Lugar: 
Sônia Maria Ditzel Martelo 
(Ponta Grossa)
Ó Senhor, quanta emoção,
plantar, zelar e colher,
de um só pequenino grão
vejo a vida renascer!...

9º Lugar: 
Antonio Augusto de Assis 
(Maringá)
Semeia na mocidade
o bem que fores capaz.
Terás na terceira idade
farta colheita de paz.

10 º Lugar: 
Maurício Fernandes Leonardo 
(Ibiporã)
A boa colheita é fruto,
de tempo e dedicação,
que o agricultor resoluto
dispensou à plantação!

11 º Lugar: 
Maria Helena Oliveira Costa 
(Ponta Grossa)
Driblando todo o desgaste,
nós tentamos outra vez.
Semeei. Tu semeaste,
e a colheita então se fez!

12º Lugar: 
Dari Pereira 
(Maringá)
Quem planta com muita fé
semente boa e perfeita,
mantém o Brasil de pé,
por desfrutar da colheita...

13º Lugar: 
José Feldman 
(Arapongas)
Para uma vida perfeita,
devemos ter sempre em mente, 
que toda e qualquer colheita,
deve-se à boa semente.

14 º Lugar: 
Maria Aparecida Pires 
(Curitiba)
Quando a colheita abundante
ganha valor no mercado,
todo trabalho constante
vê o suor recompensado!

Tema: Colheita
Categoria: Novo Trovador

1º Lugar: 
Nilsa Alves de Melo 
(Maringá)
Contemple os campos dourados
que ao bom lavrador deleita:
ontem, bons grãos semeados;
hoje, o prazer da colheita.

2º Lugar: 
Madalena Ferrante Pizzatto 
(Curitiba)
Enxada e foice nas mãos,
com persistência e firmeza,
o agricultor planta os grãos;
mas colher, é uma incerteza.

3º Lugar: 
Wellesley Nascimento 
(Curitiba)
No papel a pena planta,
uma trova tão perfeita...
Seduzindo quem a canta,
pelo encanto da colheita!

4º Lugar: 
Paulo Roberto Walbach Prestes 
(Curitiba)
Enxada e foice na mão,
a família vai unida:
chuva e sol e pé no chão
para a colheita da vida!

5º Lugar: 
Karla Cristiane Bitencourt 
(Curitiba)
Quem planta em solo profundo,
as sementes do perdão,
tem nos braços deste mundo
a colheita da união.

6º Lugar: 
Nilsa Alves de Melo 
(Maringá)
Plante a semente do bem,
da caridade perfeita,
que com o tempo, aqui e além,
surgirá farta colheita.

7º Lugar: 
Lucrécia Welter 
(Toledo)
No calendário das flores
A colheita é permanente
A chama dos seus amores
Aquece o peito da gente

8º Lugar: 
Paulo Roberto Walbach Prestes 
(Curitiba) 
De sol a sol, o seu João
- para alimentar os seus -
da colheita, espera o pão
e no mais, graças a Deus!

9º Lugar: 
Paulo Roberto Moreira Gomes 
(Curitiba)
A colheita quando grande
faz brilhar os olhos meus,
pois assim também se expande
sob as bênçãos do meu Deus.

10º Lugar: 
Paulo Roberto Moreira Gomes 
(Curitiba)
Quem na cama muito deita
deixa o seu tempo passar.
Minguada será a colheita
de quem não soube plantar.

11º Lugar: 
Madalena Ferrante Pizzatto 
(Curitiba)
O caboclo de mão grossa,
com seu penoso labor,
planta com fé sua roça,
colhe o fruto com sabor.

12º Lugar: 
José Arildo Vieira 
(Curitiba)
Das sementes que plantou,
você terá o resultado,
quando a terra que lavrou, 
for plantada com cuidado!

13º Lugar: 
Lila Tecla 
(Curitiba)
Olhei para o chão, perplexo,
a semente que nascia
desabrochando em reflexo
daquilo que eu fiz um dia.

14º Lugar: 
Osires Haddad 
(Curitiba)
Quem se doa em gentilezas
encaminha seu destino:
na colheita vêm grandezas,
mesmo sendo pequenino.

Âmbito Estudantil 
Tema: Semente

1º Lugar: 
Miriam Cristina de Jesus Gouveia 
(10 anos) 
Quando voa o passarinho
lança a semente no chão
que cresce bem de mansinho
enchendo a terra de grão.
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 5º ano

2º Lugar: 
Elias dos Santos de Araújo 
(11 anos) 
O agricultor vai plantar 
uma semente de trigo,
no dia que ela brotar
vai alimentar o amigo.
Projeto Social Dorcas - Escola Mirta Naves Prosdócimo - 5º ano

3º Lugar: 
Tainara Cristina de Oliveira da Cruz 
(13 anos) 
Plantei no meu coração 
uma semente do bem
e nascerá a gratidão,
vou colhendo o amor também.
Projeto Social Dorcas- Escola Estadual Prof. Rosa Frederico Johnson - 8º ano

4º Lugar: 
Miriam Cristina de Jesus Gouveia 
(10 anos) 
Da semente nascem flores 
a rosa, o cravo e o jasmim.
Se juntam em muitas cores 
para enfeitar meu jardim.
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 5º ano

5º Lugar: 
Eduarda Sara Rocha Schwonka 
(12 anos) 
Uma semente no chão,
com água, luz e cuidado,
um pé de arroz ou feijão,
assim crescerá no prado.
Projeto Social Dorcas - Escola Tancredo Neves - 6º ano

6º Lugar: 
Ana Caroline Moreira de Oliveira 
(12 anos) 
Vou no Dorcas aprendendo 
sobre a semente do amor.
Dia a dia vou crescendo
formando um jardim com flor.
Projeto Social Dorcas - Colégio Tancredo Neves. - 7º ano

7º Lugar: 
Kauany Maiara Schroh Silva 
(11 anos) 
Da semente nasce a planta 
desta planta surge a flor.
E sempre uma flor encanta
e de uma flor nasce o amor…
Projeto Social Dorcas - Colégio Estadual Tancredo Neves - 6º ano

8º Lugar: 
Kauê Felipe Bento 
(8 anos) 
A semente cai na terra,
espalha e cresce no chão,
floresce por toda a serra
pra depois colher o grão.
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 4º ano

9º Lugar: 
Thainá Archanjo Ribeiro 
(8 anos) 
Da semente nasce a planta,
com muito amor e cuidado 
cresce no jardim e encanta,
bonita por todo o lado
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 4º ano

10º Lugar: 
Tainara Cristina de Oliveira da Cruz 
(13 anos) 
Da semente nascem flores: 
as rosas e as margaridas, 
com tantos tipos e cores 
crescem lindas e floridas. 
Projeto Social Dorcas - Escola Estadual Prof. Rosa Frederico Johnson - 8º ano

11º Lugar: 
Emanuelle Rodrigues da Silva 
(13 anos) 
Plantei semente amarela
logo nasceu com amor,
e cresceu bem alta e bela…
- É um Girassol esta flor.
Projeto Social Dorcas - Escola Tancredo Neves - 8º ano

12º Lugar: 
Nicole Cristina Camargo do Pilar 
(12 anos) 
Sei que existe uma semente,
está no meu coração, 
pode ser amor ardente
crescendo com emoção.
Projeto Social Dorcas - Colégio Estadual Tancredo Neves - 7º ano

13º Lugar: 
Kauã Machado da Costa 
(9 anos) 
A semente tão contente
No ar ela vai a brilhar.
Ela é tão independente
Que sozinha vai plantar
Escola Municipal Elevir Dionísio - 5º Ano

14º Lugar: 
Beatriz Mendes 
(12 anos) 
A semente brotará
e com amor vai crescer
todo o mundo gostará
do seu belo florescer. 
Projeto Social Dorcas - Colégio Tancredo Neves - 6º ano

Elen de Medeiros (Nelson Rodrigues e as Tragédias Cariocas: A Estética do Trágico Moderno) 2a. Parte

Vejamos este exemplo de O beijo no asfalto:

CUNHA – Noiva. Vai se casar. Eu quando eu olho pra você, penso na minha filha. Nunca se sabe o dia de amanhã. Vamos que o meu genro. Essas coisas, sabe como é. Casamento é loteria, mas eu, quero que você, entende? (Para o repórter) Você não acha, Amado? (Para Selminha novamente) Quero que você me veja como um pai. Agora responda: – ainda tem medo de mim? (RODRIGUES, 1990:133)

Ou então, em Toda nudez será castigada, peça escrita poucos anos depois:

HERCULANO – Meu bem, raciocina! Você vai ter sua noite de núpcias, como se eu fosse deflorar você. E outra coisa. Eu tenho uma casa, longe da cidade. No subúrbio. Mobiliada, tem tudo lá. A família que estava lá saiu. Vamos pegar um táxi. Te deixo lá. Mas, já sabe: – eu volto, nada de dormir. Só quando for minha esposa. Você fica lá e não sai, não sai. (Idem, ibidem:198)

Vê-se que, principalmente, há quebra das orações, numa tentativa de transpor a oralidade para dentro do texto. As frases quebradas, principalmente pelo ponto final, estabelecendo a desordem sintática no diálogo, fazem de Nelson um autor peculiar nesse aspecto.

A época do drama moderno é sempre o presente. Quando o presente passa, se torna passado, mas não estará mais em cena. Como absoluto, o drama funda o seu próprio tempo. Isso só é possível pela sua estrutura dialética, baseada na relação intersubjetiva. Esse, então, é o terceiro elemento constitutivo do drama: o tempo presente.

A totalidade do drama é de origem dialética. Ela se desenvolveu mediante a superação, sempre efetivada e sempre novamente destruída, da dialética intersubjetiva, que no diálogo se torna linguagem. O diálogo é o suporte do drama.(SZONDI, 2001:34)

Quando verificada a crise do drama, Szondi identifica-a por volta do final do século XIX, pois há negação de seu conteúdo dialético e absoluto. Quando os três fatores da forma dramática entram em relação com sujeito ou objeto, eles são relativizados e perdem sua força. Grande parte dos dramas dessa época traz a oposição entre sujeito e objeto, que é representada pelas cenas épicas inseridas nas cenas dramáticas. Assim, o drama começou a sofrer algumas invasões de elementos épicos, que foram a causa principal de sua crise e de sua transformação.

Na tragédia clássica, o homem não tinha domínio sobre seus atos e decisões, era dominado por forças metafísicas, transcendentes – as forças dos deuses. Assim, o homem figurava como objeto dos deuses, o que resultava numa oposição entre sujeito e objeto no drama, e o herói não era sujeito das suas ações.

No drama moderno, conforme explica Szondi, a distinção entre sujeito e objeto não é perceptível, pois ao mesmo tempo em que o homem é sujeito de suas ações, ele também é objeto de outros homens. Ou seja, ao mesmo tempo em que o herói do drama moderno é dotado de arbítrio para suas atitudes – e por isso a esfera do “inter” da qual fala Szondi –, ele também é o objeto de outros homens, dotados de poderes superiores que o dominam.

Portanto, a grande crise do drama moderno é justamente quando, com a inserção de elementos épicos e com a impossibilidade do diálogo, essa distinção entre sujeito e objeto volta à tona, tirando do herói sua própria existência, colocando-o como objeto. Ou melhor, o herói perde a possibilidade de ser, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto da ação. Nisso Szondi identifica a crise do drama moderno.

Os três elementos constitutivos do drama moderno, conforme o aborda Szondi, são reformulados segundo a necessidade surgida após o Renascimento. Por isso que, a partir de então, a ação transcorre na esfera do “inter”. Esta é uma necessidade efetivamente moderna. Com o herói enfrentando suas vontades naturais, entrando em conflito consigo mesmo, toda a condução da trama parte da relação intersubjetiva do herói com a ação. Penso que o ponto culminante da esfera do “inter” relatada por Szondi aconteceu no expressionismo, quando toda a ação transcorria a partir da vontade interna da personagem e tudo o que se passava era fruto da sua imaginação – inclusive as outras personagens.

Quanto aos elementos trágicos, em se tratando de uma configuração moderna, Raymond Williams define-os muito bem em Tragédia moderna (2002). A diferença entre “tragédia” e tragédia – sentido acadêmico e senso comum – permeia toda a primeira parte do livro de Williams. Ele afirma que tragédia pode ser uma experiência imediata, pode ser um conjunto de obras, um conflito teórico, um problema acadêmico. O nome tragédia se tornou comum para alguns tipos de experiência, mas ao mesmo tempo é um nome específico de arte dramática.

Tragédia não é só sofrimento e morte, mas é um tipo específico de acontecimento e de reação trágicos que a tradição incorpora. O que parece que está em jogo é mais um tipo específico de morte, de sofrimento e uma interpretação dessas questões do que propriamente o termo “tragédia” para descrever algo diverso de uma obra da literatura dramática.  Ora, as “tragédias” de Nelson estão repletas de tragédias. Ainda que mescladas a situações grotescas e risíveis, elas são trágicas, fortalecendo e auxiliando na elaboração de um gênero trágico moderno. São momentos de agonia, morte, desespero das personagens que, enclausuradas em um modo de vida específico, cheias de vícios, misturam os sentimentos com as atitudes, criando situações farsescas, tragicômicas ou melodramáticas.

Hegel, explica Williams, definiu a tragédia como um tipo especial de ação espiritual, mais do que acontecimentos específicos. Essa ideia marca a necessidade de ideias trágicas modernas. Para Hegel, o importante na tragédia são as causas do sofrimento, e não apenas o mero sofrimento. Assim, a definição hegeliana de tragédia está centrada num conflito de substância ética. Como condição para que a tragédia ocorra, é preciso que a personagem esteja consciente da sua individualidade e os conflitos individuais e naquilo que acarretam são essenciais para a efetivação da ação trágica. Ou melhor, tanto os propósitos do indivíduo quanto o conflito resultante são essenciais e substanciais.

A diferença entre tragédia antiga e moderna é que a primeira trabalha a personagem representando fins éticos de uma sociedade, enquanto a última volta-se à necessidade individual. Na tragédia moderna, pelo fato de as personagens serem mais individualizadas, a questão toda da resolução é mais difícil. A justiça é mais abstrata, mais fria. Quando ocorre reconciliação, acontece no interior da personagem, é mais completa e menos satisfatória. Assim, o isolamento do herói trágico é uma característica da tragédia moderna. Visto isso, pode-se perceber que Williams e Szondi convergem suas ideias de moderno, que estão voltadas, principalmente, para a necessidade individual do herói.

Segundo Raymond Williams, a teoria trágica é interessante pois, por meio dela, compreendemos mais a fundo o contorno e a conformação de uma cultura específica. Mas a tragédia deve ser compreendida dentro de um determinado contexto, caso contrário ela se transformará apenas em um aglomerado de experiências, convenções. “Em situações nas quais o sofrimento se faz sentir, nas quais ele abrange o outro, estamos, claramente, no âmbito das possíveis dimensões da tragédia.” (WILLIAMS, 2002:71) E a tragédia acadêmica é uma ideologia. O que está em jogo é a característica e a qualidade do sentido geral, não o processo que vincula um evento a este sentido geral. Separar tragédia de “mero sofrimento”, além de moderna, é o ato de separar o controle ético e a ação humana da nossa compreensão da vida política e social.

A interpretação mais comum da tragédia a vê como uma ação que destrói o herói. Porém, essa é apenas uma interpretação parcial, pois nem todas as tragédias terminam com a destruição do herói. O herói pode até ser destruído, mas isso não implica o fim da ação trágica. Pensamos na tragédia como aquilo que acontece com o herói, mas a ação trágica usual é o que acontece por meio do herói. 

A falecida, encenada pela primeira vez em 1953, é a peça que abre o novo ciclo da dramaturgia de Nelson Rodrigues. Sob a classificação de farsa trágica[5], ela vem apresentar ao público uma nova perspectiva do autor, substituindo o clima tenso e complexo das peças míticas – repletas de incestos e assassinatos – por um clima mais ameno, menos tenso, em que o riso tem seu lugar certo.

Coerente com seu propósito, Nelson mescla elementos constitutivos da farsa e da tragédia, compondo, assim, a farsa trágica. Os elementos que irão constituir a parte farsesca da peça são justamente os elementos cômicos, presentes em grande parte das cenas, que por parte aliviam a tensão causada pelos elementos trágicos. Em geral, além de trazer à tona o riso, esses elementos também são utilizados como recurso para que o público possa sentir-se mais à vontade com algumas situações cotidianas, que denunciam fatores repressivos da sociedade. Ou seja, os elementos da farsa são formas de uma subversão, pois o espectador pode rir e liberar-se de alguma repressão provinda da sociedade. Exemplo disso são algumas cenas grotescas, que evidenciam um cotidiano grosseiro do subúrbio carioca, da peça em questão.

Logo no início da peça, já na primeira cena, em que Zulmira vai à cartomante, Madame Crisálida depõe contra si mesma: com um pano de enxugar pratos, aparência desgrenhada, de miséria, acompanhada de um menino de pés no chão que permanece durante toda a cena, “bravamente, com o dedo no nariz” (RODRIGUES, 1985:57). E assim compõe-se quase toda a peça, de elementos do grotesco do cotidiano. Mais adiante, há uma passagem na terceira cena do mesmo ato em que Tuninho fica com dor de barriga por causa de um pastel que comeu e precisa ir para casa. Ao tentar entrar no banheiro, Zulmira está lá dentro, numa posição de “O Pensador”, de Rodin. Saindo Zulmira, entra Tuninho e assume a mesma posição. Assim há várias cenas, principalmente as que retratam uma relação matrimonial enfadada e desgastada, completando uma aparente decadência financeira da família:

(Larga os sapatos. Deita-se, numa melancolia medonha. Ao lado, sentada, no meio da cama, Zulmira se torce, em acessos tremendos.)
TUNINHO – Às vezes, eu tenho inveja de ti. Tu não te interessa por futebol, não sabes quem é Ademir, não ficas de cabeça inchada, quer dizer, não tens esses aborrecimentos... Benza-te Deus!
(Tuninho vira-se para o lado. Acesso de Zulmira.)
ZULMIRA – Ai, meu Deus, ai meu Deus!
(Tuninho, ao lado, já ronca. Nova golfada de Zulmira. Encosta o lenço na ponta da língua. Olha e, patética, sacode o marido.) (Idem, ibidem:94)

O misto entre os elementos cômicos e trágicos evidencia um misto de gêneros, característicos do autor. A distinção de gêneros já não cabe a Nelson, ao seu teatro. Aqui, os próprios elementos cômicos são trágicos e vice-versa. Assim, é difícil distinguir quais são os elementos meramente cômicos ou meramente trágicos, visto que eles se fundem, se mesclam, tornando-os tragicômicos.
_______________________
Nota

[5] À farsa geralmente se associa um cômico grotesco e bufão, um riso grosseiro e um estilo pouco refinado: qualificativos condescendentes e que estabelecem de imediato e muitas vezes de maneira abusiva que a farsa é oposta ao espírito, que ela está em parte ligada ao corpo, à realidade social, ao cotidiano. A farsa sempre é definida como forma primitiva e grosseira que não poderia elevar-se ao nível de comédia. (PAVIS, 1999:164)

continua…

Fonte:
Literatura : caminhos e descaminhos em perspectiva / organizadores Enivalda Nunes Freitas e Souza, Eduardo José Tollendal, Luiz Carlos Travaglia. - Uberlândia, EDUFU, 2006. ©Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia e autores

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Irmãos Grimm (Frederico e Catarina)


Houve, uma vez, um moço que se chamava Frederico e uma moça que se chamava Catarina. Tinham-se casado e viviam a vidinha dos recém-casados. Um dia, disse Frederico:

- Vou ao campo, querida Catarina, e, quando eu voltar, quero encontrar qualquer coisa bem quentinha em cima da mesa, para matar a fome, e cerveja bem fresquinha para matar a sede.

- Está bem, querido Frederico! - respondeu a mulher - Podes ir sossegado, que arranjarei tudo direitinho.

Ao se aproximar a hora do almoço, ela tirou uma salsicha do fumeiro, colocou-a na frigideira, com manteiga, e levou ao fogo. Não demorou muito, a salsicha começou a fritar fazendo espirrar gordura por todos os lados. Enquanto isso, Catarina segurava o cabo da frigideira, muito pensativa. De repente, lembrou-se: "Enquanto a salsicha vai fritando, poderias ir buscar a cerveja na adega." Então arrumou direito a frigideira, pegou uma jarra e desceu à adega para tirar cerveja. Abriu a torneira, a cerveja começou a jorrar para a jarra e ela olhava pensativa, mas lembrou-se: "Oh, e se o cachorro na minha ausência entra na cozinha e rouba-me a salsicha da frigideira? Era só o que faltava!" Largou a jarra e disparou para a cozinha.

Mas chegou tarde demais, o velhaco já estava com a salsicha na boca e ia arrastando-a para fora. Catarina saiu correndo atrás dele pelo meio do campo, mas o animal era mais esperto e mais ligeiro das pernas do que ela, não largou a salsicha e meteu-se no meio do mato.

- Pois que vá! - exclamou Catarina voltando pelo caminho, cansada e afogueada de tanto correr. Assim, muito calmamente entrou em casa enxugando o suor do rosto.

Enquanto isso, a cerveja ficou escorrendo do barril, porque ela se tinha esquecido de fechar a torneira. Enchendo a jarra, a cerveja passou a escorrer pelo chão, espalhando-se pela adega inteira. Quando chegou no alto da escada que ia dar à adega, Catarina viu aquele desastre e exclamou:

- Meu Deus! Que hei de fazer agora para que Frederico não veja esse estrago?

Depois de refletir um pouco, lembrou-se de que ainda sobrara da última quermesse um saco de farinha de trigo. Foi buscá-lo no canto onde estava e espalhou-o por cima da cerveja esparramada.

- Muito bem! - disse ela - Quem sabe guardar sempre encontra no momento preciso. Mas, arrastando o saco com muita pressa, esbarrou desastradamente na jarra cheia, entornando-a, e a cerveja ajudou também a lavar a adega.

- Bem! - disse ela - Aonde vai um deve ir o outro também.

E espalhou bem a farinha por toda a adega. Depois disse, muito satisfeita com o trabalho:

- Agora sim! Vejam como está tudo limpo e bonito!

À hora do almoço, Frederico voltou para casa.

- Então, mulher, que me preparaste de bom?

- Ah, querido Fred! - respondeu ela - eu quis fritar uma salsicha para ti, mas, enquanto fui buscar a cerveja na adega, o cachorro roubou a salsicha. Enquanto fui correndo atrás do cachorro, a cerveja derramou-se, espalhando-se pela adega. Quando fui enxugar a cerveja com a farinha, entornei a jarra. Mas não te aborreças, a adega está toda limpinha e brilhante outra vez!

- Ah, Catarina, - disse Fred. - Não devias ter feito isso. Deixas roubar a salsicha, esvazias a cerveja e ainda por cima espalhas, perdendo toda a nossa melhor farinha!

- É, Fred, eu não sabia, devias ter-me dito.

O marido, então, se pôs a pensar: "Com uma mulher assim, é preciso precaver-se!" Ele tinha justamente economizado uma soma regular de moedas de prata, trocou- as em moedas de ouro e disse a Catarina:

- Olha aqui, mulher, são tremoços loirinhos. Vou guardar dentro deste pote e enterrar no estábulo, sob a manjedoura da vaca. Mas não te metas com ele, pois do contrário te arrependerás.

- Não, Fred! - disse ela - Não o farei, com toda a certeza.

Mas assim que Fred saiu, chegaram à aldeia alguns vendedores ambulantes, levando potes e vasilhas de barro para vender. Chegando à casa de Catarina, perguntaram se desejava comprar alguma coisa.

- Ah, boa gente! - disse ela - Não posso comprar nada. Dinheiro não tenho, só se quiserem tremoços bem loirinhos.

- Tremoços loirinhos? Por quê não? Deixa-nos ver.

- Ide procurar no estábulo por baixo da manjedoura da vaca, lá está enterrado um pote cheio deles. Eu não posso ir.

Os patifes não perderam tempo, puseram-se a cavar e logo desenterraram o pote cheio de moedas de ouro. Meteram tudo nos bolsos e, mais que depressa fugiram, deixando na casa a pobre mercadoria de barro.

Catarina então pensou: Já que ficara com todas essas vasilhas novas era preciso aproveitá-las. Como na cozinha não precisasse de nada, tirou os fundos dos potes e colocou-os como ornamento nas estacas da cerca em volta da casa. Quando Fred voltou e viu aquela decoração de um gênero diferente, perguntou:

- Que significa isso, Catarina?

- Comprei tudo com os tremoços enterrados debaixo da manjedoura. Não fui eu que os desenterrei. Os vendedores tiveram que se arranjar sozinhos.

- Ah, mulher, o que fizeste? Não eram tremoços, mas ouro puro. Era tudo o que possuíamos na vida! Não devias ter feito isso!

- Oh, Fred! - respondeu ela - eu não sabia. Devias ter-me dito.

E Catarina se pôs a refletir, e depois de certo tempo disse:

- Escuta, Fred, vamos reaver o nosso ouro. Vamos perseguir os ladrões.

Fred respondeu:

- Sim, vamos tentar. Mas leva um pouco de manteiga e queijo para termos o que comer durante o caminho.

- Sim, Fred, levarei tudo.

Puseram-se a caminho, mas como Fred andava mais depressa, Catarina foi ficando para trás. "Tanto melhor, - pensava ela, - pois quando voltarmos eu estarei na frente um bom pedaço."

Daí a pouco chegaram a uma colina bastante íngreme, cuja estrada tinha sulcos profundos dos dois lados.

- Oh! Veja só como esta pobre terra está toda machucada e ferida! - disse ela - nunca mais se curará!

Profundamente penalizada, pegou a manteiga e untou as rachaduras de um lado e de outro para que não ficassem tão maltratadas pelas rodas. Mas quando se curvou para fazer o seu ato de misericórdia, um dos queijos caiu-lhe do bolso e desceu rolando pelo morro abaixo.

- Já fiz a caminhada para cima uma vez - murmurou ela - não vou agora descer para tornar a subir. Que vá outro buscá-lo.

Assim dizendo, pegou o outro queijo e jogou-o atrás do primeiro. Mas os queijos não voltavam, e então ela pensou:

- Talvez estejam esperando um companheiro, por não gostar de voltar sozinhos!

E fez rolar para baixo um terceiro. E como os três não se resolviam a voltar, ela pensou:

- Realmente não sei o que quer dizer isto! É provável que o terceiro queijo tenha errado o caminho. Vou mandar um quarto buscá-los.

Mas o quarto não se comportou melhor que os outros. Então Catarina irritou-se e atirou o quinto e depois o sexto queijo, que eram os últimos.

Ficou um certo tempo esperando que voltassem, mas como nenhum voltasse, exclamou:

- Lerdos e poltrões como sois, poderia mandar-vos chamar a morte! Se imaginam que vou esperar mais tempo, enganam-se! Eu vou seguindo o caminho. Podeis correr e alcançar-me se quiserdes, pois tendes pernas mais fortes que as minhas.

Catarina prosseguiu o caminho e alcançou Fred, que tinha parado para a esperar, pois estava com muita fome e desejava comer alguma coisa.

- Bem, deixa-me ver o que trouxeste para comer.

Catarina deu-lhe pão seco.

- E a manteiga? E o queijo? Onde estão? - perguntou o marido.

- Oh, Fred! - respondeu ela. - Passei a manteiga nos sulcos da estrada. Quanto aos queijos logo estarão aqui, um escapou do meu bolso e eu então mandei os outros atrás para que fossem buscá-lo.

- Não devias ter feito isso, Catarina! - disse Fred - Untar a estrada com a manteiga e mandar os queijos rolando morro abaixo!

- Oh, Fred! Se me tivesses dito! - exclamou vexada.

Tiveram, então, de comer pão seco. Enquanto comiam, Fred perguntou:

- Fechaste bem a casa, Catarina?

- Não, Fred, devias ter-me dito antes.

- Então volta para casa e tranca bem a porta, antes de irmos mais adiante, assim aproveitas para trazer o que comermos. Eu te ficarei esperando aqui.

Catarina voltou para casa, resmungando consigo mesma:

- Fred quer alguma coisa para comer. Queijo e manteiga não lhe agradam. Levarei um saco de peras secas e uma garrafa de vinho.

Tendo reunido essas coisas, fechou a parte de cima da porta com cadeado, arrancou a parte de baixo e carregou no ombro, imaginando que a casa ficaria melhor guardada se ela pessoalmente guardasse a porta. Pelo caminho, não se apressou, pensando com isso proporcionar um descanso mais prolongado a Fred. Quando chegou ao ponto onde ele a esperava, deu-lhe a porta da casa dizendo:

- Aqui está a porta da casa, Fred. Assim podes guardar tu mesmo a casa.

- Oh, Deus meu! - disse Fred - Como é inteligente a minha mulher! Trancou a parte de cima da porta e arrancou a parte debaixo, por onde qualquer pessoa pode entrar mais facilmente! Agora é tarde demais para voltar, mas já que trouxeste a porta até aqui, tu a poderás continuar a carregar.

- Carrego a porta de boa vontade! - respondeu Catarina - Mas as peras e o vinho pesam muito. Vou pendurar o saco e a garrafa na porta para que ela os carregue.

Pouco depois, chegaram a uma floresta e se puseram a procurar os ladrões, mas não os encontraram. Sendo já muito escuro, treparam os dois numa árvore, a fim de passar aí a noite. Nem bem tinham chegado lá em cima, surgiram os malandros que lhes tinham roubado as moedas e, por coincidência, sentaram-se justamente debaixo da árvore na qual os dois tinham subido. Acenderam uma fogueira e se dispunham a repartir a presa.

Fred cautelosamente desceu pelo outro lado da árvore, apanhou uma porção de pedras e tornou a subir, com a firme intenção de liquidar os ladrões a pedradas. Mas as pedras não os atingiram e os ladrões exclamaram:

- Daqui a pouco vai clarear o dia, o vento já está sacudindo as pinhas.

Durante o tempo todo, Catarina tinha ficado com a porta no ombro e como o peso era grande ela pensou que a culpa era das peras secas. Então disse:

- Fred! Preciso atirar fora estas peras.

- Não, Catarina! - respondeu o marido - Não faças isso agora, poderia nos trair.

- Ah, Fred, preciso atirá-las, estão pesadas demais.

- Então atira e que o diabo te leve.

As peras secas rolaram de cima da árvore, por entre os galhos, e os malandros disseram:

- Veja só o que estão fazendo os passarinhos!

Pouco depois, como a porta continuasse a pesar, Catarina disse:

- Ah, Fred, preciso atirar fora o vinho.

- Não, não! - respondeu Fred - poderia nos trair.

- Mas preciso atirá-lo, Fred! Está muito pesado.

- Então atira e que o diabo te leve.

Ela despejou o vinho em cima dos malandros e estes disseram:

- Olha, já está caindo o orvalho.

Daí a pouco, porém, Catarina refletiu: "Será que é a porta que está pesando tanto?" e disse:

- Fred, tenho de jogar a porta.

- Não faças isso, Catarina! Ela nos trairá.

- Ah, Fred, preciso fazê-lo. Não aguento mais o peso.

- Não, Catarina! Aguenta mais um pouco.

- Não, Fred, não posso... Já está escorregando!

- Então jogue e que o diabo te leve, - respondeu irritado o marido.

E a porta desceu, fazendo um barulhão enorme, por entre os galhos. Os malandros, assustados, disseram:

- É o diabo que vem descendo da árvore!

Então trataram de fugir a toda pressa, largando no chão o fruto da pilhagem. Quando amanheceu, Fred e a mulher desceram da árvore, encontraram no chão todo o dinheiro e voltaram para casa. Assim que chegaram, Fred disse:

- Agora, porém, Catarina, tens de trabalhar duro e fazer tudo direito!

- Sim, Fred, naturalmente! - respondeu ela - Irei ao campo ceifar o trigo.

Quando chegou ao campo, ela se pôs a pensar:

- "Será melhor comer antes de ceifar, ou será melhor dormir primeiro? Bem, comerei primeiro."

Depois de comer, ficou caindo de sono, começou a ceifar sem enxergar direito o que fazia, de tanto sono, e assim cortou a roupa em dois pedaços, avental, saia e blusa. Despertando dessa longa sonolência, viu-se meio nua, então perguntou a si mesma:

- Será que sou mesmo eu? Não, não pode ser! Não sou eu que estou aqui!

Nisso a noite foi escurecendo. Catarina correu para casa e bateu na vidraça da sala onde eslava o marido e chamou:

- Fred!

- Que aconteceu? - perguntou o marido.

- Quero saber se a Catarina está aí dentro.

- Está, sim! Está lá dentro dormindo.

- Nesse caso eu estou em casa! - disse ela, e saiu correndo.

Lá fora, Catarina viu alguns ladrões que queriam furtar. Aproximou-se deles e disse:

- Quero ajudar-vos também.

Os ladrões concordaram, julgando que ela conhecesse bem o lugar. Mas Catarina, colocando-se diante das casas, perguntava:

- Minha boa gente, que tendes aí? Nós queremos roubar!

Pensando que ela queria vingar-se deles, os ladrões trataram de se ver livres dela e disseram-lhe:

- À entrada da aldeia, o pároco tem uma porção de nabos amontoados no campo, vai buscá-los para nós.

Catarina foi até o campo e começou a apanhar os nabos, mas era tão preguiçosa que tardava a mover-se. Nesse momento, ia passando um homem que a viu e parou, julgando que ela fosse o Diabo que estivesse ali colhendo os nabos. Correu à casa do pároco e disse:

- Reverendo, o diabo está no vosso campo, arrancando todos os nabos.

- Pobre de mim! - respondeu o padre - Estou com um pó machucado e não posso ir lá exorciza-lo!

O homem, então, disse:

- Isso não tem importância, eu vos carregarei nas costas!

Quando chegaram ao campo, Catarina pôs-se de pé, espichando-se toda.

- Ah, é o diabo, é o diabo! - exclamou apavorado o padre, e deitou a correr juntamente com o homem.

Tão grande era o medo, que o pároco, com o pé machucado, corria mais depressa do que o outro que o carregara nas costas e que tinha os pés sãos.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

Elen de Medeiros (Nelson Rodrigues e as Tragédias Cariocas: A Estética do Trágico Moderno) 1a. Parte

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RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo apresentar um estudo das Tragédias Cariocas, último ciclo do teatro de Nelson Rodrigues, sob a perspectiva do trágico moderno. Para isso, estudiosos do gênero, como Peter Szondi e Raymond Williams, foram tomados como base para compreender a modificação que tem ocorrido dentro do gênero no decorrer dos séculos. Aspectos como o funcionamento das três unidades aristotélicas, as personagens e a ação desenvolvida através da relação intersubjetiva, além, é claro, da própria ideia que a palavra trágico tem se apropriado, é fundamental para entender o mecanismo interno deste gênero literário.
                                                                           
1. Introdução

O que segue é uma análise voltada à tragédia como gênero literário e em seu sentido popular, ou seja, no seu sentido mais acadêmico e no uso comum do termo. A princípio, as peças em estudo são classificadas como tragédias, denominação que Nelson adotou antes de falecer quando na elaboração do seu teatro completo. Porém, verificarei se podem realmente ser definidas como tragédias, uma vez que a base do gênero mudou radicalmente. Isso porque desde o surgimento da tragédia grega, com os helênicos, passando por uma crise, com Eurípides, até uma tentativa de salvamento, com os alemães[1], tal formação teatral pouco manteve de sua ideia inicial, da sua ambivalência dionisíaca e apolínea. Da tragédia grega à tragédia moderna houve uma transformação gigantesca. E esse resultado é o que mais me interessa, visto que é com base na tragédia moderna que analisarei Nelson Rodrigues.

Quando falamos em tragédia, numa concepção atual e vulgar do termo, sempre nos vem à mente um acontecimento ruim, relacionado ou a acidentes, ou a problemas sérios. E quando falamos, então, em ler uma tragédia ou assistir a uma tragédia, pensamos logo numa peça de teatro que envolva acontecimentos tristes, mortes, desgraça para as personagens. É certo que isso vem de uma tradição e se mantém até hoje, extrapolando as fronteiras da dramaturgia e inserindo-se no cotidiano. E isso é ainda mais forte quando vinculado ao nome de Nelson Rodrigues, um dramaturgo tido por maldito, cujas peças são infestadas de mortes, assassinatos, suicídios, relações incestuosas. Mas também é certo que quando falamos em tragédia, principalmente no aspecto literário, abordamos o fator estético: o gênero trágico. E falar de estética literária implica saber como funcionam sua trama, sua estrutura. Para o meio acadêmico, trágico é antes de tudo o gênero. É claro que não devo desconsiderar uma natural ligação entre os dois sentidos de trágico: o sentimento trágico e o gênero trágico.

A tragédia é um gênero que percorreu milhares de anos. Existente desde os helênicos em Sófocles e Ésquilo, ultrapassou todo esse tempo e persiste até hoje entre nós. Obviamente, depois de tanto tempo, ela não permanece com as mesmas características. A tragédia helênica, conforme explica Nietzsche, tinha como base principal o coro, que com o tempo, mais precisamente com a influência de Sócrates sobre Eurípides, foi abolido, perdendo a tragédia seu elemento ambivalente fundamental[2]. Hoje se consegue distinguir a tragédia clássica, medieval, renascentista, elisabetana, neoclássica e a tragédia moderna[3]. A que mais me interessa neste momento é a última, a permanência da tragédia moderna, pois é a partir dela que pretendo analisar as tragédias rodrigueanas.

2. Trágico rodrigueano

A obra dramática rodrigueana tem suas peculiaridades estéticas e formais, principalmente se formos percebê-la sob a perspectiva da tradição da tragédia. Falo de peculiaridades tanto se olharmos Nelson com base nesta tradição quanto se o vermos dentro de seu próprio conjunto de peças, uma vez que ele sempre tentou experimentar novos formatos.

Nas Tragédias Cariocas, Nelson elaborou o próprio sentido do trágico, misturado ao riso e ao grotesco. Daí provêm as várias nomenclaturas para designar suas peças, variando de “tragédia carioca” à simples “peça”. A questão é se, com tais nomenclaturas, o dramaturgo manteve uma linha trágica, com elementos do trágico clássico e do trágico moderno, fundando o que eu prefiro chamar de trágico rodrigueano.

Se por um lado a tragédia clássica baseava-se na representação do mito a partir de uma perspectiva externa, a tragédia moderna se funda na esfera do intersubjetivo, numa perspectiva interna. Assim, o que interessa na tragédia helênica é o que está fora, tanto das personagens quanto da sua própria estética. Já na tragédia moderna, interessa o que está dentro.

Conforme Schiller explica em Teoria da tragédia (1991), a tragédia é a representação do real, apenas transparecendo imagens dos homens enfrentando situações-limite impulsionados pelas crenças espirituais. “O trágico apresenta o homem naquela situação-limite em que, ser natural que é, comprova contudo a sua destinação espiritual.” (1991:12) Assim, a tragédia mostra o homem sofrendo, mas resistindo a esse sofrimento graças à dignidade. Mostra, enfim, a luta que há entre a vontade e a natureza, a moral e o natural, não sem sofrimento, mas com resistência.

Sabe-se, entretanto, que Schiller desenvolveu suas ideias acerca da tragédia clássica. Apesar de ser um olhar voltado ao clássico, essa carga de tragicidade, de sofrimento, perdurou por muito tempo e ainda hoje resiste. Embora as bases da tragédia tenham mudado radicalmente, pode ser identificada, pelo menos em Nelson Rodrigues, a tendência em demonstrar a vontade do herói em luta contra a natureza. Ou seja, o herói [4] possui uma vontade interna iminente que entra em conflito com um fator externo, social, natural, desafiando as “forças do universo”.

Exemplos disso são os heróis das tragédias de Nelson Rodrigues. Há neles uma tentativa à adequação moral imposta pela sociedade vigente, em que eles se portam conforme são ditadas as regras, comportando-se como bons maridos, esposas, filhos e pais de família. Entretanto, a vontade interior de cada um deles clama por uma libertação. Daí surge o conflito que se passa no íntimo das personagens: a luta entre o que elas querem e o que elas devem. Porém, chega um momento em que os desejos são mais fortes, sobressaem-se às regras sociais, extrapolam protocolos e são, enfim, revelados. Então, surgem a agonia e o sofrimento, pois as personagens digladiam consigo mesmas e com outras personagens, até que elas deixam de resistir, resignam-se a aceitar a força maior do desejo evidente.

Assim é o caso de Zulmira, Tio Raul, “Seu” Noronha, Aprígio, Werneck e Herculano – cada qual com suas peculiaridades. São personagens que sofrem por um desejo reprimido e sucumbem a esse desejo depois de um estado de luta entre a vontade e o natural. Nesse aspecto, Nelson Rodrigues consegue atualizar o que o trágico clássico pretendia, como também consegue, ao mesmo tempo, refletir aquilo que há de mais incômodo na sociedade contemporânea: a relação conflitante entre desejo e repressão social. No entanto, há no herói e no sábio da arte trágica uma superioridade, pois eles não sofrem suas dores, comovem-se e comovem-nos. Tanto é assim que o sofrimento do homem virtuoso nos comove mais dolorosamente que o do depravado. Já a felicidade de um malfeitor nos faz sofrer muito mais que a infelicidade de um homem virtuoso. Nelson Rodrigues comentou atitude sua semelhante, ao comparar seu trabalho dramático com Brecht:

Brecht inventou a “distância crítica” entre o espectador e a peça. Era uma maneira de isolar a emoção. Não me parece que tenha sido bem-sucedido em tal experiência. O que se verifica, inversamente, é que ele faz toda sorte de concessões ao patético. Ao passo que eu, na minha infinita modéstia, queria anular qualquer distância. A plateia sofreria tanto quanto o personagem e como se fosse também personagem. A partir do momento em que a plateia deixa de existir como plateia – está realizado o mistério teatral.
 
O “teatro desagradável” ofende e humilha e com o sofrimento está criada a relação mágica. Não há distância. O espectador subiu ao palco e não tem a noção da própria identidade. Está ali como o homem. (RODRIGUES, 1995:286)

Com isso, o dramaturgo apresenta sua intenção que já fica clara em suas peças: levar o sofrimento humano, sem distanciamento, para o palco, para que o público possa refletir sobre suas dores. Além, é claro, que possa sofrer ao mesmo tempo em que a personagem sofre no palco. Em suma, a intenção de Schiller está transparecida na intenção de Nelson Rodrigues. Se o herói sofre, o espectador sofre junto.

Aquele estado de luta do qual Schiller fala, e transcrevo aqui, acontece justamente para que o homem mantenha a adequação moral. É por conta desse princípio que a tragédia é o gênero literário que mais proporciona prazer moral. Na tragédia os instintos naturais são suprimidos em prol da adequação moral. Assim é o processo de Nelson Rodrigues nas suas tragédias, pois as personagens não conseguem carregar em si a força da moral e sucumbem, depois de um estado de luta, à força natural, ou melhor, ao instinto.

Se formos utilizar o exemplo de Zulmira, de A falecida, identificamos um viés semelhante ao explanado por Schiller. Zulmira tem uma estranha doença não diagnosticada pelo médico, mas instintivamente descoberta pela própria heroína. Ao mesmo tempo, sabemos da implicância que ela tem com sua prima Glorinha, inclusive atribuindo a ela o motivo de sua doença. Inconscientemente, Zulmira sacrifica-se em prol de uma moral, uma vez que a sua traição foi descoberta e, moralmente, ela não aceita o fato de ter um amante. Daí, a busca de uma doença para compensar a traição.

(Zulmira num desespero maior.)
ZULMIRA – Mas ela tem razão! Eu é que não podia ter um amante!
PIMENTEL – Vem cá!
(Pimentel tenta segurar Zulmira, que se desprende com violência.)
ZULMIRA – Não me toque!
PIMENTEL – Dá um beijo!
ZULMIRA – Nunca!
PIMENTEL – Por quê?
ZULMIRA – Não adianta. Não acho mais graça em beijo, não acho mais graça em nada! (RODRIGUES, 1985:110-1)

Mas é aqui que acontece o caminho inverso da tragédia clássica: a adequação moral está no interior da própria personagem, não no externo, representado na ação trágica. Há a busca da realidade, mas da realidade interior. E a realidade interior de Zulmira é que não podia ter traído o marido, por isso agora não pode amar mais ninguém e abstém-se do amor.

Um outro exemplo é o do jovem Arandir, de O beijo no asfalto. Aparentemente um herói inexoravelmente virtuoso, mas cuja virtude vai sendo, pouco a pouco, destruída pelas matérias sensacionalistas do repórter Amado Ribeiro. Aos olhos do público, Amado faz Arandir aparecer como um homossexual, que empurrou o amante para debaixo do lotação e o beijou. Dentro do texto, sabe-se que Arandir não empurrou o rapaz, pois o próprio Amado confirma que é invenção sua. Por outro lado, sobre o beijo dado no atropelado, paira uma dúvida durante toda a peça, pois há o testemunho de Arandir, de Aprígio e de Amado, sempre contraditórios e ambíguos. Esse é um fator que faz desta peça uma das grandes obras-primas de Nelson: a questão do beijo não é resolvida, ninguém fica sabendo em que circunstâncias o beijo foi dado, visto que o próprio Arandir se contradiz sobre o beijo que ele mesmo deu.

SELMINHA (com surda irritação) – Primeiro, responde. Preciso saber. O jornal botou que você beijou.
ARANDIR – Pensa em nós.
SELMINHA – Com outra mulher. Eu sou tua mulher. Você beijou na...
ARANDIR (sôfrego) – Eu te contei. Propriamente, eu não. Escuta. Quando eu me abaixei. O rapaz me pediu um beijo. Um beijo. Quase sem voz. E passou a mão por trás da minha cabeça, assim. E puxou. E, na agonia, ele me beijou.
SELMINHA – Na boca?
ARANDIR – Já respondi.
SELMINHA (recuando) – E por que é que você, ontem!
ARANDIR – Selminha.
SELMINHA (chorando) – Não foi assim que você me contou. Discuti com meu pai. Jurei que você não me escondia nada!
ARANDIR – Era alguém! Escuta! Alguém que estava morrendo. Selminha. Querida, olha! (Arandir agarra a mulher. Procura beijá-la. Selminha foge com o rosto) Um beijo.
SELMINHA (debatendo-se) – Não! (Selminha desprende-se com violência. Instintivamente, sem consciência do próprio gesto, passa as costas da mão nos lábios, como se os limpasse.) (RODRIGUES, 1990:128)

Por ter beijado na boca outro homem, por ter sucumbido a uma vontade maior, a uma força natural, Arandir encontra-se em luta consigo mesmo, num sofrimento solitário, pois ninguém mais acredita nele, que, ainda assim, resiste contra as forças externas, as imposições e protocolos sociais.

Para Schiller, o teatro é uma forma artística capaz de elevar o sentimento humano a um sublime entretenimento. É no teatro que se evocam as coisas mais inteligíveis e autênticas, onde há homens de vício e virtude, onde há a felicidade e a desgraça. É no teatro que o homem confessa suas paixões, onde tira suas máscaras, onde a verdade se mantém incorruptível. Assim vejo o teatro de Nelson Rodrigues: nele, os homens não conseguem se manter nas formalidades que a sociedade impõe e revelam os seus maiores problemas, suas verdades, sejam elas quais forem.

As personagens trágicas, essas são seres reais, que obedecem à violência do momento e representam um indivíduo e revelam a profundeza da humanidade. Assim são as personagens de Nelson Rodrigues: parecem ser representantes da espécie, uma espécie repleta de segredos, os quais elas vêm revelar. Revelam não somente as suas verdades, mas a realidade de uma sociedade inteira.

Conforme explica Peter Szondi, em Teoria do drama moderno (2001), o conceito de drama possui vínculos históricos também com sua origem e não somente com seu conteúdo. Uma vez que a arte expressa algo inquestionável, seu entendimento só é total em uma época para a qual o evidente se tornou problema. Ou seja, do ponto de vista estético, uma obra de arte só é compreensível em uma certa época em que foi escrita e quando a sua problemática estava em voga.

A esfera do “inter”, no drama moderno, parecia o essencial da existência do homem, mas não é nada senão o seu interior que se manifesta e torna-se presença dramática. Tudo o que ficava aquém ou além dessa esfera, deveria permanecer estranho ao drama, principalmente o que era desprovido de emoção. Desse modo, toda a temática do drama se manifesta na esfera do “inter”.

Nesse meio intersubjetivo, o meio linguístico utilizado era o diálogo e, no Renascimento, se tornou o único componente da tessitura dramática. Isso é o que distingue o drama da tragédia antiga, da peça religiosa medieval, da peça histórica e do teatro barroco. Assim, o diálogo se compõe no segundo elemento constitutivo do drama, sendo o primeiro a própria ação intersubjetiva.

O diálogo reflete aquilo que se passa no decorrer da trama da peça, dentro do drama. Nada de fora interessa ou é transmitido com o domínio do diálogo. O diálogo é o principal instrumento para a realização das relações interhumanas, ou seja, a ação do “inter” encontra no diálogo sua melhor forma de expressão. O diálogo é o transmissor exclusivo da dinâmica interna do drama moderno.

Nesse caso específico do diálogo, Nelson o incorpora não só enquanto portador de toda ação dramática. O dramaturgo vai além, ele inova na simples forma dialógica teatral. Peças como Boca de Ouro, A falecida, O beijo no asfalto e Toda nudez será castigada, por exemplo, têm toda a peculiaridade nos diálogos. Coerentes com seus propósitos, as personagens mantêm o uso vocabular específico, distintivo. Mas, mais do que isso, é a estruturação dos diálogos, curtos, entrecortados, facilitando a dinâmica interna do texto.
__________________________
Notas:
Este texto é parte integrante da dissertação de mestrado denominada Nelson Rodrigues e as Tragédias Cariocas: um estudo crítico social das personagens rodrigueanas, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

[1] A respeito disso, Friedrich Nietzsche desenvolve todo o livro O nascimento da tragédia (2001).

[2] Irã Salomão, em Nelson, feminino e masculino (2000), observa que nas tragédias de Nelson Rodrigues acontece algo semelhante a essa ambivalência, mas entre o feminino e o masculino, que entram em conflito dentro da estrutura dramática, mas não se anulam. “Masculino e feminino realizam um jogo, no qual as regras e seus participantes são muito diferentes de cada lado. (...) Uma fricção e uma fluidez acontecem intermitentemente dentro de cada um destes universos. Da mesma maneira tais contatos e trocas ocorrem entre eles. Neste movimento, nenhuma parte se anula mas, ao contrário disto, elas possuem e reafirmam sua identidade concomitantemente ao seu digladiar.” p. 71.

[3] Quem dá uma abordagem mais detalhada da tragédia de cada época é Raymond Williams em Tragédia Moderna (2002).

[4] Faço observar que, embora seja evidente essa relação entre a vontade e a natureza no teatro rodrigueano, em geral a perspectiva é interna da personagem. Daí Nelson figura-se como dramaturgo moderno. Esse assunto será retomado adiante, quando tratado o trágico moderno.

continua…

Fonte:
Literatura : caminhos e descaminhos em perspectiva / organizadores Enivalda Nunes Freitas e Souza, Eduardo José Tollendal, Luiz Carlos Travaglia. - Uberlândia, EDUFU, 2006. ©Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia e autores

sábado, 4 de junho de 2016

XII Concurso de Trovas da UBT-Maranguape/CE (Resultado Final)

Tema: Agricultor

ÂMBITO INTERNACIONAL/NACIONAL

NOVO TROVADOR


VENCEDORES

1º. Lugar:


Os calos na mão são nada
na luta do agricultor,
pois o homem que empunha a enxada
bem conhece o seu valor.
Denivaldo Piaia
Campinas/SP

2º. Lugar:


Lança a semente sem dolo,
a agricultura respeita...
Desde o preparo do solo,
até o final da colheita.
Reovaldo Paulichi
Atibaia/SP

3º. Lugar:


Trabalhando o dia inteiro,
no frio intenso ou calor,
este grande brasileiro...
És tu, nobre agricultor!
Maria do Carmo M. Zerbinato
Niteroi/RJ

MENÇÕES HONROSAS
 

4º. Lugar:

Em cada palmo de terra,
todo instante de labor,
há pujança em vale e em serra
pelas mãos do agricultor.
Relva do Egypto Rezende Silveira
Belo Horizonte/MG

5º. Lugar:


No campo quando anoitece
o bom agricultor brada...
Ao Criador agradece
pela colheita dobrada!
Walter Rodrigues Mota
Taubaté/SP

6º. Lugar:


A comida necessária
a qualquer trabalhador
requer a lida diária
e o suor do agricultor.
Leni Costa Siqueira
Cordeiro/RJ

MENÇÕES ESPECIAIS
 

7º. Lugar:

Dele, quase não lembramos,
sem tributar-lhe valor,
mas, só nos alimentamos,
porque existe agricultor!
Nélson de Souza
Atibaia/SP

8º. Lugar:


Agricultor que ama a roça,
não vai parar na cidade...
Cuida da terra e da choça,
e não plantará saudade!
Byron Bernardes Jr.
São Fidelis/RJ

9º. Lugar:

Podes viver sem benesses,
sem riqueza, sem poder.
Sem do agricultor as messes,
nem de pé te irás manter.
Nilsa Alves de Melo
Maringá/PR

DESTAQUES

10º. Lugar:


O pão que deus me doou,
com o qual eu me sacio,
um agricultor plantou,
mesmo de bucho vazio.
Francisco Ribeiro de Lima (Chico Gabriel)
Natal/RN

11º. Lugar:


Lavoura bem cultivada
depende do agricultor,
alguns de mente avançada,
agindo como doutor.
Claudio de Morais
Taubaté/SP

12º. Lugar:


Agricultor com amor,
trabalha muito contente,
incansável no labor,
espalhando a tal semente.
Rhanya Pinheiro dos Santos
6º A - EM Profª Elza Farias Kintschev Real
Dourados/MS

ÂMBITO INTERNACIONAL/NACIONAL

TROVADOR VETERANO


VENCEDORES

1º. Lugar:


Vês o meu ofício e o teu:
faço versos e tu lavras...
És poeta da terra, e eu
agricultor das palavras!
Renata Paccola
São Paulo/SP

2º. Lugar:


Vendo a terra seca e bruta
destruir os sonhos seus,
o agricultor perde a luta
mas não perde a crença em Deus.
Licínio Antônio de Andrade 
Juiz de Fora/MG

3º. Lugar:


Ara o solo com presteza, 
aduba o campo fecundo,
o agricultor com certeza
sacia a fome do mundo.
Márcia Jaber de Barros Moreira
Juiz de Fora/MG

MENÇÕES HONROSAS
 

4º. Lugar:
Pelas mãos,o agricultor,
ao solo as sementes lança,
qual chuva em  gotas de amor,
brotando em verde esperança ...
Vanda Alves da Silva
Curitiba/PR

5º. Lugar:


Homem de força e coragem
de sol a sol, lutador!
Devo render homenagem
a esse bravo...o Agricultor!
Lúcia Sertã
Nova Friburgo

6º. Lugar:

Filho é colheita... e eu notei
que fui bom agricultor
nas sementes que plantei
no ventre do meu amor.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG

MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:


O agricultor ama a terra
e capricha em sua lida:
cada semente que enterra
é uma promessa de vida...
Milton Souza
Porto Alegre/RS

8º. Lugar:

Agricultor, tua faina
benefícios sempre encerra,
pois tua colheita amaina
a fome que assola a Terra!
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG

9º. Lugar:


Se da planta nasce a flor,
se do ventre vem a vida,
é das mãos do agricultor
que vem a nossa comida.
Julimar Andrade Vieira
Aracaju/SE

DESTAQUES
 

10º. Lugar:
Agricultor, que emoção!  
tem nos olhos certo brilho;
cuida tão bem do seu chão
como quem cuida de um filho!
Geraldo Trombin
Americana/SP

 

11º. Lugar:
Benditas sejam as mãos
de agricultores na lida
que alimentam os irmãos
com trigo, o esteio da vida.
Marialice Araujo Velloso 
São Gonçalo/RJ

12º. Lugar:

Suando sobre a terra santa,
o agricultor, na humildade,
rega a semente que planta...
Mata a fome da cidade.
Nei Garcez
Curitiba/PR

ÂMBITO: ESTADUAL
VENCEDORES:


1º. Lugar:

Celeiro da produção
que abastece o produtor
que seria da nação...
sem o bravo agricultor?
Raimundo Araújo
Maranguape/CE

2º. Lugar:


Tendo em seu peito a esperança,
mais e mais batendo forte
o agricultor não se cansa,
confia em Deus e na sorte.
Hortêncio Pessoa
Maranguape/CE

3º. Lugar:

Bendigo o meu pai, João,
homem rude, Agricultor,
que me deu, além do pão,
também, anel de "Doutor"!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE

MENÇÕES HONROSAS

4º. Lugar:


Quando a chuva cai no chão
renova no agricultor
grande fé no coração
de um inverno promissor.
Ana Maria do Nascimento
Araçoiaba/CE

5º. Lugar:

Tal qual chama crepitante,
no peito do agricultor,
ferve a esperança constante,
pedindo chuva ao Senhor.
Hortêncio Pessoa
Maranguape/CE

6º. Lugar:

Quem disse que na cidade
a vida tem mais valor?
Se o sustento na verdade
vem da mão do agricultor.
Raimundo Araújo
Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:


Agricultor, esquecido
no que fez, faz e fazia
só é lembrado e querido
quando a mesa está vazia.
Luiz Carlos Brandão.
Maranguape/CE

8º. Lugar:

Destoca, roça, semeia,
seja na enxada ou trator,
em terra própria ou alheia:
assim vive o Agricultor!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

9º. Lugar:


Qual instante tão fremente
feliz um agricultor
semeia sua semente
em um grande ato de amor.
Abelardo Nogueira
Araçoiaba/CE

DESTAQUES

10º. Lugar:


Todo agricultor merece
justa consideração
pois seu trabalho engrandece
a nossa grande nação.
Ana Maria do Nascimento
Araçoiaba/CE

11º. Lugar:

A nossa sobrevivência
provem da alimentação
o agricultor tem essência:
detêm essa profissão.
Aureilson de Abreu
Fortaleza/CE

12º. Lugar:


Agricultor provedor
tens vossa mão calejada
cuidas do chão com amor:
é no cabo dessa enxada.
Olga Pedrosa
Maranguape/CE

ÂMBITO MUNICIPAL (MARANGUAPE)

TEMA: UBT ou UBT-Maranguape (L/F)


VENCEDORES


1º. Lugar:

UBT de Maranguape
minha escola predileta
antes que o momento escape
declara-me teu poeta.
Raimundo Araújo

2º. Lugar:

UBT, um relicário,
guardiã de doze flores,
faz da serra campanário,
para inspirar trovadores.
Hortêncio Pessoa

3º. Lugar:

Sou feliz, sou trovador,
De uma querida UBT
Faço trovas com amor
Destinadas a você.
Vaval Soares

MENÇÕES HONROSAS

4º. Lugar:


Maranguape e a UBT
de mãos dadas caminhando
na cultura, no saber,
o mundo vai conquistando.
Luiz Carlos Brandão.

5º. Lugar:


Sim, a UBT-Maranguape
Faz livros em profusão
Companheirismo que traz
Amizade e diversão.
Ruth Brandão

6º. Lugar:


Tem a União Brasileira
excelentes trovadores
Com doze anos de trincheira
Com poesia e louvores.
Aureilson de Abreu

MENÇÕES ESPECIAIS
 

7º. Lugar:

UBT um Produtor
Cultural de excelsa glória,
Maranguape é só louvor
talento em trova, vitória.
Teresinha Vidal

8º. Lugar:

Na UBT de Maranguape
a inspiração se renova
peço a Deus que não me escape
este dom de fazer trova.
Hortêncio Pessoa

9º. Lugar:


Maranguape é minha casa
UBT minha oficina
a primeira a prover asa
a segunda disciplina.
Raimundo Rodrigues de Araújo

DESTAQUES

10º. Lugar:


Trovadores da UBT
de Maranguape se ufanam
e tudo isto é só porque
a esta cidade eles amam.
Vaval Soares

11º. Lugar:


A trova brota e floresce
UBT, seus filiados
de Maranguape uma prece:
talentos realizados.
Teresinha Vidal

12º. Lugar:

Para a UBT digo amém!
pelos anos de louvor,
Maranguape é seu refém
de um estimável amor.
Ivancy Nascimento

Tema: Grana (Humorística)

ÂMBITO INTERNACIONAL/NACIONAL

NOVO TROVADOR


VENCEDORES

1º. Lugar:

 

Malandro vive sem grana,
é um eterno vadio.
sua pinta de bacana
esconde o bolso vazio.
Francisco Ribeiro de Lima (Chico Gabriel)
Natal/RN

2º. Lugar:


Nunca vi trova sem rima,
macaco enjeitar banana;
nunca vi chover pra cima.
nem político sem grana.
Edy Soares
Vila Velha/ES

3º. Lugar:


Procura a grana, o ladrão,
na sacola da velhinha,
mas não encontra um tostão,
só dentadura e sombrinha.
Relva do Egypto R. Silveira
Belo Horizonte/MG

MENÇÕES HONROSAS
 

4º. Lugar:

Além de nunca ter grana,
pobre também não tem sorte;
Come uma vez por semana
quando morde a língua forte.
Denivaldo Piaia
Campinas/SP

5º. Lugar:

Sobrava no fim do mês
grana pra pagar fulana;
hoje ela não tem freguês...
Sobra mês no fim da grana!
Luiz Moraes
São José dos Campos/SP

6º. Lugar:

Pobre diz que não tem grana,
mas faço você saber!
Que todo fim de semana,
tem cerveja pra beber.
Aurineide Alencar de Freitas Oliveira
Dourados/MS

MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:


Político com a grana
de propina e corrupção
precisa ficar em cana
com mil anos na prisão.
Madalena Ferrante Pizzatto
Curitiba/PR

8º. Lugar:


Meu bolso cheio de grana
com vários grandes engenhos,
eu e minha irmã Joana
fizemos muitos empenhos.
Dionathan Rolon Grance  
7º A - EM Profª Elza Farias Kintschev Real
Dourados/MS

9º. Lugar:


Algumas cenas curiosas
dos corruptos brasileiros:
são as granas misteriosas
derrubando-os dos poleiros.
Mifori
São José dos Campos/SP

DESTAQUES


10º. Lugar:

Minha grana estou perdendo,
estou sofrendo um bocado,
a galera está dizendo
que eu sustento... homem casado!
Maria do Carmo M. Zerbinato
Niteroi/RJ

11º. Lugar:

O moço, sendo bacana,
casa-se com mulher feia,
vai na onda dela ter grana
pra fazer seu pé de meia!
Nélson de Souza
Atibaia/SP

12º. Lugar:


Me parece até um castigo
a minha grana render,
é coisa que não consigo
com minha mulher fazer!
Byron Bernardes Jr.
São Fidelis/RJ

ÂMBITO INTERNACIONAL/NACIONAL

TROVADOR VETERANO

VENCEDORES

1º. Lugar:


Com seus dotes pra  faxina ,
ao sentir a rédea frouxa,
em três dias a menina
limpou  a grana do trouxa!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

2º. Lugar:


Num cochilo bem ligeiro,
minha  grana  foi-se embora;
não levaram só dinheiro,
foi também minha senhora...
Glória Tabet Marson
São José dos Campos/SP

3º. Lugar:

- Em meu bolso imaculado
nunca entrou grana do povo!
- Meus parabéns, deputado,
pelo seu casaco novo!
Renata Paccola
São Paulo/SP

MENÇÕES HONROSAS

4º. Lugar:


Julgou-se um ladrão sortudo:
- passa a grana, camarada!
Levou de mim o meu tudo,
mas o meu tudo era nada...
Jessé Nascimento
Angra dos Reis/RJ

5º. Lugar:

A Grana!... Irmão!... Sem demora...
E o bebum: de mim, se esqueça!...
Como eu passo a grana agora,
com minhas mãos na cabeça!?
Professor Francisco Garcia
Caicó/RN

6º. Lugar:

Minha sina é tão tirana
que a dureza se comprova:
está me faltando grana
até pra botar na trova.
Manoel Cavalcante
Pau dos Ferros/RN

MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:

Pela crise que nos furta,
toda a vida, a vida inteira,
minha grana anda mais curta
do que saia de funckeira!
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG

8º. Lugar:


Muita grana em minha frente.
De onde ela veio eu não sei.
Fui pegá-la. Infelizmente,
vi que era sonho. Acordei.
Julimar Andrade Vieira
Aracaju/SE

9º. Lugar:


Ao vencer numa gincana,
Mais de um milhão faturei,
Mas ao pegar minha grana
Alguém chamou-me, acordei.
Argemira Fernandes Marcondes 
Taubaté/SP

DESTAQUES
 

10º. Lugar:

Toda grana dá em nada
e o ditado é pertinente:
da grana se faz granada
que acaba explodindo a gente!
Josafá Sobreira da Silva
Rio de Janeiro/RJ

11º. Lugar:


A mulata não se furta
de esnobar o vagabundo:
- Já cansei de grana curta,
promessa e cheque sem fundo  
Milton Souza
Porto Alegre/RS

12º. Lugar:


Se continuar sem grana
eu tenho quase certeza,
que vou ter sempre banana
no prato e na minha mesa...
José Moreira Monteiro
Nova Friburgo/RJ

ÂMBITO ESTADUAL
 

VENCEDORES
 

1º. Lugar:

Depois de ganhar no bicho
foi pro bar, cheio da grana;
tomou todas, deu buchicho,
perdeu tudo e foi em "cana"!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

2º. Lugar:

Tem gente, que não tem grana,
mas, faz de conta que tem!
Leva a vida de bacana,
sem gastar nenhum vintém.
Hortêncio Pessoa
Maranguape/CE

3º. Lugar:


Da grana só sobra um taco
que não da nem para um porre
eu vou tapar o buraco
por onde essa grana escorre
Raimundo Araújo
Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS
 

4º. Lugar:
Muita grana na verdade,
pode levar um machão
a mudar de identidade
depois de  "quebrar a mão".
Ana Maria do Nascimento
Araçoiaba/CE

5º. Lugar:


No bolso do cidadão
Tem mandinga ou tem azar
Pois, nele só entra a mão,
A grana não quer entrar.
Abelardo Nogueira
Araçoiaba/CE

6º. Lugar:


O ladrão, um descuidado
Pensou que estava roubando
Por causa d outro safado,
Só viu a grana voando.
Ruth Brandão
Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:


Tem sujeitinho arrogante
que fala que grana é tudo
na vida; pobre ignorante:
bem melhor ficasse mudo!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

8º. Lugar:

Eu quero ter muita grana,
Pra dividir com ninguém!
Quem quiser que chupe cana..,
ou faça como eu também.
Hortêncio Pessoa
Maranguape/CE

9º. Lugar:

Com grana para gastar,
até velhote impotente
por amor vai conquistar
garotinha inconsequente.
Ana Maria do Nascimento
Araçoiaba/CE

DESTAQUES

11º. Lugar:

Com grana tudo se faz
com ela a gente até gama,
até um amor sagaz
feito de baixo da cama.
Aureilson de Abreu
Maranguape/CE

10º. Lugar:


Se tem grana, é perfeito
amigos tem de montão
mas liso, tudo desfeito
fica só, abestadão!
Luiz Carlos Brandão
Maranguape/CE

12º. Lugar:


Fedia qual um gambá...
com a grana que ganhei
Vou agora "rebolá"!
Comprar tudo que sonhei
Olga Pedrosa
Maranguape/CE

terça-feira, 31 de maio de 2016

A. A. de Assis (Revista Virtual "Trovia" - n. 192 - junho 2016)

-
Chamar-me de sem-vergonha
por amá-lo, meu senhor?...
Amor que tiver vergonha
será a vergonha do amor!
Benedita de Melo

Quando estás longe, querida,
na minha angústia sem fim,
saudade é o nome da vida
que morre dentro de mim...
JG de Araújo Jorge

Nascemos irmãos comuns,
mas a ambição e os engodos
puseram nas mãos de alguns
o mundo que era de todos!
José Maria M. de Araújo

Tu gostas do que não gosto,
e eu sofro por ser assim...
Vou ver se de mim desgosto,
para gostares de mim!
Luiz Otávio

O livro, o cigarro ao lado,
o rádio, o abajur antigo...
Eu deixo tudo arrumado
fingindo que estás comigo...
Maria Tereza Noronha
 

Esperança, não me peças
que acredite em tuas juras...
Já me cansei de promessas
e me perdi nas procuras...
Mílton Nunes Loureiro

A saudade, pensativa,
e alheia ao tempo que avança,
É uma cadeira cativa
onde a velhice descansa...
Onildo de Campos

Duas almas deves ter...
é um conselho dos mais sábios:
uma no fundo do ser,
outra boiando nos lábios.
Raul de Leoni

Desço caminhos tristonhos,
tentando, em vão, descobrir,
algum vestígio dos sonhos
que desprezei ao subir...
Rodolpho Abbud

Do passado venturoso,
a alegria que sobrou
é como um doce gostoso
de uma festa que acabou.
Sebas Sundfeld

Todo amor que, terminado,
deixa saudade na gente
é como um tronco cortado:
pode brotar novamente.
Severino Uchoa

Quando eu te vejo de véu,
não há pessoa mais linda:
parece que a terra é o céu
e o céu é mais céu ainda!
Toninho Bittencourt
=====================

No amor não raro acontece
estranha feitiçaria:
quando a vontade aparece,
desaparece a energia...
Adélia Vitória Ferreira – SP

Doceiro que sai do apuro
com suspiro e rocambole
sabe o quanto já foi duro
vender só maria-mole!
Ailto Rodrigues – RJ
 

O velho tudo trocava
(de namorada, também).
– Como vassoura – explicava –,
a nova é que varre bem!
Adélia Woellner – PR


Diz o cinquentão vaidoso:
– “Eu sou madeira de lei!”
E a mulher, em tom jocoso:
– “Então deu cupim...que eu sei !”
Marta Maria Paes de Barros – SP

Ando tão curto de grana
que preciso me cuidar:
quando almoço uma banana,
guardo a casca pro jantar...
Milton Souza – RS
 

Foi de tomara-que-caia
desfilar... como previu,
foi só tropeçar na saia
e o seu “tomara”... caiu!!!
Therezinha Brisolla – SP
 

Na noite do seu casório,
sendo um noivo muito antigo,
usou até suspensório,
mas não sustentou o artigo...
Wanda de Paula Mourthé – MG


-
Vai, riozinho, sem pressa...
lembra ao mar, sem raiva ou mágoa,
que ele é grande, mas começa
num modesto olhinho d’água!
A. A. de Assis – PR

Para Deus, realmente importa
a misericórdia e a paz.
– O céu só tem uma porta:
a do bem que a gente faz.
Agostinho Rodrigues/RJ
 

Aos céus envio um recado,
Deus  não  vejo em meu apelo...
Porém, se O tenho a meu lado,
para que preciso vê-Lo ?
Almir Pinto de Azevedo – RJ

Amar é o melhor da vida,
mas bem difícil é achar
amor que em dois se divida
para depois se juntar!
Amaryllis Schloenbach – SP

Eu quero ser o seu vinho,
o cálice que inebria;
ser seu parceiro no ninho,
ser madrugada, seu dia!
A. M. A. Sardenberg – RJ

Vi tudo o que é grandioso
e penso ter descoberto
que ser sempre generoso
importa mais que estar certo!
Amilton Maciel Monteiro – SP
 

Fez-se em verso o meu amor
e virou trova o meu verso:
seus lábios têm o sabor
das doçuras do universo.
André Ricardo Rogério – PR

Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
a trova em mim fez pousada,
trazendo a felicidade.
Andréa Motta – PR

Numa casinha de palha,
plantada à beira do rio,
o nosso amor agasalha
dois corações contra o frio.
Antônio Juraci Siqueira – PA
-

 
-
 Minha vida está tão linda,
vivo assim que nem bebê.
Felicidade não finda
quando fico com você!...
Ari Santos de Campos – SC

Ser mau é fácil... insiste
em ser bom, sempre a lembrar:
– bondade, às vezes, consiste
em ver, ouvir... e calar!.
Carolina Ramos – SP

A estrada foi destruída,
num desvio se tornou;
a paixão não permitida
nesse atalho enveredou.
Cida Vilhena – PB
 

Bendita a mão calejada
que trabalha a plantação
e sem colher quase nada
planta esperanças no chão!
Clenir Neves Ribeiro – RJ

Sai o hábil semeador
e lança a boa semente.
Chamado pelo Senhor,
planta-a na alma da gente.
Cônego Telles – PR

Quem leva a vida no amor,
dos sonhos nunca se cansa,
que o mundo só perde a cor
quando se perde a esperança.
Dáguima Verônica – MG
 

À mesa… taças de vinho…
Alívio de um sofredor.
Já não vive mais sozinho
quem encontrou novo amor.
Diamantino Ferreira – RJ

A mulher bela e radiante,
de olhar meigo e sedutor,
é a doce imagem constante
que há nos meus sonhos de amor.
Djalma da Mota – RN

A mamãe cura o dodói,
afaga, põe a atadura,
e o rosto do seu herói
se lambuza de ternura!
Domitilla Borges Beltrame – SP

Nas águas torvas da vida,
que já não venço, alquebrada,
a fé é a corda estendida
que me garante a chegada.
Dorothy Jansson Moretti – SP

Dê flores às mãos maldosas
para tê-las desarmadas,
pois com mãos que empunham rosas
pode-se andar de mãos dadas!
Edmar Japiassú Maia – RJ

Quando o desejo cintila
e arrebata o coração,
até o sensato vacila
e põe de lado a razão.
Eliana Jimenez – SC

Tataravó dos poemas,
a toda hora se inova.
– Não importa quais os temas,
todos cabem numa trova.
Eliana Palma – PR

Na solidão não me espanto,
pois, querendo conversar,
a saudade fala tanto
que eu nem preciso falar!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Lembrando o que tu dizias
do amor que tinhas por mim,
eu vi, enquanto partias,
quanto o infinito... tem fim!
Ercy Maria Marques Faria – SP

Este orgulho que carregas,
insano, dentro do peito,
foge, tão logo te entregas
de corpo e alma em meu leito.
Ester Figueiredo – RJ

Velho ponteiro safado,
de tanto as horas marcar,
andas torto, encarquilhado,
partindo sempre ao chegar.
Evandro Sarmento – RJ

Na ausência que não nos poupa,
saudade é formiga arisca
que fica dentro da roupa
e volta e meia belisca.
Flávio Stefani – RS
-

Eu passo a vida embalando
lembranças da mocidade,
e tristonho vou cantando
pra não morrer de saudade.
Francisco Garcia – RN
 

Quando a seca nos acossa
e o rio mostra seu leito,
a tristeza que há na roça
roça com força em meu peito.
Francisco Pessoa – CE

Nunca mais fiquei sozinha,
pois na Internet eu namoro,
e hoje a solidão que eu tinha
não mora mais onde eu moro!
Gislaine Canales – SC

Acordei (tinhas partido)
e me deixaste na estrada:
um pobre arbusto perdido
sem luz, sem pranto, sem nada...
Janske Schlenker – PR

Não haverá sociedade
que possa ser construída
sem a fé na humanidade
e o respeito pela vida.
J. B. Xavier – SP

Meu Deus, ante o desatino
da descrença e do desdém,
que eu pratique o teu ensino
de não julgar a ninguém!
Jeanette De Cnop – PR

Se a cada dia me entrego
e me sinto um derrotado,
quanta esperança eu renego
e me rotulo um coitado!
Jessé Nascimento – RJ

Nosso amor é tão intenso
e a confiança entre nós
fala tanto que o bom senso
deixa o ciúme sem voz.
Joana D´arc – RJ
 

Não me indagues por que te amo.
Não saberia dizer.
Eu te amo só porque te amo.
Que outra razão pode haver?
João Costa – RJ

Se esta louca nostalgia
não temesse outros fracassos,
eu juro que arriscaria
cair de novo em teus braços.
Joaquim Carlos – RJ

Quem se julga um "medalhão"
e que pensa ser "alguém",
misture-se à multidão
e verá não ser "ninguém"...
José Fabiano – MG

Música na madrugada,
chovia em meu coração,
ao saber que minha amada
perdeu-se numa canção…
José Feldman – PR

Vinde, andorinhas, no estio,
festivas, em tarde mansa,
pousar no último fio
que me resta de esperança.
José Messias Braz – MG
 

inguém chega por acaso,
nem sai, desse mundo, ileso:
cada missão tem um prazo;
toda omissão tem seu peso...
José Ouverney – SP

Não lastime as tristes horas
da viagem que angustia...
Viver é criar auroras
no ocaso de cada dia!
José Valdez – SP

Depondo as armas ao chão
e exercitando a bondade,
conhecerá o cidadão
o sabor da liberdade.
Lucília Decarli – PR

Se navegar é preciso
e viver nem tanto assim,
vou partir com teu sorriso,
em busca do mar sem fim!
Luiz Carlos Abritta – MG

Falhei nesta vida minha,
ao querer ser o teu rei
pois tu já eras rainha,
e escravo teu me tornei.
Luiz Hélio Friedrich – PR
-

A cada passo imprudente,
mais um desejo se solta;
a estrada diz: – segue em frente;
o coração pede: – volta!
Luiz Poeta – RJ

Tentei conter a saudade
usando meios diversos...
Um deles foi, em verdade,
cercá-la de quatro versos!
Maria Madalena Ferreira – RJ

Quando a cabeça deitamos
sobre o mesmo travesseiro,
não há angústia nem reclamos:
que se dane o mundo inteiro!
Maria Thereza Cavalheiro – SP

As marcas do teu batom
deixadas no meu cristal,
têm sabor e têm o tom
de um grande amor, no final...
Maurício Friedrich – PR

Como parte desta vida,
ante a angústia do momento,
nosso pranto é a dolorida
expressão do sofrimento
Nei Garcez – PR

Se o nosso amor é pecado,
escondo-o lá nos refolhos...
e só me mande recado
pelas meninas dos olhos!
Newton Vieira – MG

A rotina e os desencantos,
que fazem da vida um tédio,
têm alívio em nossos cantos
e, na trova, um bom remédio.
Olga Agulhon – PR

Na fronteira céu e mar,
eu vivo a vida esperando
a estrela a realizar
os sonhos que estou sonhando.
Olga Ferreira – RS

Passo as noites sempre em claro
contra esta insônia a lutar,
mas meu maior desamparo
é não ter com quem sonhar.
Renato Alves – RJ

Nos volteios dos deslizes,
quando o corpo já cansou,
quanto dói pisar raízes
que a nossa fé não regou
Rita Mourão – SP

O mais intenso luar
e os raios que o Sol descerra,
jamais poderão beijar
as profundezas da Terra...
Ruth Farah – RJ

Tu lês os versos que eu faço,
e nem sequer adivinhas
o segredo que eu te passo
no espaço das entrelinhas...
Selma Patti Spinelli – SP

Um alguém na multidão
anda com ar de desgosto
ao perceber a ilusão
que reside em cada rosto!...
Sônia Ditzel Martelo – PR

Na escola de nossa vida
o caminhar faz a hora:
ante a mudança sofrida,
eternizamos o agora.
Talita Batista – RJ

A semente pequenina,
num mistério tão profundo,
morre no solo em surdina
para saciar o mundo.
Vanda Alves da Silva – PR

A verdadeira amizade
chega sem pedir licença.
Mantém-se na lealdade,
e é o que faz a diferença!
Vânia Ennes – PR
 

Eu leio os versos truncados
que a minha mão rabiscou,
mas não encontro os recados
que o meu coração mandou.
Vanda Fagundes Queiroz – PR

A grande riqueza humana
consiste em se perceber
quando a luz do “ter” profana
e ofusca a Imagem do “ser”.
Wandira Fagundes Queiroz – PR

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