sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Thalma Tavares (Sonetilhos)



 
Sonetilho I
(Da vingança)
-
Eu quis trocar um dia minha ida
– a de poeta errante e sonhador -
por outra mais prosaica, parecida
-
à de um burguês rotundo, poupador.
E em vez de “ouvir estrelas” dar guarida
a algum futuro gênio investidor.
-
No início tudo bem!… Mas, sem cautela,
perdi na bolsa tudo de uma vez.
-
E assim, jogando ações pela janela,
o poeta vingou-se do burguês.
-
Sonetilho IV
(Dos estigmas)
-
Árvore de espantos, ó figueira brava!
São teus velhos ramos braços sepulcrais.
O teu fruto amaro fere a boca e trava,
-
como fere o fio de cruéis pinhais.
Seguirás na vida sendo eterna escrava
carregando, triste, maldições e ais.
-
Pois que a natureza, que de ti se esquiva,
fincou-te as raízes entre as rudas.
-
E ao passar por perto, ver-te ainda altiva,
sem querer me lembro do estertor de Judas.
-
Sonetilho X
(Da condição)
-
Este “olá” que me dás com tanta graça
mata de inveja os bonitões da praça
e deixa enfurecido um certo alguém.
-
Mas se esta deferência me embaraça,
me envaidece e a sensação me passa
de que em verdade tu me queres bem.
-
É bom saber que sou o teu eleito,
que é uma vitória ser teu escolhido…
-
Mas devo confessar que só te aceito
se deixas de uma vez o teu marido.
-
Sonetilho XIV
(Para quem ama)
-
O amor será sempre um ato
de renúncia e de ternura,
que não exige aparato,
nem heroísmo ou bravura.
-
Quem gosta e ama de fato,
ama o valor da criatura,
porque o amante sensato
não ama só a figura.
-
Quem ama com o coração
separa o amor da paixão
muda a dúvida em certeza.
-
E quem ama de verdade,
com toda sinceridade,
não faz questão de beleza.
-
Sonetilho XVI
(Do perdão)
-
O teu perdão não tem preço,
se vem do teu coração.
Eu só não sei se mereço
o preço do teu perdão.
-
Mas, meu amor, te conheço
tão bem quanto a minha mão.
Por isso eu não estremeço
nem penso em desilusão.
-
Tu sabes quanto te quero!
Bem por isso é que eu espero
que não me deixes assim.
-
Sei que vais me perdoar
porque não vais aguentar 
viver tão longe de mim!

Thalma Tavares (1934)




Thalma Tavares (pseudônimo literário de Vicente Liles de Araújo Pereira), hoje residente em São Simão/SP, nasceu em Recife, a 12 de julho de 1934, onde fez o primário e o ginasial. Mudou-se em 1953 para São Paulo, onde concluiu os estudos.
         Estudou tecnologia, metalurgia, desenho técnico industrial, administração de materiais. Técnico em metalurgia na Multibrás, aposentou-se em 1985.
         Estudou Literatura Brasileira, Língua e Literatura Espanhola no IBRACE (Instituto Brasileiro de Cultura Espanhola) e na Escola Panamericana de Línguas. 
        Membro da  Academia Pindamonhangabense de Letras; União Brasileira dos Trovadores; Centro de Estudos Euclides da Cunha (São Paulo); Academia Piracicabana de Letras; Casa do Poeta e Escritor de Ribeirão Preto; Casa do Poeta “Lampião de Gaz” (São Paulo); União Brasileira de Escritores; Academia de Trovas do Rio Grande do Norte.
         Em 1986 publicou “Fogo Sagrado” (poemas) na Associação Paraibana de Imprensa, em João Pessoa.
         Foi por oito anos presidente (municipal e estadual) da seção São Paulo, mudando-se  em 1995 para São Simão.
         Até 1999 foi membro do conselho diretor do Rotary Club de São Simão e da Associação Beneficente de Ensino Profissionalizante “São Paulo e Minas”.
         Participa em São Simão de  algumas ONGs.
         Participa de concursos de trovas, crônicas, contos e poesias obtendo dezenas de prêmios desde vencedor a menções especiais.
         Palestrou sobre as obras de Euclides da Cunha, Garcia Lorca, Luiz Otávio, a UBT e a Trova.
         Tem poesias e outros escritos publicados em antologias, jornais, revistas, alternativos no Brasil e Exterior.

Izo Goldman (A pressa...)

Artigo escrito pelo Magnífico Trovador (falecido) em 2009

O velho ditado de que “a pressa é inimiga da perfeição”, parece cada vez mais válido. Até mesmo uma grande Trovadora, e querida Irmã, foi vítima...
         Num artigo intitulado “Os Temas das Trovas” ela afirma: “Falo das repetições constantes dos Temas nas Trovas”.  Se tivesse feito um levantamento, só dos últimos três anos, 2006, 2007 e 2008, teria constatado que tivemos 160 Temas de Concursos; destes, apenas 11 foram repetidos e um foi usado três vezes. Portanto apenas 7.5% dos Temas foram repetidos, o que , convenhamos é um número bastante aceitável.     
         Mais adiante ela continua: “Se um tema é bonito, ele favorece à criação de Trovas bonitas, é lógico”. Será mesmo? O que serão Temas bonitos? Amor? Saudade? Carinho? Destino?     
         Creio eu que, dentro destes Temas “bonitos” será muito mais fácil o aparecimento do “lugar comum”. Talvez os Temas “originais” façam com que tenhamos “Trovas antológicas”.
         Por exemplo, se o Tema fosse “PAPALVOS” teríamos Jacy Pacheco:
Olhai, racistas, papalvos,
das mães o exemplo de amor;
seios negros, seios alvos,
dão leite da mesma cor...     
                   E, convenhamos, “papalvos” não é uma palavra bonita... ou, se o Tema fosse “ELETROCARDIOGRAMA”, teríamos V. C. Soares de Souza:
Prova o eletrocardiograma,
com seus riscos desiguais,
que o coração que mais ama,
é sempre o que sofre mais...
                   Com certeza, “eletrocardiograma” não é uma palavra bonita ou, pasmem, o Tema fosse “CIBERNÉTICA”, e Madalena Léa dissesse:
Uma pergunta patética
acode às mentes insanas,
no tempo da cibernética,
que farão as mãos humanas?     
                   E, cá pra nós, “Cibernética” é de doer! Vamos concluir com “CARDIOLOGIA” e com Athos Fernandes:
 
Meu coração desafia
vossa perícia, Doutor;
não cura a Cardiologia,
cardiopatias de amor...
                   Neste caso o tema poderia ser, também, “cardiopatia”, o que daria no mesmo! Também sou contra a repetição de Temas em Concursos; também sou contra o uso de temas “menos poéticos” em Concursos, mas, primeiro, acho o número de repetições pequeno, e, segundo, tenho dúvidas se é o tema “poético” ou o tema “original” que “obriga” o Trovador a fazer Trovas melhores.
                   Talvez até não seja bem assim, mas, é bom pensar no assunto.