sábado, 12 de dezembro de 2015

II Concurso Estadual de Trovas da UBT Campos do Jordão/SP (Resultado Final)



Tema: "Inverno"
Vencedores
 1º.
Na primavera eu perfumo;
se é verão, queimo e bronzeio;
no outono sou fruto – assumo!-
e no inverno... eu ‘jordaneio!"
José Ouverney
(Pindamonhangaba/SP)
 .
2º.
Partiste... e com muito jeito,
a saudade, sem desvelos,
vai pondo inverno em meu peito
e neve nos meus cabelos...
Domitilla Beltrame
(São Paulo/SP)
 .
3º.
Saudade é dor que não sara,
e na alma deixa sequela,
inverno algum se compara,
ao frio da ausência dela!
Campos Sales
(São Paulo/SP)

Menção Honrosa

Esse calor que me invade,
junto à lareira aquecida,
também aquece a saudade
no inverno da minha vida.
Selma Patti Spinelli
(São Paulo/SP)
 .
Conserva o sorriso eterno
se sofres dor tão sombria...
- Pior que o frio do inverno
é manter tua alma fria!
José Valdez C. Moura
(Pindamonhangaba/SP)
 .
 3ª
Temos sempre em todo inverno,
pinha, pinheiro e pinhão;
jordanense quer eterno,
seu folclore e tradição.
Nadir Nogueira Giovanelli
(São José dos Campos/SP)
 .
Olho os céus... e num segundo,
a neve que o inverno traz,
parece a prece do mundo:
Rogando o branco da paz!...
Roberto Tchepelentyky
(São Paulo/SP)
 .
 5ª
Se vens, inverno, te aceito,
submisso estou à espera,
mas te previno: em meu peito
há estoques de primavera.
Elbea Priscila de Souza e Silva
(Caçapava/SP)
.
Nós somos inverno e estio
em comunhão comparada
à fúria do mar bravio
e a calma da madrugada…
Renata Paccola
(São Paulo/SP)

Silvana da Rosa (A mulher escritora e personagem nos contos de fadas) Parte VII

Em 1865, surge o clássico Alice no País das Maravilhas, criado pelo inglês Charles Lutwidge Dodgson, tendo como pseudônimo Lewis Carrol. Além dessa obra, em 1872, o autor publica Alice através do espelho e o que Alice encontrou lá.

Realmente, Carrol apresenta a personagem feminina mais próxima do espelho, mais condizente com a sua realidade. A menina Alice sobrepõe-se ao mundo real, ao universo masculino, uma vez que a protagonista assume atitudes até então pertinentes somente aos homens, bem como vive aventuras fora do âmbito familiar.

Nota: Leoni, referindo-se a Andersen, sustenta em sua obra que “no período romântico Hans Christian Andersen conquistou renome mundial com seus deliciosos contos que unem a ingenuidade pictórica com a delicada moral humana” (1966, p. 161-162).

Em 1900, o americano Lyman Frank Baum lança O maravilhoso feiticeiro de Oz, assim primeiramente intitulado, posteriormente foi denominado O mágico de Oz. Em O mágico de Oz, de Baum, o autor salienta as reais potencialidades da figura feminina, através da personagem - protagonista, que está longe da sociedade patriarcal que a comprime e asfixia.

De acordo com Novaes Coelho, “nessa época são criadas inúmeras coleções de livros infantis, que durarão até o início do século XX” (1991, p. 195), sendo que os escritores responsáveis por essas obras foram: Adolfo Coelho; Henrique Marques Júnior; João da Motta Prego; Manoel Pinheiro Chagas, entre outros. Percebe-se que, apesar da abundante literatura da época devido ao predomínio de escritores, a mulher ainda não tinha espaço, enquanto personagem, leitora e escritora, nem as obras escritas por homens privilegiavam o público feminino, além disso, os livros que eram destinadas às crianças, em especial às meninas, apresentavam expressivo cunho moralista.

Aliás, o ponto comum entre essas obras é a instrução didática que se inseriu na Literatura Infantil e esse elo continuou por muito tempo, até incentivar a rejeição dos brasileiros por modelos estrangeiros. No entanto, apesar de a mulher estar inserida nessa instrução “didático - literária”, evidentemente com a finalidade de ser boa filha, boa esposa, boa mãe, ainda se tinha o mundo bem diferenciado dos homens e das mulheres.

Conforme a reação negativa do povo em relação a modelos didáticos estrangeiros, principalmente vindos de Portugal, surge, assim, uma literatura mais próxima da realidade brasileira.

Desse modo, em meados do século XIX, surgiram inúmeras livros infantis voltados ao contexto brasileiro, mas, na verdade, o enfoque atribuído à mulher permanece o mesmo disseminado nas obras anteriores, ou seja, mulheres cruéis ou inexpressivas que necessitam de severa doutrinação. Sendo assim, foram publicadas as obras: O livro do povo (1861), de Antônio Marques Rodrigues; O método Abílio (1868), de Abílio César Borges; O amiguinho Nhonhô (1882), de Meneses Vieira; Série instrutiva (1882), de Hilário Ribeiro; Livros de leitura e série didática (1890), de Felisberto de Carvalho; Coisas brasileiras (1893), de Romão Puiggari; Série Puiggari/Barreto (1895), de Romão Puiggari e Arnaldo de Oliveira Barreto; Cartilha das mães (1895), de Arnaldo de Oliveira Barreto; Livros de leitura (1895), de João Kopke; Antologia nacional (1895), de Fausto Barreto e Carlos de Laet; Contos da carochinha (1896), de Figueiredo Pimentel e leituras infantis (1900), de Francisco Vianna.

Posteriormente e também seguindo a ideia nacionalista, Viriato Correia publica Era uma vez, em 1908; Olavo Bilac e Manuel Bonfim, com Através do Brasil, em 1910; Arnaldo de Oliveira Barreto, com Biblioteca infantil, em 1915 e Tales de Andrade, com Saudade, em 1919.

Segundo Novaes    Coelho, nos     anos 40, dissemina-se a literatura quadrinizada, juntamente com as coleções estrangeiras de “novelas de aventuras da literatura europeia ou norte-americana. Surgem traduções de romances românticos franceses, para o público feminino” (1991, p. 245). Nessa época, para as meninas– moças propagaram-se as coleções: Biblioteca das moças; Coleção menina e moça, Coleção rosa, Biblioteca das senhorinhas, de autores diversos. Visto que, a partir do momento em que novelas e romances são destinados à clientela feminina, percebe-se que novo enfoque é dado à mulher, o de leitora. Da mesma forma, é acessível às meninas-moças leitura selecionada. Evidentemente que, apesar de a mulher enfrentar restrições quanto ao tipo de leitura apropriada ao sexo feminino, por outro lado, ela já se inseriu no mundo intelectual como leitora.

Ainda    nessa    época, a literatura volta-se à    área da informação, consequentemente, os contos de fadas passaram a ser classificados como falsidades que distanciavam os leitores da realidade, incentivando a floração de sentimentos ilusórios nos mesmos. Aliás, de certo modo, as ideias de Rousseau, divulgadas no século XVIII, estavam sendo revigoradas dois séculos mais tarde.

Já Marly Amarilha (1997), referindo-se à Literatura Infantil, salienta que essa foi criada nas últimas décadas do século XVIII, visando aculturar a novos padrões civilizatórios os pequenos leitores. Padrões esses advindos a partir da Revolução Francesa e da crescente industrialização mundial, por isso obras instrucionais e pouco ou nada lúdicas surgiram.

Contudo, somente após o século XIX é que as crianças brasileiras tiveram acesso a textos dessa natureza:

E somente em fins do século XVIII que se consolida um conceito mais específico do que seja infância. A necessidade de se educar essa nova geração e introduzi-la nos moldes civilizatórios que se impunham, com a Revolução Francesa e o processo de industrialização, em toda a Europa, criavam também espaço para a produção cultural ao público emergente.
 
Nasce, assim, uma literatura de cunho didático, em que o lúdico é apenas um recurso para a instrução. A partir de critérios pedagógicos, os livros que compunham as bibliotecas dos adultos foram adaptados para as crianças. As fontes foram diversas: os contos populares, lendas e fábulas se constituíram no primeiro repertório de literatura para as crianças. Essa literatura não tinha um objetivo puramente estético, mas nela predominava o tom instrucional e pedagógico, o que contribuiu para diminuir-lhe o status frente a outras manifestações artísticas. No Brasil, a Literatura Infantil demora a se manifestar. E em torno de 1900 que podemos traçar os primeiros textos dessa natureza, mas aqui também ela se apresenta com as características encontradas na Europa. (AMARILHA, 1997, p. 46)
                     
A partir dos anos 50, a literatura redescobre a fantasia, visto que se percebeu que o lúdico e a magia são itens indispensáveis para se compor a Literatura Infantil. Assim, as histórias em quadrinhos também se disseminaram mundialmente e, no Brasil, a tradução de Beyond (Terror negro) é realizada, e outras histórias surgem, como Histórias macabras (Thomas Morgan); O homem invisível (Tiradez); A garra cinzenta (Bremond/Renato Silva). Além disso, surge Monteiro Lobato, com Narizinho arrebitado, uma espécie de re - escritura das antigas fábulas.

Lajolo e Zilberman teceram comentários a respeito da preocupação de Monteiro Lobato em criar uma Literatura Infantil e Infanto-juvenil especialmente para esse público, pois, antes dele, tinha-se a coletânea de contos de origem europeia, a qual foi, inicialmente, criada para os adultos e, após, adaptada ao público infantil.

Em 1921, Monteiro Lobato publica Narizinho Arrebitado, após ter se preocupado com a literatura infantil, conforme sugere a correspondência trocada com Godofredo Rangel, com quem comenta a necessidade de se escreverem histórias para crianças numa linguagem que as interessasse. (LAJOLO e ZILBERMAN, 1984, p. 45)
                     
Anteriormente a Lobato, já era motivo de preocupação de Romão Puiggari a carência de obras que valorizassem os temas brasileiros, tanto que, em Coisas Brasileiras (1893), ele apresenta, no prefácio de seu livro, o apelo de José Veríssimo a favor da valorização do nacionalismo. Novaes cita o que José Veríssimo afirma:

neste levantamento geral que é preciso promover a favor da educação nacional, uma das mais necessárias reformas é a do livro de leitura. Cumpre que ele seja brasileiro, não só feito por brasileiros, que não é o mais importante, mas brasileiro pelos assuntos, pelo espírito, pelos autores trasladados, pelos poetas reproduzidos e pelo sentimento nacional que o anime. (VERÍSSIMO apud NOVAES, 1991, p. 213)                     
Verifica-se que o interesse pela criação de uma literatura nacionalista era crescente, mas, quanto à figura feminina, esta mostrava-se ainda marginalizada, vista como leitora de obras escritas e selecionadas por homens.

Nos anos 50, alguns contos já haviam sido produzidos pela mídia, através de filmes e desenhos animados cinematográficos, consolidados posteriormente até os nossos dias. Evidentemente que, com essa mudança de suportes (do livro à televisão), alguns personagens perderam ou acentuaram expressivamente as suas características originais. Consequentemente, a publicação e a difusão dessas obras alcançaram o sucesso e o território mundial. Contudo, na maior parte das vezes, os valores patriarcais cultuados tanto nas linhas como nas entrelinhas desses livros, mesmo no discurso televisivo, ainda vigoraram pelas décadas seguintes.

A década de sessenta marcou-se como o período em que inúmeras traduções e adaptações de livros juvenis foram realizadas a partir de obras conhecidas no âmbito literário. Nos anos 70-80, o universo de homens escritores ainda predominava, porém o número de escritoras começava a se mostrar mais animador, tendo em vista as décadas anteriores em que a participação feminina na escritura e publicação de obras era pouco expressiva.

De acordo com isso, os escritores de diversos gêneros literários – e não somente de contos de fadas - dos anos 80, foram, entre outros: Amaury Braga da Silva, Assis Brasil, Antônio Hohlfeldt, Carlos Moraes, Josué Guimarães, Jorge Miguel Marinho, Libério Neves, Lourenço Diaféria, Lino Albergaria, Luiz Galdino, Luís Puntel, Luís Camargo, Pedro Bandeira, Ricardo Azevedo, Ricardo da Cunha Lima, Roniwalter Jatobá. E, nesse contexto de homens escritores, nota-se que a presença masculina realmente era abundante e dominante, enquanto isso, a mulher tentava firmar-se como escritora em território hostil.

Percebe-se que, através das obras dos escritores vistos, houve muitos retrocessos que impossibilitaram a inclusão feminina efetiva no contexto literário. É bem verdade que escritores como Comenius, Andersen, Carrol, Baum e Lobato possibilitaram que a sociedade observasse a personagem feminina sob prisma diferenciado, mas ainda muito faltava para que o sistema vigente, condicionado por obras e discursos que repetiam e disseminavam falsos moralismos, valorizasse a mulher em semelhante posição à do homem.

continua…

Fonte:
Silvana da Rosa. Do tempo medieval ao contemporâneo: o caminho percorrido pela figura feminina, enquanto escritora e personagem, nos contos de fadas. Dissertação de Mestrado em Letras. Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

I Concurso de Trovas Estudantis de Balneário Camboriú/SC (Resultado Final)



                    O I Concurso de Trovas Estudantis de Balneário Camboriú aconteceu em novembro de 2015. Vinte e duas trovas de alunos dos 6ºs e 7ºs anos do C. E. M. Vereador Santa foram selecionadas dentre cinquenta e oito participantes.
         O evento de certificação e premiação dos alunos aconteceu no dia 12 de novembro de 2015 na Feira do Livro de Balneário Camboriú.
Vencedoras

Num livro: um conto de fadas,
mergulho num mar de sonhos,
com criaturas aladas
e monstros que são bisonhos.
Maria Eduarda Bussler Kusiak 7ºA
.
No grande livro da vida,
por menos que seja escrito,
tem um ponto de partida,
chegando até o infinito.
Maria Eduarda Ozello 7ºB
 .
Livros são interessantes,
e gosto muito de ler,
eles são muito empolgantes,
nos ajudam a crescer.
Guilherme Cugner Granado 6º B
 .
 Um bom livro dá a partida,
há uma mágica aventura,
cada página vivida
eu enfrento com ternura.
Laura Alice da Silva 7º B
 .
Não sei se você conhece,
mas estou sempre consigo.
E se maior amor houvesse...
Sou o livro, seu amigo.
Georgia Prezzi 7º B
 .
Livro sempre! Todo dia!
Fica tudo diferente.
Com muito mais alegria,
abre sempre minha mente.
Sofia Rigo de Oliveira 7º B
 .
 Os livros são nossa vida,
exercitam nossa mente
e cada página lida
eu quero ler novamente.
Anita Ohemia Sardá 7º
Menções Honrosas

O livro é tão importante,
dando muita inteligência,
sempre tão emocionante:
Guia de sobrevivência.
Abner Gabriel da Veiga 7º B
 .
Os livros, como as sementes,
trazem imaginações,
assim como nas nascentes
nascem novas emoções.
Laura Jaqueline Greibeler 7º B
 .
O livro é uma bela arte,
fonte de sabedoria,
é uma coisa que faz parte
desse nosso dia a dia.
Mel Delavi Krug 7º B
 .
Livro é como uma jornada
sempre cheia de emoção,
então fique bem ligada,
fugindo da depressão.
Pedro Ahlf Rodrigues 7º B
 .
Aquele que sempre ler
faz do livro um alimento,
que o ajuda a bem viver
e auxilia o crescimento.
Vitória de Jesus Viana 7º B
 .
Ao ler livros ganho abrigos,
e, muito eu posso aprender.
Os livros são meus amigos,
por isso gosto de ler.
Ariadne Bodemüller de Oliveira 7º A
Menções Especiais

O livro é uma obra prima,
sendo uma das mais belas,
que nos prende feito rima
como flores amarelas.
Emily Caroline da Silva Penz 7º A
.
Um livro traz emoções,
encarando o bem e o mal,
e conquista corações
de uma maneira legal.
Adrielle Krause Costa 7º B
.
Um bom livro para a mente,
é um abrigo instrucional.
O meu amigo carente:
Meu livrinho, sem igual!
Júlia Kelly de Azevedo 7º B
 .
Achei um livro perdido,
nesse livro, uma emoção,
queria deixar unido
com o nosso coração.
Maria Eduarda Perette 7º B
 .
Pra fazer a boa ação,
você pode um livro ler.
Como uma bela canção,
cada dia se entreter.
Éric Medeiros Rogério 7º B
 .
Livro é cheio de lembrança,
faz bater o coração,
feliz como uma criança,
com muito mais emoção.
Rafaela Heloísa Bortolini 6º B
 .
Os livros são meus amigos,
são brancos e coloridos,
uns falam sobre inimigos
e outros são bem divertidos.
Laura Reckziegel da Silva 6º B
 .
Um bom livro é bem legal,
também seu melhor amigo,
sendo sempre bem leal
nestas horas de perigo.
João Lucas Colla 7º A

Contos Populares Portugueses (O Ovo de Ouro)

Havia uma pobre viúva que tinha dois filhos. Um o mais velho, era atilado e com o seu trabalho granjeava os meios de subsistência para si, sua mãe e seu irmão, um pobre parvo, que passava os dias encarapitado nas árvores e nos altos penedos à procura de ninhos.

Um dia, levou o parvo à mãe um ovo com umas letras na casca. A mãe achou o ovo muito bonito e, dotada de certa esperteza, foi vendê-lo à cidade. Passou pelo estabelecimento de um ourives e mostrou-o ao dono. O ourives leu as letras e ficou surpreendido.

- É um ovo muito bonito, que quero comprar para a minha filhinha - disse ele, disfarçando o espanto e dando à mulher uma moeda de ouro.   

A mulher agradeceu, e ia já a despedir-se, quando o ourives lhe disse:

- Dava-lhe uma boa quantia de dinheiro se apanhasse a ave que pôs este ovo.

- Direi ao meu filho que lhe arme um laço.

O filho mais novo assim fez e conseguiu apanhar a ave. Foi a mulher comunicar a notícia ao ourives e este respondeu animadíssimo:

- Vá já para casa e mande assar a ave. Eu já lhe apareço com o meu irmão.

O ourives acompanhou as palavras com a oferta de uma grande bolsa de dinheiro, acrescentando:

- Ainda lhe levarei mais para sua casa.

Voltou a mulherzinha para a sua casa, depenou a ave e assou-a no espeto. Os dois filhos queriam comer alguma coisa da ave, e a mãe, para que eles ficassem sossegados, deu ao mais velho a cabeça da ave e ao mais novo o coração. Comeram aquilo e lá foi cada um para seu lado: o mais velho guardava as vacas de um lavrador e o mais novo andava à procura de mais ninhos

Chegou o ourives com o irmão e logo se sentaram à mesa. Quando a velhinha apareceu com a ave sem cabeça nem coração, pôs-se o ourives a gritar, dizendo que fora roubado.

- Roubado! - exclamou a mulher, muito aborrecida.

- O que fez ao coração e à cabeça da ave?

- O que todos fazem: dei-os ao gato – respondeu esta, querendo esconder que os dera aos filhos.

- Pois saiba agora que o ovo que me levou tinha umas letras que diziam: Quem comer a cabeça da ave que pôs este ovo será papa e o que comer o coração será rei, E, já que não comi o coração e meu irmão a cabeça, passe-me para cá o meu dinheiro.
- O senhor não fez essa declaração e nem me pôs condições, portanto, não lhe entrego o dinheiro, que é bem meu, e vou queixar-me à justiça de pretender roubar aquilo que de direito até pertence ao meu filho mais novo, para quem a Providência destinou a ave!

O ourives teve de se safar com o irmão e de perder aquele dinheiro todo.

A noite contou a mãe aos filhos o que lhe tinha acontecido. O mais novo pôs-se a rir, mas o mais velho pediu à mãe que lhe desse o seu dote para entrar num convento, o que aconteceu no dia seguinte.

O mais velho revelou grandes aptidões para os estudos e foi chamado a Roma pelo superior do convento. Mais tarde morreu o papa e todos os votos caíram nele, então, apesar de jovem, já um sábio muito respeitado. Isto levou bons anos.

Ora isto levou mesmo bons anos, e o filho parvo, que não tinha notícias do irmão e sabendo apenas que ele estava em Roma, pedindo licença à mãe, para lá partiu.

Chegou o parvo a Roma na ocasião em que o novo papa era aclamado. Atravessou a multidão e chegou próximo do novo papa, que imediatamente viu quem era. Não se conteve e pôs-se a chamar por ele, que também o reconheceu e logo o levou para o palácio. Ali soube notícias da mãe, que já estava muito velhinha, e mandou buscá-la para viver junto dele. Ao irmão mais novo perguntou:

- E tu, que tencionas fazer?

- Eu não tenho dinheiro para nada...

- Pois bem, pega nesta bolsa que hoje me ofereceram. Sempre que queiras dinheiro, abre a bolsa, que aparecem lá moedas. Mas vê se não te deixas enganar.

Saiu o parvo e foi dar a uma cidade, onde comprou um palácio fronteiriço ao do rei, que tinha uma filha muito formosa e esperta.

O parvo não saía da janela a fazer namoro à princesa, e com tanta persistência que logo deu a conhecer o seu pouco juízo.

A princesa quis rir-se à custa dele e um dia apresentou-se-lhe em casa. Ficou o moço muito satisfeito de ver a princesa em sua casa e convidou-a a sentar-se. Em pouco tempo descobriu ela que a origem de tanta riqueza era a célebre bolsa. Pediu-lhe que lhe mostrasse e o parvo assim fez. Ela, então, pediu-lhe licença para a ir mostrar ao rei, seu pai. Escusado será dizer que ele concordou e ela nunca mais voltou.

Passados poucos dias, toda a gente falava no próximo casamento da princesa com um seu primo.

O parvo, vendo-se sem dinheiro, tornou a Roma e contou tudo ao irmão. Este disse-lhe:

- Nasceste parvo e ainda o és. Não te dou dinheiro, mas leva esta gaitinha. Quando encontrares algum cadáver, toca que logo o morto ressuscitará. Desta maneira acabarás por ganhar muito dinheiro.

E assim aconteceu: quando o parvo chegou à corte, onde tinha o seu palácio, levava já muito dinheiro. Sucedeu então morrer o primo da princesa que com ela estava para casar. Houve muitos choros por este acontecimento e logo o parvo disse que era capaz de o fazer viver de novo.

O rei mandou-o chamar e foram tão grandes as quantias de dinheiro que lhe ofereceu que o parvo ressuscitou o noivo da princesa.

Soube a princesa que o parvo tinha consigo uma gaitinha misteriosa e decidiu apoderar-se dela, o que veio a conseguir. Então, o parvo voltou a Roma a conferenciar com o irmão. A experiência própria tinha-lhe metido na cabeça algum juízo e já não era o mesmo parvo do tempo em que andava aos ninhos.

O papa, desta vez, ofereceu-lhe um rico tapete, recomendando-lhe:

- Finge que não ligas importância às coisas que ela te tirou e dá-lhe mesmo este tapete. Logo que ela lhe puser os pés em cima, salta para ele tu também e diz: – Tapete, leva-me a Roma. Quando vocês aqui chegarem, eu vos casarei.

O irmão mais novo do papa compreendeu a lição e dirigiu-se para o seu palácio. A cura do primo da princesa dera-lhe entrada livre no palácio real. Por isso, o parvo ia lá sempre que lhe apetecia. Assim, uma vez encontrou-se com a princesa e disse que tinha para lhe dar um belo tapete. A princesa logo pensou em ficar com ele. Nessa tarde, a rapariga apresentou-se no palácio do parvo e pediu-lhe que lhe mostrasse. O moço assim fez e ela pôs os seus mimosos pés em cima do tapete, que era o que o parvo queria, pois logo ordenou:

- Tapete, leva-nos à Córsega!

Enganara-se e em vez de dizer Roma dissera Córsega. Encontraram-se imediatamente nos campos desta última ilha, que então não era ainda habitada. O parvo subiu a um cerro para se orientar, mas a princesa, que não tirara os pés do tapete, disse:

- Tapete, leva-me para o meu palácio.

E a princesa desapareceu. Quando o parvo desceu do cerro, já não encontrou o tapete nem a princesa. Viu-se ali perdido e pôs-se a andar sem destino. Extenuado e cheio de fome, viu uma figueira carregada de figos pretos e comeu alguns. Em poucos momentos, na cabeça e nas costas, nasceram-lhe dez cornos. Então é que ficou triste e desesperado! Dirigiu-se, no entanto, a outra figueira de figos brancos e comeu um. Caiu-lhe imediatamente um dos cornos. Comeu mais nove figos e ficou livre de todos os cornos.

Encheu um dos bolsos de figos pretos e outro de figos brancos e dirigiu-se a uma cidade em cujo porto estava um navio que partia para a cidade onde morava a princesa. Meteu-se no navio e chegou em pouco tempo ao seu palácio.

Disfarçou-se o parvo e foi vender figos pretos ao palácio real. E em poucas horas toda a gente sabia que o rei, a rainha e a princesa tinham a cabeça cheia de cornos. Chamados todos os médicos do reino, eles só viram como solução que lhos cortassem. Ainda experimentaram, mas as dores eram muitas e o rei entendeu que essa operação não era possível.

Então espalhou-se a notícia de que chegara das Índias um médico que se comprometia a fazer cair os cornos das reais cabeças. Claro que o médico era o irmão do papa. Chamado o parvo ao quarto do rei, este não o reconheceu devido ao disfarce. Deu-lhe então o falso médico a comer os figos brancos, dizendo ser um remédio oriental, e o monarca ficou logo curado.

– Agora é necessário que Vossa Majestade não saia do seu quarto nem comunique com qualquer pessoa durante oito horas -recomendou o parvo.

Dirigiu-se depois ao quarto da rainha e aconteceu o mesmo. Entrou de seguida no quarto da princesa. Ficou pasmado. Era a que tinha comido mais figos e a sua cabeça estava mais ramalhuda do que a de um veado. E logo o moço viu o célebre tapete no chão e sobre a mesinha-de-cabeceira a sua bolsa e a gaitinha. Fingindo não dar valor àquilo, pediu à princesa que se levantasse da cama.

- Não posso com a cabeça - respondeu ela a chorar.

Então ele ajudou-a carinhosamente a erguer-se e fê-la sentar numa cadeira com os pés para o tapete. Teve um momento de guardar nos bolsos a gaitinha e a bolsa, e perguntou à princesa:

- Então não me conhece?

- Conheço-o pela fala

Neste momento já o parvo tinha dito:

- Tapete, para Roma, para o palácio do meu irmão, o papa.

Ambos se encontraram de repente no gabinete do papa, que não conheceu o irmão devido ao disfarce. O papa ficou suspenso por um momento, mas o irmão arrancou as barbas e a cabeleira postiças e deu-se a conhecer

O papa falou amorosamente à princesa, e por tal forma se insinuou no seu espírito que ela declarou que levava muito em gosto casar com o parvo.

E ali mesmo foi celebrado o casamento. Quando, dias depois, o rei foi informado de toda a história, ficou muito contente com o casamento. E logo a seguir ao casamento comeu a princesa os figos brancos necessários para que lhe caíssem da cabeça todos os cornos que lá estavam.

E a verdade é que, daí em diante, o que dantes fora parvo tornou-se muito inteligente e governou muito bem o reino do sogro. O primo da princesa, esse, coitado, ficou a chuchar no dedo.

Fonte:
Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.