quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Conto do Afeganistão (A Última Vontade do Rei Hibbam)

Naquele tempo, em Mokala, reinava o poderoso Hibban, um dos mais vaidosos monarcas que têm vivido em todos os tempos. Sua preocupação única era imitar os imperadores célebres e os vultos notáveis da História.

Ouvira ele contar que os soberanos mais famosos do mundo pronunciaram sempre, antes de morrer, palavras que se tornaram célebres. E não poderia ele, também glorificar a sua morte pronunciando uma frase notável, digna de figurar nos anais da História, uma frase fulgurante que ficasse perpetuada, através dos séculos, pela Fama e pela Glória? Mas qual seria? Que deveria ele dizer aos súditos mokalenses no derradeiro momento de sua vida? Um conselho? Uma imprecação? Um pensamento famoso?

Na dúvida - e como não lhe ocorresse uma ideia aproveitável - mandou o rei Hibban chamar o seu talentoso secretário Salin Sady, homem de sua inteira confiança, e contou-lhe, pedindo-lhe absoluto segredo, o grande desejo de sua vaidade doentia. Depois de meditar algum tempo, o digno secretário respondeu:

- Conheço um verso de Masuk, o célebre poeta kurdo, que é magistral! Se pronunciar esse verso em dialeto kurdo, fará uma coisa original, nunca vista. Ademais, o verso a que me refiro, exprime um desejo nobre, um pensamento genial, digno de um verdadeiro rei.

- É exatamente um verso emocionante que mais me agrada e que melhor poderá servir ao rei de Mokalla. Mas qual é, afinal, o verso do grande Mazuk? Quero decora-lo.

E o inteligente Salin Sady ensinou ao bom monarca o verso magistral de Mazuk, o maior dos poetas do Afeganistão:
'Naib aq vast y harde nosteby katib.'

Cuja tradução (declarou Sady) seria: 'Esquecei meus erros, pois só errei com a intenção de acertar'.

Guardou o rei Hibban de memória o verso. Um dia sentindo-se muito doente, mandou chamar seus conselheiros, vizires, cadis e todos os grandes dignitários do reino e pronunciou sua última vontade, bem alto, devagar e solene para que todos ouvissem. E tão violenta comoção daquele momento, que o vaidoso rei morreu.

A cena impressionou profundamente a todos os presentes.

- Mas o que tinha dito o Rei Hibban? - perguntavam uns aos outros, pois ninguém conhecia o complicado dialeto kurdo.

Dez escribas registraram palavra por palavra, traduzida depois pelos doutores mais ilustres de Mokala. A tradução caiu como uma bomba no meio da nobreza. Puderam todos verificar, com assombro, que o poderoso rei, senhor de Mokala, havia dito, apenas o seguinte:
'Deixo tudo o que tenho para o meu bom secretário!

Fonte:

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

III Concurso Internacional de Trovas da Argentina 2016 (Trovas Premiadas)



Tema: Inveja

VENCEDORES

1º Lugar:

Bons sentimentos semeio,
não sou da inveja refém;
porque o bem-estar alheio
é o meu bem maior também.
Eliana Ruiz Jimenez

2º Lugar:

Sonho um mundo diferente,
sem inveja, ódio, maldade,
onde os homens, tão somente,
se alimentem de amizade!
Delcy Rodrigues Canalles

3º Lugar:

Tanta inveja teve o mar,
vendo o céu cheio de estrelas,
que Deus resolveu lhe dar
a missão de enaltecê-las.
Aparecida Gianello dos Santos

MENÇÃO HONROSA:

Minha inveja vai ao cume,
só de ter em pensamento,
que ao sentir o teu perfume,
tens as carícias do vento...
Roberto Tchepelentyky

Inveja quando germina
Bem dentro do coração
Com brevidade extermina
O dom de amar nosso irmão.
Ana Maria Nascimento

Quem faz o seu pé de meia...
Não cobiça... o que o outro tem.
Nem inveja a vida alheia,
Porque almeja o próprio Bem!!!
Ana Maria Guerrize Gouveia

A inveja perturba. Mas...
quando alguém, covardemente,
quer ferir-te por detrás,
prova só...que estás na frente!
Carolina Ramos

Se você se subestima
tendo inveja de outro alguém,
pode ser que se deprima...
Melhor gostar do que tem.
Glória Tabet Marson

MENÇÃO ESPECIAL:

Deus nos deu, do firmamento,
livre arbítrio em nossa lida...
Mas a inveja é um pensamento
que amargura o show da vida.
Nei Garcez

Tal qual um forte cipó
que sufoca a arvorezinha,
é a inveja que sem dó,
mata o peito onde se aninha!
Maryland Faillace

Desse fato não me abstenho,
contra sua inveja eu ralho!
Você quer ter o que eu tenho?
Então, se mexa: ao trabalho!
Geraldo Trombin

Vendo-a linda caminhando,
tenho plena convicção
que ela pisa acariciando
e sinto inveja do chão.
João Costa

A inveja aos poucos nos mata,
joga amigo contra amigo;
humilha, avilta, maltrata,
como se fosse um castigo.
Maria Luiza Walendowsky

TROVAS DESTAQUE:

Quando a inveja é repelida,
generosidade...é o bem
que faz a ponte da vida,
por onde o amor vai ou vem.
Vanda Alves da Silva

O desejo mais impuro
que alguém, em vida, cultiva
é a inveja, que, no futuro,
conduz seu barco à deriva...
Heder Rubens Silveira e Souza

Nas alturas, no esplendor,
onde constrói o seu ninho,
o alto voo do condor
causa inveja a passarinho.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho

A inveja só traz desgraça,
amofina muita gente,
pois, além de não ter graça,
envenena quem a sente.
Agostinho da Conceição Rodrigues Filho.

É toda inveja uma praga,
que ao peito vem, inclemente,
espalhando-se, qual chaga,
pelo coração doente.
Edweine Loureiro da Silva

Conto do Egito (O Marido Enganado)

O príncipe Khafré levantou-se para falar: “Vou contar à tua majestade um prodígio que aconteceu no reinado do teu pai Nebka, justificado, quando ele foi ao templo de Ptah, senhor de Ankhhtaui”.

Ora, quando sua majestade foi a Ankhtaui, chamou o sacerdote leitor chefe Ubaoner. Aconteceu que a mulher de Ubaoner se apaixonou por um homem da cidade e mostrava a sua afeição mandando presentes de roupa pela sua serva. Sempre que havia condições, ela mandava a serva levar o seu amante até à casa de Ubaoner. Aí o homem da cidade dizia à esposa de Ubaoner: “Há um pavilhão no jardim, pois bem, vamos lá passar um momento feliz.”

Então a mulher de Ubaoner disse ao servidor encarregado do jardim: “Faz preparar o pavilhão que está no jardim”.

Em seguida ele e ela passaram o dia a beber. Quando escureceu o homem da cidade desceu para o lago, a fim de ali se purificar enquanto a serva procurou o encarregado do jardim e contou-lhe o que sua ama tinha feito.

Logo que nasceu o dia seguinte, a primeira coisa que o encarregado do jardim fez foi procurar o seu senhor Ubaoner e contar-lhe tudo o que ouvira da serva. Então Ubaoner ordenou ao encarregado do jardim que fosse buscar a sua caixa mágica. Era uma caixa maravilhosamente elaborada, feita de ébano com decorações de ouro. Depois Ubaoner tirou dela uma espécie de cera e fez um modelo de crocodilo com sete côvados de comprimento. Recitou então encantamentos mágicos sobre o modelo de crocodilo e disse-lhe: “Quando alguém chegar para se banhar no meu lago, apodera-te dele.”

Depois de ter dito a sua fórmula, Ubaoner entregou o crocodilo ao encarregado do jardim e disse-lhe: “Espera o momento em que o tal homem entrar no meu lago para tomar banho, segundo o seu costume diário: lança então este crocodilo na água na direção dele.”

O encarregado do jardim retirou-se, levando com ele o crocodilo de cera. Pouco depois, a mulher de Ubaoner disse ao encarregado do jardim: “Faz preparar o pavilhão que está no meio do jardim, porque eu quero passar lá um momento.”

O pavilhão foi então fornecido de todas as coisas boas. A dama passou depois um dia feliz com o homem da cidade. Ora quando veio o entardecer ele foi até o lago como fazia todos os dias. Então o encarregado do jardim lançou à água o crocodilo de cera, e este transformou-se num
crocodilo com sete côvados, apoderando-se do homem da cidade. Entretanto, Ubaoner passou sete dias com a majestade do rei Nebka, enquanto o homem da cidade era mantido, sem respirar, nas profundezas do lago. Depois desse tempo, a majestade do rei Nebka, foi a Mênfis, e o sacerdote leitor chefe Ubaoner aproximou-se dele, dizendo: “Quer a tua majestade acompanhar-me e ver um prodígio do teu reinado?”.

O rei acompanhou Ubaoner até ao lago e então o sacerdote chamou o crocodilo, dizendo: “Traz-e o homem até aqui”.

Quando o crocodilo apareceu com o homem, sua majestade disse: “Esse crocodilo é certamente perigoso.”

Ubaoner curvou-se e pegou no crocodilo, que se tornou de novo um modelo de cera na sua mão. Depois o sacerdote leitor chefe Ubaoner contou à majestade do rei Nebka, o que o homem da cidade tinha feito com sua esposa. Então sua majestade disse ao crocodilo: “Toma o que te pertence.”

O crocodilo mergulhou no lago e nunca ninguém soube para onde ele foi com o homem da cidade. A majestade do rei Nebka, ordenou em  seguida que a mulher de Ubaoner fosse levada para um terreno aberto na zona norte do palácio, onde ela foi queimada, sendo suas cinzas lançadas ao rio.

“Foi esse o prodígio que aconteceu no reinado do teu pai, o rei Nebka, graças à arte do sacerdote leitor chefe Ubaoner”, disse Khafré.

Então a majestade do rei Khufu disse: “Que sejam oferecidos mil pães, cem jarros de cerveja, um boi e duas medidas de incenso ao rei Nebka, e que seja entregue um bolo, um jarro de cerveja, um naco de carne e uma medida de incenso ao sacerdote leitor chefe Ubaoner, porque eu vi um exemplo do seu poder.”

E tudo foi feito de acordo com o que sua majestade tinha ordenado.

Fonte: