segunda-feira, 18 de julho de 2016

Luiz Otávio, Príncipe dos Trovadores (Centenário de Nascimento)



Não, Luiz Otávio não morreu. Vive em cada coração amigo e esclarecido que lhe sabe reconhecer o valor.

Luiz Otávio continua, entretanto, presente em sua obra monumental, através da sua ternura sem limites que abraçou o Brasil inteiro numa ciranda trovadoresca que encontrou eco nos países de língua irmã. Luiz Otávio continua presente nos frutos que semeou, colhido por quem os merece e por quem não os merece, também. Presente nas suas trovas, presente nos seus versos. Fundador da União Brasileira dos Trovadores, vários livros seus foram de trovas e poesias. 

Continua presente no elo de amor que aquece o coração de quantos souberam entender a sua luminosa passagem por este mundo.E que seguiram os seus conselhos, expressos nos seus atos desassombrados nem sempre compreendidos e aceitos com a mesma sinceridade. Presentes no seu idealismo puro e autêntico, desprendido e apaixonado, como difícil encontrar igual, e também no seu acervo de trabalho, repleto de vigor e energia de alma, ainda mesmo quando lhe fugiam as forças físicas. Sublimando os próprios sofrimentos e limitações gradativas, até o último momento dirigiu em prol e em defesa da sua “Rosa”, a “União Brasileira de Trovadores”, filha dileta do seu sonho de poeta. Seu “ex-libris”: 

“Quer ser feliz? Então siga 
a minha vida bizarra 
que tem muito de formiga
e ainda mais de cigarra…”

A formiga descansa. A cigarra continua cantando. Cantando indefinidamente, em ressonâncias de ternura espalhadas por todo este Brasil, Portugal, Angola, que choraram a parida do Príncipe da Trova. 

Em sua sepultura, em Santos, estas palavras lhe servem de epitáfio:

“O que mais me comove neste Príncipe adormecido é a sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma rosa que brilha nele como a chama de uma lâmpada, mesmo quando dorme (Antoine Sant-Exupery, Pequeno Príncipe)

E nas palavras de J.B. Xavier,

O vitorioso sorri quando outros choram, avança quando outros param, persiste quando outro outros retornam, cria onde outros copiam, transpira quando outros descansam. E, se chora, será de alegria, se arrefece a caminhada será para admirar a paisagem que transformou, se retorna será para auxiliar os que não lhe acompanham o passo, se copia será para ratificar, com o devido crédito,  o que de bom se fez antes dele, e, se descansa, será para se preparar a retomada do caminho em direção ao sonho ainda não realizado.  Luiz Otávio esculpiu com primor, em pedra rara, o teu sonho ideal de puro artista!

Finalizando,

Luiz Otávio foi um construtor de sonhos, cujo encanto maior está pelo fato de que não quis só para si, mas sim, para que todos nós que hoje aqui estamos (e muitos outros que ainda virão) façam parte destes sonhos. Por isso, meus irmãos e irmãs, Luiz Otávio não morreu, continua vivo e firme no coração de cada um segurando o estandarte da Rosa!

De Luiz Otávio:

“Prossegue a cantar! Insiste!
Mesmo a sofrer e a chorar!
Pois, pior que um canto triste,
é uma vida sem cantar.”
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Quanto poema extenso e mudo,
sem transmitir nada à gente,
e eu sei que te digo tudo
com quatro versos somente…

Fontes:
- Carolina Ramos. Jornal “A Tribuna”, de Santos em 1977.
- J B Xavier
- José Feldman



Carolina Ramos (Se ele não tivesse nascido...)

Poema do Centenário de Luiz Otávio (1916 - 2016 )

Se ele não tivesse nascido...

Nossos olhos não leriam estas palavras,
nem tu... nem eu seríamos o que somos,
se ele não tivesse nascido!...
A Trova, mera quadrinha... 
passaria por nós, despercebida, sem que nela sentíssemos
a magia que cativa e que aglutinaria
a imensa família, de Irmãos de sonhos e ideais... que somos!
Se ele não tivesse nascido... seríamos, por acaso, Trovadores?!
A desfrutar da Trova as glórias que nos dá,
vagaríamos (sem bússola) bagagem nas mãos,
pelos escaninhos deste Brasil, tão grande...
tão somente para ver nosso nome, entre outros nomes,
valorizado por gente que sente, que sonha e que canta como nós?!

Ah!...Se ele não tivesse nascido!
Nossas alegrias, por certo, seriam menores!...
Dias monótonos!... sonhos não sonoros... menos ricos ... e sem cor!
Nossas vidas, pobres de emoções... e tão menos felizes!
Fala, por nós, a voz deste poema: 
- Somos gratos! 

Gratos somos a ti, LUIZ OTÁVIO!
Sendo quem foste... e sendo o que ainda és... 
pudemos , também, ser o que hoje somos!
Um Templo abriste... E nos chamaste a entrar!
São tuas as saudades e os louvores,
daqueles que , feliz, tu abraçaste
e, na emoção do abraço, transformaste
em teus fiéis IRMÃOS... OS TROVADORES!

domingo, 17 de julho de 2016

Emiliano Perneta (Poemas Escolhidos)

IGUAÇU

Ó rio que nasceu onde nasci, ó rio
Calmo da minha infância, ora doce, ora má,
Belo estuário azul, espelhado e sombrio,
Quanto susto me deu, quanto prazer me dá!

Quantas vezes eu só, nestas manhãs de estio,
Ao vê-lo deslizar, pomposamente, lá,
Pálido não fiquei, tão majestoso vi-o,
Orgulho do Brasil, glória do Paraná!

Companheiro ideal! Durante toda a viagem,
Foi o espelho fiel a refletir a imagem,
Dos mantos e dos céus, discorrendo através

Da floresta, ora assim como um cão veadeiro,
A fugir, a fugir alegre e alvissareiro,
Ora deitado aqui quase a lamber-me os pés!
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O BRIGUE

Num porto quase estranho, o mar de um morto aspecto,
Esse brigue veleiro, e de formas bizarras,
Flutua há muito sobre as ondas, inquieto,
À espera, apenas, que lhe afrouxem as amarras...

Na aparência, a apatia amortece-lhe o esforço;
Se uma brisa, porém, ao passar, o embalsama
Ei-lo em sonho, a partir, e, então, empina o dorso,
Bamboleia-se, mais gentil do que uma dama...

Dentro a maruja acorda ao mínimo ruído,
Deita velas ao mar, à gávea sonda, o ouvido
Alerta, o coração batendo, o olhar aceso...

Mas a nau continua oscilando, oscilando...
Ó quando eu poderei, também, partir, ó quando?
Eu que não sou da Terra e que à Terra estou preso?
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SONETO DO HERÓI

Conheço que não sou o homem que se procura,
O herói moderno, o herói vibrante, o herói do dia,
Que num largo esplendor de brônzea envergadura,
Com desdenhoso olhar a crença repudia.

Pode ser que também não passe de uma pura,
E de uma inquieta, e de uma doida fantasia,
De quimera banal, e de grande loucura,
O vinho que me exalta, a fé que me inebria.

Sei que é belo exclamar que não existe nada;
Que a flor das ilusões, como rútila espada,
A dúvida voraz ceifou pela raiz...

Sei de tudo; porém, sob o céu que nos cobre,
Sinto, elevando as mãos, e humilde como um pobre,
Que no seio de Deus adormeço feliz!
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FOGO SAGRADO

Ao pôr do Sol — que é uma falua
De vela para o Pesadelo...
Calção de rendas amarelo,
Fino gibão, cabeça nua,

Ei-lo! Não sei que sete-estrelo
Cobre-o! Não sei que azul flutua!
Montado num ginete em pêlo
A par e passo com a lua!

Seguiu, ligeiro, ligeiro;
Passam cavalo e cavaleiro
Um rodamoinho de escarcéus!...

É como um ciclone violento!
Olhai!... Que vão o Sol e o Vento
Arrebatá-lo para os Céus!
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GRAÇAS TE RENDO...

Graças te rendo aqui, preciosa Senhora,
Que, num simples olhar de ternura, tiveste
O dom de me elevar, assim como o fizeste,
Entre os brasões do amor e as púrpuras d'aurora...

O dom de me fazer acreditar que veste
O humano coração, como acredito agora,
Não o lodo, porém, o linho; que se adora,
O linho que fulgura em pleno azul-celeste...

Sei que os votos que são trabalhados com arte
Hão de os deuses cumprir, ó luz maravilhosa:
— Sê, pois, bendita, sê bendita em toda parte!

Que onde fores pisar, que por onde tu fores:
A lama se transforme em pétalas de rosa,
As víboras em fruto, os espinhos em flores!
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AO CAIR DA TARDE

Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...

Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?

Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!

Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
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PAPÉIS VELHOS 
(a João Cândido Filho)

De novo as velhas páginas tu fitas,
Vagas, sem ritmo e luz, nem florescência,
Louváveis só por terem sido escritas
Na quadra sideral da adolescência.

E lês e a cada frase vã meditas,
Sentindo aquela doce e grata essência
Das lembranças de um século infinitas...
Que brinquedo foi pois esta existência?!

Nada contam-te os versos, no entretanto
Lendo-os, um choque súbito te prende
E te transporta para antigas eras...

Doiram-te sóis, e aos teus ouvidos canto
Longo vem do passado que recende
O olor ideal de velhas primaveras.
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DAMA

A noite em claro, o mundo inóspito, e dessa arte
Urdem contra a Beleza as coisas mais abjetas...
Reina o Pesar, mas como um Rei, por toda parte;
E ordena Herodes que degolem os poetas...

Cavaleiros por terra e plumas inquietas;
Esqueletos, que importa? a rir... Hei de vibrar-te
Aos quatro ventos, e com formas obsoletas,
Ó gládio nu! meu esotérico estandarte!

Delírio! assim no ar este sinal eu traço...
Escarótico pois? É bem! Vibrião do Ganges?
Combaterei, se for mister, num circo d'aço...

Combaterei, embora eu saiba que me perdes,
Com versos d'oiro, que reluzam como alfanges,
Dama! com teu orgulho! ó dama de olhos verdes!
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VENCIDOS

Nós ficaremos, como os menestréis da rua,
Uns infames reais, mendigos por incúria,
Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,
Desferindo ao luar cantigas de penúria?

Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua
Maldição, ó Roland?... E, mortos pela injúria,
Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua,
Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?

Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço...
Hão de os grandes rolar dos palácios infetos!
E glória à fome dos vermes concupiscentes!

Embora, nós também, nós, num rouco soluço,
Corda a corda, o violão dos nervos inquietos
Partamos! inquietando as estrelas dormentes!
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GATA

Da brancura da pele e no gesto macio,
A carícia tu tens e a moleza de gata:
O teu andar sutil é doce como a pata
Desse animal pisando um tapete sombrio...

Tens uma morbidez lânguida de sonata.
Teu sorriso é polido, é fino e é muito frio...
Se as tuas mãos acaso eu beijo e acaricio,
Sinto uma sensação esquisita, que mata.

Quando eu tomo esse teu cabelo ondeado e louro,
E o cheiro, e palpo o teu corpo branco e felino,
Como te torces, pois, minha serpente de ouro!

O teu corpo se enrola em meu corpo amoroso,
E o teu beijo me aquece e vibra como um hino,
Animal de voz rouca e gesto silencioso!
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DONZELAS

Donzelas que passais com esse gesto ameno,
E a doce palidez enfim duma cecém,
E em vão esse ar é grave, e esse aspecto é sereno,
Não me olheis, não me olheis, que não vos quero bem.

Sulamitas gracis e de rosto moreno,
E claras como luz, e cheias de desdém,
Tendes perfume, sei, mas não tendes veneno,
Sois muito lindas, sois, não vos quero porém...

Lírios do campo com figura de mulher,
A minha decadência é um fruto caprichoso
Desta época sem luz que não sabe o que quer.

Não sabe nada; mas, ó candidez ideal,
Eu não posso querer senão o Monstruoso,
E o bem Maravilhoso, e o bem Fenomenal!
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SOLIDÃO

Oh! para que sair do fundo deste sonho,
Que o destino me deu, e que a Vida me fez,
Se eu quando, a meu pesar, casualmente, ponho
Fora os pés, a tremer, volvo, ansiado, outra vez.

O meu lugar não é no meio de vocês,
Homens rudes e maus, de semblante risonho,
Não é no meio de tamanha insipidez,
Dum egoísmo atroz, dum orgulho medonho!

O meu lugar é aqui, no seio desta ruína,
Destes escombros, que reluzem como lanças,
E destes torreões, que a febre inda ilumina!

Sim, é insulado, aqui, no cimo, bem o sei!
Entre os abutres e entre as Desesperanças,
E dentro deste horror sombrio, como um Rei!
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ENTRE ESSA IRRADIAÇÃO 
(ao Emílio de Meneses)

Entre essa irradiação enorme, que palpita,
É possível que um dia, eu, pálido, a encontrasse,
Como a sonora luz de Vênus Afrodita,
Em meio do caminho, os dois, e face a face...

E que alucinação e que febre esquisita,
Que cegueira de amor e que ilusão falace,
Quando esse girassol, para a luz infinita,
Cá de dentro de mim, então, desabrochasse!

Seriam negros ou doirados os cabelos?
Junto daquela flor, tremeria de zelos?
Não tombaria morto aos pés desse prazer?

Os olhos de que cor? Não sei. Porém suponho
Que seriam assim tão grandes como um sonho...
Mas já passei a vida, e não a pude ver!

Folclore Japonês (Tamamo-no-Mae)

Tamamo-no-Mae era uma cortesã a serviços do Imperador Japonês Konoe. Ela era a mulher mais bonita e a mais inteligente no Japão. O corpo dela misteriosamente sempre cheirou bem e sua roupa nunca se sujou ou se enrugou. Tamamo-no-Mae não era apenas bonita, mas também era extremamente inteligente, tendo incrível conhecimento em todos os assuntos. Embora parecesse ter somente vinte anos, não havia nenhuma pergunta que ela não poderia responder. Ela respondeu todas as perguntas feitas a ela sobre música, religião ou astronomia. Por causa de sua beleza e inteligência, todos na Corte Imperial a adoravam, e o Imperador Konoe caiu profundamente de amor por ela.

Depois de um tempo, com Konoe dando atenção e carinho para a Tamamo-no-Mae, o Imperador misteriosamente adoeceu. Buscou respostas com muitos padres e filósofos, mas não teve sucesso com nenhum deles. Finalmente, um astrólogo, Abe no Yasuchika, disse ao Imperador que Tamamo-no-Mae era a causa da sua doença. O astrólogo explicou que aquela linda moça era na verdade uma raposa de nove caudas má (Kitsune), que estava tentando tomar o seu lugar no trono. Após o ocorrido, Tamamo-no-Mae desapareceu da corte. O Imperador requisitou Kazusa-no-suke e Miura-no-suke, os guerreiros mais poderosos na época, para caçar e matar a raposa. Depois de ter iludido os caçadores por um tempo, a raposa apareceu dentro de um sonho do Miura-no-suke. Mais uma vez sob a forma da linda Tamamo-no-Mae, a raposa profetizou que ele a mataria no dia seguinte, e implorou para poupar sua vida. Miura-no-suke recusou.

Cedo no dia seguinte, os caçadores encontraram a raposa na Planíce de Nasu, Miura-no-suke atirou e matou a criatura mágica com uma flechada. O corpo da raposa se transformou em Sessho-seki, ou Pedra Mortífera, que mata qualquer um que tiver contato com ela. O espírito da Tamamo-no-Mae se transformou em Hoji e assombrou a pedra. Aquela pedra na prefeitura japonesa de Nasu foi assombrada por Hoji, até que um padre budista chamado Genno, ter parado para descansar perto da pedra e foi ameaçado por Hoji. Genno executou alguns rituais espirituais, e implorou ao espírito considerar sua salvação espiritual, até que finalmente Hoji teve piedade e jurou nunca mais assombrar a pedra outra vez.

sábado, 16 de julho de 2016

Virgínia Woolf (Retrato de uma Londrina)

Ninguém pode se considerar expert sobre Londres se não conhecer um verdadeiro cockney; se não dobrar numa rua lateral, longe das lojas e dos teatros, e bater em uma porta particular numa rua de casas particulares.

Casas particulares em Londres têm tendência a serem muito parecidas. A porta se abre para um vestíbulo escuro, ergue-se uma escada estreita. Do patamar superior abre-se uma dupla sala de estar e nessa dupla sala de estar vê-se dois sofás, um de cada lado de um fogo crepitante, seis poltronas e três compridas janelas dando para a rua. Sempre é matéria de considerável conjectura o que acontece na segunda metade da sala dos fundos debruçando-se para os jardins de outras casas. Mas é com a sala de estar da frente que estamos preocupados, pois era ali que mrs. Crowe sentava-se sempre numa poltrona junto ao fogo, era ali que sua existência transcorria, era ali que ela servia o chá.

Que tenha nascido no campo, embora estranho, parece ser um fato, que ela às vezes deixasse a cidade, naquelas semanas de verão em que Londres não é Londres, também é verdade. Mas para onde ia ou o que fazia quando saía de Londres, quando sua poltrona estava vazia, sua lareira apagada e a mesa desfeita, ninguém sabia ou podia imaginar. Pois conceber mrs. Crowe com seu vestido preto, seu véu e seu chapéu caminhando num campo de nabos ou subindo um monte de pasto está além da mais desvairada imaginação.

Ali, junto à lareira no inverno ou à janela no verão, sentara-se ela por 60 anos — mas não sozinha. Havia sempre alguém na poltrona oposta, fazendo uma visita. E antes que o primeiro visitante estivesse sentado por dez minutos, a porta sempre se abria e a criada Maria, de olhos e dentes proeminentes, que por 60 anos abrira a porta, abria-a mais uma vez e anunciava um segundo visitante, e a seguir um terceiro, e logo depois um quarto.

Nunca se soube de um tête-à-tête com mrs. Crowe. Ela não gostava de tête-à-têtes. Era uma peculiaridade que compartilhava com muitas anfitriãs, a de nunca ser especialmente íntima de alguém. Por exemplo, havia sempre um homem idoso no canto junto ao armário, e que parecia tanto fazer parte daquela admirável mobília do século XVIII quanto seus pegadores de bronze. Mas mrs. Crowe sempre se dirigia a ele como mr. Graham, nunca John, nunca William, embora, às vezes, o chamasse de “caro mr. Graham” como para sublinhar que já o conhecia havia 60 anos.

A verdade é que não desejava intimidade, desejava conversa. A intimidade é um dos caminhos para o silêncio, e mrs. Crowe abominava o silêncio. Era preciso haver conversa, e que esta fosse geral e que abarcasse tudo. Não devia ser profunda demais nem inteligente demais, pois se progredisse muito nessas direções alguém certamente se sentiria de fora, e ficaria sentado ali, balançando a xícara de chá, sem dizer nada.

Portanto, a sala de estar de mrs. Crowe tinha pouco em comum com os celebrados salões dos memorialistas. Gente inteligente ia lá com freqüência — juízes, médicos, membros do parlamento, escritores, músicos, viajantes, jogadores de pólo, atores e completos anônimos —, mas se alguém dissesse uma coisa brilhante isto era sentido quase como uma gafe, um acidente que se ignorava, como um acesso de espirros ou alguma catástrofe com um bolinho. A conversa de que mrs. Crowe gostava e que a inspirava era uma versão glorificada do mexerico da cidade. A cidade era Londres, e o mexerico era sobre a vida de Londres. Mas o grande dom de mrs. Crowe consistia em tornar a grande metrópole tão pequena quanto uma aldeia, com uma igreja, um solar e 25 chalés. Mrs. Crowe tinha informação de primeira mão sobre cada peça, cada exposição de pintura, cada julgamento, cada caso de divórcio. Ela sabia quem estava casando, quem estava morrendo, quem estava na cidade e quem estava fora. Ela mencionava o fato de que acabara de ver o carro de lady Umphleby passar, e arriscava o palpite de que ia visitar a filha cujo bebê nascera na noite anterior, exatamente como uma mulher da aldeia fala sobre a esposa do juiz de paz dirigindo até a estação para receber mr. John, que estaria voltando da cidade.

E enquanto mrs. Crowe fazia essas observações pelos últimos 50 anos ou algo assim, adquiria um surpreendente arquivo sobre a vida de outras pessoas. Quando mr. Smedley, por exemplo, disse que sua filha estava noiva de Arthur Beecham, mrs. Crowe observou imediatamente que nesse caso ela seria uma prima em terceiro grau de mrs. Pirebrace, e num certo sentido sobrinha de mrs. Burns, pelo primeiro casamento com mr. Minchin de Blackwater Grange. Mas mrs. Crowe não era nem um pouco esnobe. Era apenas uma cultivadora de relações, e sua surpreendente habilidade nesse campo servia para dar um caráter familiar e uma personalidade doméstica às suas colheitas, pois muitas pessoas se espantariam de serem primos em vigésimo grau, se soubessem disso.

Portanto, ser admitido na casa de mrs. Crowe significava tornar-se membro de um clube, e o pagamento exigido era a contribuição com um número de tópicos de mexerico por ano. O primeiro pensamento de muita gente quando a casa incendiava ou os canos rebentavam ou a criada fugia com o mordomo deve ter sido: “Vou correr até mrs. Crowe e lhe contar isso.” Mas nisso também as distinções precisavam ser observadas. Certas pessoas tinham o direito de aparecer na hora do almoço, outras, em maior número, podiam ir entre cinco e sete horas. A classe que tinha o privilégio de jantar com mrs. Crowe era pequena. Talvez somente mr. Graham e mrs. Burke realmente jantassem com ela, pois mrs. Crowe não era rica. Seu vestido preto estava um tantinho gasto, seu broche de diamante era sempre o mesmo broche de diamante. Sua refeição favorita era chá, porque a mesa do chá pode ser suprida economicamente, e há uma elasticidade no chá que combinava com o temperamento gregário de mrs. Crowe. Mas fosse almoço ou chá, a refeição mostrava um caráter distinto, exatamente como um vestido ou a joia que usava combinavam com ela à perfeição, traziam em si uma moda própria. Haveria um bolo especial, um pudim especial, algo peculiar à casa e tanto parte dela quanto Maria, a velha criada, ou mr. Graham, o velho amigo, ou o velho chintz da poltrona, ou o velho carpete no assoalho.

É verdade que mrs. Crowe deve ter saído algumas vezes, convidada para almoços e chás de outras pessoas. Mas em sociedade ela parecia furtiva, fragmentária e incompleta, como se tivesse meramente passado para uma espiada no casamento ou na reunião noturna ou no funeral, a fim de recolher as migalhas de notícias de que precisava para completar seu próprio estoque. Por isso, era raramente induzida a sentar-se, estava sempre voando. Parecia deslocada entre as mesas e cadeiras dos outros, precisava ter seus próprios chintzes, seu próprio armário e seu próprio mr. Graham junto a ele a fim de ser completamente ela própria. À medida que os anos foram passando, as pequenas incursões no mundo exterior praticamente cessaram. 

Mrs. Crowe construiu seu ninho de modo tão compacto e completo que o mundo exterior não tinha uma pena ou um graveto a lhe acrescentar. Além disso, seus próprios camaradas lhe eram tão fiéis que podia confiar neles para transmitir qualquer noticiazinha que ela devesse acrescentar à sua coleção. Era desnecessário que abandonasse a própria poltrona junto ao fogo no inverno, ou junto à janela no verão. E com a passagem dos anos seu conhecimento não se tornou mais profundo — a profundidade não era a linha de nossa anfitriã — e sim mais redondo e completo. Deste modo, se uma nova peça fazia um grande sucesso, mrs. Crowe conseguia no dia seguinte não só registrar o fato com uma pitada de mexerico divertido dos bastidores, como também podia remeter-se a outras estreias, nos anos 1880, 1890, e descrever o que Ellen Terry usara, o que Duse tinha feito, o que o querido mr. Henry James comentara — nada muito notável talvez, mas enquanto falava, era como se todas as páginas da vida de Londres nos últimos 50 anos fossem levemente folheadas para sua diversão. Havia muitas, e suas ilustrações eram vivas e brilhantes, e de pessoas famosas, mas mrs. Crowe de modo nenhum vivia no passado, de modo nenhum o exaltava acima do presente.

Na verdade, era sempre a última página, o momento presente que mais importava. O delicioso de Londres era que sempre dava ao indivíduo algo novo para observar, algo fresco sobre o que falar. Era preciso apenas manter os olhos abertos e sentar em sua própria poltrona das cinco às sete horas todos os dias da semana. Enquanto mrs. Crowe sentava-se com os convidados em torno de si, dava de tempos em tempos uma rápida olhadela de pássaro por sobre o ombro para a janela, como se tivesse meio olho na rua, meio ouvido para os carros e ônibus e os gritos dos jornaleiros lá fora. Ora, algo novo podia estar acontecendo naquele mesmo instante. Não se podia passar tempo demais no passado: não se devia dar uma atenção total ao presente.

Nada era mais característico e talvez um pouco desconcertante do que a ansiedade com a qual mrs. Crowe erguia os olhos e interrompia a frase no meio quando a porta sempre se abria e Maria, que se tornara muito corpulenta e um pouco surda, anunciava uma nova visita. Quem estaria prestes a entrar? O que teria a acrescenta à conversa? Mas sua habilidade em extrair fosse o que fosse que poderiam oferecer e sua destreza em atirar a notícia no cotidiano, eram tais que nenhum dano ocorria, e fazia parte de seu peculiar triunfo que a porta jamais se abrisse com demasiada frequência, o círculo nunca ultrapassava sua possibilidade de controle.

Assim, para conhecer Londres não apenas como um espetáculo deslumbrante, um mercado, uma corte, uma colmeia de indústria, mas como um lugar onde pessoas se encontram, conversam, riem, casam-se e morrem, pintam, escrevem e atuam, mandam e legislam, era essencial conhecer mrs. Crowe. Era em sua sala de estar que os inúmeros fragmentos da vasta metrópole pareciam juntar-se num todo animado, compreensível, divertido e agradável. Viajantes ausentes por anos, homens esgotados e ressecados pelo sol, recém-chegados da Índia ou da África, de remotas viagens e aventuras entre selvagens e tigres, iam direto para a casinha na rua quieta para serem conduzidos novamente ao coração da civilização numa única pernada. Mas nem a própria Londres podia manter mrs. Crowe viva para sempre. E é fato que um dia ela já não estava sentada na poltrona junto ao fogo quando o relógio bateu cinco horas. Maria não abriu a porta, mr. Graham separara-se do armário. Mrs. Crowe está morta, e Londres, embora Londres ainda exista, jamais será de novo a mesma cidade.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Amilton Maciel Monteiro (Poemas Escolhidos)


METAMORFOSE

Já não suporto mais essa antipática
fatoração de xis e de mais xis...
Já foi o tempo em que a tal Matemática
roubou-me as horas e me faz feliz!

Agora, só frequento a aula prática
que o Mestre Amor me dá, sem quadro ou giz, 
sem contas, sem cadernos, nem didática, 
e a horrível extração de uma raiz...

Há plena liberdade no ambiente 
de minha encantadora nova escola, 
onde só dois alunos dão “presente”:

Um, que sou eu, não muito exemplar, 
e outro é ela, e quem me passa a cola, 
pois que, em amor, é muito bom colar!
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SONHEI DE NOVO

Sonhei de novo com você, amor;
e agora o sonho foi mais belo ainda:
você dava seus beijos numa flor
e ela ficava cada vez mais linda!

A tudo eu espreitava com ardor
e fascinado na minha berlinda;
pedia então aos céus que, por favor,
aquela cena se tornasse infinda...

Que santa inveja, ó Deus, ali sentia
da flor que recebia os beijos seus,
pois os seus beijos são os sonhos meus...

Por isto, quando nesta vida, um dia,
um beijo seu por sorte eu receber,
com a emoção, receio, eu vou morrer!
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PRESENTE DE DEUS 

Pouco me importa que ela seja torta, 
ereta ou encurvada, qual espinha; 
quer seja muito esguia, ou até baixinha, 
mas seu conjunto todo é o que me importa!

Quer nasça na floresta ou na pracinha, 
no fundo de um quintal ou mesmo em horta, 
mas que ela cresça! E nunca seja morta 
só por maldade ou cupidez mesquinha!

Com flor e fruto ou mesmo só folhagem, 
para compor o verde da paisagem, 
construindo um abrigo para as aves!

A árvore tem por si tanta beleza, 
em seus diversos tons fortes e suaves,
que é um presente de Deus à Natureza!
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ESTRO DO AMOR

A rotina do campo me faz bem, 
mas a muitos, bem sei, que até faz mal;
é que eu prefiro a calma e outros, porém, 
escolhem se esbaldar em carnaval... 

Tenho a rede que aguenta o bom vai, vem
sonolento na sombra do beiral; 
nela fico um tempão... Não há ninguém
em casa para um papo cordial...

Passam por mim os pássaros em bando, 
brancas nuvens que mudam de lugar
com lentos urubus sobrevoando...

E nesse ramerrão, não busco a lida, 
tal um jeca-tatu, sempre a esperar...
que o estro do amor me traga para a vida!
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ADEUS À CASA PATERNA

Em casa, não se via a minha mãe chorar
perante os filhos seus, em circunstância alguma, 
por mais que ela enfrentasse o que esta vida arruma
para ferir os bons, buscando aprimorar...

Assim, cravou profundamente, igual verruma, 
meu jovem coração, que quase quis parar, 
aquela solitária vez que vi rolar,
dos olhos de mamãe, gotinhas, uma a uma... 

Seu pranto foi sereno, mas tão expressivo
que a mim mil coisas disse, no silente instante; 
lições que eu conservei por esta vida afora...

Que me ensinaram ser varão, mas afetivo
e me fizeram ver quanto é feliz bastante
levar o amor dos pais quando se vai embora!
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CASA DOS POETAS

Visito sempre a casa dos poetas, 
Pois lá me sinto bem a qualquer hora; 
É onde eu sempre encontro as mais seletas
Poesias de levar tristeza embora...

Na sala principal estão completas 
As obras de imortais e os de agora... 
Há versos mil de amor, canções diletas
A um coração que de saudade chora...

Um corredor de trovas me conduz
Às redondilhas numa sala enorme, 
Com muito belas odes e poemetos...

A tudo leio e tudo me traz luz 
Para eu fugir das mágoas, bem conforme
Às lições que eu aprendo nos sonetos!
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COMO EU QUISERA! 

Meus versos são retratos de minha alma, 
traçados à mão livre e sem esmero; 
e querem refletir o desespero 
de quem, sem o seu bem, procura calma...

Resultam, raras vezes, do exagero 
de fantasias que em meu peito ensalma, 
penalizadas por saber do trauma 
que vivencio após cada entrevero...

Que só fossem de amor... Como eu quisera!
Que cantassem apenas primavera, 
sem ter inverno, dores e tristezas...

Mas nada disso existe nesta vida!
nós temos que enfrentar as incertezas, 
se almejarmos a Terra Prometida!
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BOSQUE DA POESIA 

Eu vou passear no bosque da poesia;
quem quiser vir comigo, tem carona... 
Desejo me nutrir na boemia 
do universo que cria, e jamais clona...

Lá o gorjeio das aves arrepia
a nossa pele! E a gente se emociona
ao ouvir a cigarra, em nostalgia, 
soltar seu canto triste que impressiona!

E em meio do arvoredo é certo achar
flores e frutos doces como o mel
e borboletas lindas a bailar...

Quem ama planta versos em semente
e brotos de soneto, ou de um rondel, 
para que o bosque viva eternamente!
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CARTA DE AMOR  

Amor, eu felizmente estou bem de saúde. 
Só o que me estraga aqui é a louca da saudade...
Incrível nostalgia esmaga sem piedade
meu coração dorido, embora sem virtude. 

Mas a esperança é grande como a eternidade!
Você agora vindo, eu sei que meu ser rude
melhorará bastante, o tanto que não pude
fazer tão só e só com força de vontade. 

Daqui a poucos dias as horas serão calmas 
e nunca mais aflitas, como no passado...
pois estarão bem juntas nossas duas almas. 

Com toda a fé em Deus aguardo o casamento 
Que nos trará um mundo bem-aventurado!
E, até lá, um abraço e um beijo... em pensamento.
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CHORAR DE AMOR 

Chorar de amor! Oh! quem já de uma feita
jamais chorou, tal qual uma criança
que, após um susto, chora satisfeita
junto à mamãe que afaga sua trança...

Chorar de amor! Chorar por ver desfeita
a nuvem negra da desesperança...
Deixa chorar quem hoje se deleita
por ver que o seu sofrer virou bonança. 

Chorar assim de amor só vale a pena; 
é um banho muito refrescante na alma, 
e acaba com qualquer desilusão... 

Chorar de amor! Louvemos esta cena! 
Início bom de prodigiosa calma, 
que tanto bem nos faz ao coração!
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DOCE PRISÃO

Este vaivém do mar beijando a areia
bem se assemelha à nossa vida a dois:
Também o que nos ata é uma cadeia 
que solta... e prende bem, logo depois... 

Não cansa o sangue em seu volver na veia, 
nem eu por ser cativo seu só, pois
você não é prisão que me aperreia 
como a canga que enreda os mansos bois! 

Se para ficar livre eu for deixar 
a minha praia, ou minha artéria, o quê
além de desengano irei achar?

Prefiro ser cativo nesse ambiente
a que me acostumei, tendo você...
E ser feliz assim, eternamente!
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ENERGIA ESTRANHA

Qual torrente descida da montanha
em fúria impetuosa e desatina
e que, apesar de toda a sua sanha, 
não encontra ao final uma turbina...

É triste o assistir força tamanha
perder-se no alagado da campina...
Assim ocorre com a energia estranha
que rompe do meu peito e me alucina!

Tal vigor a que dão nome de amor
e que em meu coração é muito forte, 
quer, antes de morrer, servir a alguém;

Qual a enxurrada, quer se descompor
só após ter tido em vida melhor sorte...
Mas, para tanto, falta achar com quem!
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Folclore Japonês (Kintaro)

Kintaro é um herói do folclore japonês. Menino dotado de uma força prodigiosa crê-se que ele foi criado por uma feiticeira do Monte Ashigara. Kintaro tinha uma especial empatia com os animais da montanha, e mais tarde, depois de derrotar o demónio da floresta Shuten Doji, na região do Monte Oe, juntou-se às forças do Príncipe Minamoto-No-Yorimitsu, sob o novo nome de ‘Sakata Kintoke. É uma figura muito popular nos drama de Noh e Kabuki, e é um costume por um boneco de Kintaro no dia das crianças para que elas sejam fortes e corajosas como o tal. Kintaro tem a sua origem, provavelmente na pessoa de um homem real chamado Sakata Kintoki, que viveu no periodo Heian e provavelmente veio de uma cidade que hoje é a atual Minami-Ashigara, o qual serviu Minamoto-No-Yorimitsu e se tornou conhecido pelas suas proezas como guerreiro.

Lenda
Há várias histórias sobre a infância de Kintaro. Numa delas, ele foi criado por sua mãe, a princesa Yaegiri, filha de um homem rico chamado Shiman-Choja, na aldeia de Jizodo, perto do Monte Ashigara. Numa outra, sua mãe deu a luz onde é hoje a atual Sakata, de onde ela fora forçada a fugir devido à luta opondo o marido a seu tio. Então, ela finalmente se estabeleceu na floresta do Monte Ashigara para criar seu filho. A partir deste ponto a história se divide em duas versões, a mãe verdadeira de Kintaro o abandonou no mato ou ela morreu, e independente das duas versões ele foi encontrado pela feiticeira do monte e criado por ela. Outra versão diz que Kintaro foi criado por sua mãe, mas devido a aparência dela, foi apelidada de feiticeira do monte. Numa versão mais fantasiosa, a feiticeira do monte era a mãe verdadeira de Kintaro e ambos foram impregnados pelo trovão do Dragão Vermelho do Monte Ashigara.

Todas as lendas dizem que, apesar de ser uma criança, Kintaro era muito ativo e incansável, gordo e corado, vestindo apenas um babador com o kanji para “ouro” estampado. Seu único outro equipamento era uma machadinha. Como não havia outras crianças na floresta, Kintaro se afeiçoou aos animais do bosque. Era fenomenalmente forte, capaz de quebrar rochedos e arrancar árvores enraizadas. Os seus amigos animais serviam como mensageiros e montaria, algumas lendas dizem que ele até aprendeu a falar com os animais. Várias outras histórias contam que Kintaro lutava com demônios da montanha (Yokai), vencia ursos e ajudava os lenhadores locais a derrubar árvores. Já adulto, Kintaro trocou seu nome pelo de Sakata Kintoke. Foi pouco depois levado à presença de Minamoto-No-Yorimitsu, ao passar pela área ao redor do Monte Ooe. Impressionado com a enorme força de Kintaro, Minamoto o tomou como um membro de sua guarda pessoal e levou-o para Kyoto. Lá Kintoki estudou as Artes Marciais, eventualmente se tornando o chefe do Shiten’no, reconhecido por sua força e habilidades marciais. Ele finalmente voltou para sua mãe e levou-a para Kyoto junto com ele.