sábado, 3 de fevereiro de 2018

Jardim de Trovas n. 3

O comilão, na cozinha,
cai de boca na penosa...
- Quem manda ela ser galinha
e, além de tudo, gostosa?
A. A. de Assis
Maringá/PR

A minha sogra assanhada,
no barracão da Mangueira,
foi muito mais apalpada
do que laranja na feira!...
Ademar Macedo
Natal/RN

Exibe a mercadoria,
e enquanto o fiscal faz pausa,
rabisca na nota fria:
trambiqueiro em justa causa...
Alba Christina Campos Netto
São Paulo/SP

Preguiçoso, o "Zé Pijama",
tanta preguiça agasalha,
que a mulher só não reclama
porque o vizinho trabalha.
Aloisio Alves da Costa
Orós/CE

É tão roxa por novela
a mulher do Serafim,
que, se alguém chama por ela,
ela responde: Plim-Plim!
Ana Maria Motta
Nova Friburgo/RJ

Quando o peixeiro passava
com sua noiva faceira,
a vizinha comentava:
– Vai ter piranha na feira...
Antonio Juraci Siqueira
Belém/PA

É sovina a minha amiga:
se vai à feira gastar
não compra nem uma briga
sem primeiro pechinchar!
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG

Minha sogra sempre anota
meus atrasos num caderno:
- Se esta "coroa" empacota,
vai ser porteira do inferno!
Carlos Guimarães
Rio de Janeiro/RJ

Ouvindo a banda na praça
quis saber o Seu Manuel :
- De quem Maria da Graça
é o Bolero de Ravel ?
Célia Guimarães Santana
Sete Lagoas/MG

Santo Antonio, Santo Antonio,
às vezes você nos logra:
pedimos só matrimônio,
e lá vem... mulher e sogra!
Célio  Belmiro Grünewald
Juiz de Fora/MG

O Anedotário horroroso
que ele repete em torrente,
é do tempo em que o famoso
Mar Morto estava doente!
César Torraca
Rio de Janeiro/RJ

Na bolsa as vê, mas sequer
o esposo otário adivinha:
“Se eu nem uso isso, mulher,
pra que tanta camisinha?!”
Cleber Roberto de Oliveira
São João de Meriti/RJ

“Nossa! Que enorme chifrada!...
Conta, guri, como foi!” “
A minha até não foi nada;
da sua... pergunte ao boi...”
Dorothy Jansson Moretti
Sorocaba/SP

Foi um choque e muita mágoa
para quem te acreditou:
a tua barriga d'água
com nove meses chorou!
Edmar Japiassú Maia
Rio de Janeiro/RJ

- Esta pimenta é de cheiro?
Pergunta com azedume,
e o garçom fala ligeiro:
- Se não é... boto perfume!!!
Élbea Priscila de Souza e Silva
Caçapava/SP

Dizem que todo "baixinho"
tem mania de grandeza...
por isso, é que meu vizinho
só chama a mulher de... "Alteza"!
Hermoclydes S. Franco
Rio de Janeiro/RJ

A mulher do meu vizinho
faz a feira o mês inteiro,
sem sacola, sem carrinho,
sem vergonha e sem dinheiro...
Izo Goldman
São Paulo/SP

Vendo o marido a roncar,
grita, insistente, a Nair:
- Acorde, João, pra tomar
seu remédio pra dormir!
José Antonio de Freitas
Pitangui/MG

De susto, quase morreu:
- É fantasma - e não ladrão!
E quando a luz acendeu,
era a sogra num roupão!
José Reginaldo Portugal
Bandeirantes/PR

"Só pensa em sexo o Odilon,
diz ao juiz a esposa tensa.
- Minha senhora, isto é bom!
- Mas... seu juiz... ele só pensa...
Joubert de Araújo Silva
Rio de Janeiro/RJ

Clara disse: - Não te quero.
Mas disse tão docemente,
que eu notei: neste entrevero,
Clara mente, claramente!
Licínio Costa
Nova Iguaçu/RJ

O terapeuta sugere:
- “Apimente” a relação!
Mas a mulher interfere:
- “Tô fora! Pimenta não!
Lucília A. T. Decarli
Bandeirantes/PR

E se em tupi é “kiri”
e lá na Itália “bambino”,
no sul só falam “guri”:
diabruras de “menino’!
Luiz Carlos Abritta
Belo Horizonte/MG

Do Cornélio, aqui ao lado,
o viver é bem inglório:
até no nome o coitado
deixa ver o que é notório!...
Luiz Carvalho Rabelo
Natal/RN

Doces, massa, a todo instante,
tão redondo é o comilão,
que nem escada rolante
consegue sair do chão!
Maria Helena Calazans Duarte
São Paulo/SP

O cinquentão não se aguenta:
é calculista bebum,
e tão logo fez cinquenta,
já quer ter “ Cinquenta e Um” !!!
Marisa Rodrigues Fontalva
São Paulo/SP

- Três frangos, polenta e vinho
– pede um gordo comilão.
- Comes tudo isso sozinho?!?!
- Não, garçom, como com pão!
Marina Bruna
São Paulo/SP

Faxina pra lá de boa
ela faz por cinquentão:
limpa a casa da patroa
e a carteira do patrão.
Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba/SP

O sargentão linha dura
se deu mal nessa "parada":
pois perdeu a dentadura
no decote da cunhada!
Nádia S. Huguenin
Nova Friburgo/RJ

Com mania de grandeza,
a madame refinada
faz despacho, com destreza...
- mas com galinha importada!
Neuci da Cunha Gonçalves
São Bernardo do Campo/SP

Na preguiça é contumaz,
mora no morro, e só vendo:
na subida, anda pra trás,
e finge que está descendo!
Newton M. Azevedo
Pouso Alegre/MG

Zé preguiça pra informar
o banheiro pro Novais,
quando acabou de falar
já era tarde demais.
Pedro Viana Filho
Volta Redonda/RJ

Tem mania de sucesso
e afirma que tem talento,
pois seu diretor , possesso,
só diz: " Tá lento, tá lento!
Renata Paccola
São Paulo/SP

Muito egoísta e exigente,
de tudo tira partido...
- e sempre exige um presente,
nas ausências do marido!
Rodolpho Abbud
Nova Friburgo/RJ

Enquanto a banda tocava
numa praia de nudista,
a galera apreciava
o “perfil” de cada artista...
Ruth Farah N. Lutterback
Cantagalo/RJ

Se é verdadeiro que é o cão
maior amigo da gente,
amigo de comilão
deve ser “cachorro quente”!
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP

Vovó se afoga ... e, no cais,
com vovô tentando a cura,
o boca a boca foi mais
dentadura a dentadura.
Sérgio Bernardo
Nova Friburgo/RJ

Trambicando a todo instante
Jacó, na esmola, revolta:
pois, usando de um barbante,
puxa a moeda de volta!
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo/SP

Um cozinheiro ciumento
tacou pimenta na empada,
transformando o casamento
numa festa... só privada.
Walter Leme
Pindamonhangaba/SP

Tentando aparentar trinta,
o cinquentão se “ferrou”.
Comprou um estoque de tinta,
mas... o cabelo acabou.
Wandira Fagundes Queiroz
Curitiba/PR

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Isabel Furini (Recital Poético na Califórnia, dia 4 de fevereiro)

Burlingame Library
Em 04 de Fevereiro (domingo), a partir das 14 horas, será realizado um Recital Poético com trabalhos da poeta Isabel Furini na Biblioteca Pública de Burlingame, na Califórnia, Estados Unidos. Isabel, que é de nacionalidade argentina, radicada em Curitiba/PR, fará leitura de seus poemas em idioma espanhol e Barbara O`Dell e Monique Rojas farão leitura dos mesmos poemas em idioma inglês.

Barbara é americana, formada em Letras e fala fluentemente o idioma espanhol. Bárbara O`Dell e Monique Trinidad Rojas, farão a tradução para o inglês, com adaptação livre autorizada pela poeta.

Entre os poemas que serão lidos no evento estão alguns poemas de Isabel que foram premiados. Foram escolhidos para leitura O grito - 1º Lugar no Concurso Internacional Missões - Categoria Poesia, Rio Grande do Sul, Brasil, 2005 , Catarse - 2º Prêmio da Revista Katharsis, Espanha, 2009, Vinhedo - 3º Prêmio Concurso da Universidade Federal Fluminense – RJ, Brasil, 2011), Gestação Poética - 2º Prêmio Concurso ALEPON - Academia de Letras de Ponte Nova / Minas Gerais - 2013, Octopus - 1º Lugar, Prêmio Internacional de Escritores/Poetas - Coimbra, Portugal, 2015, e outros poemas.

A entrada é gratuita.

Isabel é escritora, poeta, palestrante  e educadora. Coeditora da Revista Carlos Zemek de Arte e Cultura; colunista do jornal digital Paraná Imprensa, mantém o blog Falando de Literatura no Bondenews. Foi colunista do jornal Gazeta do Povo de Curitiba e da revista virtual ZK 2 0 da Espanha.

Fonte:
A Autora


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Lucia Constantino (Um Sonho de Paz Somente)


Um sonho de paz somente,
além de toda ilusão.
Que o Mestre do Amor estivesse presente
para nos ratificar como irmãos.

Um sonho de paz somente,
que o pão não dormisse sobre a pedra
que a seiva não fosse o sangue
dos inocentes sobre a terra.

Um sonho de paz somente,
com asas de condor
que lá das grandes alturas
ascendesse o olhar do amor.

Um sonho que não tem ninho.
Um sonho que não tem mãos.
Apenas um sonho do eu divino,
no sono da imensidão.

Prof. Garcia (Reflexão em Trovas)

A solidão - dobra quando,
no fim da tarde, eu medito,
ao ver o Sol se apagando
na solidão do infinito!

Beijaste a flor ressequida
e a rosa mudou de cor;
teu beijo de amor, querida,
mudou a vida da flor!

De uma roseira, tão pobre,
que lindo gesto o da flor:
Perfuma a casa do nobre,
enche a do pobre de amor!

Em minhas preces pequenas,
faço um pedido, e afinal...
Quero apenas Pai, apenas,
ser feliz neste Natal!

Enquanto a noite se aninha,
a saudade me seduz
e a tarde, bela e sozinha,
enche os meus versos de luz!

Escravo, do teu assédio,
refém de tua ternura,
sofro, por não ter remédio,
para um mal que não tem cura!

Esse orgulho que te ronda,
que entulha o teu peito aflito;
impede que o amor responda
aos apelos do teu grito!

Hoje, eu despertei cantando,
molhando os pés no mormaço
das nuvens soltas brincando
tecendo rendas no espaço!

Lembranças, são pergaminhos,
onde o tempo, por maldade,
vai rabiscando os caminhos
dos perfis da mocidade!

Mãe! um temor me assedia,
nesta idade que me alcança:
É o de esquecer, que algum dia,
em teus braços fui criança!

Não temo o tempo que avança!
Envelhecer, na verdade...
É voltar a ser criança
no fim da terceira idade!

O cego percebe o filho,
pelo cheiro do suor!...
Por trás, desse olhar, sem brilho,
brilha um olhar, muito maior!

O poeta encontra meios,
de às vezes, mesmo sozinho...
Ser feliz, sem ter receios
da solidão do seu ninho!

Por descartar teus conselhos,
mas por teu beijo roubado...
Beijo os teus lábios vermelhos
no guardanapo encharcado!

Por mais que outro alguém te ofenda,
mantém firme a compostura,
que a mão, do tempo, remenda
a cicatriz da amargura!

Quando a tarde me entristece,
roubando a luz da razão,
pinta no ocaso uma prece
com versos de solidão!

Rondando o circo do sonho,
num suspiro derradeiro,
velho, o palhaço tristonho,
diz adeus ao picadeiro!

Semeia filho, a semente
do amor, que te dei um dia!...
Que um neto meu, certamente,
há de colher alegria!

Se o remorso, se agasalha,
num coração descontente...
Sem gume, é velha navalha
cortando o peito da gente!

Somos pobres passarinhos,
que a vida, em seus rituais,
dá-nos os mesmos caminhos
com destinos desiguais!

Tempo!... Ó tu, que me devoras,
não sejas ingrato assim!...
Se és tu, meu pastor das horas,
prendas as horas por mim!

Um sabiá, na janela,
toda tarde canta um hino,
regendo a canção mais bela
das tardes do meu destino!

domingo, 31 de dezembro de 2017

Gérson César Souza (Trovas Siderais)


Quando a nuvem de um perigo
tapa o Sol de minha estrada
sempre surge um grande amigo
para ser luz na jornada!!!

Deus, que semeia o Sagrado,
para manter nossa crença,
criou um céu estrelado,
sinal de Sua presença!

Piscando na imensidão,
me sinto feliz ao vê-las:
Mesmo tendo os pés no chão,
minha alma respira estrelas!!!

Quem crê num mundo perfeito,
quem não desiste, por nada,
traz um Sol dentro do peito
a iluminar sua estrada!

A idade chegou, e a gente
descobriu que um grande amor
pode virar Sol poente,
mas jamais perde o calor!!!

Sentindo esta ausência tua
toda noite me parece
solidão de um céu sem Lua
que cada estrela entristece...

Como o amor não tem barreiras
as estrelas, tão amadas,
são as minhas companheiras
para o frio das madrugadas.

Astronauta da saudade
viajo pelos espaços,
mas não venço a gravidade
que me prende nos teus braços...

Nossos olhos se encontrando
e as estrelas, ao piscar,
só cintilam suspirando
de inveja do teu olhar.

No final da noite fria
quando, aos poucos, amanhece,
no teu beijo de “bom dia”
encontro o Sol que me aquece.

Somos estrelas perdidas
que o destino fez amantes,
mas colocou nossas vidas,
em constelações distantes...

Ao ver a noite estrelada
contemplo o Universo, mudo,
e entendo que não sou nada,
mas tendo o céu, tenho tudo!

Este Universo, imponente,
de estrelas e escuridão,
pode não caber na gente
mas vive em meu coração.

A Humanidade semeia
guerras e embates perversos
sem notar que é um grão de areia
num mar de mil universos.

Ao ver a estrela cadente
pedi, no mesmo segundo,
que a paz nascesse da gente
e transformasse esse mundo!

Fonte:
SOUZA, Gerson Cesar. Dond Diversos. Porto Alegre/RS: Texto Certo, 2012.

Nilto Maciel (A Reunião)

Os homens se acomodaram ao redor da grande mesa. Falavam baixo, cochichavam, mãos postas sobre a tábua ou os papéis. Que notícia traria o Presidente? Teria alguma relação com a morte do vereador de Sapoapé? Não, Sapoapé não – Cipoaté. Ou com o nascimento do cabrito com duas cabeças? Possivelmente não. Aquilo interessava muito mais aos biólogos do que aos políticos. Um ou outro alisava garrafinhas com água e copos. A luz das lâmpadas no teto não provocava sombras. Súbito a grande porta se abriu e por ela entrou o Presidente, boca cheia de sorrisos e bons-dias. Os ministros se levantaram de uma vez, como se tomados de repentino susto. Estrépito de cadeiras arrastadas no chão. O coro de vozes roucas retribuiu a saudação. A autoridade maior se sentou e, com um aceno, autorizou o sentar-se de seus auxiliares. Olhos fitos no rosto do comandante, os homens nem sequer piscavam, paralisados, imóveis, inertes. O que diria o chefão? Sapoapé, Cipoaté, cabrito, vereador? Olhar vidrado, ele engolia palavras, sem mastigar. Um ou outro ministro cruzava as mãos suadas. Nenhuma sombra se mexia sobre a mesa, nas paredes, no chão. E nada de o mandachuva abrir a boca. Ao longe, garçons cochilavam, surdos e mudos. A ponta do sapato de um cupincha encontrou a ponta do sapato de outro cupincha à sua frente. Arregalaram os olhos. Qual o significado daquilo? Estaria ficando louco? Retirasse o pé dali, imediatamente. Deixasse de gracinhas. Alguém ousou levar as mãos a um copo. Reprimenda geral, com os olhos. Não fizesse aquilo. Deixasse a autoridade se servir primeiro. O silêncio fazia ouvirem-se os mais remotos e insignificantes ruídos: na boca de um, nos lábios de outro, a respiração de fulano. Olhares se cruzavam de ponta a ponta. O do vizinho à esquerda do chefe fulminava o sétimo à direita dele. O terceiro à direita piscou discretamente para o quinto da coluna frontal ao frontispício central. Por que o homem não falava nada? Teria perdido a fala? Estaria dormindo? Seria sonâmbulo? Teria enlouquecido? E se o interpelassem? Quem o faria? Não, ninguém ousaria interromper o sono do Presidente.

A mim cabia somente filmar a reunião. E também nada dizer ou perguntar.

Fonte:
Nilto Maciel. A Leste da Morte.