segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Alma Gort (Poemas Escolhidos)


A FORTALEZA DO AMOR

Caminhei nas esquinas da existência,
Na incansável busca a procurar abrigo,
Em todas as razoes da minha consciência,
Só no amor eu encontrei sentido.

Batalhei entregando me ao empenho,
De conseguir meu espaço nesta guerra,
Foram minhas historias nesta terra,
Que ficaram nas lembranças que eu tenho.

De tudo que vivi fui recordando,
Dos amores, vida, paixões, o pão e água,
Lembrei também dos que causaram mágoa!

Hoje eu  sei de todo estes momentos,
Pois a minha alma  de fortaleza pura,
E lá, onde guardei meu sentimentos.

O VELHO VINHO

Vou navegando ao mar deste momento,
E em ondas vagas de um azul celeste,
Nas noites claras deste amor agreste,
Vou deleitando nele os sentimentos.

Num turbilhão de ternura e de cores
Sou tragada pela minha incoerência,
Neste momento da minha existência,
E deste amor faço um buque de flores.

E como se vida em mim se reflorasse,
Numa primavera toda em multicores,
Ah! Se o tempo para mim parasse...

Degustando do velho vinho seu sabor,
Vivendo as alegrias ternas deste amor,
Eu viveria contigo nesta eternidade.

RAÍZES DO PERDÃO

Entre tapetes verdes e raios de sol,
Suaves pensamentos de esperança,
São flores em primavera quente,
Dentro deste coração que canta.

Sei que passos perdidos do passado,
Já não partem destes meus momentos,
Abandonei o arcanjo do tormento,
Que me causava tanto sofrimento

Outra vida de maduro envolvimento,
Estou seguindo na estrada certa
E apaguei meu passado certamente

Das verdades muí claras vou fadada,
Certa estou realmente da estrada
Que me leva a vida novamente.

ESFINGES SAGRADAS

Esfinges sagradas no filme da mente!
Vejo rostos e fatos , os vejo fielmente,
Daqueles que amei e que se foram,
No peito estão, recordações ardentes.


Guardo em mar de lagrimas docemente,
O lado profundo destes corações ,
O baú dos tesouros das recordações,
Daqueles que me amaram fielmente.

Diálogos simples, gestos de carinhos,
Ensinamentos, afetos do meu ninho,
Que me ensinaram neste meu caminho.

Vejo meus pais, irmãos, pessoas em comoção,
Parentes que se foram, deixando esta trilha
Para que um dia , eu siga a mesma direção.

ÍSIS

Hoje eu quero cantar-te em poesia,
Vou te ver, vou amar como eu queria,
Nesta doce e primeira alegria,
Em que estais enchendo a minha vida.

Que venham rosas , e jardins floridos,
Que tragas alegria a meus sorrisos,
Que tu sejas pasto destes meus amores,
Brincarei e rirei em céu de multicores

Es mais que esperança , es uma espera,
Que contigo estivesse , quem me dera,
Eternamente vivendo o teu frescor,

Pois agora que vens toda em botão
Vais desabrochar neste meu coração,
As alegrias eternais de imenso amor.

A OUTRA METADE

Andei a procurar-te outra metade,
Nos quatro ventos te busquei oculto,
No mapa de meu coração astuto,
Te escondestes na ilha da minha alma.

E eu bravo guerreiro em punho a espada,
Lutei sozinho na roda da existência,
E tentei desvendar em minha vã ciência,
O tudo ou nada desta minha estada.

Vivendo as guerras deste desencanto,
Do último lamento de todo este pranto,
Entre o mero riso da incoerência.

Coração solitário e envergonhado,
Se entregou, cansado de desesperança,
Me deixará partir sem ter te encontrado.

A SAUDADE

Um rasgo, um coração em desespero,
A ânsia de desconsolado apelo,
E a dor expõe em soluçar ou grito
Deixando o pranto acalentar o gemido.

Já que teu riso foi, não há anelo,
Teus desejos e paixões dormindo,
Em teu lugar a solidão sem ninho,
Anda vagando nesta longa espera.

É o teu dia que esta se indo
E esta noite vem o céu cobrindo
Do negro manto da tua saudade

Talvez o tempo tenha piedade
E de ainda o pouco do carinho
Das lembranças deste teu passado.

Estante de Livros (Canadá: Anne Shirley ou Anne de Green Gables)

É um romance da escritora canadense L. M. Montgomery, publicado em 1908. Foi escrito como ficção para leitores de todas as idades, mas nas últimas décadas tem sido considerado principalmente um livro infantil. Sua história narra o crescimento e as aventuras de Anne Shirley, uma menina órfã enviada para uma fazenda na Ilha do Príncipe Eduardo.

Desde sua publicação, Anne of Green Gables já vendeu mais de cinquenta milhões de cópias e foi traduzido para 20 línguas. Continuações numerosas foram escritas por Montgomery. A obra também foi adaptada para o cinema e a televisão, desenhos animados e séries televisivas. Peças e musicais foram criados, com turnês pelo Canadá, Estados Unidos, Europa e Japão.

Montgomery inspirou-se em anotações que tinha feito quando jovem, sobre um casal que recebeu uma garota órfã em vez do menino que tinham pedido mas que ainda assim haviam decidido ficar com ela, e em suas próprias experiências de infância na rural Ilha do Príncipe Eduardo. Montgomery usou uma foto de Evelyn Nesbit como modelo para o rosto de Anne Shirley.

Marilla e Matthew Cuthbert, irmãos solteiros que vivem na fictícia comunidade de Avonlea na Ilha do Príncipe Eduardo, decidem adotar um menino para ajudá-los com a fazenda de Green Gables. Por causa de um malentendido, a órfã Anne Shirley é mandada, após ter passado a infância em orfanatos e casas de estranhos. Anne é descrita como esperta, extrovertida, e muito imaginativa. Inicialmente, Marilla diz que a garota voltará ao orfanato, mas acaba resolvendo que ela deve ficar.

O livro conta as aventuras de Anne em um novo lar: o ambiente escolar em que ela rapidamente passa a ser dar bem nos estudos; a amizade com Diana Barry; suas ambições literárias; e sua rivalidade com o colega de classe Gilbert Blythe, que faz piada com o cabelo ruivo de Anne. Acontecimentos também incluem brincadeiras com as amigas (Diana, Jane Andrews e Ruby Gillis), seus confrontos com as desagradáveis irmãs Pye, e acidentes domésticos, como a vez em que tinge o cabelo de verde. 

Aos quinze anos, Anne vai para a Queen’s Academy a fim de conseguir uma licença de professora. Ela a obtém em um ano em vez dos costumeiros dois, e ganha uma bolsa de estudos por ser a melhor aluna de Inglês. A bolsa permitiria que ela se graduasse na faculdade de Redmond. Matthew sofre um ataque cardíaco fatal ao descobrir que todo o dinheiro dele e de Marilla foi perdido na falência de seu banco. Anne desiste da bolsa de estudos em favor de ajudar Marilla, cuja vista está piorando. Anne planeja dar aulas na escola de Carmody, a mais próxima com vagas disponíveis, e voltar para Green Gables nos fins de semana. Gilbert Blythe desiste de sua posição de professor na escola de Avonlea para que Anne possa ocupá-la, sabendo que ela quer permanecer perto de casa. O ato de gentileza cimenta a amizade Anne e Gilbert.

Foi publicado originalmente em Boston, nos Estados Unidos, em abril de 1908 pela editora L.C. Page. O livro foi um sucesso, vendendo dezenove mil cópias em cinco meses. Apesar da nacionalidade de Montgomery, a primeira edição canadense só apareceria 35 anos depois.

No Brasil, a primeira edição, chamada Anne Shirley, foi lançada em 1939 pela Companhia Editora Nacional como o 65º romance da Coleção Biblioteca das Moças, posteriormente a obra foi dividida em dois volumes e relançada no ano de 1956. Em 2009, foi lançado pela editora Martins Fontes com o nome Anne de Green Gables. E em 2015, pela editora Pedrazul, também levando o título Anne de Green Gables. Em Portugal, com o título Anne e a sua aldeia, o livro foi publicado em 1972, pela editora Civilização.

O sucesso inicial de Anne of Green Gables levou Montgomery a escrever continuações para a obra. Com exceção do primeiro, nenhum foi editado em língua portuguesa. Before Green Gables (2008), foi escrita por Budge Wilson, com autorização dos herdeiros de L. M. Montgomery.

A província da Ilha do Príncipe Eduardo possui instalações turísticas que põem em evidência ligações locais com os romances de Montgomery. O turismo movido pelos fãs de Anne é uma parte importante da economia da região, com comerciantes oferecendo itens relacionados aos livros.

A fazenda Green Gables realmente existe e está localizada em Cavendish, uma área rural do condado de Queens County, no centro da Ilha do Príncipe Eduardo. Muitas atrações turísticas na Ilha foram desenvolvidas com base em Anne, e, no passado, placas rurais já mostraram a sua imagem. Balsam Hollow, a floresta que inspirou Haunted Woods, e Campbell Pond, a massa de água que inspirou o Lago de Shining Waters, ambos descritos no livro, estão localizados nas proximidades. Além disso, o centro cultural canadense Confederation Centre of the Arts tem apresentado o musical Anne of Green Gables em seu palco principal a cada verão nos últimos 48 anos.

O romance também tornou-se extremamente popular no Japão, onde Anne Shirley é reverenciada como um "ícone”. Casais japoneses viajam para a Ilha do Príncipe Eduardo para terem cerimônias de casamento civil no terreno da fazenda Green Gables. Algumas meninas japonesas, inclusive, chegam com o cabelo trançado e tingido de vermelho, de forma a se parecerem com Anne.

O parque temático de Avonlea, próximo de Cavendish, e a loja Cavendish Figurines possuem enfeites para que turistas possam se vestir como personagens do livro a fim de posarem para fotos. Lojas de suvenir por toda a Ilha oferecem numerosos alimentos e produtos baseados em detalhes dos romances. São comuns chapéus de palha femininos costurados com tranças vermelhas, assim como garrafas de refrigerante de framboesa.

Em 15 de maio de 1975, o Canada Post lançou o selo “Lucy Maud Montgomery, Anne of Green Gables”.

Filmes
• 1919: Anne of Green Gables – filme mudo adaptado para as telas por Frances Marion, dirigido por William Desmond Taylor e estrelando Mary Miles Minter no papel principal. Considerado um filme perdido.

• 1934: Anne of Green Gables – dirigido por George Nichols Jr., o filme em preto e branco estrelava Dawn O'Day como Anne Shirley. Após a filmagem, O'Day decidiu mudar seu nome artístico para Anne Shirley.

• 1940: Anne of Windy Poplars – dirigido por Jack Hively, mais um filme em preto e branco com Dawn O'Day (agora “Anne Shirley”).

Filmes para televisão

• 1956: Anne of Green Gables – versão dirigida por Norman Campbell, estrelando Toby Tarnow como Anne. Tarnow foi a primeira Anne musical.

• 1957: Anne de Green Gables – versão francocanadense, dirigida por Jacques Gauthier, com Mirelle Lachance no papel de Anne.

• 1958: Anne of Green Gables – recriação do filme de 1956, dirigida por Don Harron e estrelando Kathy Willard.

• 1972: Anne of Green Gables – minissérie britânica em cinco partes, dirigida por Joan Craft, e Kim Braden no papel de Anne.

• 1975: Anne of Avonlea – continuação da versão de 1972, mantendo Craft e Braden em suas posições.

• 1985: Anne of Green Gables – minissérie canadense de duas partes, dirigida por Kevin Sullivan, estrelando Megan Follows.

• 1987: Anne of Green Gables: The Sequel – continuação da versão de 1985, mantendo Sullivan e Follows em suas posições.

• 2000: Anne of Green Gables: The Continuing Story – continuação da versão de 1987, mantendo Sullivan e Follow em suas posições. Apenas vagamente baseado nos livros.

• 2005: Anne: Journey to Green Gables – versão animada produzida pela Sullivan Entertainment, prequela de Anne of Green Gables: The Animated Series.

• 2008: Anne of Green Gables: A New Beginning – versão dirigida por Kevin Sullivan, e não diretamente baseada nos livros.

• 2010: Akage no An: Road to Green Gables – compilação animada dos primeiros seis episódios de Akage no An (1979).

Séries de televisão

• 1952: Anne of Green Gables – série da BBC estrelando Carole Lorimer como Anne.

• 1979: Akage no An – série animada, parte do World Masterpiece Theater da Nippon Animation, dirigida por Isao Takahata.

• 1990–1996: Road to Avonlea – série produzida por Kevin Sullivan, baseada em personagens e acontecimentos de vários livros de L. M. Montgomery.

• 2000: Anne of Green Gables: The Animated Series – série animada da PBS para crianças de oito a doze anos, criada pela Sullivan Entertainment.

• 2009: Kon'nichiwa Anne: Before Green Gables – parte do World Masterpiece Theater, baseado na prequela Before Green Gables de Budge Wilson.

Fonte: 

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Contos do Oriente (O Jovem Mestre de Confúcio)

Confúcio estava muito cansado de ler e decidiu descansar um pouco. Mas o que fazer? Mesmo quando descansava, ele queria fazer alguma coisa. Resolveu então sair num carro de búfalo para ir até o Monte Jing. Enquanto os búfalos negros avançavam pela estrada, ele admirava a primavera que tinha chegado. E pouco depois, ele avistou a montanha, com um colar de neblina. Confúcio ficou muito contente. Ele tinha certeza de que do alto poderia avistar todo a planície, até se perder de vista, com a crista das colinas perfiladas mais adiante, uma depois da outra, até o horizonte.

Estava tão distraído que nem percebeu um menino fazendo barro com um balde de água, para erguer uma muralha de brinquedo no meio da estrada. Confúcio achou muito estranho, pois não tinha passado por nenhuma casa por perto. Mas não se importou. A casa onde o menino morava podia estar entre as árvores. Ele ergueu o braço e deu um grito para que os búfalos avançassem, achando que o som de sua voz serviria também para alertar o menino, pois, afinal de contas, o meio da estrada não é o melhor lugar para se brincar.

O menino que construía a miniatura da muralha virou a cabeça, avistou os búfalos puxando a carroça e depois o condutor. Em seguida, pegou mais um pouco de barro e completou a edificação, sentando-se atrás dela, como se assim estivesse protegido. Confúcio ficou bravo:

- Ei, não vê que estou passando? Sai do caminho, quero chegar logo ao Monte Jing

O menino caiu na risada:

- É o carro de búfalo que tem de contornar a muralha. Onde já se viu uma muralha sair do lugar para dar passagem a um carro de búfalo, de boi ou outro qualquer!

Ouvindo isso, Confúcio teve duas reações. A primeira, de raiva. Que falta de respeito com os mais velhos! E também de admiração: o menino tinha dado uma boa resposta. Então contornou a muralha - para isso teve de entrar no mato - e parou ao lado do menino. Perguntou quantos anos ele tinha:

-Sete – foi a resposta.

- Só sete? Apesar de sete, me deu há pouco uma boa resposta. Qual é o seu nome?

- Não tenho nome nenhum.

Confúcio olhou bem para o menino e pensou, ele é inteligente, mas agora vai se ver comigo. Pensou isso porque Confúcio gostava também de brincar, só que com palavras e idéias. E queria saber até onde uma criança de sete anos conseguiria acompanhá-lo nesse jogo.

- Sem Nome, me diz uma coisa: conhece montanha sem pedra? Pé sem dedo? Céu sem passarinho? Água sem peixe? Porta que não fecha? Égua sem potrinho? E fogo sem fumaça, conhece? Conhece homem sem mulher? Mulher sem marido? Macho sem fêmea? Árvore sem galho? Cidade sem governo? Gente sem nome?

Ele disse, bem devagar, como se mastigasse as palavras. O menino ergueu a cabeça e respondeu, bem devagar, como se cuspisse a resposta:

- Uma montanha de terra não tem pedras. Pé-de-mesa não tem dedo. No céu da boca pássaro não voa. A água do poço é sem peixe. Porta sem batente não fecha e um cavalo de madeira não dá cria. Além disso, fogo-fátuo não solta fumaça. Imortal não tem mulher. Fada não tem marido. Solteiro vive sem mulher. Árvore seca não dá galhos. Uma cidade abandonada não tem prefeito. E menino, como eu, não tem nome.

Confúcio engoliu em seco. O menino tinha resposta para tudo:

- Você tem resposta para tudo. Vamos sair juntos pelo mundo, para que ele seja em tudo igual?

- O mundo não pode ser igualado. No alto, erguem-se as montanhas, embaixo, correm os rios e estende-se o mar. De um lado, uns governam, mas do outro, estão os governados. Por isso o mundo não pode ser igualado. Poderia ser mais igual, isso, sim!

- Se nós dois aplanássemos as montanhas, teria terra e rocha para encher o mar e os rios. Nós poderíamos também expulsar os que têm tudo e libertar os escravos. Nesse caso, o mundo seria igualizado.

- Se aplanássemos as montanhas, onde os animais se refugiariam? Se enchêssemos o mar e os rios, onde nadariam os peixes? E se expulsássemos os que têm tudo, quem iria lhe dar emprego? E se todos os escravos fossem libertados, por que continuariam a lhe pedir conselhos?

- Certo, certo – exclamou Confúcio – você consegue responder as questões mais complicadas, mas duvido de que seja capaz de responder as mais simples. O que é esquerda e direita?

- O Leste e o Oeste – respondeu o menino.

- O que é interior e o que é exterior?

- O Sul e o Norte – respondeu ele.

- Quem é o pai, a mãe, o marido e a esposa?

- O céu é o pai, a terra, a mãe, sol é o marido, a lua, esposa – disse o menino.

- De onde vêm as nuvens e a neblina?

Ele tinha a resposta na ponta da língua:

- As nuvens são vapores de água que sobem da terra e que voltam para a terra na gota de chuva, e a neblina sobe da terra, mas tem preguiça de chover.

- Quando o galo vira faisão? – perguntou Confúcio.

- Quando ele chega perto do brejo e da montanha.

- E quando o cão vira raposa?

- Quando ele chega perto das colinas e montes.

- Bom! – disse Confúcio - você não perde uma! Mas será que um menino de sete anos pode adivinhar isso aqui: a mulher está mais perto de seu marido que uma mãe de seu filho?

O menino riu novamente, como se achasse a pergunta muito fácil:

- A mãe está mais perto de seu filho que uma mulher, de seu marido.

- Ah, essa, não! – disse Confúcio – É o contrário. A mulher está mais perto de seu marido do que uma mãe de seu filho. E quer saber por quê? Porque durante sua vida a mulher e seu marido dormem juntos, na mesma cama, e cada um tem um travesseiro ao lado do outro. E quando morrem, estão lado a lado, nos seus túmulos.

- Quem perdeu foi o senhor - disse o menino – porque o que eu disse é certo, pois é o contrário do contrário: a mãe está mais perto de seu filho que uma mulher, de seu marido. E provo o que estou dizendo: a mãe é para o filho o que as raízes são para as árvores. Uma mulher é para o seu marido o que as rodas são para o carro. Quando a mãe morre, o filho é órfão para sempre. Que nem a árvore ao morrer: secam seus galhos e suas folhas. Mas se uma mulher morre, seu marido pode se casar com outra mulher e recuperar a alegria. Do mesmo jeito, um carro, quando perde as rodas, pode conseguir outras novas. Ou então, todo o carro pode ser novo. O senhor me desculpe, mas só um louco diria que uma mulher está mais perto de seu marido do que de seu filho.

Dessa vez, Confúcio pareceu confuso. O menino aproveitou a oportunidade e interrogou o mestre:

- Respondi todas as suas perguntas, agora, peço que responda as minhas. Como os gansos e os patos conseguem nadar? Como os grous e os gansos selvagens conseguem gritar? Como os pinheiros e os ciprestes conseguem ficar sempre verdes, tanto no verão como no inverno?

Confúcio respirou fundo. As perguntas eram fáceis. Superfáceis.

- Porque eles têm as patas espalmadas.

O menino balançou a cabeça:

- Não é uma boa razão. Primeiro, pata não pode ser espalmada, porque palma existe é na mão. E as tartarugas também nadam, e não têm as patas "espalmadas".

Pego de surpresa, Confúcio disse:

- Pois é... - mas se recuperou logo, passando para a pergunta seguinte: - Como têm um pescoço comprido, os grous e os gansos selvagens podem gritar.

O menino sacudiu a cabeça:

- Também não é uma boa resposta. As rãs também gritam e elas não têm pescoço comprido.

De novo Confúcio ficou mudo. E depois conseguiu dizer:

- Pois é... - e passou para a última pergunta – como têm um cerne duro, os pinheiros e os ciprestes ficam sempre verdes, tanto no verão como no inverno.

Mais uma vez o menino sacudiu a cabeça:

- O senhor nunca dá a boa razão ou a boa resposta: o bambu também fica sempre verde, no inverno e no verão, e ele nem cerne tem, pois é oco por dentro.

Confúcio, cada vez mais confuso, calou-se, enquanto o menino fazia as últimas perguntas que tinha para fazer:

- Quantas estrelas tem no céu?

Confúcio pareceu fugir da pergunta:

- Estamos falando da terra e não do céu.

- Certo, não vamos falar do céu. Quantas casas existem sobre a terra?

Confúcio ficou nervoso:

- Melhor não falar nem do céu nem da terra. Vamos falar das coisas que estão diante dos olhos.

O menino riu novamente:

- Ah, certo – disse – vamos falar das coisas que estão diante de nossos olhos: quantos pelos o senhor tem nas sobrancelhas?

Confúcio pareceu cansado e suspirou:

- Desisto, eu não consigo ganhar,nem fazendo perguntas, nem respondendo as que me faz. Acho agora que temos de temer uma criança. Você quer seu meu mestre?

O menino continuou a brincar em silêncio na estrada e não respondeu.

Fonte: 

Luci Collin (Poemas Escolhidos)


PLAY IT, SAM

Se não tinha lua
Se nua aquela cena toda
Se não teve flores
Se dores o que irrompeu
Se o vento levou
Até o último tango
Até o último trago
Até a última gota
Se não teve jura
Se você não veio

Não tinha
Não teve
Não veio

A gente não tem um amor
Pra se sentir triste
__________________ 

CONSPECTIVO

Consagração das ausências
na debandada dos verdes
nos ninhos desabitados

Até as visitas rareiam

Malogro das sementes
Desarrimo das mudas
Gorada das enxertias

Lenha que crepita
Chá e reminiscências

Olho pela janela:

do limoeiro, a coruja me fita impassível
                    - tem este junho divisado

Da paisagem
nenhum ocre que não seja
cumprir-se calmamente
a invernosa razão
dos existentes
__________________ 

 HUPÓNOIA

dos restos
eu fiz uma história
fui recolhendo folhas soltas
recuperei desperdícios
e fiz um rascunho brotar

dos risos
eu fiz uma história
fui recompondo esquecidos
rebatizei luz e escuros
e fiz a memória transbordar

de avessos
da minha aventura
vim segredar os contornos
expor silêncios que supuram
eu vim aos poucos confessar
: eu fiz a escolha dos loucos
fazendo valer da fala os ecos
no cumprimento das juras
eu fiz uma noite
voltar
__________________ 

ORA

Com aquele amor eu rascunhei eternidades
Plantei e colhi tresvarios
Ouvi os risos orvalhando
E então admiti todos os blefes

Com o outro eu rastreei recônditos
Comi e dormi sobre o linho
Ouvi as auroras partindo
E então reconheci os entretantos

Com este rebatizei absolutos
(Encontro das frases no estrelo)
E um indivisível se biparte
E aquilo não miscível se conjuga

A maçã que não se devia agora já foi
__________________ 

ESPÉCIE

vestido e tempo na caixa
só o relógio compreendeu o rigor dos pactos
as plantas do vaso não
o pó sobre os móveis não
as botas num canto não

e tudo fora de moda
vincos e adamascados
falar em silêncio
esperar pela conjuntura
regar imutáveis

acreditar naquele telefonema
é quase servir conhaque a fantasmas

até as escadas mentem
até o gelo no copo
a lâmina de rematado aço
deixa vazar árido murmúrio

rostos quedarão desconhecidos
depois de um tempo o entrevisto se firma

na lixeira a presença dura dos papéis rasgados
e por dentro um infinito de exclamações
__________________ 

O QUE CONTA

    na vida sabedoria
(que o contrário se prove)
    é sem qualquer teoria
         tirar dez
         naquela prova
                         dos nove
__________________ 

 ATENUANTE

entre as mentiras que invento
e aquelas que os sábios ensinam
as minhas

                 — preto no branco —
                são brancas 
                                     mentiras
         que, dando sorte,
                                   inda rimam
__________________ 

 DESSA FORMA

as palavras são flamas
milhas talvez
veios

um apelo denso
este assim imenso
que enfim se faz
escutar

contando a história dos dias
este exercício semelha
a trajetória do pêndulo
cumprindo a eterna aventura
de impresumível desfecho

                                      ora inicio
                                      ora meio
                                    ora extremo
__________________ 

ONÍMODO

dentro de mim
alguma coisa mais do que pulsa
dança
mais do que arde
ferve
mais do que soa
freme

mais do que muito
— completamente
mais do que às vezes
— sempre

insurge
bem mais do que sugere

sente

tanta coisa
desta alguma coisa

que nos maravilhe
sentir

          — sem encobrir coisa alguma
__________________ 

LOAS

               os pássaros
          que cantam á noite
peludos           e         obscuros
              são serenos
vadios           e           ¡nocentes 
             em sua lógica
             peluda e obscura

com ela vigiam a noite
mensuram a noite
regem
dominam

                    louvam

no escuro
cantar
o escuro

                              não bem com salmos 
                              mas com gritos
__________________ 

PASSADO A LIMPO

despregar
num lance definitivo
a máscara grudada ao rosto

retirar
a trava que nos encobre
o pálido vero da pele
quase que nos delindo
a estampa real do siso
(preço que enfim se paga
pelo emprestar-nos
                              o sorriso)

demover
o sarro a borra o limo o véu
mesmo que se revele
as manchas de umidade
no rosto deixado ao tempo
os rombos dos estilhaços
na estampa de papel fino

devassar
o falso da face e as suas vozes

o que sobrar é a verdade

mesmo que ali
as cicatrizes
__________________ 

DE MEU CANTO

Não fabrico o pranto            
  e não pranteio
      o ponto
que angario
que trabalho
      e não encontro
                           pronto.
Não chamo por chamas
      que vislumbro
sem grandes esforços;
           — Sereias cederam-me encanto,
                    e dele não morro;
                    apenas viverei
                                    em meu canto.

     Canto para o sempre
          e ainda
             depois dele;
                ajudo sereias
                       em seus cânticos.

                Entoo palavras belas
                          — verdadeiras.
                Da miséria,
                     lindos os desenhos,
                          se da verdade...

      Mas,   
             não tenho recursos
               que outros
                 deste curso caudaloso
                   em que me espio.

             Perdoem-me incisivos erros;

                Aceitem um meu desvario.
__________________ 

NOÇÃO 

não foi
          para ficar
deitado
          que te puseram
no mundo

não foi
          para ficar
no mundo
              que te fizeram
          deitado

puseram-te
                 inteiro
no me io
            de meio
            mundo

fizeram-te
               meio
no meio
            do mundo
            inteiro

  no fundo
     não foi no mundo
     onde te fizeram

                         foi apenas
                           onde a mão
                         deitou-se

                                        em pé
                                          no chão

Estante de Livros (Estados Unidos: A Maldição do Tigre)

Romance dos gêneros épico, aventura e mitologia hindu, escrito por Colleen Houck e é o primeiro livro de uma série. Publicado em mais 18 países, chegou a umas das melhores posições no The New York Times. Foi rejeitado por muitas editoras. A série conta: "A Maldição do Tigre", "O Resgate do Tigre", "A Viagem do Tigre" e "O Destino do Tigre" e "A Promessa do Tigre". 

Publicado originalmente pela Editora Splinter, e no Brasil pela Editora Arqueiro, da Editora Sextante, em 31 de outubro de 2011.

Sinopse
Kelsey Hayes perdeu os pais recentemente e precisa arranjar um emprego para custear a faculdade. Contratada por um circo, ela é arrebatada pela principal atração: um lindo tigre branco. Kelsey sente uma forte conexão com o misterioso animal de olhos azuis e, tocada por sua solidão, passa a maior parte do seu tempo livre ao lado dele. O que a jovem órfã ainda não sabe é que seu tigre Ren é na verdade Alagan Dhiren Rajaram, um príncipe indiano que foi amaldiçoado por um mago há mais de 300 anos, e que ela pode ser a única pessoa capaz de ajudá-lo a quebrar esse feitiço.

Determinada a devolver a Ren sua humanidade, Kelsey embarca em uma perigosa jornada pela Índia, onde enfrenta forças sombrias, criaturas imortais e mundos místicos, tentando decifrar uma antiga profecia. Ao mesmo tempo, se apaixona perdidamente tanto pelo tigre quanto pelo homem. Então, Kelsey, Ren e Kishan – o irmão de Ren – embarcam em uma emocionante aventura para derrotar Lokesh e devolver a humanidade dos príncipes tigres, com ajuda da deusa Durga

Personagens Principais

Kelsey Hayes
É uma jovem de 17 anos que, quando seus pais morrem em um acidente de carro, vai morar com outra família. Buscando um trabalho de verão para custear a faculdade, ela entra para um circo, onde desencadeia uma forte ligação pelo príncipe Dhiren, na sua forma como tigre branco, e decide ajudá-lo, assim como seu irmão, o príncipe Kishan, a livrarem-se da maldição colocada há mais de 350 anos.

Sr. Kadam
É o mestre de Ren e Kishan. Sempre está a auxiliar Kelsey, dando conselhos e ajuda quando ela mais precisa. Ele é bastante sábio e sempre cuidou dos príncipes ao passar dos séculos.

Alagan Dhiren Rajaram – Tigre Branco “Ren”
É um príncipe indiano com mais de 300 anos que foi amaldiçoado junto com seu irmão por um mago chamado Lokesh. Transformou-se em um tigre branco de olhos azuis cobalto. Antes da maldição estava destinado a casar com Yesubai, porém foi traído por seu irmão, que queria Yesubai para si.

Sohan Kishan Rajaram - Tigre Negro “Kishan”
É o irmão mais novo de Ren, que assume a forma de um tigre negro de olhos dourados. Ele se apaixona por Yesubai, a prometida de Ren, enquanto ele estava na guerra.

Durga
Deusa responsável por auxiliar os três em sua jornada, lhes dando ferramentas cruciais para sobreviver em cada situação imposta para que eles possam quebrar A Maldição do Tigre.

Lokesh
É o mago do mal que aprisiona os príncipes em forma de tigres. Ele também é imortal, e quer impedir a busca de Kelsey pela quebra da maldição, o que significaria o fim de seus poderes. Chega a ser baixo e manipulador para conseguir o que ele quer. Tem uma paixão insaciável por poder.

Yesubai
Filha de Lokesh, é a princesa indiana que estava prometida em casamento a Dhiren, contudo, se envolve emocionalmente com seu irmão Kishan. Ela realmente o amava, porém Lokesh pretende usar isso contra ela, enquanto Dhiren está na guerra. É morta por Lokesh. Descrita como miúda, batendo no ombro de Kishan, e o mesmo diz que ela era adorável e tinha incríveis olhos violetas, cabelos lisos e negros.
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Colleen Houck, a escritora da série, sempre sonhou em escrever uma série de romance. Ela estudou na Universidade de Arizona e trabalhou com intérprete para língua de sinais durante 17 anos. Colleen Houck nasceu em 03 de outubro de 1969, em Tucson, Arizona, Estados Unidos. Colleen é, antes de tudo, uma leitora assídua. Adora ação, aventura, ficção científica e romance. Seus livros favoritos incluem um pouco de cada um. Depois de obter um grau de associado da faculdade de Rick e transferência para a Universidade do Arizona, ela largou a escola para ir em uma missão da igreja onde acabou conhecendo o marido. Desde então, ela teve uma variedade de cargos, incluindo grupo de advocacia, gerente de cozinha chinesa, intérprete de linguagem, entre outros. Houck também se considera uma especialista na montagem de sanduíches Big Mac e Clássicos Big Bacon e, sim, o canal Food Network é sua estação favorita. Suas inspirações são Shakespeare, Stephenie Meyer, Chris Paolini, JK Rowling, Madeleine L, e outros. Seu gênero literário favorito para escrita é, portanto, ficção.

Colleen já viveu no Arizona, Idaho, Utah, Califórnia e Carolina do Norte e Salem, no Oregon com o marido e dois tigres, branco e preto, de pelúcia.

Bibliografia:
• A Maldição do Tigre; O Dom da Esperança (bônus de A Maldição do Tigre); O Resgate do Tigre; A Viagem do Tigre; O Destino do Tigre; A Promessa do Tigre; O Despertar do Príncipe; O Coração da Esfinge (lançamento); 

Fonte: