sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Estante de Livros (Luzia-Homem)

Luzia-Homem é um romance do escritor brasileiro Domingos Olímpio, publicado em 1903.

É um exemplo do Naturalismo regionalista. Passado no interior do Ceará, nos fins de 1878, durante uma grande seca, vai contando a história da retirante Luzia, mulher arredia, de grande força física (o apelido Luzia-Homem provém desta força que lhe permitia trabalhar melhor que homens fortes). 

Marcado pela fala característica dos personagens, Luzia-Homem mantém duas características clássicas do naturalismo por toda obra: o cientificismo na linguagem do narrador; e o determinismo, teoria de que o homem é definido pelo meio.

Luzia trabalha na construção de uma prisão e é desejada pelo soldado Capriúna. Mas Luzia não se interessa por amores e mantém uma relação de amizade e ajuda mútua com Alexandre.

Após Alexandre propor-lhe casamento (existe por toda a história a relutância de Luzia de admitir que gosta de Alexandre), este é preso por roubar o armazém do qual era guarda. Luzia passa visitar-lhe na prisão e sua amiga, a alegre Teresinha, para cuidar de sua mãe doente. Após um certo tempo, Luzia para de lhe visitar na prisão. Ao fim Teresinha descobre que Capriúna era o verdadeiro ladrão e uma das assistentes de Luzia (ela havia sido dispensada e depois voltara ao trabalho, mas como costureira) lhe falar que a testemunha contra Alexandre mentia, o culpado é preso.

A família de Teresinha aparece (ela havia fugido de casa com um amante que morreu meses depois) e ela, humilhada fica subserviente a eles, especialmente ao pai que a rejeita. Luzia descobre isto e, depois de um interlúdio, convence-a a viajar com ela, migrando para o litoral. No caminho Capriúna se liberta e vai ataca Teresinha, a culpada de sua prisão. Encontrando Luzia, mata-a e acaba caindo de um desfiladeiro. 

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

A importância desse romance reside no fato de ser ele um dos grandes romances regionais de um estilo de época que floresceu na segunda metade do século XIX: O naturalismo. Estilo marcado pela objetividade, concepção de amor baseado na atração sexual, com ênfase nas características negativas das personagens, o Naturalismo legou-nos romances em que é possível perceber a grande influência de Darwin e A Origem das Espécies: o meio ambiente condiciona todos os seres, deixando sobreviver apenas os mais fortes. Por isso, a natureza de todos os seres, inclusive a do homem, seria determinada por circunstâncias externas. A vida interior é reduzida a nada.

Em Luzia-Homem, tais pressupostos são nítidos, basta que o leitor observe a caracterização e trajetória das personagens. Luzia, por exemplo, está fadada a sucumbir, pois num jogo de forças com o vilão, de nada valeu sua força física, assim como não valeram seus bons sentimentos e até a doçura de alma escondida atrás de tantos músculos. Tornou-se, portanto, vítima da fatalidade das leis naturais, que a impediam de ter outro destino. A morte como desfecho vem coroar esse determinismo, pois é a única saída possível para a personagem. Não há a menor possibilidade, nos romances desse estilo, de ocorrer um acaso ou ‘‘milagre’’, comuns em romances românticos, em favor da personagem. 

Crapiúna, por sua vez, tem sua trajetória iniciada pelo interesse por Luzia, porém, um interesse que vai, aos poucos, se transformando em um caso patológico. Portanto, seu comportamento é coerente com sua obsessão e não há limites que o impeçam de realizar seu intento: ter Luzia a qualquer preço, não porque sentisse amor profundo, mas porque sua atração era sexual, cada vez mais atiçada pelas recusas da moça. Ele é, então, um personagem previsível, já que, pela lógica naturalista, seu destino também estava determinado. 

Em tudo, Domingos Olímpio foi fiel à tendência literária da época: a rudeza e brutalidade das cenas, a crueza dos episódios, o entrechoque dos instintos, a intensidade das forças desencadeadas. A cena final do romance é exemplo perfeito dessas características: a violência que Crapiúna usa contra Terezinha e Luzia é assustadora. A reação de Luzia é ainda mais assustadora: arranca com as unhas um dos olhos de Crapiúna e morre com aquele macabro troféu entre os dedos da mão direita enquanto que, sobre o peito, misturados ao sangue que jorrava, murchavam os cravos que lhe dera Alexandre. Mesmo não sendo o ponto máximo do Naturalismo, é, sem dúvida, um dos mais bem realizados romances brasileiros.

ANÁLISE DA OBRA, pela profa. Anna Cristina Torres

Publicado em 1903 e considerado um clássico do gênero Ciclo das Secas, da Literatura Nordestina, Luzia-Homem é um exemplo do Naturalismo regionalista. Marcado pela fala característica dos personagens, Luzia-Homem mantém duas características clássicas do Naturalismo por toda obra: o cientificismo na linguagem do narrador e o determinismo (teoria de que o homem é definido pelo meio). A obra também se vincula ao realismo sertanejo, - que alguns chamam de regionalismo - apresentando com tintas carregadas o flagelo da seca em sua região, ao mesmo tempo em que enfoca a força física e moral da sertaneja Luzia, criatura intermediária entre dois sexos, o corpo quase másculo numa alma feminina e que termina assassinada por um soldado quando se dispunha a amar ternamente outro homem. 

TEMÁTICA DA OBRA 

A obra tematiza a violência e o sadismo que florescem como literatura naturalista. Há nuances de Romantismo na morosidade da descrição das paisagens, onde a natureza, às vezes, é madrasta principalmente por causa da seca. Explora a duplicidade da personagem principal, ela é bonita, gentil e retirante da seca, mas também tem força descomunal. No romance, Luzia integra um grupo de retirantes, e sua figura forte e personalidade marcante logo atrai a atenção dos homens que disputam o seu amor. 

CRENDICES E SUPERSTIÇÕES

As personagens do romance são marcadas pelas crendices e superstições, santos, orações, rezas, promessas, novenas, o Lunário Perpétuo, são sempre mencionados. 

Como é o caso de Teresinha e Luzia que pagam 3 mil réis para que uma curandeira descubra o verdadeiro ladrão do armazém para que Alexandre possa ser libertado. Para isso, Luzia vende seus cabelos à mulher do promotor, que por bondade os compra por 5 mil réis, contanto que Luzia os mantenha em sua própria cabeça, cuidando sempre deles.

LINGUAGEM REGIONALISTA

A linguagem mescla o português padrão, culto na voz do narrador com as expressões regionalistas usadas pelas personagens do romance.

“É menas verdade, interrompeu Crapiúna”

ZOOMORFISMO e DESCRIÇÕES NEGATIVAS

Essa característica muito comum no Naturalismo em que as personagens são sempre aproximadas dos animais é bastante presente no romance. Bem como o enfoque de aspectos negativos das personagens e da paisagem.

“... esquálidas criaturas de aspecto horripilante, esqueletos automáticos, dentro de fantásticos trajes, rendilhados de trapos sórdidos, de uma sujidade nauseante, empapados de sangue purulento das ulceras, que lhes carcomiam a pele até descobrirem os ossos, nas articulações deformadas”.

“O formigueiro de retirantes”

TRAÇOS ROMÂNTICOS

Em alguns momentos as descrições mais belas e saudosistas remetem ao estilo romântico.

“Nessa evocação saudosa de um passado morto, ressurgiram as adoráveis peripécias da infância, os episódios da vida de adolescente na penumbra da puberdade, salteada pelas primeiras investidas dos instintos; as festas, os Sãos Gonçalos, os Bumba-meu-boi, as vaquejadas, as caçadas de avoantes nos bebedoiros, a colheita dos ovos que elas, abatendo-se em nuvens sobre as várzeas, punham aos milhões, junto dos seixos, das toiceiras de capim, ou nas barrocas feitas, durante o inverno, pelas patas do gado. 

PERSONAGENS

Luzia, a protagonista, é do tipo mulher masculinizada, de músculos fortes, mas de sensibilidade aguçada. É taciturna, solitária, boa, corajosa, firme de caráter, constituindo-se num "símbolo da mulher cearense, heroica na sua luta contra o flagelo da seca, da emigração e da prostituição - como interpretou Abelardo Montenegro". 

“Ela, animando Alexandre com a protetora carícia de um olhar inefável, voltou-se resoluta e calma para os circunstantes. Do desalinho das roupas, o lençol pendido do braço a arrastar pelo chão, o cabeção de renda emoldurando o seio nu e palpitante, as desgrenhadas madeixas a lhe caírem em ondulações fulvas de serpentes negras; dos olhos, do gesto e da voz, um concerto de convicção e firmeza, irradiava sobrenatural encanto, empolgando o auditório, subjugado pela esplêndida e fascinante exibição da força e da beleza, harmonizadas naquela admirável criatura.”

Crapiúna: mau soldado, excessivamente sensual e inconsciente. Obcecado por Luzia, faz de tudo para conquistá-la. 

Teresinha, frágil, loira, prostituída, vítima de terceiros, fugiu de casa com seu primeiro amor Cazuza, que em seguida morreu. Tornou-se então prostitua, viveu com outro homem, Seu Berto, depois abandonou-o fugindo com outro rapaz chamado Bentinho. Mas quando estava com Bentinho sentia saudade de Berto, até que Seu Berto a encontra, e numa luta com Bentinho, Berto é morto pelo rapaz. Arrependida, Teresinha esfria seu relacionamento, indo embora e voltando à prostituição. 

Alexandre, apaixonado por Luzia, homem de coragem, justo, generoso, trabalhador, acusado falsamente de roubar o armazém do povoado. 

Dona Josefina (Tia Zefa): mãe de Luzia, velha e entrevada, jogada numa cama, só se recupera mais ao final do romance, após tomar o medicamento receitado pelo médico, do qual ela sempre desconfiava. Sendo que atribuíra sua cura a rezas e santos.

Raulino: vaqueiro corajoso e de bom coração, amigo de Luzia-Homem. Eternamente agradecido a ela, pois a moça o salvara de um touro, quando o sertanejo domava e havia caído. Raulino também era exímio contador de causos. 

D. Matilde: esposa do promotor, generosa, compra os cabelos de Luzia para ajudá-la.

Gabrina: apaixonada e desprezada por Alexandre, se alia a Crapiúna para botá-lo na prisão. Para isso mente que recebera presentes de Alexandre. Depois de descoberta a farsa, é presa.

Quinota: menina esperta que é salva por Alexandre quando Crapiúna a perturbava. Amiga de Luzia, revela para a moça a armação de Crapiúna e Gabrina.

Chica Seridó: dona do prostíbulo.

Belota: soldado que fazia jogatinas em sua casa e é preso junto com Crapiúna, por incentivar jogo ilegal.

Rosa Veado: parteira, rezadeira e curandeira.

Sargento Carneviva: subdelegado, responsável pela prisão de Crapiúna e Belota.

Seu Marcos: pai de Teresinha, homem que já fora rico e que quando reencontra a filha não a perdoa por ter fugido e se tornado prostituta.

D. Clara e Maria da Graça: mãe e irmã de Teresinha, que quando a encontram choram de felicidade. 

Capitão Francisco Marçal: homem mais popular da terra, latifundiário, simpatizante de Luzia.

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Luzia-Homem
Análise da obra pela Profa. Anna Cristina Torres (Brasília), disponível em http://resumoliteral.blogspot.com.br/2009/12/domingos-olimpio-luzia-homem.html

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Contos do Oriente (O tigre arrependido de Zhaocheng)

Uma mulher muito idosa de Zhaocheng, com mais de 70 anos, vivia com seu filho único. Um dia, o filho estava andando numa montanha e foi devorado por um tigre. A mulher, cheia de dor, chorou durante vários dias e várias noites, e sofreu tanto que achou que iria morrer. Ainda chorosa procurou o juiz.

— Como pôr um tigre na cadeia e processá-lo?, perguntou o juiz, achando graça das exigências da mulher.

A mulher ficou mais furiosa ainda. O juiz tentou convencê-la, mas ela não queria escutá-lo. E continuou dizendo que ele precisava tomar providências contra o tigre. Cansado, o juiz pensou, pensou, e prometeu mandar prender o animal.

A velha ajoelhou-se aos seus pés. Recusou-se a deixar o tribunal enquanto ele não escrevesse num papel o mandado de prisão contra o tigre. Li Neng, um policial que naquele dia tinha bebido muito, falou que ele mesmo se encarregaria da prisão do tigre. Ouvindo isso, a mulher foi satisfeita para casa.

Logo que Li Neng ficou sóbrio, arrependeu-se. Mas ele disse para ele mesmo que o mandado de prisão era só uma astúcia do juiz para se ver livre do choro da mulher. Ele foi devolver o mandado ao juiz. E o juiz ficou muito zangado.

— Você prometeu prender o tigre. Deu a palavra e não pode voltar atrás.

Posto contra a parede, Li Ning implorou ao juiz que pelo menos lhe concedesse reforços para capturar o tigre. Seu pedido foi prontamente atendido.

Noite e dia, Li Neng e sua patrulha percorreram a montanha na esperança de encontrar o tigre. Em vão. No fim de um mês, sem resultado nenhum, o juiz ordenou que ele fosse açoitado cem vezes. Não sabendo mais o que fazer, ele foi a um santuário taoísta que havia no leste da cidade. Caindo de joelhos, implorou ao deus do lugar até perder a voz.

Foi nesse momento que o tigre apareceu. Li Neng reteve o fôlego, certo de que iria ser devorado. Mas o tigre passou a cabeça pela porta do pequeno templo e, olhando Li Neng bem nos nos olhos, sentou-se como se sentam os tigres.

Então Li Neng disse:

— Pô tigre! Se foi você que matou o filho dessa velha, me dá licença de te prender porque senão estou perdido.

E o policial, pegando uma corda, passou ao redor do pescoço do animal. O tigre baixou as orelhas e aceitou a corda em silêncio, e o policial o levou ao escritório do juiz. O juiz perguntou ao tigre.

— Foi você que comeu o filho dessa mulher?

O tigre disse que sim com a cabeça.

— Aqui, quem tira a vida de uma pessoa, deve morrer, disse o magistrado. É a lei, uma lei tão velha como o mundo. Além do mais, essa pobre mulher só tinha esse filho. Como ela vai conseguir sobreviver a partir de agora? Mas se você conseguir pegar o lugar do filho dela, para que não fique sozinha, suspendo sua sentença de morte.

De novo o tigre disse que sim com a cabeça. A corda então foi retirada e o animal saiu, enquanto a velha se lamentava, bem triste, que o juiz tinha libertado o culpado.

No dia seguinte pela manhã, logo que ela abriu a porta, descobriu um cabritinho morto na soleira. Ela pegou esse cabritinho e foi trocá-lo na cidade por diversos produtos. E no dia seguinte foi igual, e isso durou semanas e meses. Muitas vezes, em vez de caça, o tigre trazia na boca um corte de seda para um vestido ou algumas peças, sempre depositando diante da porta.

Assim a mulher acabou não passando dificuldades. Aliás, certas dificuldades por que passava eram facilmente resolvidas pelo tigre, o que não aconteceria se seu filho ainda estivesse vivo. Depois de algum tempo, o tigre começou até mesmo a se refestelar num puxado que ela tinha e a passar o tempo ali meio adormecido. Nem os animais nem as pessoas tinham mais medo dele.

Muito tempo depois, a mulher acabou morrendo e o tigre gemeu de um jeito tão triste diante da porta da casa, que partia o coração de quem o escutava. A mulher, antes de morrer, tinha feito muitas economias, para ter um funeral bem bonito e seus parentes se encarregaram de enterrá-la.

Logo que começou a ser lançada a terra na cova, o tigre inesperadamente pulou dentro, sem que ninguém esperasse. As pessoas em volta abriram espaço, com medo. Mas o tigre foi apenas se colocar diante do caixão e deu um rugido tão triste que todo mundo começou a chorar. Pouco depois o tigre foi embora.

Para esse tigre tão leal, as pessoas de Zhaocheng colocaram uma grande pedra, onde essa história é contada para quem quiser ler.


Olivaldo Júnior (Dama da noite)

Para Marcel Barbosa*

Tinha nascido homem. Vaguinho, como era chamado na infância, virou Violetta quando jovem. Sim, era um homem que se travestia de mulher. Não era drag queen, era um travesti. Podia ser a Geni do Chico Buarque, a Neguinha do Caetano Veloso, ou qualquer outra em que se atire as pedras do preconceito, tão ferrenho ainda hoje. Não conheci o Vaguinho da várzea, dos campos de areia e de bola, das horas e horas de farra infantil. Na verdade, não conheço Vaguinho. Vaguinho é um mistério. Nem mesmo ele se conhece. Aliás, quem é que se conhece? Quem é que pode dizer com toda a certeza do mundo o que é? Ninguém, ninguém pode. Pode-se dizer que vejo Vaguinho passar, dia após dia, rumo ao trabalho. É servente, ajudante, num asilo de velhos. Trata-os com todo o amor que as famílias de origem lhes negam. Os vovôs e as vovós não sabem que, quando sai, Vaguinho, sim, vira a dama da noite.

Ao chegar a casa, toma um banho, e, traço a traço, tinta a tinta, peça a peça, Violetta, sufocada o dia todo, vem à tona, volta ao mar. Não quer dos marinheiros uma noite. Quer a noite azul-marinho nos lábios, na pele, nos olhos que choraram pela surra que o pai lhe deu quando o pegou travestido na rua e o levou à polícia. E, em vez de servir de capacho para os presos, foi respeitado, ninguém tocou nele aquela noite. Sabiam que ele era trabalhador. Gostava de se vestir de mulher e sair sob a lua buscando seu sol, seu sonho de amor. Sonhar é para os fortes? Então ele era forte. Das pedras que lhe jogaram (perdoe-me pela frase feita) fizera um castelo, reduto dos sonhos que ele mesmo tecera com os fios da saudade que tinha... Do que mesmo que ele tinha saudade? Ah, do sorriso da mãe, que sorria gostoso, a risada sem som que inundava o Vaguinho menino, o Vaguinho sem susto das tardes da infância! Agora é noite.

Sozinho, não mora com ninguém, a não ser com o fantasma da mãe, que já se fora. Seu pai, quando o vê na rua, rosna feio para ele e maldiz sua pessoa. Soa mal em sua alma o quanto o pai detesta o filho, ele mesmo, por sinal. Sai da frente e vai-se embora, dobra esquinas que nunca dobrou, quando vê seu pai. Não quer que ele sinta vergonha de alguém que só quer mesmo ser a dama da noite, a estrela mais d'alva que já raiou. Porque Vaguinho, ou Violetta, não incomoda ninguém. Só quer ser alguém para ele mesmo, alguém que ele inventou e pôs o pé na realidade. Ah, o que é realidade, nesse mundo de "meu" Deus!... Não sei, sei apenas que Vaguinho já vem. De cima do salto, ouve um "Fora, viado!", "Olha o sem vergonha!", mas segue seu passo. Sonha com o colo que perdeu há muito tempo, e que, pelo andar da carruagem, chegará bem tarde. Chegará? Será que um dia ainda chegará? "Boa" noite.
_______________
* Marcel Barbosa, psicólogo, me escreveu um e-mail respondendo a um texto que enviei a ele anteriormente com o miniconto O velhinho. A partir de sua resposta, o Dama da noite nasceu. Obrigado, Marcel.

Fonte:
O Autor

Estante de Livros (Espanha: A praia dos afogados)

A praia dos afogados é um romance negro escrito por Domingo Villar, e publicado pela Editorial Galaxia em 2009. 

É protagonizado pelo inspetor de polícia Leo Caldas e é o segundo livro da série, depois da sua estreia com Olhos de água.

O livro foi dividido em oitenta e cinco capítulos. Os títulos destes capítulos são formados por uma única palavra, que se define no começo do texto.

O inspetor de polícia viguês Leo Caldas recebe uma chamada sobre um cadáver aparentemente afogado, na praia de Madorra, em Panxón. Acredita-se que é um suicídio, e o inspetor não dá muita importância, até que na autópsia aponta para um assassinato. Pouco a pouco vai-se descobrindo que a sua morte está relacionada com o naufrágio do pesqueiro Xurelo, ocorrido há doze anos atrás. O falecido Xusto Castelo, O Ruivo, tripulava o barco junto com os outros dois marinheiros e o patrão. O barco foi a pique perto da ilha de Sálvora, numa noite de temporal, e de um jeito estranho. No naufrágio falecera o capitão, enquanto os dois marinheiros sobreviventes vivem ainda em Panxón, mas não mantém relação entre si e guardam um fundo silêncio sobre o que
aconteceu.

Ao longo do livro vão-se encontrando outras pistas que confirmam que não foi um suicídio: a chalupa do falecido aparece no outro lado de Monteferro, longe do cadáver; o morto tem um golpe na nuca, possivelmente feito de propósito, mesmo com as gravações da câmara de segurança. Apesar da reticência dos marinheiros locais para falar sobre o que aconteceu, Leo Caldas tira um fio que leva ao desaparecimento de uma mulher em Aguiño, na mesma noite do naufrágio.

Paralelamente, Leo Caldas segue com seu programa de rádio Patrulha nas ondas, tendo também um papel importante, mesmo na resolução da trama, o seu pai, que está a cuidar do seu irmão Alberte, gravemente ferido no Hospital do Meixoeiro em Cabral, Vigo.

Em 2015 estreou a versão cinematográfica, A praia dos afogados.

Fonte: Wikipedia

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Comunicado aos Trovadores


Obs: Este procedimento é válido para todos os Concursos de Trovas, seja por email ou pelo sistema de envelopes.

Antonio Brás Constante (Os Jardineiros de Sábado II)

Os jardineiros de sábado são mais do que simplesmente pessoas limpando seus pátios. São membros individuais de uma confraria sem líder.  Homens determinados, que indiferentes ao tempo fazer chuva ou sol, usam de toda sua criatividade para não precisar executar a árdua tarefa de cuidar de seus quintais.

São habilidosos em desenvolver as mais esfarrapadas, porém convincentes, desculpas para isso. A ponto de suas esposas terem que apelar para uma atitude extrema: ou eles se mexem para arrumar o pátio, ou elas irão chamar o Fernandão (em alguns casos o Robertão, ou o Tonhão), que se encontra desempregado, para desempenhar esta função.

Isto acaba sendo o mesmo que um ultimato, pois nenhum homem gosta de ter seu território invadido por outro homem, principalmente se este terminar seu nome com um “ao” de “grandão”. Sendo assim, vencido pelas circunstâncias, segue enfim o valoroso pretenso jardineiro, rumo as suas obrigações.

Primeiramente verifica se dispõe de tudo que precisa: Enxada, garrafas de 600ml de cerveja, máquina de cortar grama, garrafinhas “long neck” de cerveja, luvas e latinhas de 300ml de cerveja. Não foi possível trazer o barrilzinho de chopp, pois sua esposa achou exagero de sua parte. Terá de contentar sua sede apenas com o que tem na mão, ou melhor, com o que tem dentro de sua inseparável caixa de isopor, cheia de gelo e recheada de deliciosas cervejas.

Lança um olhar de contemplação para seu gramado, antevendo as ervas daninhas que terá de arrancar, as pedras ali escondidas, prontas para serem descobertas pelas lâminas de sua máquina, que as arrancará e arremessara de encontro as suas desprotegidas canelas, e principalmente as formigas. Aqueles bichinhos minúsculos que por ali habitam.

Elas já devem estar pressentindo sua presença, esperando para poderem lhe atacar com unhas e dentes. Alias, você começa a imaginar se aquela história das crianças deixarem seus dentes de leite para a formiguinha carregar, não teriam um fundo de verdade. Onde as mesmas estariam desenvolvendo dentaduras com os dentes arrebanhados, utilizando-as para morder quem se aventure a cortar grama em seu território.

A ideia vai tomando forma em sua mente, mas é interrompida por sua esposa que consegue gritar mais algo que o som ensurdecedor de sua cortadora de grama. Dizendo aos berros que em sua distração você passou com a máquina por sobre o canteiro de rosas dela.

Após vários pedidos de desculpas e promessas de replantar as flores, pode finalmente continuar com seu trabalho.

O suor escorrendo de seu rosto. Os braços juntamente com sua barriga de cerveja empurrando a máquina sob o sol escaldante, e você pensando que talvez a idéia de chamar o Fernandão para cortar a grama não seja tão ruim assim, principalmente se você lambuzar o equipamento e as ferramentas com algum tipo de melado, deixando para ele uma calorosa e conhecida recepção de suas velhas amigas, as formigas.

Fonte: O Autor

Alma Gort (Poemas Escolhidos)


A FORTALEZA DO AMOR

Caminhei nas esquinas da existência,
Na incansável busca a procurar abrigo,
Em todas as razoes da minha consciência,
Só no amor eu encontrei sentido.

Batalhei entregando me ao empenho,
De conseguir meu espaço nesta guerra,
Foram minhas historias nesta terra,
Que ficaram nas lembranças que eu tenho.

De tudo que vivi fui recordando,
Dos amores, vida, paixões, o pão e água,
Lembrei também dos que causaram mágoa!

Hoje eu  sei de todo estes momentos,
Pois a minha alma  de fortaleza pura,
E lá, onde guardei meu sentimentos.

O VELHO VINHO

Vou navegando ao mar deste momento,
E em ondas vagas de um azul celeste,
Nas noites claras deste amor agreste,
Vou deleitando nele os sentimentos.

Num turbilhão de ternura e de cores
Sou tragada pela minha incoerência,
Neste momento da minha existência,
E deste amor faço um buque de flores.

E como se vida em mim se reflorasse,
Numa primavera toda em multicores,
Ah! Se o tempo para mim parasse...

Degustando do velho vinho seu sabor,
Vivendo as alegrias ternas deste amor,
Eu viveria contigo nesta eternidade.

RAÍZES DO PERDÃO

Entre tapetes verdes e raios de sol,
Suaves pensamentos de esperança,
São flores em primavera quente,
Dentro deste coração que canta.

Sei que passos perdidos do passado,
Já não partem destes meus momentos,
Abandonei o arcanjo do tormento,
Que me causava tanto sofrimento

Outra vida de maduro envolvimento,
Estou seguindo na estrada certa
E apaguei meu passado certamente

Das verdades muí claras vou fadada,
Certa estou realmente da estrada
Que me leva a vida novamente.

ESFINGES SAGRADAS

Esfinges sagradas no filme da mente!
Vejo rostos e fatos , os vejo fielmente,
Daqueles que amei e que se foram,
No peito estão, recordações ardentes.


Guardo em mar de lagrimas docemente,
O lado profundo destes corações ,
O baú dos tesouros das recordações,
Daqueles que me amaram fielmente.

Diálogos simples, gestos de carinhos,
Ensinamentos, afetos do meu ninho,
Que me ensinaram neste meu caminho.

Vejo meus pais, irmãos, pessoas em comoção,
Parentes que se foram, deixando esta trilha
Para que um dia , eu siga a mesma direção.

ÍSIS

Hoje eu quero cantar-te em poesia,
Vou te ver, vou amar como eu queria,
Nesta doce e primeira alegria,
Em que estais enchendo a minha vida.

Que venham rosas , e jardins floridos,
Que tragas alegria a meus sorrisos,
Que tu sejas pasto destes meus amores,
Brincarei e rirei em céu de multicores

Es mais que esperança , es uma espera,
Que contigo estivesse , quem me dera,
Eternamente vivendo o teu frescor,

Pois agora que vens toda em botão
Vais desabrochar neste meu coração,
As alegrias eternais de imenso amor.

A OUTRA METADE

Andei a procurar-te outra metade,
Nos quatro ventos te busquei oculto,
No mapa de meu coração astuto,
Te escondestes na ilha da minha alma.

E eu bravo guerreiro em punho a espada,
Lutei sozinho na roda da existência,
E tentei desvendar em minha vã ciência,
O tudo ou nada desta minha estada.

Vivendo as guerras deste desencanto,
Do último lamento de todo este pranto,
Entre o mero riso da incoerência.

Coração solitário e envergonhado,
Se entregou, cansado de desesperança,
Me deixará partir sem ter te encontrado.

A SAUDADE

Um rasgo, um coração em desespero,
A ânsia de desconsolado apelo,
E a dor expõe em soluçar ou grito
Deixando o pranto acalentar o gemido.

Já que teu riso foi, não há anelo,
Teus desejos e paixões dormindo,
Em teu lugar a solidão sem ninho,
Anda vagando nesta longa espera.

É o teu dia que esta se indo
E esta noite vem o céu cobrindo
Do negro manto da tua saudade

Talvez o tempo tenha piedade
E de ainda o pouco do carinho
Das lembranças deste teu passado.

Estante de Livros (Canadá: Anne Shirley ou Anne de Green Gables)

É um romance da escritora canadense L. M. Montgomery, publicado em 1908. Foi escrito como ficção para leitores de todas as idades, mas nas últimas décadas tem sido considerado principalmente um livro infantil. Sua história narra o crescimento e as aventuras de Anne Shirley, uma menina órfã enviada para uma fazenda na Ilha do Príncipe Eduardo.

Desde sua publicação, Anne of Green Gables já vendeu mais de cinquenta milhões de cópias e foi traduzido para 20 línguas. Continuações numerosas foram escritas por Montgomery. A obra também foi adaptada para o cinema e a televisão, desenhos animados e séries televisivas. Peças e musicais foram criados, com turnês pelo Canadá, Estados Unidos, Europa e Japão.

Montgomery inspirou-se em anotações que tinha feito quando jovem, sobre um casal que recebeu uma garota órfã em vez do menino que tinham pedido mas que ainda assim haviam decidido ficar com ela, e em suas próprias experiências de infância na rural Ilha do Príncipe Eduardo. Montgomery usou uma foto de Evelyn Nesbit como modelo para o rosto de Anne Shirley.

Marilla e Matthew Cuthbert, irmãos solteiros que vivem na fictícia comunidade de Avonlea na Ilha do Príncipe Eduardo, decidem adotar um menino para ajudá-los com a fazenda de Green Gables. Por causa de um malentendido, a órfã Anne Shirley é mandada, após ter passado a infância em orfanatos e casas de estranhos. Anne é descrita como esperta, extrovertida, e muito imaginativa. Inicialmente, Marilla diz que a garota voltará ao orfanato, mas acaba resolvendo que ela deve ficar.

O livro conta as aventuras de Anne em um novo lar: o ambiente escolar em que ela rapidamente passa a ser dar bem nos estudos; a amizade com Diana Barry; suas ambições literárias; e sua rivalidade com o colega de classe Gilbert Blythe, que faz piada com o cabelo ruivo de Anne. Acontecimentos também incluem brincadeiras com as amigas (Diana, Jane Andrews e Ruby Gillis), seus confrontos com as desagradáveis irmãs Pye, e acidentes domésticos, como a vez em que tinge o cabelo de verde. 

Aos quinze anos, Anne vai para a Queen’s Academy a fim de conseguir uma licença de professora. Ela a obtém em um ano em vez dos costumeiros dois, e ganha uma bolsa de estudos por ser a melhor aluna de Inglês. A bolsa permitiria que ela se graduasse na faculdade de Redmond. Matthew sofre um ataque cardíaco fatal ao descobrir que todo o dinheiro dele e de Marilla foi perdido na falência de seu banco. Anne desiste da bolsa de estudos em favor de ajudar Marilla, cuja vista está piorando. Anne planeja dar aulas na escola de Carmody, a mais próxima com vagas disponíveis, e voltar para Green Gables nos fins de semana. Gilbert Blythe desiste de sua posição de professor na escola de Avonlea para que Anne possa ocupá-la, sabendo que ela quer permanecer perto de casa. O ato de gentileza cimenta a amizade Anne e Gilbert.

Foi publicado originalmente em Boston, nos Estados Unidos, em abril de 1908 pela editora L.C. Page. O livro foi um sucesso, vendendo dezenove mil cópias em cinco meses. Apesar da nacionalidade de Montgomery, a primeira edição canadense só apareceria 35 anos depois.

No Brasil, a primeira edição, chamada Anne Shirley, foi lançada em 1939 pela Companhia Editora Nacional como o 65º romance da Coleção Biblioteca das Moças, posteriormente a obra foi dividida em dois volumes e relançada no ano de 1956. Em 2009, foi lançado pela editora Martins Fontes com o nome Anne de Green Gables. E em 2015, pela editora Pedrazul, também levando o título Anne de Green Gables. Em Portugal, com o título Anne e a sua aldeia, o livro foi publicado em 1972, pela editora Civilização.

O sucesso inicial de Anne of Green Gables levou Montgomery a escrever continuações para a obra. Com exceção do primeiro, nenhum foi editado em língua portuguesa. Before Green Gables (2008), foi escrita por Budge Wilson, com autorização dos herdeiros de L. M. Montgomery.

A província da Ilha do Príncipe Eduardo possui instalações turísticas que põem em evidência ligações locais com os romances de Montgomery. O turismo movido pelos fãs de Anne é uma parte importante da economia da região, com comerciantes oferecendo itens relacionados aos livros.

A fazenda Green Gables realmente existe e está localizada em Cavendish, uma área rural do condado de Queens County, no centro da Ilha do Príncipe Eduardo. Muitas atrações turísticas na Ilha foram desenvolvidas com base em Anne, e, no passado, placas rurais já mostraram a sua imagem. Balsam Hollow, a floresta que inspirou Haunted Woods, e Campbell Pond, a massa de água que inspirou o Lago de Shining Waters, ambos descritos no livro, estão localizados nas proximidades. Além disso, o centro cultural canadense Confederation Centre of the Arts tem apresentado o musical Anne of Green Gables em seu palco principal a cada verão nos últimos 48 anos.

O romance também tornou-se extremamente popular no Japão, onde Anne Shirley é reverenciada como um "ícone”. Casais japoneses viajam para a Ilha do Príncipe Eduardo para terem cerimônias de casamento civil no terreno da fazenda Green Gables. Algumas meninas japonesas, inclusive, chegam com o cabelo trançado e tingido de vermelho, de forma a se parecerem com Anne.

O parque temático de Avonlea, próximo de Cavendish, e a loja Cavendish Figurines possuem enfeites para que turistas possam se vestir como personagens do livro a fim de posarem para fotos. Lojas de suvenir por toda a Ilha oferecem numerosos alimentos e produtos baseados em detalhes dos romances. São comuns chapéus de palha femininos costurados com tranças vermelhas, assim como garrafas de refrigerante de framboesa.

Em 15 de maio de 1975, o Canada Post lançou o selo “Lucy Maud Montgomery, Anne of Green Gables”.

Filmes
• 1919: Anne of Green Gables – filme mudo adaptado para as telas por Frances Marion, dirigido por William Desmond Taylor e estrelando Mary Miles Minter no papel principal. Considerado um filme perdido.

• 1934: Anne of Green Gables – dirigido por George Nichols Jr., o filme em preto e branco estrelava Dawn O'Day como Anne Shirley. Após a filmagem, O'Day decidiu mudar seu nome artístico para Anne Shirley.

• 1940: Anne of Windy Poplars – dirigido por Jack Hively, mais um filme em preto e branco com Dawn O'Day (agora “Anne Shirley”).

Filmes para televisão

• 1956: Anne of Green Gables – versão dirigida por Norman Campbell, estrelando Toby Tarnow como Anne. Tarnow foi a primeira Anne musical.

• 1957: Anne de Green Gables – versão francocanadense, dirigida por Jacques Gauthier, com Mirelle Lachance no papel de Anne.

• 1958: Anne of Green Gables – recriação do filme de 1956, dirigida por Don Harron e estrelando Kathy Willard.

• 1972: Anne of Green Gables – minissérie britânica em cinco partes, dirigida por Joan Craft, e Kim Braden no papel de Anne.

• 1975: Anne of Avonlea – continuação da versão de 1972, mantendo Craft e Braden em suas posições.

• 1985: Anne of Green Gables – minissérie canadense de duas partes, dirigida por Kevin Sullivan, estrelando Megan Follows.

• 1987: Anne of Green Gables: The Sequel – continuação da versão de 1985, mantendo Sullivan e Follows em suas posições.

• 2000: Anne of Green Gables: The Continuing Story – continuação da versão de 1987, mantendo Sullivan e Follow em suas posições. Apenas vagamente baseado nos livros.

• 2005: Anne: Journey to Green Gables – versão animada produzida pela Sullivan Entertainment, prequela de Anne of Green Gables: The Animated Series.

• 2008: Anne of Green Gables: A New Beginning – versão dirigida por Kevin Sullivan, e não diretamente baseada nos livros.

• 2010: Akage no An: Road to Green Gables – compilação animada dos primeiros seis episódios de Akage no An (1979).

Séries de televisão

• 1952: Anne of Green Gables – série da BBC estrelando Carole Lorimer como Anne.

• 1979: Akage no An – série animada, parte do World Masterpiece Theater da Nippon Animation, dirigida por Isao Takahata.

• 1990–1996: Road to Avonlea – série produzida por Kevin Sullivan, baseada em personagens e acontecimentos de vários livros de L. M. Montgomery.

• 2000: Anne of Green Gables: The Animated Series – série animada da PBS para crianças de oito a doze anos, criada pela Sullivan Entertainment.

• 2009: Kon'nichiwa Anne: Before Green Gables – parte do World Masterpiece Theater, baseado na prequela Before Green Gables de Budge Wilson.

Fonte: 

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Contos do Oriente (O Jovem Mestre de Confúcio)

Confúcio estava muito cansado de ler e decidiu descansar um pouco. Mas o que fazer? Mesmo quando descansava, ele queria fazer alguma coisa. Resolveu então sair num carro de búfalo para ir até o Monte Jing. Enquanto os búfalos negros avançavam pela estrada, ele admirava a primavera que tinha chegado. E pouco depois, ele avistou a montanha, com um colar de neblina. Confúcio ficou muito contente. Ele tinha certeza de que do alto poderia avistar todo a planície, até se perder de vista, com a crista das colinas perfiladas mais adiante, uma depois da outra, até o horizonte.

Estava tão distraído que nem percebeu um menino fazendo barro com um balde de água, para erguer uma muralha de brinquedo no meio da estrada. Confúcio achou muito estranho, pois não tinha passado por nenhuma casa por perto. Mas não se importou. A casa onde o menino morava podia estar entre as árvores. Ele ergueu o braço e deu um grito para que os búfalos avançassem, achando que o som de sua voz serviria também para alertar o menino, pois, afinal de contas, o meio da estrada não é o melhor lugar para se brincar.

O menino que construía a miniatura da muralha virou a cabeça, avistou os búfalos puxando a carroça e depois o condutor. Em seguida, pegou mais um pouco de barro e completou a edificação, sentando-se atrás dela, como se assim estivesse protegido. Confúcio ficou bravo:

- Ei, não vê que estou passando? Sai do caminho, quero chegar logo ao Monte Jing

O menino caiu na risada:

- É o carro de búfalo que tem de contornar a muralha. Onde já se viu uma muralha sair do lugar para dar passagem a um carro de búfalo, de boi ou outro qualquer!

Ouvindo isso, Confúcio teve duas reações. A primeira, de raiva. Que falta de respeito com os mais velhos! E também de admiração: o menino tinha dado uma boa resposta. Então contornou a muralha - para isso teve de entrar no mato - e parou ao lado do menino. Perguntou quantos anos ele tinha:

-Sete – foi a resposta.

- Só sete? Apesar de sete, me deu há pouco uma boa resposta. Qual é o seu nome?

- Não tenho nome nenhum.

Confúcio olhou bem para o menino e pensou, ele é inteligente, mas agora vai se ver comigo. Pensou isso porque Confúcio gostava também de brincar, só que com palavras e idéias. E queria saber até onde uma criança de sete anos conseguiria acompanhá-lo nesse jogo.

- Sem Nome, me diz uma coisa: conhece montanha sem pedra? Pé sem dedo? Céu sem passarinho? Água sem peixe? Porta que não fecha? Égua sem potrinho? E fogo sem fumaça, conhece? Conhece homem sem mulher? Mulher sem marido? Macho sem fêmea? Árvore sem galho? Cidade sem governo? Gente sem nome?

Ele disse, bem devagar, como se mastigasse as palavras. O menino ergueu a cabeça e respondeu, bem devagar, como se cuspisse a resposta:

- Uma montanha de terra não tem pedras. Pé-de-mesa não tem dedo. No céu da boca pássaro não voa. A água do poço é sem peixe. Porta sem batente não fecha e um cavalo de madeira não dá cria. Além disso, fogo-fátuo não solta fumaça. Imortal não tem mulher. Fada não tem marido. Solteiro vive sem mulher. Árvore seca não dá galhos. Uma cidade abandonada não tem prefeito. E menino, como eu, não tem nome.

Confúcio engoliu em seco. O menino tinha resposta para tudo:

- Você tem resposta para tudo. Vamos sair juntos pelo mundo, para que ele seja em tudo igual?

- O mundo não pode ser igualado. No alto, erguem-se as montanhas, embaixo, correm os rios e estende-se o mar. De um lado, uns governam, mas do outro, estão os governados. Por isso o mundo não pode ser igualado. Poderia ser mais igual, isso, sim!

- Se nós dois aplanássemos as montanhas, teria terra e rocha para encher o mar e os rios. Nós poderíamos também expulsar os que têm tudo e libertar os escravos. Nesse caso, o mundo seria igualizado.

- Se aplanássemos as montanhas, onde os animais se refugiariam? Se enchêssemos o mar e os rios, onde nadariam os peixes? E se expulsássemos os que têm tudo, quem iria lhe dar emprego? E se todos os escravos fossem libertados, por que continuariam a lhe pedir conselhos?

- Certo, certo – exclamou Confúcio – você consegue responder as questões mais complicadas, mas duvido de que seja capaz de responder as mais simples. O que é esquerda e direita?

- O Leste e o Oeste – respondeu o menino.

- O que é interior e o que é exterior?

- O Sul e o Norte – respondeu ele.

- Quem é o pai, a mãe, o marido e a esposa?

- O céu é o pai, a terra, a mãe, sol é o marido, a lua, esposa – disse o menino.

- De onde vêm as nuvens e a neblina?

Ele tinha a resposta na ponta da língua:

- As nuvens são vapores de água que sobem da terra e que voltam para a terra na gota de chuva, e a neblina sobe da terra, mas tem preguiça de chover.

- Quando o galo vira faisão? – perguntou Confúcio.

- Quando ele chega perto do brejo e da montanha.

- E quando o cão vira raposa?

- Quando ele chega perto das colinas e montes.

- Bom! – disse Confúcio - você não perde uma! Mas será que um menino de sete anos pode adivinhar isso aqui: a mulher está mais perto de seu marido que uma mãe de seu filho?

O menino riu novamente, como se achasse a pergunta muito fácil:

- A mãe está mais perto de seu filho que uma mulher, de seu marido.

- Ah, essa, não! – disse Confúcio – É o contrário. A mulher está mais perto de seu marido do que uma mãe de seu filho. E quer saber por quê? Porque durante sua vida a mulher e seu marido dormem juntos, na mesma cama, e cada um tem um travesseiro ao lado do outro. E quando morrem, estão lado a lado, nos seus túmulos.

- Quem perdeu foi o senhor - disse o menino – porque o que eu disse é certo, pois é o contrário do contrário: a mãe está mais perto de seu filho que uma mulher, de seu marido. E provo o que estou dizendo: a mãe é para o filho o que as raízes são para as árvores. Uma mulher é para o seu marido o que as rodas são para o carro. Quando a mãe morre, o filho é órfão para sempre. Que nem a árvore ao morrer: secam seus galhos e suas folhas. Mas se uma mulher morre, seu marido pode se casar com outra mulher e recuperar a alegria. Do mesmo jeito, um carro, quando perde as rodas, pode conseguir outras novas. Ou então, todo o carro pode ser novo. O senhor me desculpe, mas só um louco diria que uma mulher está mais perto de seu marido do que de seu filho.

Dessa vez, Confúcio pareceu confuso. O menino aproveitou a oportunidade e interrogou o mestre:

- Respondi todas as suas perguntas, agora, peço que responda as minhas. Como os gansos e os patos conseguem nadar? Como os grous e os gansos selvagens conseguem gritar? Como os pinheiros e os ciprestes conseguem ficar sempre verdes, tanto no verão como no inverno?

Confúcio respirou fundo. As perguntas eram fáceis. Superfáceis.

- Porque eles têm as patas espalmadas.

O menino balançou a cabeça:

- Não é uma boa razão. Primeiro, pata não pode ser espalmada, porque palma existe é na mão. E as tartarugas também nadam, e não têm as patas "espalmadas".

Pego de surpresa, Confúcio disse:

- Pois é... - mas se recuperou logo, passando para a pergunta seguinte: - Como têm um pescoço comprido, os grous e os gansos selvagens podem gritar.

O menino sacudiu a cabeça:

- Também não é uma boa resposta. As rãs também gritam e elas não têm pescoço comprido.

De novo Confúcio ficou mudo. E depois conseguiu dizer:

- Pois é... - e passou para a última pergunta – como têm um cerne duro, os pinheiros e os ciprestes ficam sempre verdes, tanto no verão como no inverno.

Mais uma vez o menino sacudiu a cabeça:

- O senhor nunca dá a boa razão ou a boa resposta: o bambu também fica sempre verde, no inverno e no verão, e ele nem cerne tem, pois é oco por dentro.

Confúcio, cada vez mais confuso, calou-se, enquanto o menino fazia as últimas perguntas que tinha para fazer:

- Quantas estrelas tem no céu?

Confúcio pareceu fugir da pergunta:

- Estamos falando da terra e não do céu.

- Certo, não vamos falar do céu. Quantas casas existem sobre a terra?

Confúcio ficou nervoso:

- Melhor não falar nem do céu nem da terra. Vamos falar das coisas que estão diante dos olhos.

O menino riu novamente:

- Ah, certo – disse – vamos falar das coisas que estão diante de nossos olhos: quantos pelos o senhor tem nas sobrancelhas?

Confúcio pareceu cansado e suspirou:

- Desisto, eu não consigo ganhar,nem fazendo perguntas, nem respondendo as que me faz. Acho agora que temos de temer uma criança. Você quer seu meu mestre?

O menino continuou a brincar em silêncio na estrada e não respondeu.

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