quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Trovas Sobre o Mar


Quando a terra em seu girar
o dia em trevas reduz,
a lua emerge do mar,
pingando gotas de luz!
Annibal Vitral Monteiro -  RJ

Barqueiro dos mil pesares,
acostumado entre escolhos,
tenho a tristeza dos mares
na tristeza dos meus olhos.
Antonieta Borges Alves - SP

Ó velho mar, são singelas
as tuas fúrias insanas,
comparadas às procelas
do mar das paixões humanas!...
Aparício Fernandes - RJ

Lembra o mar a mão incerta,
que oferece e quer negar:
avança fazendo oferta,
recua para não dar!
Archimino Lapagesse -  RJ

Rendeiras de toda parte,
tecelãs de fina teia,
vinde à praia ver com que arte
o mar faz rendas na areia.
Carlos Guimarães -  RJ

Do Tejo partiu a armada
de Pedro Álvares Cabral
e fez no mar uma estrada
do Brasil a Portugal.
Celso Furtado de Mendonça - RJ

O mar imenso e profundo
vai gemendo, sem parar...
Todo gemido do mundo
geme no fundo do mar!...
Colbert Rangel Coelho - RJ

No mastro ao longe oscilando,
a vela branca, a passar,
parece um lírio boiando
na superfície do mar.
Dolores Almeida -  RJ

Nas incertezas do mar
a velha jangada avança
e a esperança de voltar
fica, às vezes, na esperança.
Durval Mendonça -  RJ

Caracóis, conchas redondas,
que o mar guarda, com desvelo,
são roubados, como as ondas,
das ondas do teu cabelo...
Edgard Barcellos Cerqueira - RJ

Beija as areias do mundo
o mar, com as rendas de um véu:
volúpia que vem do fundo
ou amor que vem do céu?
Eduardo Luiz Gomes Filho - RJ

Que o mundo melhor se faça,
ante o símbolo profundo,
do mar que, eterno, entrelaça
os mil caminhos do mundo.
Fernando Burlamaqui - PE

No meu peito, tatuados,
dois corações a sangrar.
Neles, três temas lembrados:
a mulher, o porto e o mar.
Francisco Manoel Brandão - RJ

O mar, que é poeta, em rondas
de amor pela Lua-cheia,
escreve versos com as ondas
no livro branco da areia.
Geralda Ferreira de A. Marques - MG

Mar, mistério, poesia...
Se te pudesse cantar,
quantas coisas eu diria
nestas trovas a rimar...
Hesiodo de Castro Alves - RJ

No fim da esteira dourada
que, no mar, tece o arrebol,
o barco, de madrugada,
é um ponto negro no sol!
Iraci do Nascimento e Silva -  RJ

Fui Ulysses, naveguei
sem temer tufão e escolhos,
mas, ao te ver, naufraguei
no verde mar dos teus olhos!
Isimbardo Peixoto - RJ

Nós dois... Soprava o terral:
o nosso barco afastou-se...
Nunca, num leito de sal,
a vida me foi mais doce!
Jacy Pacheco - RJ

A vida é mar inclemente,
amargo, cheio de mágoas,
que põe nos olhos da gente
o gosto das suas águas.
João Rangel Coelho -  RJ

Por mais que o mar se lamente,
o seu choro não deploro:
- O mar chora, mas não sente,
eu, por sentir, é que choro!
José Maria Machado de Araújo - RJ

Meus versos - estro de monge -
querem ser luz de luar
e rios que vêm de longe
na trova que faço ao mar.
José Valeriano Rodrigues - MG

Tesouros guarda, avarento,
o mar de vagas inquietas.
Os meus, com vaidade, ostento!
- Mostro ao mundo minhas netas.
Lilinha Fernandes - RJ

O mar nos deu a receita
de um viver sábio e profundo:
sendo salgado, ele aceita
as águas doces do mundo!
Luiz Otávio - RJ

As tristezas que te sobram,
crê que as podes suportar...
As águas que o céu transborda
cabem todinhas no mar.
Manita - RJ

Enfrenta o mundo, sem medo -
mas à ofensa não respondas:
morre de encontro ao rochedo
a fúria insana das ondas!...
Maria de Lourdes Loretti Motta -  RJ

As caravelas do sonho
navegam dentro de mim,
- querendo um porto risonho,
- lutando num mar sem fim...
Nilza de Castro - RS

O mar, gigante, sereno,
tem a força das marés;
e eu, sendo assim tão pequeno,
o tenho sempre a meus pés.
Nydia Iaggi Martins - RJ

Passou... bonita de fato!
E o mar, ao vê-la tão bela,
sentiu não ser um regato
para correr atrás dela...
Orlando Brito - SP

Dorme o mar pesado sono.
Enquanto isso a Lua-cheia,
cansada deandar sem dono,
deita comigo na areia.
Paulo Emílio Pinto - MG

Sou triste como este mar,
que, num lamento profundo,
parece até represar
todas as mágoas do mundo.
P. de Petrus -  RJ

Bosquejo a paisagem. Traço,
na manhã que desabrocha,
gaivotas singrando o espaço,
e o mar açoitando a rocha...
Pedro Uzzo - SP

O mar tem alma... Costuma,
em noites de Lua-cheia,
cobrir de rendas de espuma
seus alvos leitos de areia...
Vasco de Castro Lima -  RJ

Duas coisas há no mundo,
de grandeza incomparável:
o amor - mistério profundo,
e o mar - abismo insondável.
Vera Milward de Carvalho - MG

Em paradoxos te esmeras,
mar, que crias, que destróis!
Verde berço de quimeras...
negro túmulo de heróis!
Vilmar de Abreu Lassance - RJ

No mar do amor, quando avista
das gaivotas os sinais,
meu peito diz: "terra à vista!"
mas nunca divisa o cais
Walter Gomes da Silva - RJ

Mar em fúria, mar em jade,
mar tranquilo, mar de altar.
- Como a calma e a tempestade
são efêmeras no mar!
Zalkind Piatigorsky -  RJ

Cícero Galeno Lopes (Não sei se disse)

Na mocidade a gente olha pra vida como vinda. É como madrugada, toda luz de porvir. De repente você se encontra com dois filhos, olha ao redor, está sozinha. Você fica olhando pela janela de muitos vidros que tem a esperança.

Você quer as coisas como gostaria que elas lhe fossem, como elas deveriam ser. Não vim aqui pra dizer só os sacrifícios nem só o desespero. Vim por trabalho. Nesta cidade, antiga e grande, só menor que a capital, as coisas vão ficando mais velhas a cada dia, porque seu coração vai se cobrindo de idas sem vindas. Tudo se vai, tudo vai indo. Vai indo seu rosto, vão indo seus cabelos, vão se sumindo as luzes, o dia vai caindo pra tarde. Os muitos vidros da janela lhe impedem ao invés de lhe abrir a vista. São obstáculos ao invés de passagens. Em lugar de você olhar pra terra, pras ruas, você fica olhando é pras estrelas, pras aves, que parece que nelas a vida não para. Porque são muitas estrelas, e você não sabe os nomes delas, porque são tantas que você duma noite pra outra não sabe se é a mesma ou outra que está na mira do seu olhar. Porque você não vê os corpos dos pássaros que morrem de natureza. Você vê apenas os que foram matados por pedradas ou venenos. Esses você vê no seu caminho.

Depois que fiquei sozinha moro numa peça emprestada, porque faz muito que nada posso pagar. A fila assim enorme que se formou pra vir falar aqui com os senhores assusta. Estou esperando minha vez desde ontem. Se os senhores vissem minha casa – a gente diz assim – aí que iam se assustar. Se eu voltar de mãos vazias desta fala com os senhores, meus filhos, de oito e dez, magrinhos e tristinhos, eles vão ter que voltar outras vezes pro hospital. De mês em mês, lá vão eles, como lá estão neste momento, tomando soro. Noutras vezes, vão amparados em mim, na busca de comer a sopinha que o hospital pode dar, que todos lá sabem que estão lá porque não têm o que engolir. Em casa, o que bebem é água e água com açúcar. Vão querer dizer, como já disseram, que sou mãe despreocupada, porque eles não vão ao colégio.

Me digam os senhores: como ir? Quando passo por um banco, fico pensando no dinheiro dos que têm. Chego a pensar - credo! - que algum assaltante até pode ter um pouco de razão de fazer o que faz. Não que concorde. Mas olhos de filho com fome, amarelinhos de desalimentação, têm força de virar pessoa. O choro deles, muito mais. Tive empregos, não coisa boa, mas possível de suportar momentos tristes.

Fiquei sozinha, porque o pai dos meninos não suportou olhar pra eles nem me ver como sou. Às vezes vem, chora disfarçado, cospe no chão, sem levantar os olhos, sem falar comigo mais que um grunhido de chegada e outro de saída, as roupas sujas, arqueado como se levasse sempre pesos mais pesados que ele. Pega um, se encosta noutro, ficam os três no chão sentados, algumas palavras que os meninos perguntam. Quando pode, bebe até dormir, caído onde estiver, nem se esconde mais. Com esta aparência alguém me dá emprego? Quer dizer, alguns, quase todos não dão. Mas aqui é emprego público. Falei com alguns na fila. Tem gente com estudos, marcas no jeito de ser de quem teve boa vida, trabalhando. Agora estão como eu. Todos não vão poder entrar: tem mais gente que lugar.

Eu, pela benção de Deus e compreensão mesmo dos senhores, tenho que pedir não dinheiro, mas emprego, que não é de fato coisa de se pedir, não deveria. Não façam por mim; façam por dois meninos que neste mesmo momento estão na cama do hospital, pra depois voltar pra casa – é como a gente se acostuma a dizer – e depois voltar pra lá. Tem outro jeito? Tem pessoas que às vezes me dizem quase sempre que compreendem minha situação. Como? Se compreendessem, me permitiriam um trabalho, mesmo que passageiro. Se deixo meus filhos todos os dias, como vai ser? Se compreendessem não negariam. As pessoas – acho – pensam que compreendem. Compreender só se vivessem como nós, eu com os meninos.

Todas as coisas que pude ter, que não foram muitas nem tão boas, se foram pra pagar armazém. Hoje pra duzentos gramas de bolachinha. Amanhã pra dois saquinhos de chá. Depois, pra meio quilo de açúcar. Quero - é o que mais preciso - pegar esse emprego. Estou cansada de virar saco de lixo. Não resolve. Não me importa que seja com lixo. O que quero é varrer as ruas, arrancar a erva, quero um salário no fim do mês. Quero de novo ter outra panela, ter caneca com alça, quero poder ter fogo de gás, um fogão, cama e uma casinha, um buraco qualquer, meu.

Quando pegar os meninos no hospital, vou contar pra eles que estou empregada, que vou ter uma chance de emprego fixo, vou poder comprar de novo com livreta pra o fim do mês e pagar do meu trabalho. Vão poder ter comida nos horários.

Se tem taxa, não posso pagar. Suas perguntas não respondi, acredito. Mais que respostas vim lhes trazer a vida que rola pelas ruas e becos desta cidade, que quero ajudar a limpar, é o que mais quero, preciso como nada. Nem é preciso muito saber pra isso. Caprichosa sempre fui, quando tinha com que. Sempre moradas humildes, de gente pobre, mas tinha. Fico pensando quando me lembro que contam que esta cidade tinha até banco com nome dela. Aonde foi? Que fizeram com ele? O governo tem parte nos bancos. Por que não ajuda quem precisa? Não quero dizer que é o que faz este governo. Quero e preciso. Me desculpem se falo mal, entorto a conversa, se meto pé por mão. Desculpem. A necessidade não é amiga da fala mansa e macia. Esse emprego é mais que emprego, é a minha vida e a dos meninos que os senhores vão devolver, queira Deus e a compreensão mesmo dos senhores. A gente vota, a gente espera. Sei ler até bem ligeiro, faço contas, posso pegar condução. Me determino.

E vassoura, empurrar carrinho de cisco, ensacar não requerem tanto mais. Acho que já disse. Se não disse o que era preciso, olhem pros meus olhos, pras covas da minha boca, vejam meus cabelos, as marcas. No verão, quando os que podem vêm ao Cassino, daqui me vou, moro na rua, fazemos biscates, os meninos ajudam. Quando se vão, vem o inverno, aí a gente teme, a gente treme. A vida vira isso de ter que pedir até mesmo pra trabalhar, porque atrás do trabalho vem o fim do mês, seguro. Não sei se disse?

Fonte:
LOPES, Cicero Galeno.A curva da estrada. Porto Alegre: Movimento, 2000.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Renato Alves (Caderno de Trovas)

1
A água pura não tem cor,
nem branca, nem amarela;
não tem cheiro, nem sabor...
Mas ninguém vive sem ela!
2
Agradeço a quem quiser-me
como eu sou, como um irmão...
Não é na cor da epiderme
que se vê meu coração!
3
Ao receber tuas cartas
uma frustração me invade:
tu me dás notícias fartas,
mas me matas de saudade!
4
Ao repensar minha história,
encontrei com emoção
por trás de cada vitória
um mestre no coração!
5
Ao te encontrar, velha agenda,
lá no fundo da gaveta,
meu passado se desvenda...
És a minha  “caixa-preta”!
6
Beleza de mais efeito
que este colar de rainha
tu não tens sobre o teu peito,
dentro dele é que se aninha...
7
Com esplendor natural
e fulgor exuberante,
de uma gota no varal
o sol faz um diamante.
8
“Conhecer não é saber”
- ensina a douta ciência...
”Pôr alma no que aprender” ,
isto, sim, é sapiência!
9
Coração, relógio louco
que registra o meu desejo,
bate muito ou bate pouco,
na medida em que te vejo!
10
De meu pai herdei o nome,
de minha mãe, a ternura;
da pobreza herdei a fome,
a minha herança mais dura!
11
Eis meu desejo ideal,
minha utopia e quimera:
– Ver teus braços, afinal,
abrirem-se à minha espera!
12
Escute a voz da razão:
– Nunca esmoreça, persista!...
É com determinação
que o sonho vira conquista.
13
Mais rápido do que a luz,
através do imaginar,
pensamento nos conduz
a todo e qualquer lugar,
14
Mesmo em meio à dura lida,
fazer versos nos renova:
–  Cabe todo o bem da vida
nas quatro linhas da trova!
15
Mil livros já devorei,
mas neles não achei graça,
até hoje eu nada sei...
– Muito prazer, sou a traça!
16
Minha vida era rotina
tão amarga quanto fel,
mas transformou-se, menina,
com sua chegada, em mel!
17
Não diga que é velho alguém
pela idade transcorrida...
Só é velho quem não tem
mais sonhos em sua vida!
18
Ninguém há que saiba tudo,
nem tudo pode saber...
Muito se aprende e, contudo,
há sempre o que se aprender!
19
No campo foi algodão,
tornou-se fio e tecido,
ganhou cor e confecção...
Está pronto o seu vestido!
20
Nunca condenes o irmão
sem de provas ter ciência;
dá-lhe, sem contestação,
a presunção da inocência.
21
O gajo, sendo um velhaco,
engajou-se bem no ofício:
– um cargo de puxa-saco
pra puxar palma em comício!
22
O mar geme nos rochedos
prantos tão desconsolados,
pois guarda muitos segredos
e sonhos dos afogados...
23
O mestre faz da alma um templo
para ouvir nossa oração,
e, assim, mostra que é o exemplo
que ensina qualquer lição!
24
O muro é separação,
produto de preconceito;
se você quer união,
construa pontes no peito!
25
O trabalho é punição,
uma herança do passado...
Deus quis castigar Adão,
e sobrou pro nosso lado!...
26
“O vinho seco faz bem!”
- recomendou sua avó...
E ele foi ao armazém,
e lá pediu: “Vinho em pó!”
27
Pandorga... cafifa... pipas...
tens nomes em abundância,
mas com todos participas
dos sonhos da nossa infância!
28
Planto o grão com uma meta:
- Gerar vida em profusão...
E este ciclo se completa
quando o trigo vira pão.
29
Pode ser pobre ou poeta,
sem perder a autoestima;
mas há de ter como meta
não ter pobreza na rima.
30
Quando a feia se  “embeleza” ,
mas o resultado é trágico,
diz o espelho, que se preza:
– Ela pensa quer eu sou mágico!...
31
Quando a humana insensatez
dissemina a poluição,
para ter sol outra vez,
só com imaginação...
32
Quando do meu lar amado
transpus o velho portão,
pedaços do meu passado
espalharam-se no chão!
33
Quando estou no teu regaço,
tu me dás consolo e mel...
Como há sonho em teu espaço,
livro, amigo de papel!
34
Quando o amor é inconsequente,
nas mais tórridas paixões,
pode fundir-se a corrente
que liga os dois corações!
35
Quem de si não cede nada,
no céu não terá lugar.
Coisa mais abençoada
do que receber... é dar!
36
Quem não tem medo da morte,
quem nunca faz nada em vão,
quem, antes de tudo é um forte...
Este é o homem do sertão!
37
Que nome você daria
ao que sente a mãe que chora
ao pé da cama vazia
de um filho que foi embora?...
38
Razão e Emoção, na gente,
são irmãs, mas não se dão:
a primeira habita a mente,
a segunda, o coração!
39
Se és de fato um vencedor
deves sempre ter em vista,
não o prêmio e seu valor,
mas o prazer da conquista!
40
Se és duro de coração,
não perdes por esperar:
do céu só terá perdão
quem é capaz de perdoar.
41
Ser poeta é transformar
a palavra em brasa ardente
para com ela queimar
a emoção que está na gente!
42
Se tens pela vida apreço,
não entres na droga braba!
Tu decides o começo,
mas não sabes como acaba.
43
Sigo, no delírio infindo
da saudade que me arrasa,
uma só música ouvindo:
os teus passos pela casa!
44
Sob chuva ou sol que abrasa,
como nos tempos antigos,
o portão da minha casa
não se fecha aos meus amigos!
45
Tal qual pérola valiosa
que na ostra tem morada,
minha alma tão pretensiosa
mora no peito da amada.
46
Te enfeiticei, fui omisso,
quis um  “caso” passageiro;
mas o Amor fez o feitiço
virar contra o feiticeiro!
47
Ter fé, amor, otimismo
e uma inabalável crença
nos faz saltar sobre o abismo
de qualquer indiferença!
48
Terrível palavra é o  “não”
que corta, poda, cerceia...
Feliz quem, no coração,
traz o  “sim” que a paz semeia!
49
Trovador que espalha o sonho
que lhe mora n’alma inquieta
confessa ao mundo, risonho,
a bênção que é ser poeta!
50
Tua pele o vento alisa,
sensual, com seu frescor.
Como eu invejo esta brisa
que te alisa, meu amor!...
51
Tu me prendes, me agrilhoas,
me escravizas sem sentir,
mas destas algemas boas
eu não pretendo fugir...
52
“Vitamina está na casca!”
-De um comilão eu ouvi...
E quase que ele se enrasca
ao comer abacaxi!
53
Voltei a ter confiança
neste mundo tão ruim
ao descobrir a criança
que ainda habitava em mim!

Concurso de Trovas Intersedes 2018 (Prazo: 31 de Janeiro de 2018)

Realização UBT- Seção de Maringá-PR

1. Tema: ACHADO (L-F), devendo a palavra-tema constar do corpo da trova.

2. Poderão participar  exclusivamente trovadores filiados a seções e/ou delegacias da UBT, exceto os da Seção de Maringá.

3.  Enviar apenas uma trova, com indicação da delegacia ou seção a que pertence o concorrente.

4. Na remessa pelo Correio (sistema de envelopes), usar Luiz Otávio como remetente, e o mesmo endereço do destinatário.

5. Na remessa via internet, escrever a trova e o nome e endereço completo do concorrente no corpo do e-mail.

6. Prazo: até 31/01/2018.

7. – Endereços para remessa:

        Pelo Correio:
        Nilsa Alves de Mello
        Rua Santos Dumont, 2544 – Ap. 1401
        CEP. 87013-050 – MARINGÁ-PR
     ___________________________________
        – Por e-mail:
           José Feldman (fiel depositário)
           magodosversos@gmail.com

 

8.– Serão premiadas 04 (QUATRO) trovas, sendo 01 (UMA) VENCEDORA e 3 (TRÊS) MENÇÕES HONROSAS. Troféu ou medalha para a Vencedora e diplomas para as demais.

9. – A  Seção ou Delegacia a que pertencer o vencedor deverá promover o concurso subsequente.

10. – Caberá à Comissão Organizadora resolver os casos omissos e suas decisões serão definitivas e irrecorríveis.

11. – A remessa das trovas significa total conhecimento e completa aceitação deste Regulamento.

A.A. DE ASSIS – Coordenador

Obs.: Outras informações poderão ser solicitadas pelo e-mail: alkalu77@gmail.com


Como enviar por envelopes, veja em
https://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2017/08/sistema-de-envelopes-para-concursos-de.html

Como enviar por email, veja em 
https://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2017/08/envio-de-trovas-por-email.html

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Envio de Trovas por Email

Caso o concurso possuir envio de trovas por e-mail, deve-se proceder da seguinte maneira:

No assunto colocar o nome do Concurso a qual concorre.

Caso haja mais de 1 tema, colocar o tema a qual concorrer no alto no corpo do e-mail.

Havendo categorias, trovador ou novo trovador, colocar a qual pertence. No caso de não houver discriminado a qual pertence, será considerado como veterano. 

No caso do Concurso Intersedes não há divisão de categorias.

Colocar a(s) Trova(s)

e logo abaixo os dados completos conforme o desenho abaixo:


Sistema de envelopes para Concursos de Trovas

 As trovas devem ser coladas na face de um pequeno envelope. Dentro dele deverá estar o nome do autor com seus dados pessoais: endereço completo, e-mail se possuir, telefone fixo (e operadora para contato, no caso de celular. Ex: TIM, Vivo, Claro, etc.).

Na face externa do envelopinho a trova (DIGITADA ou DATILOGRAFADA, não serão aceitas manuscritas). Caso houver a categoria Novo Trovador, colocar abaixo da trova esta categoria. Lacrar o envelope. Num envelope maior colocar o nome e endereço a quem deve enviar, e no remetente, o mesmo endereço para quem está enviando, e o nome Luiz Otávio.

No caso do Concurso Intersedes, colocar a que seção ou delegacia da UBT que pertence, acima do seu nome ou ao final.

Observação: A trova deve ser digitada (datilografada), não serão aceitas trovas manuscritas. 

Veja exemplo de um concurso abaixo


A Glosa


Glosa é uma forma de poema utilizada que foi primeiramente registrada em Português no "Cancioneiro Geral" de Garcia Resende (1536) que colecionou 880 poemas. Um dos formatos é a cantiga, com um mote de quatro ou cinco versos e uma glosa de oito ou dez.

    Composição poética de origem peninsular, constituída por uma estrofe inicial, onde é apresentado o tema (mote), seguida por tantas estrofes quantos os versos apresentados na estrofe inicial e devendo ser estes incluídos sucessivamente, um a um, no final de cada estrofe, para desenvolvimento do tema da composição, que é sobretudo amoroso.

    Lembre-se que o termo glosa é sinônimo de volta e que este possui três acepções diferentes: ora de composição poética; ora de verso, que se repete no final das estrofes que glosam o mote; ora, já numa extensão de sentido, de estrofes, que desenvolvem o tema do mote nas cantigas e nos vilancetes.

    A glosa tem grande representatividade, a partir do século XV, nos cancioneiros hispânico e português, dos quais se destaca o Cancioneiro Geral (1516) de Garcia de Resende, sendo sobretudo desenvolvida por poetas palacianos.

    Também pode ser referência a uma forma usada pelos poetas do Nordeste do Brasil, principalmente os cantadores, em forma de uma ou mais décimas (estrofe de 10 versos) que respondem a um desafio, expresso em forma de mote. O mote é, geralmente, um dístico, ou seja, composto por dois versos. Esses versos se apresentam na glosa de duas formas mais comuns:

    Os dois versos aparecem no fim da estrofe, compondo a rima, que, na maioria das vezes, segue o esquema ABBAACCDDC.

    Um verso do mote aparece como quarto verso da glosa, e o outro verso na última posição. O esquema rímico é semelhante.

    O poeta Paulo Camelo criou e apresentou o que ele denominou Glosa com mote migrante, um poema com mais de uma estrofe (de duas a cinco), onde o mote, em dístico, aparece em posições diferentes, ascendendo nas estrofes das últimas para as primeiras posições.

MOTE NO FINAL
MOTE
"Devagar, como fogo de monturo,
a saudade invadiu meu coração".

GLOSA
Na fazenda, nasci e me criei,
peraltava e fazia escaramuça,
morcegava, no campo, a besta ruça,
jararaca até mesmo já matei.
Não me lembro da vez em que acordei
assombrado com tiros de trovão,
pinotava da rede para o chão
e saía correndo pelo escuro.
Devagar, como fogo de monturo,
a saudade invadiu meu coração".
(Carlos Severiano Cavalcanti)

MOTE EM VERSOS SEPARADOS

MOTE
"Por esses caminhos venho
pedaços de mim deixando".

GLOSA
Nem juntos arte e engenho
de Camões podem cantar
como em vão a tropeçar
por esses caminhos venho.
O amor para mim é lenho
que em meio aos lobos em bando,
aos trancos vou carregando
e a cada mulher que passa
sou tragado na fumaça,
pedaços de mim deixando
(Zé Barreto)

    Há ainda as glosas feitas a partir de trovas, sendo atualmente a mestra no gênero, a trovadora gaúcha Gislaine Canales. Neste gênero, o mote é uma trova inteira (4 versos setesilábicos), geralmente de outro trovador, e a partir dele a glosa é feita com 4 trovas, sendo que cada verso do mote é colocado individualmente em cada trova, na posição correspondente. Isto é, o 1o verso do mote é o 1o da primeira trova da glosa, o 2o é o 2o verso da segunda trova e assim sucessivamente, como demonstramos no exemplo abaixo:

Gislaine Canales
Glosando Izo Goldman


SAUDADE BOÊMIA...

MOTE:
Pelas noites, na cidade,
busco esquecer-te, porém,
o meu drama é que a saudade
é uma boêmia também...
(Izo Goldman)


GLOSA
Pelas noites, na cidade,
eu ando de bar em bar
e a tristeza que me invade
de tão grande, não tem par!

Ouço uma bela canção!
Busco esquecer-te, porém,
a dor do meu coração,
vai muito além, muito além!

Enfrento a realidade:
Eu nunca vou te esquecer,
o meu drama é que a saudade
veio comigo viver!

E nessa angústia sem fim
me ajudar, não pode alguém!
A saudade está em mim,
é uma boêmia também...

Fonte Principal: Wikipedia

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Olivaldo Junior (A Poesia)

(Conto para 21 de março: Dia Mundial da Poesia)

Quase às seis da tarde, hora em que muitos voltam para casa e vão se preparar para o jantar, foi a essa hora que a danada resolveu aparecer. "Muito prazer!", disse ela ao jovem homem, estupefato, entrando em casa. "Posso entrar com você, em seu lar?", disse a moça de olhos negros, tão fundos quanto um buraco negro desse cosmo que nos cerca. O jovem, que chegava do trabalho, meio sem jeito, não soube bem o que dizer, mas aceitou que ela entrasse. Ah, as coisas de que uma moça é capaz com um jovem cavalheiro!... Fechada a porta, pediu à estranha moça que se sentasse um pouco e, deixando sua bolsa de trabalho de lado, foi à cozinha pegar o óbvio, um copo d'água, a sua "visita". "Quero café...", pediu a moça, num tom de voz mais elevado, para que o jovem homem pudesse ouvi-la. "E agora? Não sei fazer café!...", pensou o jovem procurando uma embalagem de Chá da China que a mãe lhe tinha comprado outro dia. "Tenho chá!...", gritou, da cozinha, o rapaz. "Serve!...", assentiu a moça, um tanto contrafeita, é verdade, mas há situações em que é melhor uma xícara de chá na mão do que mil bules de café voando, sabe-se lá em que cozinha...

O jovem voltava para a sala com a bandeja nas mãos, quando a moça olhava um porta-retratos em que ele, ao pé de uma velha árvore, agachado, mão direita apegada ao tronco, sorria muito. "Gostei dessa foto!...", disse a ele já pegando sua xícara de fumegante Chá da China, a moça que já se sentia em casa, mesmo tendo entrado há pouco em sua vida. "Pois é, eu também gosto...", respondeu a ela o jovem que já começava a se incomodar com aquela desconhecida ali, em pé, como se tivesse vindo inspecionar-lhe a vida, e sem licença nenhuma para isso. "Vou ficar aqui.", declarou ao jovem, se sentando na poltrona mais macia da sala, uma relíquia deixada pela avó do rapaz, pouco antes de ela morrer, ou melhor, "subir no telhado"... "Claro, pode sentar-se aí!.., respondeu gentilmente à moça, que lhe acrescentou: "Você não me entendeu. Vou ficar morando aqui.". O jovem deu um salto da cadeira em que se havia sentado e, como já se encaminhasse para a porta, decretou: "Me desculpe, mas você não pode. A casa não é só minha, minha mãe já vai chegar, não temos lugar. Me desculpe mesmo, mas é hora de você ir.". Nisso, começou a ventar e a chover.

"Não vou embora nunca mais de sua casa, nem de sua vida, foi você que me deixou entrar...", respondeu ao jovem homem aquela moça, toda em preto, dona de si, confortavelmente sentada na melhor poltrona da sala. "Serei sua hóspede para sempre, é melhor se acostumar.", e levou mais uma vez a xícara de Chá da China aos lábios faiscantes de vermelho, tão rubros quanto as faces daquele jovem que não sabia o que fazer. Deixou a porta de lado e jogou-se na mesma cadeira. Não sabia o que pensar. "Não vou dar muito trabalho, menino...", falou a moça ao pobre homem. "Como não?", perguntou-lhe o jovem. Barulho na porta. Era a mãe. Entrou, falou das comadres que encontrara no mercado, do calor e que o jantar sairia em breve. Não, sua mãe não vira a moça. "Quem é você?", assustado, indagou o jovem à incógnita mulher que, para responder a ele, se inclinou um pouco para a frente e, quase num sussurro, lhe disse: "Muito prazer, menino. Sou a Poesia. Ando a visitar homens e mulheres do mundo todo, todos os dias, há uns três mil anos, talvez há mais tempo, não sei, insuflando-lhes muitos versos e muitas ideias poéticas, para que possam compreender melhor o avesso das cotidianas horas vividas. Aceita a minha companhia? Serei só sua enquanto estiver com você, mas o que eu lhe puser no colo você repartirá com todos os seus, como quem reparte o pão de fome aos famintos do universo. O que me diz?".

Anos depois, numa livraria da cidade, num evento simples, mas marcante, o jovem homem lançava seu primeiro livro de versos, singelamente intitulado: "A visita da Poesia".

Com licença, alguém bate à porta. Um momento!...

Fonte: O Autor