segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Olivaldo Junior (Poemas Escolhidos) II


A Senhora Aparecida

A Senhora Aparecida
tão cedinho, de manhã,
recomeça a sua vida:
ser do povo um talismã.

Dando a todos a guarida,
seja irmão, ou seja irmã,
sempre ajuda na "subida"
para a 'Terra de amanhã'.

- 'Negra mãe do nosso povo',
há trezentas primaveras
vem tornando o velho novo!...

Guardiã de "mil" esferas,
nesse mundo, que é um ovo,
aparece e doma as feras!
____________________________

Para São Francisco
04 de outubro: Dia de São Francisco de Assis

Para São Francisco,
o canário, o alpiste,
a vassoura, o cisco,
que um poeta triste
quer correr o risco
de saber que existe...

Para São Francisco,
verso e prosa a gosto,
que sequer eu pisco
quando o sol do rosto
do melhor Francisco
em meu verso é posto!...

Para São Francisco,
minha "vista" gasta,
meu abraço arisco,
o que se contrasta
quando tudo arrisco
e Francisco basta.
________________________________

À moda de um deus
Para Luís Felipe 

Cansado demais,
parei entre os meus,
na beira do cais,
à moda de um deus.

Cansado demais,
andei entre os seus,
curti os meus ais,
no encalço de Deus.

Cansado, sem ar,
fiquei sem saber
se é rio, se é mar

o mundo a correr,
a gente a sonhar,
o sonho a morrer...
________________________

Poesia, irmão, poesia!...

Poesia, irmão, poesia!...
Que essa vida fantasia
quando vem o Carnaval,
quando vai o funeral!...

Poesia, irmão, poesia!...
Que essa vida, hipocrisia
quando vem o bacanal,
quando vai o bom casal!...

Poesia, irmão, poesia!...
Que uma rosa se anuncia
numa tela, num jornal!...

Poesia, irmão, poesia!...
Que uma lua, luz do dia
num poema original...
______________________

Mil lampadazinhas

Olho o japonês
ir cuidar das plantas.

Paro e fico olhando,
para ver se enxergo...

Cego, não dos olhos,
mas da triste alma,
miro, mas não vejo...

Olho o japonês
ir jantar, e é tarde.

Paro e fico olhando
seu jardim de inverno...

Terno, e sem demora,
bem à flor da palma,
eis que vejo a aurora:

- Mil lampadazinhas!...
__________________________

Príncipe de alma 

Pelas horas que levo na mochila,
pelas lágrimas secas em minh'alma, 
todo dia sem tempo me aniquila, 
leva as horas que iria ter em calma... 

Rubra rosa que velo à mão tranquila, 
eu, pequeno ser, "Príncipe de Alma", 
todo o tempo só penso em possui-la, 
jardineiro que as flores só desalma!... 

No relógio que a lida me desmonta, 
nestes olhos que secam sua fonte, 
eis o ser que à nobreza já desponta, 

sol que à rosa parece um horizonte, 
peregrino senhor que faz de conta 
que do corpo há de vir a sua 'ponte'.

João do Rio (O que se vê nas ruas) Pequenas Profissões

O cigano aproximou-se do catraieiro (1) . No céu, muito azul, o sol derramava toda a sua luz dourada. Do cais via-se para os lados do mar, cortado de lanchas, de velas brancas, o desenho multiforme das ilhas verdejantes, dos navios, das fortalezas. Pelos boulevards sucessivos que vão dar ao cais, a vida tumultuária da cidade vibrava num rumor de apoteose, e era ainda mais intensa, mais brutal, mais gritada, naquele trecho do Mercado, naquele pedaço da rampa, viscoso de imundícies e de vícios. O cigano, de frack e chapéu mole, já falara a dois carroceiros moços e fortes, já se animara a entrar numa taberna de freguesia retumbante. Agora, pelos seus gestos duros, pelo brilho do olhar, bem se percebia que o catraieiro seria a vítima, a vítima definitiva, que ele talvez procurasse desde manhã, como um milhafre (2) esfomeado.

Eduardo e eu caminhamos para a rampa, na aragem fina da tarde que se embebia de todos aqueles cheiros de maresia, de gordura, de aves presas, de verduras. O catraieiro batia negativamente com a cabeça.

— Uma calça, apenas uma, em muito bom estado.

— Mas eu não quero.

— Ninguém lhe vende mais barato, palavra de honra. E a fazenda? Veja a fazenda.

Desenrolou com cuidado um embrulho de jornal. De dentro surgiu um pedaço de calça cor de castanha.

— Para o serviço! Dois mil réis, só dois!...Eu tenho família, mãe, esposa, quatro filhos menores. Ainda não comi hoje! Olhe, tenho aqui uns anéis...não gosta de anéis?

O catraieiro ficara, sem saber como, com o embrulho das calças, e o seu gesto fraco de negativa bem anunciava que iria ficar também com um dos anéis. O cigano desabotoara o frack, cheio de súbito receio.

— É um anel de ouro que eu achei, ouro legítimo. Vendo barato: oito mil réis apenas. Tudo dez mil réis, conta redonda!

O catraieiro sorria, o cigano era presa de uma agitação estranha, agarrando a vítima pelo braço, pela camisa, dando pulos, para lhe cochichar ao ouvido palavras de maior tentação; ninguém naquele perpétuo tumulto, ninguém no rumor do estômago da cidade, olhava sequer para o negócio desesperado de cigano. Eduardo, que nessa tarde passeava comigo, arrastou-me pelo ex-Largo do Paço, costeando o cais até a velha estação das barcas.

— Admiraste aquele negociante ambulante?

— Admirei um refinado “vigarista”...

— Oh! meu amigo, a moral é uma questão de ponto de vista. Aquele cigano faz parte de um exército de infelizes, a que as condições da vida ou do próprio temperamento, a fatalidade, enfim, arrasta muita gente. Lembras-te de La romera de Santiago, de Velez de Guevara? Há lá uns versos que bem exprimem o que são essas criaturas:

Estos son algunos hombres
De obligaciones, que pasan
Necesidad, y procuran
De esta suerte remediarla
Saliendose a los caminos...

É quanto basta como moral. Não sejamos excessivos para os humildes. O Rio tem também as suas pequenas profissões exóticas, produto da miséria ligada às fábricas importantes, aos adelos, ao baixo comércio; o Rio, como todas as grandes cidades, esmiúça no próprio monturo a vida dos desgraçados. Aquelas calças do cigano, deram-lhas ou apanhou-as ele no monturo, mas como o cigano não faz outra coisa na sua vida senão vender calçar velhas e anéis de plaquet (3) , aí tens tu uma profissão da miséria, ou se quiseres, da malandrice — que é sempre a pior das misérias. Muito pobre diabo por aí pelas praças parece sem ofício, sem ocupação. Entretanto, coitados! o ofício, as ocupações, não lhes faltam, e honestos, trabalhosos, inglórios, exigindo o faro dos cães e a argúcia dos reporteres.

Todos esses pobres seres vivos tristes vivem do cisco, do que cai nas sarjetas, dos ratos, dos magros gatos dos telhados, são os heróis da utilidade, os que apanham o inútil para viver, os inconscientes aplicadores à vida das cidades daquele axioma de Lavoisier: nada se perde na natureza. A polícia não os prende, e, na boêmia das ruas, os desgraçados são ainda explorados pelos adelos (4) , pelos ferros-velhos, pelos proprietários das fábricas...

— As pequenas profissões!... É curioso! 

As profissões ignoradas. Decerto não conheces os trapeiros sabidos, os apanha-rótulos, os selistas, os caçadores, as ledoras de buena dicha. Se não fossem o nosso horror, a Diretoria de Higiene e as blagues das revistas de ano, nem os ratoeiros seriam conhecidos.

— Mas, senhor Deus! é uma infinidade, uma infinidade de profissões sem academia! Até parece que não estamos no Rio de Janeiro...

— Coitados! Andam todos na dolorosa academia da miséria, e, vê tu, até nisso há vocações! Os trapeiros, por exemplo, dividem-se em duas especialidades — a dos trapos limpos e a de todos os trapos. Ainda há os cursos suplementares dos apanhadores de papéis, de cavacos e de chumbo. Alguns envergonham-se de contar a existência esforçada. Outros abundam em pormenores e são um mundo de velhos desiludidos, de mulheres gastas, de garotos e de crianças, filhos de família, que saem, por ordem dos pais, com um saco às costas, para cavar a vida nas horas da limpeza das ruas.

De todas essas pequenas profissões a mais rara e a mais parisiense é a dos caçadores, que formam o sindicato das goteiras e dos jardins. São os apanhadores de gatos para matar e levar aos restaurants, já sem pele, onde passam por coelho. Cada gato vale dez tostões no máximo. 

Uma só das costelas que os fregueses rendosos trincam, à noite, nas salas iluminadas dos hotéis, vale muito mais. As outras profissões são comuns. Os trapeiros existem desde que nós possuímos fábricas de papel e fábricas de móveis. Os primeiros apanham trapos, todos os trapos encontrados na rua, remexem o lixo, arrancam da poeira e do esterco os pedaços de pano, que serão em pouco alvo papel; os outros têm o serviço mais especial de procurar panos limpos, trapos em perfeito estado, para vender aos lustradores das fábricas de móveis. As grandes casas desse gênero compram em porção a traparia limpa. A uns não prejudica a intempérie, aos segundos a chuva causa prejuízos enormes. Imagina essa pobre gente, quando chove, quando não há sol, com o céu aberto em cataratas e, em cada rua, uma inundação!

— Falaste, entretanto, dos sabidos?

— Ah! os sabidos dedicam-se a pesquisar nos montes de cisco as botas e os sapatos velhos, e batem-se por duas botas iguais com fúria, porque em geral só se encontra uma desirmanada. Esses infelizes têm preço fixo para o trabalho, uma tarifa geral combinada entre os compradores, os italianos remendões. Um par de botas, por exemplo, custa 400 réis, um par de sapatos 200 réis. As classes pobres preferem as botas aos sapatos. Uma bota só, porém, não se vende por mais de 100 réis.

— Mas é bem pago!

— Bem pago? Os italianos vendem as botas, depois de consertadas, por seis e sete mil réis! E o mesmo que acontece aos molambeiros ambulantes como o cigano que acabamos de ver — os belchiores compram as roupas para vendê-las com quatrocentos por cento de lucro. Há ainda os selistas e os ratoeiros. Os selistas não são os mais esquadrinhadores, os agentes sem lucro do desfalque para o cofre público e da falsificação para o burguês incauto. Passam o dia perto das charutarias pesquisando as sarjetas e as calçadas à cata de selos de maços de cigarros e selos com anéis e os rótulos de charutos. Um cento de selos em perfeito estado vende-se por 200 réis. Os das carteiras de cigarros têm mais um tostão. Os anéis dos charutos servem para vender uma marca por outra nas charutarias e são pagos cem por 200 réis. Imagina uns cem selistas à cata de selos intactos das carteirinhas e dos charutos; avalia em 5% os selos perfeitos de todos os maços de cigarros e de todos os charutos comprados neste país de fumantes; e calcula, após este pequeno trabalho de estatística, em quanto é defraudada a fazenda nacional diariamente só por uma das pequenas profissões ignoradas.

— Gente pobre a morrer de fome, coitados...

— Oh! não. O pessoal que se dedica ao ofício não se compõe apenas do doloroso bando de pés descalços, da agonia risonha dos pequenos mendigos. Trabalham também na profissão os malandros de gravata e roupa alheia, cuja vida passa em parte nos botequins e à porta das charutarias.

— E é rendoso?

— Rendoso, propriamente, não; mas os selistas contam com o natural sentimento de todos os seres que, em vez de romper, preferem retirar o selo do charuto e rasgar a parte selada das carteirinhas sem estragar o selo.

— Mas os anéis dos charutos?

— Oh! isso então é de primeiríssima. Os selistas têm lugar certo para vender os rótulos dos charutos Bismarck — em Niterói, na Travessa do Senado. Há casas que passam caixas e caixas de charutos que nunca foram dessa marca. A mais nova, porém, dessas profissões, que saltam dos ralos, dos buracos, do cisco da grande cidade, é a dos ratoeiros, o agente de ratos, o entreposto entre as ratoeiras das estalagens e a Diretoria de Saúde. Ratoeiro não é um cavador — é um negociante. Passeia pela Gamboa, pelas estalagens da Cidade Nova, pelos cortiços e bibocas da parte velha da urbe, vai até ao subúrbio, tocando um cornetinha com a lata na mão. Quando está muito cansado, senta-se na calçada e espera tranquilamente a freguesia, soprando de espaço a espaço no cornetim. Não espera muito. Das rótulas há quem os chame; à porta das estalagens afluem mulheres e crianças.

— Ó ratoeiro, aqui tem dez ratos!

— Quanto quer?

— Meia pataca.

— Até logo!

— Mas, ô diabo, olhe que você recebe mais do que isso por um só lá na Higiene.

— E o meu trabalho?

— Uma figa! Eu cá não vou na história de micróbio no pêlo do rato.

— Nem eu. Dou dez tostões por tudo. Serve?

— Heim?

— Serve?

— Rua!

— Mais fica!

E quando o ratoeiro volta, traz o seu dia fartamente ganho...

Tínhamos parado à esquina da Rua Fresca. A vida redobrava aí de intensidade, não de trabalho, mas de deboche. Nos botequins, fonógrafos roufenhos esganiçavam canções picarescas; numa taberna escura com turcos e fuzileiros navais, dois violões e um cavaquinho repinicavam. Pelas calçadas, paradas às esquinas, à beira do quiosque, meretrizes de galho de arruda atrás da orelha e chinelinho na ponta do pé, carregadores espapaçados (5) , rapazes de camisa de meia e calça branca bombacha com o corpo flexível dos birbantes (6), marinheiros, bombeiros, túnicas vermelhas e fuzileiros — uma confusão, uma mistura de cores, de tipos, de vozes, onde a luxúria crescia. De repente o meu amigo estacou. Alguns metros adiante, na Rua Fresca, um rapaz doceiro arriara a caixa, e sentado num portal, entregava o braço aos exercícios de um petiz da altura de um metro. Junto ao grupo, o cigano, com outro embrulho, falava.

— Vês? Aquele pequeno é marcador, faz tatuagens, ganha a sua vida com três agulhas e um pouco de graxa, metendo coroas, nomes e corações nos braços dos vendedores ociosos. O cigano molambeiro aproveita o estado de semi-dor e semi-inércia do rapaz para lhe impingir
qualquer um dos seus trapos...um psicólogo, como todos os da sua raça, psicólogo como as suas irmãs que lêem a buena dicha por um tostão e amam por dez com consentimento deles.

Oh! essas pequenas profissões ignoradas, que são partes integrantes do mecanismo das grandes cidades! O Rio pode conhecer muito bem a vida do burguês de Londres, as peças de Paris, a geografia da Manchúria e o patriotismo japonês. A apostar, porém, que não conhece nem a sua própria planta, nem a vida de toda essa sociedade, de todos esses meios estranhos e exóticos, de todas as profissões que constituem o progresso, a dor, a miséria da vasta Babel que se transforma. E entretanto, meu caro, quanto soluço, quanta ambição, quanto horror e também quanta compensação na vida humilde que estamos a ver.

Estos son algunos hombres
De obligaciones, que pasan
Necesidad, y procuran
De esta suerte remediarla
Saliendose a los caminos...

Mas o meu amigo não continuou o fio luminoso de sua filosofia. O catraieiro apareceu rubro de cólera, e sutilmente cosia-se com as paredes, ao aproximar-se do cigano.

De repente deu um pulo e caiu-lhe em cima de chofre.

— Apanhei-te, gatuno!

O cigano voltara-se lívido. Ao grito do catraieiro acudiam, numa sarabanda de chinelas, fúfias, rufiões, soldados, ociosos, vendedores ambulantes.

— Gatuno! Então vendes como ouro um anel de plaquet? Espera que te vou quebrar os queixos. 

Sacudiu-o, atirou-o no ar para apanhá-lo com uma bofetada. O cigano porém caiu num bolo, distendeu-se e partiu como um raio por entre a aglomeração da gentalha, que ria. O catraieiro, mais corpulento, mais pesado, precipitou-se também. Os vagabundos, com o selvagem instinto da caça, que persiste no homem — acompanharam-no. E pelos boulevards, onde se acendiam os primeiros revérberos, à disparada entre os squares sucessivos, a ralé dos botequins, aos gritos, deitou na perseguição do pobre cigano molambeiro, da pobre profissão ignorada, que, como todas as profissões, tem também malandros.

Então Eduardo sentenciou.

— Tu não conhecias as pequenas profissões do Rio. A vida de um pobre sujeito deu-te todos esses úteis conhecimentos. Mas, se esse pobre sujeito não fosse um malandro, não conhecerias da profissão até mesmo os birbantes.

A moral é uma questão de ponto de vista. Para julgar os homens basta a gente defini-los segundo os seus sucessivos estados. Se te aprouver definir os profissionais humildes pela tua última impressão, emprega os mesmos versos de Guevara com uma pequena modificação:

Estos son algunos hombres
De obligaciones, que pasan
Necesidad, y procuran
De esta suerte remediarla
Corriendo por los caminos...
___________________________
Notas
(1) Barqueiro de catraia (bote de um só lugar).
(2) Ave de rapina.
(3) Imitação de ouro.
(4) Quem compra e vende objetos usados; brechó.
(5) Desengonçados.
(6) Patife, malandro.

Fonte:
João do Rio. A Alma Encatadora das Ruas. Fundação Biblioteca Nacional.

domingo, 15 de outubro de 2017

João Batista Xavier Oliveira (Trovas de quem entende de trovas) II


A fugir da hipocrisia
na discrição eu me calo,
pois quem fala em demasia
cumprimenta até cavalo.

Alvo de risos e palmas
embutido em seu disfarce
o palhaço lava as almas
querendo da dor vingar-se.

Bate à porta a primavera;
vem ungir o meu jardim
com as cores de quimera,
lantejoulas e cetim.

Bem no meio da floresta
a terra respira fundo...
Aproveita o que lhe resta
arejando mais o mundo.

Das mãos limpas que me valho
são exemplos dos meus pais:
honestidade e trabalho,
ganância... inveja... jamais!

Dinheiro não cai do céu
e de pedra não sai leite;
quem espera sempre ao léu
não passa de um mero enfeite.

Dos meus olhos são colírios
os campos, linda morada,
por onde dançam os lírios
ao canto da passarada.

Escondida tua foto
no armário, tenho a impressão
que nossa distância noto
não estar no coração!

Humildade, dom Divino
vivendo no coração
pois é simplesmente um sino
a chamar-nos à união.

Inspiração mais prospera
no âmago do poeta
ao deparar primavera
por ser sonhador e esteta.

Não existe lei que impeça
um pensamento funesto
de quem semeia promessa
quando não quer ser honesto.

O presente desatina
quem cai no conto falaz:
- trocar voto por botina
leva sempre um pé por trás.

Para "gregos e troianos"
beberem da mesma taça...
se for preciso mil anos
de entendimento...que o faça!

Pelas flores que plantei
entre espinhos... muito fiz 
que um grande jardim ganhei:
minha sina é ser feliz.

Pergunto ao tempo até quando
a falsa paixão se esconde...
e ele passando... passando...
simplesmente já responde.

Qual anúncio a nova era
revelando tempos novos
eis a luz de primavera
doando flores aos povos.

Quantas pedras removidas
e quantas por remover...
Provações em nossas vidas
que só nos fazem crescer!

Querer ser poeta... não!
Quem é não é por querer;
escrever do coração
não precisa saber ler.

Quisera uma flor apenas
no meu portal de esperanças;
suas pétalas pequenas
são sorrisos de crianças!

Saudade, flor que a distância
seu perfume não desfaz...
jardim onde nossa infância
dança ciranda de paz!

Se cuidarmos bem da fonte
a natureza eterniza
os vislumbres do horizonte
com as promessas da brisa.

Seu eu ficasse aquele dia
sem aceno na estação...
hoje a cena não teria
cicatriz no coração.

Solidão é uma procura
além dos nossos sentidos.
Sem tempo, longe, a ternura
se perde nos alaridos.

Teus olhos, duas nascentes
que brilham a natureza
dos meus versos tão carentes
de rimas para a beleza.

Uma lágrima sincera
o poeta externa em canto
ao vislumbrar a primavera
luzidia em seu encanto.

Uma mulher, na verdade,
simplesmente poderosa,
vence os espinhos da idade;
ganha os encantos da rosa.

Vinte e oito pinceladas
e um quadro estampa tua arte
de refletir, ampliadas,
as emoções ao pintar-te.

Fonte: O Autor

Valdemir Barsalini (Lançamento de Livro em Itu)


EU SEI !
crônicas, contos, causos e poemas
pelo advogado e professor de Direito, Valdemir Barsalini

R$ 25,00

toda a renda voltada para a
Academia Ituana de Letras

Pontos de venda:
Banca do Toledo
(ao lado da Padaria Santo Antonio)

Restaurante O Caipira

Fonte:
Academia Ituana de Letras (ACADIL)

sábado, 14 de outubro de 2017

Francisco José Pessoa (Buquê de Trovas)


As pedras em mim lançadas
podem ferir tal espinho,
mas formarão as estradas
para eu seguir meu caminho.

A violência que consome 
pouco a pouco nosso irmão, 
é o prato seco da fome 
no banquete da ambição.

Corre o tempo sem demora
tal qual o rio que flui...
quando eu disser: "vou agora",
na realidade, já fui!

Fazes da vida um poema
desses assim como eu faço,
e verás, nenhuma algema
é mais forte que um abraço.

Meu desvelo é de tal monta
por te querer tanto assim...
Às vezes nem me dou conta
que gosto um pouco de mim

Namoro sim, com as estrelas,
na relva do meu jardim...
Abraço-as, beijo-as, sem tê-las,
mas elas piscam pra mim.

Nossa justiça se entrega
nos desvãos dos tribunais...
Para os pobres ela é cega,
para os ricos vê demais!

Os meus amigos são tantos
de uma bondade sem fim,
que não preciso ter prantos,
pois ele choram por mim.

São nos meus sonhos, querida, 
em noite de grande lua, 
que a minha sombra despida 
se veste com a sombra tua.

Tendo a crença como apoio 
não desanimo jamais... 
nem dou conta que tem joio 
crescendo nos meus trigais!!!

Fonte: O Autor

Prêmio Literário da Academia Municipalista de Minas Gerais, de Prosa e Poesia (Resultado Final)

CATEGORIA CONTO

A) VENCEDORES

1º lugar

Conto: Rascunhos
Autor: RENATA FONSECA WOLFF 
Porto Alegre/RS

2º lugar

Conto: Objetivo
Autor: MATHEUS FERRAZ 
Contagem/MG

3º lugar

Conto: Oferenda
Autor: IGNEZ MONTEPULCIANO SANTOS DE OLIVEIRA 
Belo Horizonte/MG

B) MENÇÕES HONROSAS

1ª Menção Honrosa

Conto: Almas de papel
Autor: EDILEUZA BEZERRA DE LIMA LONGO 
São Paulo/SP

Conto: O fazedor de borboletas
Autor: AIRTON SOUZA 
Marabá/PA

2ª Menção Honrosa

Conto: Fabulosa paixão
Autor: LUCIANE MARIA COUTO CUNHA 
Contagem/MG

Conto: TPM
Autor: LÓLA PRATA 
Bragança Paulista/SP

3ª Menção Honrosa

Conto: O mestre e os discípulos
Autor: HUMBERTO DEL MAESTRO 
Vitória/ES

C) MENÇÕES ESPECIAIS

1ª Menção Especial

Conto: Na loja de ervas
Autor: CRISTINA BRESSER DE CAMPOS 
Curitiba/PR

2ª Menção Especial

Conto: A gravura sem nome
Autor: JOSAFÁ PAULINO DE LIMA 
Campina Grande/PB

Conto: Senilidade
Autor: ANDRÉ EITTI OGAWA 
Florianópolis/SC

Conto: Despedida
Autor: JOSINA NUNES DRUMOND 
Vitória/ES

3ª Menção Especial

Conto: Parece que falta alguma coisa
Autor: VANDA MARIA JACINTO 
Mossoró/RN

Conto: Presente de aniversário
Autor: MARCELO GOMES JORGE FERES 
Rio de Janeiro/RJ

Conto: O dever e o desejo de Piatã
Autor: JOÃO LISBOA COTTA 
Ponte Nova/MG

Conto: Assim como os Anjos
Autor: CELSO KALLARRARI 
Teixeira de Freitas/BA

CATEGORIA POESIA

A) VENCEDORES

1º Lugar: 

Soneto: QUANDO...
Autor: MATUSALEM DIAS DE MOURA 
Vitória/ES

2º Lugar: 

Poema: ANDANTE
Autora: JOSINA NUNES DRUMOND 
Vitória/ES

3º Lugar: 

Soneto: VIOLÕES 
Autor: HUMBERTO DEL MAESTRO 
Vitória/ES

Soneto: Manhã
Autora: MARINA BIAGIONI MARQUES 
Conselheiro Lafaiete/MG

B) MENÇÃO HONROSA 

1ª Menção Honrosa

Poema: VERSOS MEUS
Autora: ANGELA CRISTINA FONSECA 
Belo Horizonte/MG

Poema: COSER
Autora: ELISA ALDERANI 
Ribeirão Preto/SP

Poema: Pelo menos o silêncio
Autor : JOSAFÁ PAULINO DE LIMA 
Campina Grande/PB

Poema: POEMA À ENGENHARIA
Autor : JOSÉ CARLOS BAÊTA 
Belo Horizonte/MG

2ª Menção Honrosa

Poema: MEUS POETAS
Autor :EDUARDO FERREIRA DE SOUZA 
Santo André/SP

Poema: Retorno adiante
Autor :RAFAEL DUARTE CAPUTO 
Curitiba/PR

Poema: NUANCES DA ARTE
Autor : ROQUE ALOISIO WESCHENFELDER 
Santa Rosa/RS

3ª Menção Honrosa

Soneto: O QUE RESTOU
Autor :PAULO CÉZAR TÓRTORA
 Rio de Janeiro/RJ

c) MENÇÃO ESPECIAL

1ª Menção Especial

Poema: “AH-MANHÊ-SER”
Autora: DODORA GALINARI 
Belo Horizonte/MG

2ª Menção Especial 

Poema: SOU DE LÁ...
Autora: REGINA RUTH RINCON CAIRES 
Campinas/SP

Poema: Temperança
Autora: TATIANA ALVES SOARES CALDAS
Rio de Janeiro/RJ

3ª Menção Especial 

Poema: Conquista
Autora: IGNEZ MONTEPULCIANO SANTOS DE OLIVEIRA 
Belo Horizonte/MG

DESTAQUES COM 
“CERTIFICADO DE MENÇÃO ESPECIAL-DESTAQUE” 

1 – Destaques nacionais:

Poema: Amanhã
Autor : ALMIRA GUARACY REBÊLO 
Belo Horizonte/MG

Poema: Sou parte
Autor : ELZA AGUIAR NEVES 
Belo Horizonte/MG

Poema: Só por hoje
Autor : LUCÍLIA CÂNDIDA SOBRINHO 
Belo Horizonte/MG 

Poema: Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais
Autor : MARIA LÚCIA DE GODOY PEREIRA 
Belo Horizonte/MG

Poema: Carência
Autor : ZAÍRA MELILLO MARTINS 
Caeté/MG

2 – Destaques Internacionais

Poema: ETERNAS
Autor : EDWEINE LOUREIRO DA SILVA 
Saitama/Japão

Poema: POETAS DO MEU PAÍS
Autor : MARIA JOSÉ VIEGAS DA CONCEIÇÃO FRAQUEZA 
Portugal

Agradecemos a todos aqueles participaram do nosso concurso, e parabenizamos os classificados por mais esta vitória que conquistada com a singularidade da sua prosa e dos seus versos!

http://amulmig-bh.blogspot.com.br/
César Vanucci
Presidente da Amulmig

Angela Togeiro
Coordenação do Concurso - Conto 

Fonte: Angela Togeiro

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Silmar Bohrer (Lampejos Semanais)

eu e os livres 
não vivemos 
sem livros 
__________________________
primavera chegando 
vida brotando 
eu então vibrando 
____________

Daquelas tardes ventosas 
no final das invernias, 
barulhentas, cabulosas, 
úmidas, envolventes, frias.
____________

tenho sido uma ilha, 
cercado de livros 
por todos os lados 
_________

Parece ser bom 
mexer com as feridas: 
quantas delas 
depois cicatrizam.
_____________

Tenho sempre meus ativos 
como filosofia de frade: 
sonhos e esperança, vivos, 
quem não los ter há-de ? 
____________

homens, 
todos tecidos da teia tênue 
da vida 
____________

investir em marcas 
de qualidade: 
invista em você 
____________

leitura não é clausura 
é abertura 
____________

se a vida não é ótima 
que seja sensacional 
____________

eu sou um caso a estudar 
vivo me estudando 
____________

inspirações gravitam 
ideias tramitam 
pensares habitam 
__________________

tem gente que não engana 
apenas confirma 
___________________

pequenos detalhes 
podem gerar 
grandes decisões 

Fonte: O Autor