domingo, 16 de setembro de 2018

Isabel Furini (Os Portões)


Pegou um gladíolo que sobressaía entre as flores que sua irmã havia espalhado sobre o túmulo e colocou-o no vaso de cerâmica azul com desenhos bucólicos. Depois foi a vez de arrumar os cravos brancos, logo as calêndulas junto com folhas verdes. Sempre gostou de ramalhetes, até fez cursos de ikebana, por isso, nessa tarde de domingo, quando sua irmã Cacilda, sempre impaciente, espalhou as flores sobre o túmulo, rezou uma rápida prece e disse tchau Maria, vou para casa de mamãe, ela nem se preocupou.

Quando terminou de arrumar as flores, o Sol já estava caindo e faltava pouco para que o guarda-noturno do cemitério fechasse os portões. Deveria ter saído com Cacilda em vez de dizer tchau e continuar arrumando as flores.  Por que eu não fiz isso? Por que sou tão detalhista? Pensava enquanto caminhava entre as cruzes e os túmulos em busca de uma saída.

O sol começava a cair e ela, receosa, acelerou o passo. Olhou para os lados. O cemitério ficou deserto e ela lá, sozinha. Começou a sentir um friozinho na barriga. Deu para perceber o formigamento nas mãos, sempre que se assusta tem essa sensação desagradável. Acelerou ainda mais o passo, tentou correr. Não conseguiu. Sempre que sentia medo acontecia a mesma coisa, suas pernas não obedeciam a seu comando. Essas cruzes. Oh! não!..  errei o caminho.  Estava na parte detrás do cemitério, só via um muro pintado de branco. Só isso. Voltou sobre seus passos, túmulos enfileirados e mais túmulos...Seria essa a rua certa? Sentiu medo.

Queria sair e rápido. O sol se escondia no horizonte. Cacilda estava apressada, disse tchau Maria, podia ter me esperado - mas não, nunca me espera, desde criança ela gosta de deixar-me para trás. Ela, por ser a mais velha, sempre teve mais liberdade.  Para onde estou indo? Estou perdida.  Calma, Maria, calma, você conhece este cemitério, já veio aqui várias vezes. Calma, calma. Avançou entre os mausoléus. Ah! Já estava perto de um portão, que sorte!... Queria sair imediatamente dali. Não conseguia correr, mas conseguia caminhar, ao menos isso. Seus pés pareciam presos a terra, seu passo não era tão rápido quanto ela queria e suas pernas tremiam, mas estava indo para frente enquanto as sombras avançavam. Com desespero, viu o muro branco e os portões fechados. Não conseguiria sair. Onde estará o guarda- noturno?

 As sombras se espalharam sobre os túmulos dando ao cemitério um aspecto fantasmagórico. Os mortos eram isso mesmo, mortos. Nada poderiam fazer contra ela, mas mesmo assim ela sentia medo. Devia ter saído com sua irmã. Cacilda sempre fazia visitas rápidas apenas para colocar as flores de qualquer maneira, sem nenhuma arte e rezar uma Ave Maria.

Devia reconhecer a verdade, não sabia o caminho para o portão principal do cemitério e estava anoitecendo. Anoitecendo depressa. As sombras se estenderam e ela aí, caminhando sem cessar. Tentando sair. E o vigia? Olhou suas roupas novas. Nem lembrava quando as havia comprado. Estava tão estressada que nem conseguia lembrar quando ou em que loja comprara essas roupas.  Pena que não tinha o celular com ela. Ela havia esquecido o celular em casa!... Seguramente na mesa de jantar ou talvez no criado mudo. Não tinha nem um espelho. Queria olhar-se no espelho. Que ridículo! Pensou. Querer olhar-se no espelho em um momento desses.  

Aquele mausoléu de mármore branco!.. Desse mausoléu lembrava bem, estava à esquerda do portão principal. Que sorte! O guarda estará lá. Ele abrirá o portão. Que bom. Ele abrirá o portão. Apressou o passo e lá estava o portão.  Suspirou aliviada.

Sob os últimos raios do sol e a lua cheia que começava a aparecer no horizonte, viu o portão, mas ninguém por perto. E o guarda? Avançou até o portão e olhou para os lados. A solução é escalar, pensou. E, determinada, começou a escalar o portão, primeiro colocou um pé na barra inferior da grade e ergueu os braços para segurar na parte superior. Conseguiu elevar-se um pouco. Esforçou-se mais, ergueu os braços novamente e segurou uma das barras horizontais. Já estou perto do topo, que sorte! Mais um esforço e... tocou a barra superior do portão, um pé no ar e o outro pé escorregou antes de poder segurar com as mãos e caiu de costas. Sentou-se rapidamente no chão, não estava machucada,  mas devia iniciar de novo a subida.   O guarda-noturno estará perto? Olhou para os lados. Ninguém. Ficaria aí, agarrada ao portão. Alguém passaria a qualquer momento e a ajudaria. Suas mãos se aferraram às grades altas. Quando criança já havia tocado essas grades, foi no enterro da avó e sempre lhe pareceram muito frias. Mas agora não. Nem sentia a temperatura, ela estava tão fria quanto o portão. As mãos frias e morrendo de medo.

De repente, sons de passos. Um jovem de cabelo loiro transitava pela rua, vinha do bairro em direção ao ponto de ônibus.  No desespero por chamar a atenção do rapaz sacudiu o portão e gritou, gritou com todas suas forças. Viu o rapaz parar em frente do portão, com os olhos arregalados por um segundo, e sair correndo apavorado.

-  Idiota!..  Volte!... Ajude-me a sair daqui.

-  O que foi moça? - perguntou alguém atrás dela.

Graças a Deus, o guarda do cemitério a escutara. Voltou-se. O que viu a deixou confusa. Havia inúmeras pessoas atrás dela, homens, mulheres, velhos, jovens, adultos, crianças. Todos olhando o portão. Alguns com tristeza, outros com desespero e outros ainda, com raiva.

Um velho aproximou-se dela.

-  Você deve ser nova aqui e não conhece as regras. Só podemos olhar para fora, mas não podemos sair. Não podemos sair. Só os vivos podem, só os vivos.
_________________
Menção Honrosa no Concurso de Porto Seguro, em 2009.

Fonte:

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) 2


ESPORAS 

Sob as esporas do desejo, o tempo corre...
O tempo escorre como grãos por entre os dedos,
O sal da lágrima... de mel... nos lábios morre,
numa saudade que eterniza alguns segredos.

Nas asas leves do sonho, uma ansiedade,
que não invade, apenas acaricia
a fantasia de se amar em liberdade,
numa vontade que embevece e extasia.

Do vendaval mais sedutor, ninguém recua
e a pele nua sempre pede algum afeto,
o dialeto sensual deixa que flua
a emoção feliz de um sonho predileto.

Sob a carícia do amor, o enlevo voa, 
a alma boa é uma pétala no ar... 
a voz macia se dilui... jamais ecoa
e a luz melhor sempre ilumina um doce olhar.

Quem tem o dom de transformar as cicatrizes
na experiência, observa mais que fala, 
cura as tristezas com sorrisos mais felizes
e deixa livre a esperança que o embala.

Da calmaria, resta alguma correnteza.
Por natureza, só quem consegue sonhar, 
sabe que amar, bem mais que um gesto de nobreza, 
é a certeza de poder se libertar.

FILOSOFOME

Quem filosofa sobre a fome, não conhece
A verdadeira dimensão do sofrimento,
Só fotografa a visão que o apetece,
E só registra o instantâneo de um momento.

Quem sente a fome no instante em que observa
Um infeliz morrendo à míngua, abandonado,
Sabe que a dor do desamor é que conserva
A solidão em seu olhar desesperado.

Certas pessoas se alimentam de vaidade,
De arrogância,covardia e falsidade,
E o poeta mostra...em sua poesia...

Que os indigentes infelizes passam fome
E o egoísta é um bicho que só come
A sua própria solidão... e hipocrisia.

FLUTU...ÂNSIAS

Quando parto sem partir, estou sonhando...
... ou sofrendo solidões compartilhadas
com olhares cujas luzes apagadas 
sempre tentam me dizer que estão... me amando.

Quando volto sem nem ir, esbarro em mim... 
... mas sou outro vendo as pedras da estrada, 
meu olhar tropeça em bocas tão caladas...
. ..que meu sonho recomeça... pelo fim.

Sou assim: um ser que só se observa 
num espelho aleatório à abstração. 
Meu sorriso - teimoso - só se conserva, 
no momento em que a razão perde a... razão.

Minha lágrima insiste... eu a desfaço, 
entretanto não disfarço a minha dor, 
camuflar o sofrimento é um erro crasso, 
mesmo assim, eu mudo o tom, falo de amor.

Ah... no instante em que eu retorno dos enleios
e te olho... minha amada invulgar, 
não preciso me iludir com outro olhar
porque volto a me soltar nos devaneios.

Já não parto... me reparto e me diluo
nos teus olhos onde encontro um doce afeto. 
Se meu sonho é meu brinquedo predileto, 
quando brinco com teus sonhos... eu... flu... tu.. o.

MOSAICO

Tu me inventas no vazio do teu peito,
Com teu jeito de sonhar com os pés no chão;
Quando acordas, tu nem mais sabes direito
De que lado fica o teu coração.

Tu me ajeitas no teu quadro sem moldura,
Com ternura, tentas reconstituir
Os momentos de amor, mas a loucura
Só te faz, estranhamente... desistir.

Num mosaico de emoções, tu me produzes,
Tuas luzes reprojetam meu desenho,
Na miragem do que vês, tu te seduzes,
Tu me tens  e eu... simplesmente... não te tenho.

Quando, então, percebes que não me criaste,
E me vês sumir  no ar que se evapora,
O anseio vão do amor que cativaste
Fica em ti... e a imagem... vai embora.

Estilhaças teu mosaico colorido
Sem sentido... e cada peça arremessada,
Surreal é como um pássaro ferido
Esquecido na poeira de uma estrada.

Tua lágrima escorre e a maquiagem
Se dissolve em tua face abandonada
Nos espelhos que só mostram tua imagem
Que te fita mas que não te diz.... mais nada.

VELAS E VENTOS

Se navegar é dar velas ao vento,
voar é descobrir asas e penas.
assim, quando se quer águas serenas,
mister é se buscar o firmamento.

Amar é se soltar na correnteza,
voar é dar ao ser a dimensão
do amor dentro do próprio coração
e ter... na emoção... luz e leveza.

Assim, quando se ama de verdade,
percebe-se que é na felicidade
que o coração encontra o paraíso

E para se sentir feliz e leve
é só compreender que a vida é breve,
por isso é que sonhar sempre é preciso.

VELHAS PORTAS SEMPRE NOVAS 

Caminhos velhos nunca são velhos caminhos,
seres antigos respeitam portas fechadas,
porque eles sabem construir seus próprios ninhos 
e não se enganam com a beleza das fachadas.

Se nelas batem e o futuro lhes atende,
eles entendem que o presente é tão fugaz,
que toda vez que uma lâmpada se acende,
a escuridão se rende e fica para trás.

Pessoas velhas nunca são velhas pessoas,
que embora vivam mergulhadas no passado,
sempre conseguem descobrir que as coisas boas 
podem às vezes rebrotar do lado errado.

Quem as liberta da tristeza é a alegria
de mergulhar no tempo e ver que as coisas sãs
eram sementes de uma doce rebeldia
que os fazia construir novas manhãs.

Sem a saudade dos momentos mais felizes, 
elas seriam como os jovens complicados
que nunca sabem distinguir, como aprendizes,
se os caminhos que se dão, estão errados.

E ficam tristes quando alguém que nem viveu,
os ignora, e fala sobre o que nem viu,
filosofando sobre o que não percorreu, 
e sobre portas ele mesmo nem abriu.

Por isso mesmo, quando estão mais inaudíveis,
quando ninguém quer mais ouvir a sua história,
eles conversam com saudades invisíveis
e se abrigam num cantinho da memória.

As suas portas são tantas... tantos caminhos, 
que eles podem escolher o que trilhar...
...e adormecem... escolhendo entre os carinhos
mais indeléveis... um que os possa... consolar.

Irmãos Grimm (O Espírito na Garrafa)

Houve, uma vez, um pobre lenhador que trabalhava de sol a sol. Assim conseguiu economizar um pouco de dinheiro e, chamando o filho, disse-lhe:

- Tu és meu único filho. O dinheiro que economizei com o amargo suor do meu rosto, quero empregá-lo na tua instrução. Se aprenderes tudo bem, poderás manter-me na velhice, quando meus membros estiverem endurecidos e eu for obrigado a ficar em casa sem poder fazer nada.

O jovem foi para a universidade, onde permaneceu algum tempo, aprendendo com grande aplicação, merecendo a admiração e os elogios dos mestres. Tinha seguido vários cursos, mas ainda não se aperfeiçoara em tudo, quando a mísera soma ganha com tanto sacrifício pelo pai acabou-se e ele teve de voltar para casa.

– Ah, - lastimou-se o pai - não tenho mais nada que possa dar-te e, nestes tempos ruins, nem posso ganhar um só centavo além do pão de cada dia.

– Não te aborreças, meu querido pai, - respondeu o filho - se esta é a vontade de Deus, certamente será para o meu bem e eu me conformarei.

Quando o pai se preparava a ir à floresta cortar lenha para vender e assim ganhar alguma coisa, o filho disse-lhe:

– Quero ir contigo e ajudar-te.

– Será muito duro para ti, meu filho, que não estás acostumado com trabalho pesado, não aguentarás. Além disso, só possuo um machado e não tenho dinheiro para comprar outro.

– Vai à casa do vizinho, - respondeu o filho - e pede-lhe um machado emprestado até eu ganhar o suficiente para comprar outro para mim.

O pai foi ao vizinho e pediu-lhe emprestado um machado, e assim, na manhã seguinte, logo de madrugada, saíram os dois a caminho da floresta. O filho, alegre e desembaraçado, ajudou bem o pai. Quando o sol estava a pique, disse o velho:

– Sentemo-nos um pouco aí e comamos nosso lanche. Depois continuaremos com mais vigor.

O filho recebeu a ração de pão e disse:

– Descansa um pouco, meu pai! Eu não estou cansado e prefiro dar um passeio pela floresta à cata de ninhos.

– Ó tolinho, - respondeu o pai - para que queres perambular pela floresta? Ficarás cansado e, depois, não terás força para erguer o braço. Fica aqui e senta-te perto de mim.

O filho, porém, não lhe deu ouvidos e encaminhou-se para a floresta, comendo alegremente o pedaço de pão e olhando por entre os galhos para ver se descobria algum ninho. Andando a esmo, foi longe e chegou ao pé de um carvalho enorme, assustador, que deveria ter muitos séculos de existência, pois o tronco não poderia ser abraçado por cinco homens. Deteve-se a contemplar a árvore, pensando: "Muitos pássaros, certamente, fizeram ninhos lá em cima." Nisso, prestando ouvido, pareceu-lhe ouvir uma voz abafada a gritar:

– Solte-me daqui! Solte-me daqui!

Olhou para todos os lados, mas não viu coisa alguma, parecendo-lhe que a voz saía de dentro do chão. Então perguntou alto:

– Ondes estás? Quem chama assim?

A voz respondeu:

– Estou aqui no chão, entre as raízes do carvalho. Ajuda-me a sair, ajuda-me a sair.

O estudante pôs-se ativamente a revolver a terra debaixo da árvore, procurando entre as raízes, até que, por fim, numa pequena cavidade, descobriu uma garrafa. Erguendo-a e olhando-a contra a luz, ele distinguiu dentro dela algo em forma de rã, que pulava para cima e para baixo.

– Solta-me daqui, solta-me daqui! - gritou novamente. E o estudante, sem pensar em maldade alguma, destampou a garrafa.

No mesmo instante, saiu de dentro dela um espírito, que começou a crescer, e cresceu tão rapidamente que, em poucos minutos apenas, ergueu-se diante do estudante como um horrendo gigante do tamanho da metade do carvalho.

– Sabes tu o que te aguarda por me haveres salvo? - gritou com voz terrificante.

– Não! - respondeu o estudante, sem sombra de medo - Como haveria de sabê-lo?

– Pois, então, digo-te já, - berrou o espírito - tenho que torcer-te o pescoço.

– Devias ter-me dito isso antes, - respondeu o estudante - eu teria deixado que ficasses lá dentro. Mas a minha cabeça ficará firme no pescoço, pois há alguém mais que deve dar parecer no caso.

– Qual alguém ou ninguém, - rugiu o espírito - terás o que mereces. Achas que foi por misericórdia que fiquei preso tanto tempo? Não! Foi por castigo. Eu sou o poderosíssimo Mercúrio, e quem me soltar tenho de lhe quebrar o pescoço.

– Devagar, devagar! - respondeu o estudante - Não tenhas tanta pressa! Antes de mais nada, preciso saber se realmente estavas naquela garrafa e se és na verdade um espírito, se conseguires entrar e sair novamente, acreditarei, então poderás fazer de mim o que quiseres.

– É a coisa mais fácil deste mundo, - disse o espírito, cheio de vaidade e orgulho.

Encolhendo-se mais e mais, tornou-se fininho e pequenino como fora antes, conseguindo passar facilmente pelo gargalo da garrafa. Mal entrou, o estudante tapou bem depressa a garrafa com a rolha e atirou-a outra vez para dentro do buraco, entre as raízes do carvalho. Assim o espírito saiu logrado.

O estudante dispuha-se a voltar para junto do pai, quando ouviu o espírito implorar lamentosamente:

– Solta-me daqui, solta-me daqui!

– Não, não! - respondeu o estudante - Nessa não cairei pela segunda vez. Quem atentou uma vez contra a minha vida, quando o agarrar não o soltarei nunca mais.

– Se me soltares, - disse o espírito - eu te darei o suficiente para que vivas folgadamente pelo resto da vida.

– Não, não! - respondeu o estudante - vais enganar-me como da primeira vez.

– Estás dando um pontapé na sorte! - retrucou o espírito - não te farei mal algum, e, ainda por cima eu te recompensarei regiamente.

O estudante refletiu: "Vou arriscar, talvez cumpra a palavra e não me faça mal." Destampou novamente a garrafa e o espírito saiu como da outra vez e se foi encompridando e aumentando até voltar a ser o enorme gigante.

– Agora receberás a recompensa - disse o espírito, dando ao estudante um trapo largo como um emplastro, dizendo: - Se tocas com uma das pontas deste trapo qualquer ferida, ela sarará imediatamente. Se com a outra ponta tocares ferro ou aço, logo esse objeto se converterá em prata.

– Está bem, - disse o estudante - mas antes tenho de experimentar.

E, aproximando-se de uma árvore, fez uma incisão na casca com o machado, depois aplicou em cima o trapo para ver o resultado. Imediatamente a casca se uniu e sarou, ficando tal como estava antes.

– É! - disse o estudante - Realmente é como dizes. Agora podemos separar-nos.

O espírito agradeceu por ter-lhe dado a liberdade e o estudante também agradeceu pelo seu presente e voltou para junto do pai.

– Estiveste vagabundeando até agora, não é? - disse o pai - Até esqueceste o trabalho! Eu bem sabia que não farias coisa alguma!

– Não te amofines, meu pai, vou recuperar o tempo perdido.

– Sim, sim! - disse, agastado, o pai - Quero só ver!

– Cuidado, meu pai. Vou derrubar aquela árvore aí, que ficará em pedaços.

Pegando no trapo, esfregou com ele o machado e, em seguida, desferiu valente machadada no tronco, mas como o machado se havia transformado em prata, o gume dobrou-se.

– Oh, meu pai, vê que espécie de machado me deste. Entortou completamente ao primeiro golpe!

Assustado com aquilo, pois o machado não era seu, o pai exclamou;

– Ah, meu filho, que fizeste! Agora tenho de pagar o machado e não sei como hei de fazê-lo. Grande lucro me deu o teu trabalho!

– Não te zangues, meu pai. Eu pagarei logo o machado.

– Sim, seu toleirão, - falou o pai - com que vais pagá-lo se não tens senão o que eu te dou? Pura fantasia de estudante tens na cabeça. Quanto a rachar lenha, nada entendes!

Passados alguns instantes, o estudante disse ao pai:

– Meu pai, eu não posso mais trabalhar. Vamos fazer feriado por hoje.

– O que estás dizendo? Achas que quero ficar de mão no bolso como você? Se quiseres, podes voltar para casa, mas eu continuarei aqui trabalhando.

– É a primeira vez que venho a floresta e não conheço ainda o caminho, não posso voltar sozinho. Vem comigo?

Tendo-lhe passado a raiva, o pai deixou-se persuadir pela maneira gentil do filho e acabou por voltar com ele para casa. Aí disse-lhe:

– Trata de vender o machado estragado e vê o que podes alcançar por ele. O que faltar terei que ganhar com o trabalho para compensar o nosso vizinho pelo dano sofrido.

O filho dirigiu-se então à cidade, levando o machado a um ourives que, depois de o medir e pesar cuidadosamente, disse:

– Vale quatrocentas moedas, mas não tenho tanto dinheiro.

– Não faz mal! - disse o estudante - dai-me o que tiverdes. Confio na vossa honestidade para me pagardes o resto depois.

O ourives deu-lhe trezentas moedas, ficando a dever-lhe cem. O estudante voltou para casa e disse ao pai:

– Já tenho o dinheiro. Vai perguntar ao vizinho quanto quer pelo machado.

– Eu já sei - respondeu o pai. - Uma moeda e meia.

– Dá-lhe, então, três moedas. É o dobro do que vale e acho que é mais do que suficiente. Olha quanto dinheiro tenho!

Entregou ao pai as trezentas moedas, dizendo:

– Não te faltará mais nada e poderás viver confortavelmente.

– Santo Deus! - exclamou o pai admirado - onde arranjaste todo esse dinheiro?

O filho, então, contou o que lhe tinha acontecido e como acertara confiando na Providência Divina.

Com o resto do dinheiro, voltou para a Universidade e continuou a estudar, aprendendo tudo quanto havia para aprender. Mais tarde, como podia curar todas as feridas com o pedaço de trapo, tornou-se o médico mais afamado do mundo inteiro.

sábado, 15 de setembro de 2018

Amilton Maciel Monteiro (Poemas Recolhidos) I


LÍMBICO SISTEMA

Do límbico sistema eu nada entendo, 
nem igualmente de psicologia,
mas sempre tive e continuo tendo
horror ao palavrão, que me arrepia!

Não é que eu seja algum varão pudendo,
e intransigente com a pornografia...
E nem sequer eu sou um reverendo,
talvez se trate mais é de mania...

Assim, eu tenho a língua policiada
e meus ouvidos fogem da moçada
que fala tudo, indistintamente...

Sei é que palavrão, jamais usei,
a não ser este, que aprendi e sei:
inconstitucionalissimamente!

O CRIADOR

No mesmo instante em que nos concebeu,
o Criador dotou o nosso ser
de inspiração, com todo o seu querer...
E mais, o livre-arbítrio ele nos deu!

Com isto eu posso mesmo até escolher
ser um cristão, um crente, e até um ateu...
Dar sempre a quem precisa, o que for meu,
ou só levar a vida a bel-prazer!

A liberdade dada a todos nós,
desde bem antes de nossos avós
é a grande prova de que Deus nos ama!

Para evitar, no entanto, nosso abuso,
nos deu Ele a consciência para uso;
ela é quem nos condena... ou nos aclama!

RESILIÊNCIA

Tenho perdido às vezes a paciência, 
e isto me aborrece até demais;
por qualquer coisa fico na iminência
de me tornar o pior dos “imortais”...

De fato eu nunca fora assim, jamais,
até que o meu amor, sem ter clemência,
deixou-me à-toa, por coisas banais...
Preciso, agora, de resiliência.

O meu poder de recuperação
ante um desgosto ou de sofrer pressão,
foi sempre o forte em mim, até na dor!

Quero voltar a ser resiliente;
quando ela me perdoar completamente,
de volta eu hei de ter meu grande amor!

SER POETA

Fazer poesia é fácil, meu amigo,
basta um por cento só de inspiração,
e a conclusão do poema está contigo,
é só tirá-la na transpiração.

Isto é assim já desde o tempo antigo,
na liberdade e até na escravidão,
colocada a semente num abrigo,
o restante é cuidar da plantação...

Vale a pena o suor que tu verteres,
por tudo o que requerem os afazeres,
seja no campo, ou com papel e pena.

Seja a poesia, ou mesmo outra arte,
e quem com enxada faz a sua parte,
perante a Pátria jamais se apequena!

TRIPÉ VITAL

Três relações sustem a vida humana: 
com nosso Deus, o sumo criador,
com nosso próximo, o que nos irmana, 
e com a terra, que nos dá o calor...

Confio nessa tese franciscana,
da qual o social corpo é fiador,
porque,  a felicidade,  dela emana, 
se bem cumpridas as partes, com amor!

Mas se a degradação ambiental,
e a pobreza, esse outro grande mal,
se tornam cânceres da exploração...

Desponta a crise socioambiental,
falta ao excluído a vida trivial
e ao ganancioso, sobra a indigestão!

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta

Malba Tahan (Dez anos de kest)


Interessante seria, meu bom amigo, iniciar este conto, à maneira dos escritores clássicos israelitas, citando cinco ou seis pensamentos, admiráveis, colhidos nas páginas famosas do Talmude. Como me recordar, porém, dos trechos mais belos da Sabedoria de Israel, quando é tão fraca, incerta e claudicante a minha memória? Vem-me apenas à lembrança, neste momento, um velho provérbio muito citado pelos judeus russos:

“Quando o homem é feliz, um dia vale um ano.”

A verdade contida nesse aforismo é indiscutível. E a história que a seguir vou narrar poderá servir para ilustrar a minha asserção.

Vivia em Viena, há mais de meio século, um jovem chamado Davi Kirsch, filho de um malamed (professor), homem prudente e sensato. Davi Kirsch adornava o seu espírito com uma qualidade bastante apreciável. Não ousava tomar resolução alguma de certa relevância sem se sentir esclarecido e orientado pelos conselhos dos mais velhos.

Quando pensou em casar-se, ouviu de seu judicioso pai a seguinte recomendação:

— Cabe-me dizer-te, meu filho, que deverás evitar qualquer casamento quando no consórcio resultar aproximação, por parentesco, com um roiter-id (judeu vermelho).

E acrescentou, em tom grave, com a prudência que a longa experiência da vida só ensinava aos homens:

— Se algum dia, porém, por triste fatalidade, caíres nas garras de um roiter-id procura sem demora o auxílio de outro roiter-id.

Quis o jovem Davi, com grande empenho, conhecer, mais por curiosidade que por outro motivo, a razão de ser daquele estranho conselho, mas o velho malamed se recusou terminantemente a dar, sobre o caso, qualquer explicação, alegando que tinha, para assim proceder, motivos que de consciência não poderia revelar.

Algumas semanas depois, o jovem Davi Kirsch foi procurado por um schatchhen, isto é, por um agenciador de casamentos. Trocadas as saudações habituais — Scholem Aleichem! Aleichem Scholem —, o schatchhen assim falou, assumindo como sempre um ar de máxima reserva e discrição:

— Como sei que pretendemos resolver do melhor modo possível o problema do teu futuro, com a escolha de uma companheira digna, quero informar-te de que obtive para o teu caso uma solução admirável. A noiva que tenho em vista é formosa, de família honestíssima e, além do mais, muito culta e prendada.

— E o dote? — indagou Davi grandemente interessado, procurando tocar com a máxima finura naquele assunto tão delicado.

— Quanto ao dote — aclarou logo o schatchhen, com um sorriso que traduzia o orgulho de bom profissional — está combinado que será de mil coroas e terás, ainda, dez anos de kest!

— Dez anos de kest! — repetiu Davi, numa sinceridade de veemente surpresa. — Mas isto é espantoso, inacreditável!

Sou forçado a interromper a presente narrativa para dar ao leitor não judeu, isto é, ao meu bom amigo gói (apelido com que os judeus, em geral, designam um indivíduo que não é judeu. O vocábulo “gói” [ou góim] pertence ao idioma denominado ídiche) um esclarecimento que me parece indispensável. O kest é costume tradicional entre os judeus. O pai da noiva, além do dote (que é de uso também entre os cristãos) concede ao genro, a título de auxílio para iniciar a vida, a permissão de viver durante algum tempo em sua casa, sem fazer a menor despesa, quer com a alimentação, quer mesmo com o vestuário. Esse período, durante o qual o pai da jovem toma a seu cargo a subsistência completa dos recém-casados, é denominado kest, e em geral varia de um a três anos. Para um jovem egoísta, sem ânimo para a vida, pouco inclinado ao trabalho, a oferta de um kest prolongado constitui uma isca irresistível. Era esse precisamente o caso de Davi Kirsch, indolente como um falso mendigo, amigo da boa vida e do feriado permanente.

Dez anos de kest?

Um judeu sensato não poderia hesitar. A cerimônia do noivado, com a clássica apresentação das famílias, foi marcada para alguns dias depois. Quando Davi Kirsch foi levado à presença da sua noiva, ficou maravilhado; o schatchhen não o havia iludido pintando com as cores vivas do exagero os encantos da noiva prometida. A menina era uma judia realmente graciosa, esbelta, cheia de vida, e os dez anos de kest emprestavam-lhe ao olhar, ao sorriso e aos lábios todos os ímãs inconcebíveis da beleza. Rébla, a filha do rei de Gorner, não parecera mais sedutora aos olhos do grande Salomão! Dela diria certamente o poeta: “De longe parece uma estrela; de perto, uma flor.”

Dolorosa foi, porém, a surpresa do noivo judeu ao defrontar, pela primeira vez, com o futuro sogro. Pela cor fulva dos cabelos, pelas sardas que repintavam o carão avermelhado, era o velho um tipo perfeito e inconfundível de roiter-id! Naquele momento, invadido por negrejante inquietação, recordou-se Davi do conselho que a prudência paterna lhe ditara: “Evitar qualquer aproximação, pelo casamento, com um roiter-id”! Mas que fazer naquela dependura? A sua palavra estava dada, ademais, acima de qualquer compromisso, esmagando dúvidas e receios, os dez anos de kest constituíam um argumento irrespondível diante do qual desapareciam todos os motivos que militavam contra o consórcio que se lhe afigurava tão promissor. 

Pouco tempo depois realizou-se o enlace nupcial e o jovem passou a viver, com sua adorada esposa, o seu belo período de kest, em casa do rico roiter-id.

“Esse judeu vermelho”, pensou Davi, desconfiadíssimo do caso, “alguma peça desagradável prepara contra mim. Custa-me acreditar que ele mantenha essa liberalíssima promessa dos dez anos de kest. Naturalmente aqui, em sua casa, terei um tratamento tão vil e humilhante, que nem mesmo um cão seria capaz de aturar, e ao fim de dois ou três meses, é certo, serei forçado, pela situação, a procurar outro pouso e trabalho. Alguma perfídia o meu sogro já planejou contra mim!”

Com grande espanto, entretanto, o jovem Davi verificou que o pai da esposa era de um feitio que desmentia por completo seus temores e desconfianças. O roiter-id mostrava-se delicado e afetuoso, e dispensava ao novo genro um tratamento principesco. Fazia multiplicar os pratos saborosos nas refeições, proporcionava passeios agradabilíssimos, dava-lhe roupas finas e enchia-o de presentes valiosos.

“Meu pai não tinha razão”, meditava o jovem, refletindo sobre a vida regalada e invejável que desfrutava em casa do sogro. “Que outro marido poderá ser mais feliz do que eu? Rivekelê (diminutivo carinhoso de Rachel), a minha esposa, é encantadora; por longo prazo, sem o menor trabalho, preocupação ou contrariedade, terei, nesta bela casa, mesa sempre lauta, agasalho, carinho e consideração!”

Ao cabo de alguns dias, o velho roiter-id chamou o indolente marido da filha e interpelou-o muito sério:

— Dize-me, ó Davi! És, na verdade, feliz na tua nova situação de homem casado e chefe de família?

— Muito feliz, meu sogro — confirmou o jovem, num retraimento de espanto. — Sinto-me, aqui, incomparavelmente feliz!

— Se assim é — tornou gravemente o judeu vermelho, medindo-o de alto a baixo — se é assim, o teu kest está terminado!

— Terminado o meu kest? — protestou atônito o marido parasita. — Mas se eu estou casado há pouco mais de uma semana! Como pode ser isso?

— Como pode ser? — repetiu o sogro num tom muito sério, tomando uma atitude que irradiava antipatia. — Nada mais simples. Vou provar claramente. Estás casado com minha filha há dez dias. Bem sabes que no livro dos Provérbios encontramos exalada esta sentença: “Quando um homem é feliz, um dia vale um ano.” Logo, de acordo com esse tradicional provérbio, estás casado há dez anos! Amanhã, portanto, levarás de minha casa tua esposa e irás para a tua residência. Creio que deverás, também, procurar um emprego, um meio qualquer de vida, pois de mim já recebeste o necessário auxílio, o dote e o kest prometidos.

E o nosso herói, diante da imposição do sogro, sentiu-se preso de grande furor. Quis apresentar argumentos que militavam em seu favor, mas o astucioso roiter-id se manteve intransigente, e não houve como levá-lo a reconsiderar a resolução que havia tomado, insistindo em afirmar que nada mais fazia senão atender à verdade contida no provérbio: “Quando o homem é feliz, um dia vale um ano.

Não se conformava Davi Kirsch com a ideia de ser obrigado a trabalhar para viver, e a situação a que fora, de repente, atirado envenenou-lhe o espírito com todas as toxinas do rancor. Tinha sido, a seu ver, indigno o proceder do pai de Rivekelê. Prometera-lhe, sob palavra, dez anos de kest e depois, por evidente má-fé, baseando-se num idiota brocardo judeu, reduzira o prazo a dez dias! Que tratante! Era um grande velhaco o roiter-id! Quando o interesse estava em jogo, sabia transformar um simples provérbio em lei social!

“Meu pai tinha razão”, murmurou Davi, recalcando os seus rancorosos impulsos. “Toda razão tinha, meu pai! Pratiquei uma imprudência muito séria, fazendo-me surdo aos conselhos daquele que melhor do que eu deve conhecer a vida e os filhos de Israel!”

E, resolvido a não incidir mais uma vez no erro, o jovem, recordando-se da segunda parte do conselho paterno, foi nesse mesmo dia procurar um conhecido seu, chamado Elias Bloch, também judeu vermelho, e pediu-lhe que indicasse um meio que o permitisse sair da situação crítica em que se encontrava. O inteligente Elias Bloch atendeu com amabilidade o jovem Davi, e depois de ouvir o minucioso relato da burla do kest, expediu uma risadinha seca e maldosa, e respondeu com um relâmpago de inspiração no olhar:

— Não vejo dificuldade alguma em resolver o teu caso. Irás amanhã à casa de teu sogro, e se seguires as minhas instruções sairás vencedor nesse litígio.

No dia seguinte Davi Kirsch, tendo nas mãos um exemplar da Torá — que é o livro da lei entre os hebreus — foi ter à rica vivenda do seu astucioso sogro. Depois de saudar o velho roiter-id com certa reserva e cerimônia, como se as relações entre ambos estivessem profundamente abaladas, assim falou com teatral entonação:

— Por motivos muito graves sou forçado a vir agora à sua presença. Vou divorciar-me!

Divórcio! Essa palavra para a família judaica representa uma calamidade só comparável às maiores calamidades.

— Estás louco, rapaz! — protestou o velho empalidecendo ligeiramente. — Bem sabes que o divórcio só pode ser obtido segundo a lei de Moisés. Que motivo poderá ser aludido para justificativa dessa nódoa infamante com que pretendes golpear a minha família?

— Tenho a lei a meu favor — acudiu com altivez o moço. — Como o senhor mesmo declarou e provou, vivi em sua companhia os dez anos de kest. Os doutores e rabis não ignoram que o Livro da Lei de Moisés — a Torá — diz com a maior clareza: “Quando a mulher não concebe ao fim de dez anos, o marido pode requerer o divórcio.” Ora, eu estou casado há dez anos e não tenho filhos; cabe-me, portanto, segundo a Lei, o direito de repudiar minha esposa!

— Que brincadeira é essa, meu filho! — retorquiu o roiter-id, emergindo da sua estupefação e abraçando amavelmente o genro. — Afastemos de nós as ideias tristes, pois já não foi pequeno o susto com que abalaste meu coração de pai. Fizeste mal em tomar a sério o meu gracejo sobre o tal provérbio, dos dias felizes, e, se assim é, fica o dito pelo não dito. Se eu prometi dez anos de kest é certo que poderás viver todo esse tempo em minha casa.

E concluiu, com um gesto convencido e superior, passando lentamente a mão pelos cabelos avermelhados:

— Jamais deixei, menino, como um bom judeu, de cumprir a palavra dada.
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Fonte:
Malba Tahan. Lendas do Bom Rabi. 
Rio de Janeiro/RJ: Editora Record, 2011

Nei Garcez (Elos de Trovas) Eclipse



O sol vive amargurado
sem ninguém pra conversar,
nem estrelas, ao seu lado,
que pudessem cintilar.

Fulgurava, tanto, tanto,
com seu brilho tão bonito,
que as estrelas, pelo encanto,
se apagavam no infinito.

Soube que elas aparecem
só à noite pra brilhar,
pois, ao rei sol, esmaecem,
escondendo o cintilar.

Sem perder sua paciência,
esperou o dia certo...
E não é que a providência
o deixou boquiaberto!

Viu a lua, em pleno dia...
Não parava no lugar.
Assim mesmo a perseguia
pra poder se enamorar.

Encontrando a amada sua,
começou por ofuscar…
Era o sol beijando a lua
em pleno eclipse solar!

Fonte:
Trovas em Marcadores de Livros,  enviados pelo trovador curitibano Nei Garcez.