segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Concurso de Trovas da UBT-Fortaleza (Resultado Final)


Âmbito: NACIONAL / INTERNACIONAL

Categoria: NOVO TROVADOR

Tema: ESTUDO (L/F)

VENCEDORES:

1º. Lugar:
O estudo que faz crescer,
desvendar todos os véus ...
faz o aprendiz merecer
as bênçãos vindas dos céus ...
Jaqueline Machado
Cachoeira do Sul/RS

2º. Lugar:
O estudo constrói pilares.
Filho, em ti forma estruturas.
Verás quando precisares
nas caminhadas futuras!
Jerson Lima de Brito
Porto Velho/RO

3º. Lugar:
No estudo da anatomia,
vasculhei mil corações;
não encontrei simetria
entre amores e paixões.
Maurício Norberto Friedrich
Curitiba/PR

MENÇÕES HONROSAS:

4º. Lugar:
No estudo das Escrituras,
um belo achado encontrei
e, no amor das criaturas,
para sempre viverei.
Olga Maria Dias Ferreira
Pelotas/RS

5º. Lugar:
Após estudo profundo
eu cheguei à conclusão:
Não há nada neste mundo,
que não seja encenação.
Luís Parellada Ruiz
Londrina/PR

6º. Lugar:
Não viva só de lazer,
medite em conselho fino:
— Estudo é luz do saber,
na caverna do destino.
Marciano Batista de Medeiros
Serra de São Bento/RN

MENÇÕES ESPECIAIS:

7º. Lugar:
Estudo pra ser alguém
nessa vida atribulada,
onde só ganha quem tem
a cultura acumulada.
Rosilene Tramontin
Ponta Grossa/PR

8º. Lugar:
Pessoa que tem estudo
normalmente não é rica,
mas traz orgulho o “canudo”,
pois o saber dignifica.
Lucêmio Lopes da Anunciação
Canela/RS

9º. Lugar:
Com estudo se mantém
quase tudo no universo.
Na esperança a cura vem
e eu componho um belo verso.
MIFORI
São José dos Campos/SP

DESTAQUES:

10º. Lugar:
Fiz estudo precioso
e, no teu rosto, encontrei
um olhar auspicioso
com o qual sempre sonhei...
Claudia Vanessa Bergamini
Londrina/PR

11º. Lugar:
O estudo nos dá o saber,
mas nem sempre a educação.
Vamos, em casa aprender,
bons modos de cidadão.
Zé Salvador
São Gonçalo/RJ

12º. Lugar:
Posso conhecer o mundo,
pelos livros navegando.
E vou através do estudo,
um universo criando...
Nadja Cristina Lenzi Gadotti
Balneário Camboriú/SC

Âmbito: NACIONAL/INTERNACIONAL

Trovador Veterano

TEMA: Estudo (L/F)

VENCEDORES:

1º. Lugar:
Por mais estudo que tenha
eu confesso a frustração
de não desvendar a senha
para abrir teu coração.
Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba/SP

2º. Lugar:
Meu pai nunca teve estudo,
mas tinha o sublime dom
de aos filhos ensinar tudo
o que é puro, honesto e bom…
Vanda Fagundes Queiroz
Curitiba/PR

3º. Lugar:
Procurei por Deus em tudo
para manter a esperança;
achei-O após grande estudo,
num meigo olhar de criança.
Lóla Prata
Bragança Paulista SP

MENÇÕES HONROSAS:

4º. Lugar:
Com dedicação e estudo
ampliamos o saber.
É com a vida, contudo,
que aprendemos a viver!
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina/PR

5º. Lugar:
Estudo o amor e me perco…
Por momentos fico mudo…
Tento fugir do teu cerco,
mas, para mim tu és tudo!
Messias da Rocha
Juiz de Fora/MG

6º. Lugar:
Mais uma vez, dez na prova!
Tirei porque sou sortudo?
Minha sorte se renova,
quanto mais tempo eu estudo!
Magnus Kelly
Natal/RN

MENÇÕES ESPECIAIS:

7º. Lugar:
Na vida, nem sempre o estudo
reflete o grau do saber:
quem pensa que sabe tudo
é o que mais tem a aprender!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

8º. Lugar:
Saber sem medir o quanto,
é possível com estudo
dos livros que ensinam tanto
da vida, que ensina tudo!
Francisco Gabriel Ribeiro
Natal/RN

9º. Lugar:
De mais estudo, Senhor,
carece este nosso povo.
Reforce a lição de amor
nesse pobre "mundo novo"!
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP

DESTAQUES:

10º. Lugar:
Estuda, amigo, que o estudo
evangeliza os teus lábios,
mostrando o segredo mudo
que há no silêncio dos sábios!
Prof. Garcia
Caicó/RN

11º. Lugar:
O estudo da teoria
ganha mais eficiência
quando ganha a companhia
do poder da experiência.
Sandro Rabel
Niterói/RJ

12º. Lugar
Querer viver sem estudo
é viver sem ter juízo
luta, luta e perde tudo
na porta do paraíso.
Roberto Nini
Mogi-Guaçu/SP

Âmbito: ESTADUAL (CEARÁ)
(Inclusive de membros da UBT-Fortaleza)

Tema: Educação (L/F)

VENCEDORES:

1º. Lugar:
Para conseguir sucesso
qualquer cidade ou nação,
só conquistará progresso
se investir na educação.
Henrique Eduardo Alves Pereira
UBT-Maranguape e UBT-Ocara/CE

2º. Lugar:
Para que nossa nação
seja referencial,
trabalhar a educação
é fator primordial!
Ana Maria Nascimento
UBT-Aracoiaba/CE

3º. Lugar:
Paulo Freire representa
com toda propriedade
a educação que alimenta
a fome da liberdade.
Dellani Freire
UBT-Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS:

4º. Lugar:
Um professor consciente,
ao cumprir sua missão,
jamais é indiferente
às metas da educação.
Ana Maria Nascimento
UBT-Aracoiaba/CE

5º. Lugar:
A educação é virtude
nos brios da relação
revela-se na atitude
de meritosa instrução.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
UBT-Maranguape/CE

6º. Lugar:
Tal qual régio diadema,
que foi com rubis ornado,
educação é um tema
a ser sempre valorado!
Haroldo Paula
UBT-Maranguape/CE e UBT-Fortaleza/CE

MENÇÕES ESPECIAIS:

7º. Lugar:
Educação de valor
investimento seguro
um presente promissor
uma porta pro futuro.
Abelardo Nogueira
Aracoiaba/CE

8º. Lugar:
A Educação já faz parte,
da vida do ser humano...
Como se fosse estandarte,
tremulando a todo pano.
Hortêncio Sales Pessoa
ACLA, UBT-Maranguape e Fortaleza/CE

9º. Lugar:
Na educação recebida
a criança colhe o fruto
abrigo por toda vida
recompensa ao seu tributo.
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

DESTAQUES:

10º. Lugar:
Educação é preceito
de esmerada formação
quem pratica tem respeito
com excelsa admiração.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
UBT-Maranguape/CE

11º. Lugar:
Tenha respeito a cultura
da região estudada
quebre toda ditadura
da educação programada.
Dellani Freire
UBT-Maranguape/CE

12º. Lugar:
É certo que uma nação
que visa seu bem-estar
investe na Educação
como meta popular.
Abelardo Nogueira
Aracoiaba/CE

Fonte: Resultados enviados por A. A. de Assis

Vinicius de Moraes (O "IDAP")


Creio ter sido em casa de Fernando Sabino, há uns vinte verões atrás que, discorrendo a conversa sobre o amor, entraram de repente os circunstantes em considerações fenomenológicas da maior pertinência, a propósito desse caso patológico que é um homem apaixonado. O tipo foi, de início, estudado sob todos os ângulos; e como a maioria dos circunstantes falava com conhecimento de causa - e quanta! - chegou-se a várias conclusões sobre as quais não me estenderei de medo que o assunto vaze do retângulo a que tenho direito nesta página.

Que o homem apaixonado é um doente, disso não nos ficou a menor dúvida. Doente mesmo no duro, tal um portador do mal de Hansen ou da moléstia de Basedow. Como sob a ação de um vírus qualquer letal, seu cérebro começa a funcionar de um modo totalmente peculiar. Torna-se ele, para princípio de conversa, mais policial que um agente da antiga Gestapo, para não trazer o assunto mais próximo, passando a julgar o ser amado, quando fora do seu campo visual (e por vezes também dentro dele) capaz de qualquer traição. Para o homem apaixonado, a mulher amada é o centro do mundo e da atenção geral. Todos os homens, por princípio, dão em cima dela. Se ela olha não importa quão casualmente para um outro varão na rua, está dando bola. Se não olhou é porque sofreu impacto: não ama o bastante para enfrentar com naturalidade a cobiça do sexo oposto; trata-se de uma fraca, uma venal, uma completa... - nem é bom falar! Enfim, para o homem apaixonado a mulher amada é, na fase da paixão, um misto de Bernadette e Lucrécia Bórgia. Nada mais irreal que a sua realidade, pois que se tem saudade dela em sua presença e há ocasiões em que se quer a sua morte para que se possa ter paz - e não há paz em sua ausência. A mulher amada é o paradoxo vivo, o fogo que arde sem se ver, a ferida que dói e não se sente, o contentamento descontente de que fala Camões que, esse sim, sabia o que era o amor.

A partir de uma diagnose bastante completa do assunto, começou-se a pensar o que se poderia fazer em beneficio do homem apaixonado, esse bateau ivre despenhado na torrente, esse sonâmbulo a vagar no espaço cósmico, essa nota extrema e lancinante acima de todas as pautas da emoção humana. Ficou de início deliberado que ele deveria usar uma qualquer marca distintiva: talvez um sapato de cada cor, ou uma gravata que acendesse como a dos mágicos, ou andar sobre pernas de pau... - enfim, uma característica que o tornasse conspícuo aos olhos dos míseros mortais entre os quais é obrigado a viver. Acabamos optando por uma bengalinha como a dos cegos - só que, em vez de branca, vermelha, da cor da paixão; pois um dos grandes riscos que corre o homem apaixonado é o tráfego, em meio ao qual transita como se fosse transparente. Mas ficou verificado que a bengalinha poderia prestar-se a grandes contrafações por parte de inúmeros vigaristas que, sabedores de suas regalias, não hesitariam em obtê-la por meios ilícitos. O melhor, concluímos, seria criar uma nova autarquia, o Instituto dos Apaixonados (com a sigla IDAP), a cujos sócios seria fornecida uma carteirinha; cuja carteirinha daria prioridade em telefones públicos, direito a "espetar" em bares, proteção especial da polícia em caso de briga e uma série de outras prerrogativas, como entrada grátis nos cinemas mais escuros da cidade, direito a expulsar pessoas dos bancos de parques e jardins, e etc. 

Mas qual a entidade para caracterizar o homem verdadeiramente apaixonado? E quais as habilitações necessárias à constituição de uma junta de psicólogos capazes de atestar ser uma pessoa portadora da terrível disfunção? Não haveria, aí também, oportunidade para muito nepotismo, muita proteção por fora? E após novas ponderações verificou-se que bastaria um funcionário honesto atrás de um guichê. O Homem Apaixonado chegaria e o funcionário examinaria rapidamente o fundo do seu olho para diagnosticar o chamado olho de peixe, ou seja, meio vidrado. Feito isto, tomar-lhe-ia o pulso ao mesmo tempo que perguntasse: "O senhor se considera realmente apaixonado?" Ao que, o paciente - eu, suponhamos – responderia mais ou menos assim:

- Ah, o senhor quer saber que dia é? São quatro e meia e a primavera está linda. Ela se chama Nelita...

E cairia para trás, duro e babando.

Fonte:
Vinicius de Moraes. Prosas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Irmãos Grimm (Os três irmãos afortunados)


Houve, uma vez, um homem que, sentindo-se velho e esgotado, chamou os três filhos e deu ao mais velho um galo, ao segundo um alfanje e ao terceiro um gato, dizendo:

- Já estou velho e meu fim está próximo. Antes de morrer, porém, gostaria de fazer algo em vosso benefício. Dinheiro não possuo e isto que vos dei agora parece de pouco valor, mas tudo depende de ser usado com inteligência. Basta que procureis um país onde esses objetos sejam desconhecidos e tereis a fortuna nas mãos.

Pouco depois o pai faleceu. Então o filho mais velho foi-se pelo mundo afora com o galo, mas, por onde quer que passasse, o galo já era bem conhecido: via-o de longe nas cidades, no alto das torres, a girar com o vento. Nas aldeias ouvia mais de um cantar e ninguém se admirava do seu. Não lhe parecia, absolutamente, que viesse a fazer fortuna com o pobre galo. Tanto andou e perambulou que, por fim, foi ter a uma ilha, e lá as pessoas ignoravam o que fosse um galo e até mesmo como se dividia o tempo durante o dia. Naturalmente sabiam distinguir a manhã e a tarde, mas à noite, se não estavam dormindo, não sabiam a quantas andavam.

– Olhai! - disse o moço - vede que soberbo animal! Tem uma coroa da cor rubra dos rubis na cabeça e usa esporas como um cavaleiro. À noite vos chama três vezes, na hora certa. A última vez é quando está surgindo o sol. Mas, se cantar em pleno dia, precavei-vos, pois anuncia mau tempo.

A novidade agradou a todos. Naquela noite ninguém dormiu e, com grande júbilo, ouviram o galo anunciar sonoramente o tempo, às duas, às quatro e às seis horas. Perguntaram ao moço se o galo estava à venda e quanto queria por ele.

– Oh, ele custa tanto ouro quanto pode um burro carregar! - respondeu o moço.

– Ora, isso é uma ninharia por um animal tão precioso! - exclamaram todos. E com a maior satisfação deram-lhe o que pedira.

Quando o moço regressou à casa com toda aquela riqueza, seus irmãos ficaram pasmos, e então o segundo disse:

– Também eu quero sair por ai, a ver se o meu alfanje rende tanto!

Mas parecia que isso não sucederia: por toda parte encontrava camponeses com alfanjes iguais ao seu. Finalmente, porém, também ele teve sorte numa ilha onde os habitantes ignoravam completamente esse utensílio, pois lá, quando o trigo estava maduro, postavam os canhões diante dos campos e ceifavam-no a tiros de canhão, Mas o processo não era dos melhores. Às vezes alguém ultrapassava o objetivo, outros ao invés atingiam as espigas fazendo-as voar longe, de maneira que muito grão se perdia e, ainda por cima, faziam um barulho infernal.

O moço aproveitou a oportunidade, pôs-se a trabalhar e ceifou tão silenciosamente e com tanta rapidez, que o povo ficou de boca aberta pelo espanto. Ficaram todos muito satisfeitos em pagar-lhe o que exigia, e ele pediu um cavalo carregado com tanto ouro quando pudesse transportar.

Diante disso, o terceiro irmão, também, quis procurar o que lhe era devido, com o seu gato.

Sucedeu-lhe o mesmo que aos dois irmãos maiores. Enquanto permaneceu em terra firme, nada havia a fazer, por toda parte havia tantos gatos que era preciso afogar os recém-nascidos. Finalmente, fez-se conduzir a uma ilha e lá teve a sorte de que nunca tinham visto um gato, e os ratos se haviam multiplicado de tal maneira que chegavam a dançar nos bancos e nas mesas, devorando tudo, estivessem ou não presentes os donos da casa.

O povo andava desesperado e o próprio rei não encontrava solução para esse flagelo. Os ratos, faziam, livremente correrias por todos os cantos do palácio real e roíam tudo quanto lhes caísse sob os dentes. Então o moço levou para lá o gato que se lançou logo à caçada. Dentro de algumas horas limpou várias salas.

O povo, então, suplicou ao rei que adquirisse esse maravilhoso animal para o reino. O rei deu com satisfação o que o moço exigiu: um burro carregado de ouro. Assim o terceiro dos irmãos regressou para casa tão rico como os outros.

Entretanto, no castelo real, o gato divertia-se a valer com os ratos e matou tantos que era impossível contá-los. Por fim, estava tão acalorado pelo trabalho que sentiu sede. Levantando a cabeça, pôs-se a gritar: - Miau, miau, miau!

Ao ouvir esse estranho miado, o rei e toda a corte se espantaram e cheios de terror fugiram para fora do castelo. O rei convocou o conselho para resolver o que deviam fazer. Então resolveram enviar um arauto ao gato para o intimar a deixar quanto antes o castelo, se não queria que empregassem a força. Os conselheiros opinavam:

– Preferimos mil vezes mais o flagelo dos ratos, pois já estamos habituados, antes que expor nossas vidas a esse monstro desconhecido.

Um pajem foi incumbido de perguntar ao gato se preferia sair do castelo espontaneamente, mas o gato, que morria de sede, não sabia responder senão com o seu: Miau, miau.

O pajem julgou entender que ele dizia: - Não, não! - e transmitiu essa resposta ao rei.

– Então, - disseram os conselheiros - terá de ceder pela força.

Postaram os canhões e atiraram até incendiar o castelo. Quando o fogo atingiu a sala onde se encontrava o gato, este pulou agilmente a janela e fugiu. Os assediantes, porém, não o tendo visto, continuaram a bombardear o castelo até reduzi-lo a um montão de escombros.

Fonte:
Contos de Grimm.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Caldeirão Poético XVI



A TRAVESSIA

 "O mundo é um moinho... " (Cartola) 

Todos nós temos corda onde agarrar,
A vida nos dá sempre uma saída
Que nos evite o risco de abismar
No medo natural da própria vida.

Por certo cada um pega o que pode:
Um amor, uma paixão ou mesmo um vício;
Um poema, um soneto ou uma ode,
Um portal com a cruz no frontispício,

Ou então, o que é pior, com um convite
Para entrar mas deixando a Esperança, *
Última paz que o mundo nos permite... *

Mas pra saíres vivo do moinho,
Não como Don Quixote e Sancho Pança,
Terás que atravessar a ti sozinho…

 

BEM SEI...

Bem sei... Não faço verso algum perfeito;
e alguns bem longe estão da exatidão, 
contudo, infelizmente, é desse jeito
que eu consigo acalmar meu coração...

Quisera que surgisse sem defeito,
não por vaidade tola ou afetação, 
mas apenas porque sei que ele é feito
só para alguém que estima a perfeição!

Assim, pois, ele nasce quando quer, 
da forma que bem quer; sem dar qualquer
obediência à minha mão que o escreve!

É o modo com que abrando a agonia, 
cada vez que em meu peito a dor se atreve 
a tentar encerrar minha estesia...


O PALÁCIO DA VENTURA

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, O Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!


DOR DA SOLIDÃO

Não existe dor maior
Que a dor da solidão...
É dor cruel e perversa
Que não aceita conversa
E nem mesmo explicação!
É dor do só, do sozinho,
É carência de carinho,
Seu sintoma é a paixão.

E essa dor tão doída
Que tanto maltrata a gente
Chega assim tão de repente
Sem sequer bater na porta.
Para ela pouco importa
Se está matando o doente,
Se a "Inês é quase morta".

É uma dor que aniquila,
Que castiga, que maltrata,
É mais forte que a tequila
Mais ardente que a cachaça.
É pior que a dor que tomba,
Mais cruel que a dor que mata.


PROPOSIÇÃO DAS RIMAS DO POETA

Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores:

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores:

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.


NOVA FRIBURGO

Loira “Princesa da Serra”,
das nuvens rasgando o véu!
Indago, serás da terra
ou doce visão do céu?!

Tens glórias de velho burgo,
cobrem-te rendas e galas,
mas, sempre nova, Friburgo,
vive a beijar-te o Bengalas!

Pelas nuvens resguardada,
meio aos penhascos da Serra,
Friburgo és concha encantada,
onde a Poesia se encerra!

Tua chave, hoje, me ofertas!
Isto me faz tua irmã…
e vejo portas abertas,
nesta festiva manhã!

Em troca deste presente
que me dás, Friburgo bela,
minha alma te abro e, contente,
verás que estás dentro dela!

E quando meus olhos ponho
no céu azul, sobre ti…
Não sei, Friburgo, se é sonho…
só sei que o teu céu sorri!!!


CASTRO ALVES

No fundo escuro da noite funesta,
faíscas rompem pelo céu, esteiras
que obedecendo a um ritmo, como em festa,
dançam ao vento, em espirais faceiras.

Quem dispara ao negrume, que detesta,
essas fagulhas, pelas mãos certeiras,
é um jovem cuja espada inflama e cresta,
acendendo a mais viva das fogueiras.

Gênio gigante de “Navio Negreiro”,
vive pouco, mas, nobre condoreiro,
atinge a crista azul da imensidade.

E em seu rasto, a luzir pelos caminhos,
resistindo à investida dos espinhos,
brilha a chama, sem par, da Liberdade.


CRIANÇA

Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, - e resiste.

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto, se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo,
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo,
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.


GATA

Da brancura da pele e no gesto macio,
A carícia tu tens e a moleza de gata:
O teu andar sutil é doce como a pata
Desse animal pisando um tapete sombrio...

Tens uma morbidez lânguida de sonata.
Teu sorriso é polido, é fino e é muito frio...
Se as tuas mãos acaso eu beijo e acaricio,
Sinto uma sensação esquisita, que mata.

Quando eu tomo esse teu cabelo ondeado e louro,
E o cheiro, e palpo o teu corpo branco e felino,
Como te torces, pois, minha serpente de ouro!

O teu corpo se enrola em meu corpo amoroso,
E o teu beijo me aquece e vibra como um hino,
Animal de voz rouca e gesto silencioso!

Antonio Brás Constante (O trabalho se transformou em vício)



Sim, eu confesso, me viciei totalmente no trabalho. No início comecei com coisas leves. “Umas seis horas por dia no serviço já está bom”, eu pensava. Mas aos poucos fui necessitando de mais e mais tarefas. Passando a consumir dez, doze, até dezesseis horas de minha vida. Não saía mais com amigos. Já não comia direito. Mal conseguia dormir, ou simplesmente dormia mal (não é fácil dormir em cima de uma mesa de escritório).

Os sintomas foram se agravando, comecei a atender ao telefone utilizando o slogan da companhia (inclusive aos domingos), identificando-me e perguntando em que poderia ser útil. Depois de um tempo, passei a ter mais intimidade com a secretária eletrônica do que com pessoas de carne e osso. Agendava reuniões com minha própria mãe quando queria visitá-la. Mesmo nas raras ocasiões em que saía para jogar futebol, parava no meio do jogo, deixando minha posição descoberta, dizendo que era minha hora de intervalo, e isso deixava meus companheiros de time horrorizados, pois eu era o goleiro.

Minha esposa me abandonou pouco depois que deixei de chamá-la de amorzinho (para não ser acusado de assédio, era a explicação que eu dava), passando a me dirigir a ela utilizando seu primeiro nome, sempre precedido de “dona”. A gota d’água, porém, foi quando me recusei a deitar com ela, alegando que aquilo poderia ser interpretado como um erro de conduta moral. A coitada teve uma crise histérica. Tentei acalmá-la dizendo que ela poderia tirar o resto do dia de folga se quisesse, desde que fosse ao médico e me apresentasse um atestado de saúde. Nesse episódio, Dona Er... digo... minha mulher foi embora de casa, levando nossos filhos de cinco e oito anos junto com ela; fiquei muito triste com aquilo, visto que eles já estavam se acostumando a usar o uniforme com o logotipo da empresa.

Só notei que realmente havia algo errado comigo quando demiti meu cachorro por não estar usando crachá. Eu queria realmente procurar ajuda, mas era tão difícil encontrar algum médico que quisesse enviar seu currículo para avaliação, e que aceitasse fazer uma entrevista prévia, para somente então assinar um contrato de prestação de serviços (registrado em cartório), e enfim me examinar!

Para minha surpresa, meus familiares me recomendaram um consultor de empresas muito competente (que eles mesmos contrataram), o doutor Leopoldo, que iria auxiliar nos meus afazeres. Ele me convenceu a ir trabalhar no mesmo prédio de seu escritório. 

Inicialmente estranhei a localização do lugar, pois ficava numa clínica psiquiátrica, mas ele me tranquilizou afirmando que estava apenas sublocando uma sala ali, e que o lugar era bem localizado. O Doutor Leopoldo também insistiu para que eu passasse a utilizar um novo tipo de uniforme, que segundo ele era muito mais moderno e arrojado. Infelizmente o traje era um pouco desconfortável, já que meus braços ficavam imobilizados depois de vesti-lo.

Em contrapartida, ganhei uma sala muito confortável para trabalhar, toda acolchoada, apesar de não ter janelas e estar completamente vazia (me avisaram que os móveis ainda não haviam chegado da fábrica). Passei a tomar remédios que, conforme informações do bom doutor, ajudariam a aumentar o meu desempenho profissional. Estranhamente os tais medicamentos também me deixavam com muita sonolência. Depois entendi que aquilo tudo fazia parte de um tratamento para curar minha compulsão.

Hoje sou um novo homem: superei o vício de trabalhar. Agora, se você que está lendo este texto me der licença, vou encerrando estas poucas linhas, pois meus colegas do time de futebol estão gritando desesperados comigo para que eu pare de escrever e volte para o gol. E você? Qual é o seu vício?

Fonte:
Constante, Antonio Brás.  Hoje é o seu aniversário! “Prepare-se” : e outras histórias. 
Porto Alegre, RS : AGE, 2009.

Neida Rocha (Lançamento de Livro em Pomerode)


Quem trouxer 3 livros infantis usados em bom estado, ganha um exemplar do livro!

Doaremos os livros arrecadados para a APAE. 

Neida Rocha, IWA
(47)99227-2202
Pomerode/SC

www.neidarocha.com.br

Fonte: A Escritora