sábado, 29 de junho de 2019

Monteiro Lobato (O Bom Marido)


Enquanto a mulher morria no trabalho, com oito filhos à cola, Teofrasto, o bom marido, procurava emprego.

Teofrasto Pereira da Silva Bermudes. Magro, alto, arcado, feio. Bigodeira, orelhas cabanas, pastinha na testa.

Dona Belinha casara-se contra a vontade dos seus, movida, quem sabe, menos de amor que de dó. Apiedou-a a humildade romântica de Téo, cujo palavrear de namoro feria habilmente uma tecla apenas — sua pobreza.

— Que vale haver dentro de mim um coração de ouro, nicho que habitarias a vida inteira, Isabel? Que vale este meu amor puríssimo, forte como a morte, feito de todas as abnegações, renúncias e delicadezas, se sou pobre? Que crime horroroso, ser “pobrezinho”!... — e ele armava a cara dolorida das presas da Fatalidade.

O noivado inteiro foi esse ferir a nota exata. Teofrasto adivinhou por instinto que a corda sensível da moça era a da piedade e fê-la vibrar de mil maneiras. Lido que era nas Tristezas à beira-mar, em Graziela, Escrich e mais lacrimogêneos do ultrassentimentalismo, seu cérebro virou arsenal de glândulas peritas em verter lágrimas de 1840 sobre o coração das mulheres de hoje. Venceu assim aquela e fê-la romper com a família — burgueses arranjados de límpida visão prática.

Inutilmente tentaram os pais abrir os olhos à moça.

— É um vagabundo, Belinha, sem eira nem beira, incapaz de ganhar a vida, malandro completo. Esteve na venda do Souza, mas foi posto no olho da rua por excesso de preguiça. Também esteve no cartório um mês e perdeu o lugar pelas mesmas razões. Além disso, é filho do Chico Manteiga, o maior parasitão que já vegetou por estes lados. Puxou ao pai...

— Falta de sorte — exclamava Belinha. — Téo ainda não se arrumou porque ainda não foi compreendido.

— Sorte!... Incapacidade é que é. Teofrasto não presta. Quem chega aos trinta e dois anos sem achar o que fazer na vida está julgado: não presta. Ele inventou esse casamento contigo por uma razão só: viver à tua custa.

— Isso não! Téo jurou que há de trabalhar feito um mouro para que eu tenha a melhor das vidas. Sou professora, mas ele não admite que eu tire cadeira.

— Diz isso agora. Casa-te e verás como tudo muda. Nasceu para chupim o malandro e escolheu-te para tico-tico...

A moça, entretanto, teimou. Preferiu romper com a família a soltar o romântico pretendente. As juras de Téo, suas cartas de arrancar lágrimas às pedras, recebidas todos os dias, e aquele seu modo de olhar com infinitos de meiguice, deram à menina forças para resistir à sensatez dos conselhos. 

— Ninguém te conhece, Téo. Desprezam-te porque és pobre. Mas para mim a riqueza que vale é a que me ofereces: esse tesouro de amor e carinho que sinto em teu peito.

Téo respondia dando corda às glândulas lacrimais e estilando grossos pingos.

— Anjo de bondade, tu és o orvalho que reanima a planta queimada do sol, és a chuva que abranda o fogo do deserto, és o pão que mata a fome ao faminto, és Deus, és Tudo...

E abraçava-a, soluçante.

— Isabel, meu anjo da guarda, meu paraíso, minha salvação... Abençoado o momento em que te encontrei na vida...

Repousava a cabeça no colo da moça e ficava a soluçar baixinho, enquanto Isabel lhe alisava maternalmente as melenas revoltas.

Realizado o casamento, Teofrasto, ganho de súbito furor, deu de procurar emprego. Passava os dias fora de casa, na “labuta”, e só vinha para as refeições, cansado.

— Uf! Não posso mais...

— Conseguiste alguma coisa?

— Promessas por enquanto.

Isabel revoltava-se contra a dureza dos homens. Por que motivo repeliam assim criatura tão boa, tão honesta, tão esforçada e de tanta capacidade? Todos se arrumavam, aqui, ali, bem ou mal; só Teofrasto se debatia em vão... Por quê?

Três meses já de caça ao trabalho e nada... Resolveu ajudá-lo. Obteria uma cadeira, mesmo contra a vontade dele, e lecionaria. Trezentos mil-réis por mês! Já dá...

Quando o marido soube desses projetos, indignou-se.

— Não consinto! Para trabalhar aqui estou eu, homem e forte. Tinha graça ver-te a ensinar meninos e a custear as despesas da casa...

— Mas, Téo, tu vives a te matar sem conseguires coisa nenhuma...

— Mas conseguirei. Insistirei até o fim. Fecham-me as portas? Arromba–las-ei. Habilitações não me faltam, tu sabes; falta-me sorte apenas.

— Sei disso. Ninguém o reconhece melhor do que eu. Mas havemos de ficar assim toda a vida, esperando?...

— Peço-te um mês de prazo. Juro-te que dentro de um mês estará tudo arrumado. O que não quero, o que de maneira nenhuma consinto, é que digam por aí: “Olhem o Téo, um homenzarrão, a viver do trabalho da pobre mulher”. Isso nunca!

Passou-se o mês concedido, e mais outro, e o terceiro. Agravando-se a situação, resolveu Isabel requerer cadeira às escondidas do esposo. Fê-lo e foi feliz, vendo-se nomeada logo.

Nesse dia esteve Teofrasto na farmácia, como de costume. Lá se reuniam todas as tardes diversos amigos para comentário dos fatos locais e encrencas da alta política. Nenhum dissertava tão bem quanto ele. Ninguém como ele para “descangicar” aquela trapalhada de “hermismo” e “civilismo” que dividia o país. Era hermista. Adorava o marechal Hermes, o Pinheiro Machado, o Surucucu e tutti quanti.

— Precisamos endireitar este país, custe o que custar. Basta de conselheiros! Venha a espada! Venha o pulso forte que diz — quero, posso e mando. É de despotismo, de um sábio e largo despotismo, que o país precisa.

Os civilistas troçavam.

— Espada burocrática, que vale? Antes a pena luminosa da Águia de Haia.

Téo pulava da cadeira, furioso.

— Águia de Haia? Sabem quem foi a verdadeira Águia de Haia? Foi o barão do Rio Branco! Rui não passou dum fonógrafo. Os discos iam daqui, pelo telégrafo.

Tomou fôlego, gozando-se da piada, e prosseguiu:

— Depois, respondam-me cá: e as emissões? Rui é emissor, e eu sou contra a emissão!

Um coronel lido em jornais saltou-lhe à frente.

— Calúnia velha! Rui já provou que o ministro da Fazenda que emitiu menos foi ele.

— Será. Mas a Revisão? A Constituição, como diz o Pinheiro, deve ser a arca santa, a deusa intangível — e Rui é revisionista.

— Está claro! Foi ele quem fez a joça e sabe melhor do que ninguém os vícios que ela encerra. O Pinheiro, um pente-fino de marfim, que é que entende de constituições? Entende de cavalos e pôquer, e nada mais...

— Não admito!

— Vá não admitir na casa do diabo!

Teofrasto abandonou a arena e foi para casa furioso. Entrou e caiu na rede, já com a habitual cara de vítima.

— Que infeliz sou, Isabel! O mundo me persegue. Corri ceca e meca. Nada...

— Não faz mal — respondeu a moça, cuja fisionomia irradiava. — Requeri às escondidas uma cadeira e obtive-a!...

Téo sentou-se de golpe.

— Quê?

— É verdade. Fui nomeada hoje adjunta ao grupo escolar.

Téo desmanchou a pastinha.

— Fado cruel! Destino espezinhador! Eu, que te adoro, que te quero com todas as veras de alma, ser obrigado a viver do produto do teu trabalho? Nunca!

— Mas que tem isso, bobo? Não sou vadia, gosto de serviço e a escola me distrairá.

— Nunca! Não consinto, não admito que minha adorada esposa trabalhe. Antes rebentar os miolos à bala!

— Não digas isso, Téo!...

— Digo, digo porque sinto! És um anjo e não me conformo com a situação. 

E arrepelando a grenha, de olhos cravados no teto:

— Em que signo maldito nasci eu? Que te fiz, meu Deus, para me castigares
desta maneira?

A criadinha veio nesse momento chamá-lo para o jantar. À mesa Téo prosseguiu na lamúria, alternando imprecações com garfadas.

— Não me conformo! Não me sujeito! Pensas que não tenho brio, Isabel? Como me conheces pouco ainda! Passa-me o arroz...

Isabel acalmava-o.

— Tolice. Todo mundo trabalha. A mulher do Pessegueiro não está a lecionar depois de velha? O marido perdeu o emprego e ela agora é quem... Coma deste bolinho, que está muito bom.

— Sim, mas ali o caso é diferente. Ele perdeu o emprego, mas logo arranja outro. Tem sorte, tem a proteção de todo mundo. Cerveja!... Oh! Isto é então um banquete?

— Natural. Quis fazer-te surpresa dupla: nomeação e jantarzinho melhor.

— Nomeação! Não pronuncies tal palavra, Isabel, que me ofendes sem querer. Hamburguesa? Por que não compraste Brahma? Gosto mais da Brahma.

Houve sobremesa e Téo repetiu o papo de anjo.

Entraram em fase nova. O ordenado da professora veio salvar as finanças do casal. E seriam perfeitamente felizes se não fora a resistência de Téo. Mas não se conformava, o homem...

Depois do almoço, todos os dias, saíam ambos, ela para a escola, ele para o “serviço exaustivo” de procurar emprego — na farmácia, onde crescia de virulência o eterno bate-boca político.

Assim viveram até a vinda do primeiro filho, cuja presença perturbou o regime da casa. Fazia-se necessário meter nova criada, simples pajem que fosse. Téo achou que não.

— É boa! E quem pajeia o menino durante a minha ausência? — quis saber a esposa.

— Ora quem! Eu, Isabel.

— Não consinto. Nada mais ridículo que um homem de bigodes a pegar criança. Prefiro tomar costuras para fazer à noite e com o rendimento pôr criada.

— Mas eu é que não consinto que redobres de trabalho! Costurar à noite, que horror! Nunca!

Isabel, que já conhecia o gênio do marido, cedeu provisoriamente e finda a licença retomou as aulas, deixando em casa o marido às voltas com o pimpolho. Correu tudo muito bem durante os primeiros dias, enquanto brincar com o filho era para Téo novidade. Ao termo de duas semanas, porém, fartou-se e principiou a sentir saudades da farmácia. Disse-o à esposa, estilizadamente.

— Não vai bem assim, Isabel. Perco o meu tempo aqui a lidar com o menino e desse modo não arrumo a vida. Quinze dias já que não procuro emprego.

— Não te dizia? O melhor é fazer como pensei. Tomo costuras de fora e ponho criada.

— Mas não posso conformar-me com esse redobro de trabalho, Isabel! Vá que ensines, mas costurar para fora...

— Que é que tem? Nada me custa, sou forte — e além disso é o jeito...

Veio a criada. Dona Isabel tomou costuras e passava as noites à máquina, pedalando. Cosia habitualmente até as onze. Inúmeras vezes ao se recolher encontrava o marido no vale dos lençóis, ressonando. Entrava de manso na ponta dos pés e despia-se sem rumor para não acordar o coitadinho. Como o queria! Tão carinhoso... Incapaz de entrar a desoras, às oito já estava ali ao lado dela, brincando com o pequeno, enfiando a agulha da máquina, contando os casos do dia.

— Tive com o Bragadas hoje uma discussão violenta na farmácia. Provei que o Hermes vai ser a salvação do país e ele embuchou. Ninguém pode comigo na polêmica! Nasci para advogado.

— Por falar, por que não tiras carta de solicitador? O João Candó não vive tão bem como rábula?

Téo segurou o queixo.

— É verdade. Está aí uma ideia que não me ocorreu ainda. Vou pensar nisso.

Teofrasto Pereira da Silva Bermudes pensou naquilo durante vários anos. Nesse intervalo vieram novos filhos, dois, três, quatro, cinco. Os encargos da família redobraram e dona Isabel teve que fazer prodígios para assegurar a subsistência do clã.

Pobre criatura! Perdera a mocidade. Seus vinte e seis anos pareciam quarenta. A beleza fora-se-lhe minada pela gravidez ininterrupta. Por fim, em consequência de certo aborto infeliz, entrou a perder a saúde. Era já com esforço que prosseguia na tarefa penosa, muito acima das suas forças. Não se queixava, entretanto. Gabava-se até de feliz. Ao receber visitas, puxava logo a palestra para o tema clássico das mulheres, os maridos, e louvava o seu.

— Não é por me gabar, prima Biluca, mas marido como o meu não há outro. Téo me adora! A nossa lua de mel não acabou, nem acabará nunca. Que carinhos! Que meiguice! Sempre entrou cedo em casa, nunca me disse palavra dura, vive para mim, faz tudo quanto quero. Um mimo!

Biluca já não dizia o mesmo do seu. Casara com um homem forte, de rara atividade, que se absorvia nos negócios e estava prosperando magnificamente. Dava à família o máximo conforto, educava os filhos muito bem, mas... não era carinhoso. Muito ocupado sempre, não a punha ao colo, não lhe dizia palavrinhas
doces.

Isabel irradiava.

— Téo não é assim. Beija-me sempre, ao sair e ao entrar. Tem caídos de noivo. E se você soubesse como se amofina de me ver trabalhar... Coitado!

Abria pausa de ternura e prosseguia:

— Sim, porque isso de homem para uso externo, uma figa! Quero maridinho para mim e não para as outras, não acha?

— Pois decerto!

— Téo mata-se no trabalho, passa os dias no serviço...

— No serviço?

— Sim... procurando emprego. Você sabe que não tem sorte nenhuma, o pobre; não há pior serviço do que esse. Mas não consegue colocar-se...

A fama do bom marido correu mundo. Todas as mulheres apontavam-no como o exemplo a seguir.

Os homens exemplares, porém, enfureciam-se.

— Um vagabundo daqueles! Um miserável chupim!

— Que tem isso? — disse uma. — Eu, franqueza, preferia que fosses também chupim, mas que me desses o carinho que ele dá à Isabel.

— É o cúmulo! Pois não vês que aquilo é profissão? Tipo asqueroso!... Agrada à mulher porque vive dela. É o seu negócio. Como há de um malandro daqueles encher o dia senão conversando bobagens na farmácia ou beijocando a idiota da esposa em casa?

Todos os homens pensavam assim; as mulheres, entretanto, liam pela cartilha da dona Isabel — e invejavam-na.

Dez anos se passaram sem que o emprego viesse. Estava escrito no livro do destino que Teofrasto morreria a procurar emprego. Fatalidade...

O triste é que viviam em penúria crescente. O trabalho da professora, por mais estirado que fosse, já não dava para vestir e alimentar os oito filhos pequenos e mais o nono, de bigodes.

A doença começou a derreá-la.

Mas como se galvanizava! Como insistia na terrível luta sem tréguas! Dona Isabel transformava em alento os carinhos do esposo. Comovia-se com eles e enlevava-se à noite a ouvi-lo dizer, da rede onde se balançava de pernas cruzadas, lançando baforadas para a ar:

— Isabel, como me dói ver-te sempre pedalando essa máquina! Por que não descansas um pouco? (Baforada.) Tenho o coração em chaga viva, pisado, torturado pela dor de não poder aliviar-te. (Baforada.) Tu te matas, Isabel, e eu...

Numa dessas vezes espicaçou-o uma ideia. Ergueu-se de salto e disse:

— Isto não pode ficar assim. Vou agarrar o coronel na rua e obrigá-lo a dar-me o posto de fiscal da Câmara. Se o não fizer, mato-o!

A mulher, assustada, interrompeu a costura.

— Pelo amor de Deus, Téo, não me vás cometer alguma loucura!...

— Não me detenhas, Isabel! Tudo tem fim na vida. Hei de conseguir, hei de
extorquir, hei de arrancar o emprego! Não se martiriza assim um homem...

E saiu — ou vai ou racha — deixando a esposa apavoradíssima. Fora, o ar livre acalmou-o e Téo seguiu para a farmácia, onde penetrou dizendo:

— Aposto o que vocês quiserem como antes do fim do mês os russos estão em Berlim. Assumiu o Governo o Kerensky, e o Kerensky é um bicho!

— Como sabe?

— Li. Como também aposto que o general Cadorna vai envolver os austríacos por cima e dar um pealo por baixo — exclamou fazendo gestos no ar, indicativos das operações estratégicas.

O diálogo se passava durante a Grande Guerra.

— Pois eu aposto — retrucou um germanófilo — que o Ludendorff esfrega toda essa canalha em três tempos!

A conversa pegou fogo. Aquela gente entendia de guerra muito mais que os beligerantes, e o ardor de Teofrasto excedia ao do próprio Clemenceau. O debate
só arrefeceu quando o relógio da matriz soou as dez.

— Diabo! Perdi a conta esta vez! — exclamou Téo.

Despediu-se e tocou para casa apressadamente. Dona Isabel, assustada com a demora, recebeu-o convencida de tragédia.

— Que houve, Téo? Fizeste alguma para ele?

— Ele, quem?

— O coronel...

— Ah, sim, o coronel... Ficou para amanhã. Não houve meio de encontrá–lo.

A mulher calou-se, compreendendo tudo...

O estado de dona Isabel agravava-se dia a dia. Por mais que se fizesse de tesa, tinha de arrear a carga. Ponderou tudo com o seu raro bom senso e escreveu à família: “Fiz o que pude, mas estou vencida. Não me queixo. Sou feliz, imensamente feliz. Téo me adora e faz o possível para colocar-se. Não tem sorte. Persegue-o a mais cruel das fatalidades. Venham olhar para estas crianças, que o meu fim está próximo”.

Téo nada soube desse passo e muito admirado ficou de ver chegarem os sogros. Os velhos olharam-no com rancor e dirigiram-se para o quarto da filha. Foi dolorosa a cena do encontro. Separados de dez anos, mal a reconheciam agora.

— Em que estado te encontramos, Belinha! Por que não nos chamou há mais tempo? O orgulho te matou...

Isabel, no fundo da cama, sorria.

— Perdoe, mamãe, e lembre-se de que não me queixo. Fui feliz. Téo é para mim um anjo de bondade. O que nos fez mal foi a miséria e agora a doença. Estou no fim.

Os pais choravam, assombrados em face da múmia a que se reduzira a linda menina de outrora. E culpavam-se de a terem abandonado, de não a terem socorrido a tempo.

Veio o doutor. Os velhos conferenciaram com ele a um canto.

— Caso perdido. Galopante. Morre exausta de canseira, de trabalheira excessiva, de partos e abortos mal conduzidos — de miséria, em suma. Aquele infame assassinou-a...

Dona Isabel morreu nos braços do bom marido, beijando-o e abençoando-o. Suas últimas palavras foram:

— O que mais me dói, Téo, é deixar-te sozinho no mundo, ao desamparo. Mas já pedi... e mamãe... olhará... por...

Não teve forças para o ti. Enunciou-o com os olhos e fechou-os para sempre.

Após o enterro, o sogro dispôs tudo para levar consigo o batalhãozinho de órfãos. Quanto ao chupim, puseram-no incontinenti no olho da rua.

— Fora daqui, assassino! Vá procurar outra!...

Teofrasto humildemente obedeceu. Saiu, procurou outra e achou... Um mês mais tarde ligava-se a certa mulata doceira, cuja quitanda ia próspera. Guardou, entretanto, luto rigoroso e só dois meses mais tarde reapareceu na farmácia.

— Resurrexit! — exclamaram os amigos.

Teofrasto cumprimentou-os com cara de circunstância, triste como se recebera pêsames. E falou da morta.

— Uma santa! O meu consolo é que tenho a consciência tranquila. Fui o melhor dos maridos e fiz-la a mais contente das esposas.

— Lá isso parece. Ela o dizia e todas o repetem. Mas, olha, isto aqui não é sala de visitas de casa de defunto. Está na berlinda a declaração de guerra do Brasil à Alemanha. Que achas?

Teofrasto mudou de cara, esquecido já da santa e todo nas unhas da paixão política.

— Acho que fizemos muito bem. Precisamos entrar na guerra e mostrar aos alemães de quantos paus se faz uma canoa. O presidente Wenceslau Braz é um bicho!…

Fonte:
Monteiro Lobato. O macaco que se fez homem. (1922)

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Reflexão 1 - Edy Soares/ES


Carlos Drummond de Andrade (Prazer em Conhecê-lo)


— Puxa, vocês ainda não se conhecem? Este é o Marques, amigo velho de guerra. E este aqui é o Silva, um amigão.

— Ah, muito prazer em conhecê-lo.

— Oh, o prazer é todo meu.

— Perdão, todo seu, não. Me deixe sentir também um grande, um enorme prazer em conhecê-lo, rapaz. O Inácio sempre me diz maravilhas a seu respeito.

— O Inácio também põe você nas nuvens. Por isso, é natural que eu sinta o maior prazer em conhecê-lo.

— Bem, já diminuiu um pouco, e eu fico satisfeito com isso. Sempre deixou algum prazer para mim. Me desculpe, mas por que o seu prazer é maior?

— Que é isso, vocês estão discutindo para saber quem ficou mais contente do que o outro, por serem apresentados?

— Não, Inácio, a gente não está discutindo coisa nenhuma, não é, Silva? A gente está apenas apurando quem simpatizou mais com o outro, e o Silva quer ganhar de mim, mas eu não quero perder para o Silva.

— É, o Marques tem razão. Só que eu não disse que o meu prazer em ficar conhecendo ele é maior do que o dele ao ficar me conhecendo. Não quis duvidar do prazer dele. Quando falei que sentia o maior, eu me referia a mim mesmo, é o maior que eu sinto, não estou comparando com o dele. Embora eu ache que o Marques é tão bacana que é natural que eu me alegre mais em ficar amigo dele do que ele em ficar meu amigo.

— Ora, Silva, se eu sou bacana não sei, mas você é. Tudo que o Inácio me conta a seu respeito demonstra a maior bacanidade. Como é que eu também não posso ter uma grande alegria me aproximando de um cara tão legal?

— Não sou tão legal quanto você pensa, Marques, mas posso garantir que sei apreciar os verdadeiros valores, e não vejo absurdo nenhum em reconhecer as altas qualidades de você.

— Absurdo? Quem falou em absurdo? É claro que eu fico muito feliz por saber que você me admira, embora haja nisso excesso de generosidade de sua parte, e também da parte do Inácio, que andou lhe falando coisas a meu respeito. O que eu não entendo é que você não me permita apreciar também à altura as suas excelentes qualidades.

— Ei, gente, que papo mais estranho esse que vocês estão levando. Cada um quer ser mais admirador do que o outro, e discutem por causa disso? Digamos que vocês empataram, pronto.

— Não é bem isso, Inácio. Você não entendeu o meu ponto de vista. No fundo, o Marques está duvidando da minha sinceridade em admirá-lo, e veio com essa história de que eu quero todo o prazer de nossas relações só para mim. Aí tem ironia.

— Eu não disse isso.

— Disse sem dizer. Pensou.

— Como é que você pode ler no meu pensamento?

— Viu? Ele está se traindo, Inácio. Não posso ler fisicamente o que está lá dentro da cabeça, mas que está escrito, está. A prova é que ele se defende alegando que não há leitura possível.

— Sabe de uma coisa? Você envenena tudo.

— Eu, enveneno? Tem coragem de me atirar uma ofensa dessas? 

— Calma, pessoal! Mal se conheceram e já estão que nem galos de briga!

— Não escutou o que ele me disse, Inácio?

— Olhe aqui, Inácio, viu o que ele está dizendo?

— Não vi, não escutei, nem entendi nada. O que eu não posso admitir é que dois amigos meus se desentendam por excesso de admiração recíproca. É o cúmulo! Parem com isso imediatamente!

— Ah, é? Então você fica neutro diante de uma situação como esta, em que fui insultado quando fazia os maiores rapapés a esse sujeito?

— Sujeito é você, seu atrevido! E você, Inácio, você me decepcionou. Ter coragem de me apresentar um tipo dessa espécie!

— Perdão, eu…

— Agora não adianta, você estragou o meu dia!

— Pensa que o meu também não foi estragado? Que prazer posso eu sentir em travar conhecimento com um insolente como você?

— Pois fique sabendo que não tive nenhum, absolutamente nenhum prazer em conhecê-lo. Pelo contrário: tive o maior desprazer!

— O desprazer foi todo meu! Maior do que tudo!

— Fique com o seu desprazer que eu fico com o meu. Bolas para você e para o Inácio.

— Pra vocês também! Pra vocês também!

— Dois cretinos que vocês são! Burrada minha querer que os dois se conhecessem! Aliás, também sou uma besta, confesso sem o menor prazer!

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas.

António Nobre (Poemas Avulsos)


BALADA DO CAIXÃO

O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte,
Ponteia e cose, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mognos, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte...

Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai a aborrecer,
Fui-me lá, ontem: (Era Entrudo,
Havia imenso que fazer...)
- Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva? - Vamos ver...

Olhou, mexeu na casa toda.
- Eis aqui um e bem barato.
- Está na moda? - Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda...)
- Quando posso mandar buscá-lo?

- Ao pôr-do-Sol. Vou dá-lo a ferro:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)
Ó meus Amigos! salvo erro,
Juro-o pela alma, pelo Céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhai! do que eu!

DA INFLUÊNCIA DA LUA

Outono. O sol, qual brigue em chamas, morre
Nos longes de água.... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
E os bardos, a cismar, molham a pena!

Ao longe, os rios de águas prateadas
Por entre os verdes canaviais, esguios
São como estradas líquidas, e as estradas
Ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos
O xaile pedem a quem vai passando...
E os seus leitos nupciais, os ninhos
As lavandiscas noivas piando, piando!

O orvalho cai do céu como unguento.
Abrem as bocas, aparando-os, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cai... e a falta de água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
O seu sermão de lágrimas à lua!

A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui
Sobre as sementes, sobre o oceano impera,
Sobre as mulheres grávidas influi...

Ai os meus nervos, quando a lua é cheia!
Da arte novas concepções descubro
Todo me aflijo, lá fazem ideia...
Ai a ascensão da Lua em Outubro!

Tardes de Outubro! Ó tardes de novena
Outono! Mês de Maio, na Lareira!
Tardes.....

Lá vem a Lua, Gratia e plena
Do convento dos céus, a eterna freira!

LADAINHA

Teu coração dentro do meu descansa,
Teu coração, desde que lá entrou
Tem tão bom dormir essa criança,
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.

Dorme, menino! Dorme… dorme...
O que te importa o que no mundo vai?
Ao acordares desse sono enorme
Tu julgarás que se passou num ai.

Dorme, criança! Dorme sossegada,
Teus sonos brancos ainda por abrir:
Depois, a morte não te custa nada,
Porque a ela te habituaste a dormir...

Dorme, meu anjo (a noite é tão comprida)
Que doces sonhos tu não hás-de Ter!
Assim, com o hábito de os Ter na vida
Continuarás depois de falecer....

Dorme, meu filho! Cheio de sossego
Esquece-te de tudo e até de mim.
Depois...de olhos fechados, és um cego,
Tu nada vês, meu filho e antes assim.

Dorme os teus sonhos, dorme e não mos digas,
Dorme, filhinho! Dorme, dorme "ó-ó"....
Dorme, a minha alma canta-te cantigas
Que ela é velhinha como a tua avó!

Nenhuma ama tem um pequenino
Tão bom, tão meigo; que feliz eu sou!
E tem tão bom dormir esse menino...
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.

MENINO E MOÇO

Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de ouro o pudico jasmim:
Voou aos altos céus a pomba enamorada
Que dantes estendia as asas sobre mim.

Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa visão de luar que vivia encantada,
Num castelo com torres de marfim!

Mas, hoje, as pombas de ouro, aves da minha infância,
Que me enchiam de lua o coração, outrora,
Partiram e no céu evolam-se à distancia!

Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais:
Voltam na asa do vento os ais que a alma chora,
Elas, porém, senhor, elas não voltam mais...

VOU SOBRE O OCEANO (O LUAR, DE DOCE, ENLEVA!)

Vou sobre o Oceano (o luar, de doce, enleva!)
Por este mar de Glória, em plena paz.
Terra da Pátria somem-se na treva,
Águas de Portugal ficam, atrás.

Onde vou eu? Meu fado onde me leva?
António, onde vais tu, doido rapaz?
Não sei. Mas o Vapor, quando se eleva,
Lembra o meu coração, na ânsia em que jaz.

Ó Lusitânia que te vais à vela!
Adeus! que eu parto (rezarei por ela)
Na minha Nau Catrineta, adeus!

Paquete, meu Paquete, anda ligeiro,
Sobe depressa à gávea, Marinheiro,
E grita, França! pelo amor de Deus!

VIRGENS QUE PASSAIS

Virgens que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido lar.

Cantai-me, nessa voz onipotente,
O sol que tomba, aureolando o Mar
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai....
Ó suaves e frescas raparigas,
adormecei-me nessa voz...cantai !

Malba Tahan (Mil Histórias sem Fim) Narrativa 10


História da filha mais moça do rei Ikamor, apelidada “A Noiva de Mafoma”.

Das Mil histórias sem fim é esta a décima!

Lida a décima restam, apenas, novecentas e noventa...

Das três filhas do rei Ikamor era eu a mais moça e devo dizer - sem pecar contra a modéstia - que minhas irmãs não levavam sobre mim vantagem alguma no tocante a  graças e encantos pessoais.

Monótonos e suavemente decorreram os primeiros anos de minha existência. Sem grandes alegrias - é verdade - mas também sem tristezas que abatem e afligem. Vivia fechada no rico e imenso serralho (1) real de Candahar, verdadeira fortaleza, onde meu pai, rei do Afeganistão, conservava não só a mim e minhas irmãs, como também suas esposas, em absoluta reclusão, conforme o tradicional costume do país.

Para o nosso serviço poderíamos dispor de várias e dedicadas escravas, muito embora os nossos passos fossem dia e noite vigiados por um grupo de guardas, vingativos e intrigantes, que à menor suspeita nos levavam ao terrível Abdalis - o chefe -, sujeito impiedoso que tinha autorização para punir-nos e até infligir-nos castigos corporais!

Abdalis (infame criatura!) era a personificação da perversidade; quando a sombra de sua agigantada figura aparecia no longo corredor, as mulheres de Candahar ficavam pálidas, em silêncio, e encolhiam-se sobre as almofadas, trêmulas de pavor.

Precisamente no dia em que eu completava dezesseis anos, meu pai viu-se obrigado a iniciar uma guerra de vida e morte contra o famoso xá Zemã, o Vingativo, que se dizia pretendente ao trono de Ikamor.

Para que uma derrota em tal campanha não trouxesse como consequência a ruína e a devastação do país, meu pai, que de poucos recursos militares podia dispor nessa época, achou que seria prudente e indispensável fazer uma aliança com o rei Barasky, soberano de Beluchistão.

Esse odiento monarca forçou-o a assinar um tratado no qual fez incluir algumas exigências vexatórias para os afegãos. Entre essas, uma havia menos absurda do que insultuosa: era eu obrigada a aceitar como esposo o indigno aliado do meu país!

Seja Alá testemunha da verdade do que vou dizer. Não conhecia o tal rei Barasky; ouvira, porém, de uma velha escrava persa vários e minuciosos informes que me levaram a concluir que ele devia ser, como o ignóbil Abdalis, velho, feiíssimo, excessivamente gordo e mau.

Como aceitar um noivo cuja simples evocação a minha alma repelia horrorizada? Implorei chorosa a proteção e o auxílio do velho Kattack, o astrólogo, único homem que tinha permissão para entrar (quando acompanhado por um guarda) no harém de Candahar.

O bondoso Kattack disse-me:

- Ó minha infeliz princesa! Bem negro é o vosso destino! Deixai-me ler nos astros a vossa sorte, sem o que nada poderei fazer.

Tais palavras encheram-me de esperanças o coração. Eu bem sabia que o meu venerável amigo era exímio em ler no céu os mistérios que os astros escrevem à noite com a luz que colhem durante o dia do infinito.

Dias depois meu pai procurou-me. Vinha agitado, nervoso, impaciente, e parecia que em seu espírito se digladiavam as mais desencontradas preocupações.

- Minha filha - disse-me, afagando-me carinhoso o rosto. - Sinto dizer-te que o casamento com o rei Barasky é impossível! O sábio Kattack acaba de ler no céu graves revelações a teu respeito!

- Dize, meu pai - implorei. - Que nova desgraça paira sobre mim?

- Desgraça? Longe de nós tal palavra! O teu futuro sorri a salvo de qualquer infortúnio. Bem sabes que, segundo uma velha lenda árabe, de cem em cem anos o profeta Mafoma (com Ele a oração e a paz) desce à terra a fim de escolher uma noiva entre as jovens mais formosas. Aquela que tem a felicidade de agradar ao Profeta é incluída no número das mulheres perfeitas (2) e só poderá casar com um homem qualquer se ao fim de três anos e onze dias o Profeta (a paz sobre Ele!) não vier buscá-la.

- Ó meu pai - balbuciei desolada. - Custa-me acreditar que seja verdadeira tão espantosa revelação celeste. Como poderia eu, feia e pouco gentil, despertar a atenção do Profeta de Alá?

A tais palavras, tão despidas de sinceridade, retorquiu meu pai:

- No que respeita aos teus dotes físicos, faltas pecaminosamente à verdade. A tua deslumbrante formosura é reconhecida e proclamada pelas filhas de meu tio. (3) Devo-te, porém, um aviso para o qual o prudente Kattack me chamou especialmente a atenção. Se durante o prazo de três anos e onze dias, por uma fraqueza de tua parte, traíres o voto de fidelidade ao Profeta, sofrerás um castigo terrível: terás amputadas ambas as mãos!

- Tranquiliza-te, meu pai - respondi. - Eleita do Profeta, ser-lhe-ei fiel não durante esse ridículo prazo de três anos e onze dias, mas durante meio século!

E terminei por declarar, com uma segurança que até a mim própria causou espanto:

- Se o Profeta não me vier buscar, ficarei solteira toda a vida!

A situação especial de ser noiva do Profeta facultava-me regalias excepcionais no serralho. Era-me permitido subir sozinha ao terraço, não só pela manhã, como a qualquer hora do dia ou da noite; e, acompanhada de uma escrava, tinha a liberdade de passear pelos jardins de Candahar, depois da última prece.

As outras mulheres do harém deitavam sobre mim olhares terríveis a que a inveja emprestava colorações estranhas.

Devo dizer, com sinceridade, que nunca dera crédito a essa lenda do noivado com Mafoma. Desconfiei desde logo - e mais tarde certifiquei-me da exatidão de tal desconfiança - que não passava o caso de um original artifício de que o ardiloso Kattack lançara mão para livrar-me do rei Barasky.

O bom astrólogo não tardou em fazer-me, a respeito, completas confidências:

- Minha linda princesa - disse-me uma noite, quando cavaqueávamos a sós no jardim -, bem sabeis que abusei da boa-fé do vosso pai, o rei Ikamor, fazendo-o acreditar nessas absurdas núpcias com o Profeta. Mas, se assim procedi, mereço perdão, dado o fim nobre que tinha em vista: queria livrar-vos das garras de um homem devasso e cruel! Passado, porém, o prazo de três anos e onze dias, a guerra estará terminada e o rei Ikamor, livre das exigências desse aliado indesejável, poderá repelir qualquer proposta menos digna que vise à tua mão.

E, assim conversando, chegamos juntos a um poço onde nadavam muitos peixes vermelhos.

- Que lindos peixes! - exclamei.

- Já conheceis, ó princesa! - perguntou-me o astrólogo -, a famosa lenda que explica a origem dos peixes vermelhos?

Respondi-lhe que não e que muito folgaria em ouvi-la.

O sábio Kattack contou-me então o seguinte:
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continua…
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Notas
1 Serralho - palácio. Uma das partes do serralho é o harém; é constituído pelas salas e quartos destinados às mulheres.
2 As mulheres “perfeitas” são em número de cinco e todas aparecem citadas no Alcorão.
3 Maneira pela qual os árabes tratam as esposas.

Fonte:
Malba Tahan. Mil histórias sem fim. vol. 2.