quinta-feira, 11 de julho de 2019

VIII Jogos Florais da UBT Campos dos Goytacazes/RJ – 2019



Nacional/Internacional
Veteranos

Tema: PROGRESSO (Lírica/Filosófica)

VENCEDORES:

1º lugar:
Um progresso alvissareiro
virá, quando o amor fecundo
for, ao invés do dinheiro,
a mola mestra do mundo.
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG

2° lugar:
Eu percebo, nesta estrada,
progresso é ter a ousadia
de, na vida atribulada,
subir um degrau por dia!
Flávio Roberto Stefani
Porto Alegre/RS

3º lugar:
No lar da plebe indefesa,
em luta no seu afã,
ter progresso é pôr na mesa
o pão de cada manhã.
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP

4º lugar:
Num progresso desmedido,
nosso flerte encantador,
como um flechar de cupido...
Transformou-se em pleno amor!
Luiz Moraes
São José dos Campos/SP

5º lugar:
No mundo, em suas andanças,
busque outras rotas de acesso,
pois quem provoca mudanças
é quem promove o progresso.
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Belo Horizonte/MG

 MENÇÃO HONROSA:

6º lugar:
Novos prédios... e, com festa,
a ambição comemorou
a morte de outra floresta
que o progresso decretou!
Therezinha Dieguez Brizolla
São Paulo/SP

 7º lugar:
Sou a favor do progresso,
mas sem a ganância insana
de quem arrisca o sucesso...
pondo em risco a vida humana.
Mário Moura Marinho
Sorriso/MT

8º lugar:
Bem mais que cimento ou aço,
bem mais que qualquer motor,
progresso é alegria, é abraço,
cultura, saúde, amor!
A.A. Assis
Maringá/PR

9º lugar:
Em nossa vida o progresso  
traz dois rumos desiguais:
o do ‘ter’ leva ao sucesso,
o do ‘ser’ ...a muito mais!
Altair Fernandes Carvalho
Pindamonhangaba/SP

10º lugar:
Quando planejo o amanhã,
no progresso da nação,
a esperança não é vã,
se invisto na educação.  
Madalena Ferrante Pizzatto
Curitiba/PR

Nacional/Internacional
Novos Trovadores

Tema: NATUREZA (L/F) -

1º lugar:
Eu vi com muita tristeza
um olho d’água secar
no dia em que a natureza
cansou de tanto chorar.
Max Reis
Belém/PA

2º lugar:
Região de afável clima,
em Campos tudo é beleza..
É um postal, uma obra-prima
nas telas da natureza!
Venceslau Olival
Nova Friburgo/RJ

3º lugar
Natureza: mil encantos!
Nos rios e nas cascatas
as corredeiras são mantos,
cobrindo o verde das matas.
Maria Dulce Esteves da Carvalheira
Recife/PE

4º lugar:
"Amai a mãe natureza!"
Eis a missão esquecida…
E, sem cessar, a avareza,
vai calando a voz da vida.
Marco Aurélio Goulart
Itapecuru-Mirim/MA

5º lugar:
Neste mundo de ambição
sofre tanto a natureza
que, aos poucos, sua canção,
perde a voz para a tristeza…
Marco Aurélio Goulart
Itapecuru-Mirim/MA

6º lugar:
Destruindo a natureza,
a criação se desfez.
Tanta ganância e frieza,
selva de pedra se fez.
Lígia Helena Pinheiro Carvalho
São Gonçalo/RJ

Nacional/Internacional

HUMORÍSTICA

Tema: CLIMA

VENCEDORES:

1º lugar:
Pro velho... “pintou um clima”
quando a “coroa” passou...
Quis correr... quis “dar em cima”...
E o reumatismo... o travou!!!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP

2º lugar:
Alerta a moça do clima:
ventos, raios, trovoadas...
Um temporal se aproxima:
a sogra, o sogro, as cunhadas!...
A. A. de Assis
Maringá/PR

3º lugar:
Um certo clima rolou,
na conversa da internet.
A mocinha acreditou
que o vovô tem vinte e sete!
Sílvia Maria Svereda
Irati/PR

4º lugar:
Volta e meia o clima esquenta
lá na casa da vovó,
o vovô com seus noventa...
Ainda tem borogodó!
Luiz Moraes
São José dos Campos/SP

5º lugar:
Pra fugir do clima quente,
temperatura elevada,
a família, simplesmente,
mudou pra Serra... Pelada!
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP

MENÇÃO HONROSA:

6º lugar:
O clima em casa é tão quente,
causando inveja à estação...
quando a sogra nos diz: _ “Gente,
fico aqui... neste verão”!...
Roberto Tchepelentyky
São Paulo/SP

7° lugar:
Havia um clima no ar
de romantismo meloso...
"Ah! Vou deitar e rolar!"
Deitou e...dormiu, o idoso!
Janilce Simões
Campos dos Goytacazes/RJ

8º lugar:
- Minha velha, que calor!
Disse o marido, senil.
Não era clima de amor;
estava apenas febril...
Jerson Lima de Brito
Porto Velho/RO

9º lugar:
Brotou, em plena paixão,
clima de arrependimento,
ao ver que o noivo machão
tinha um falso documento!
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

10º lugar:
Se é inverno, o sol abrasa!
Se é verão... frio inclemente!...
Quando a sogra chega em casa,
muda o clima de repente.
Jaime Pinha da Silveira
São Paulo/SP

Estadual/Municipal

Tema: PLANÍCIE(Lírica/Filosófica)

VENCEDORES:

1º lugar:
Pela Planície suave
do seu dorso amorenado
meu olhar passeia, grave,
mas guloso e apaixonado!
Janilce Simões
Campos dos Goytacazes/RJ

2º lugar
Não anseio a amplidão vasta,
nem a altitude me apraz.
Ser planície é o que me basta...
Tranquila... Serena... E em paz...
Gilvan Carneiro da Silva
São Gonçalo/RJ

3º lugar
É tão sublime a beleza
de uma planície ao luar,
que eu faço da natureza,
a minha sala de estar.
Ariete Regina Fernandes Correia
Rio de Janeiro/RJ

4º lugar:
Apenas dois quarteirões...
-Mas, meu sítio... para mim
tem as mesmas dimensões
de uma planície sem fim!
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ

5º lugar
Vem, oh vento, dissipar
da planície a bruma fria,
para assim o sol brilhar
e afastar a nostalgia.
Therezinha Tavares
Nova Friburgo/RJ

MENÇÃO HONROSA

6º lugar:
Meus versos brotam risonhos,
feito a nascente que banha
a planície dos meus sonhos,
em entre o mar e a montanha!
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ

7º lugar:
A brisa o perfume espalha
na planície em Goytacazes.
Esse odor de cana e palha
és tu, saudade, quem trazes.
Maria Helena Ururahy C. da Fonseca
Angra dos Reis/RJ

8º lugar:
Destas rugas e calvície
teu adeus foi causador...
Minha esperança é planície
frente a montanha de amor.
José Henrique da Costa
Magé/RJ

9º lugar:
Da sua ausência ando farto,
ronda a solidão tão perto,
que apelidei o meu quarto
de planície do deserto!
Clenir Neves Ribeiro
Nova Friburgo/RJ

10º lugar:
Pelas planícies me atiro,
no cultivo que consigo,
defender o pão que tiro
do sagrado grão de trigo!
Ailto Rodrigues
Nova Friburgo/RJ

Fonte:
Aldhiyb Al’Abyad 

Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor (6ª Etapa)


TEMA: - 1º - SURPRESA

CALENDÁRIO: DE 01/07/2019   à   15/08/2019

RESULTADO E ENTREGA DE DIPLOMAS: a partir de 01/10/2019 


TEMA: - 2º - CRISE

CALENDÁRIO: DE 01/11/2019   à   15/12/2019

RESULTADO E ENTREGA DE DIPLOMAS: a partir de 01/01/2019 

TEMA: - 3º - DESAFIO

CALENDÁRIO: DE 01/03/2020   à   15/04/2020

RESULTADO E ENTREGA DE DIPLOMAS: a partir de 01/06/2020

TEMA: - 4º - CRIATIVIDADE 

CALENDÁRIO: DE 01/07/2020  à   15/08/2020

RESULTADO E ENTREGA DE DIPLOMAS: a partir de 01/10/2020

TEMA: - 5º - MUDANÇA

CALENDÁRIO: DE 01/11/2020   à   15/12/2020

RESULTADO E ENTREGA DE DIPLOMAS: a partir de 01/01/2021 

TEMA: - 6º - RESPEITO

CALENDÁRIO: DE 01/02/2021   à   15/03/2021

RESULTADO E ENTREGA DE DIPLOMAS: a partir de 01/05/2021 


CRITÉRIOS:

1. Uma trova inédita por trovador

2. O Tema tem que constar no corpo da trova: ABAB, conforme regras da UBT Nacional Brasileira.

3. A Inscrição pode ser por e-mail ou por envelope (dentro do envelope grande, endereçado ao responsável pelo recebimento, virá um envelope menor lacrado, com os dados do trovador – nome, endereço, telefone e e-mail, - tendo na frente do envelopinho a trova colada). 

4. A Comissão de Julgadores é soberana.

5. Serão três grupos:

Grupo 1: Nacional - em Língua Portuguesa; ( VETERANO/OU/ NOVO TROVADOR)

Grupo 2: Internacional - em Língua Espanhola ( VET. OU N.TROV.)  e 

Grupo 3: Estudantil em Língua Portuguesa (Alunos de 12 a 18 anos).

COORDENADORES:

A) Língua Portuguesa:

1)Inscrição por e-mail: Maria Inez = Mifori@terra.com.br

2)Inscrição por carta, envelope:
Gloria Tabet Marson
Rua Major Dietrich Ott, 71  -  Jardim das Colinas
CEP: 12242-111  –  São José dos Campos, SP.

B) Língua Espanhola: 

Coordenadora e Fiel Depositária: Cristina Oliveira Chávez –

Inscrição por e-mail: Cristina Oliveira Chávez <CoLibriRoseBeLLe@aol.com>

Inscrição por envelope: Maria Luiza Walendowsky <inhawalen@hotmail.com>

Coordenadora Final: Maria Luiza Walendowsky <inhawalen@hotmail.com>

Maria Inez Fontes Ricco
Presidente da União Brasileira de Trovadores
Seção de São José dos Campos - SP - Brasil

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Colar de Trovas (Humildade)


Organização: Aurineide Alencar - MS / Gilberto Cardoso dos Santos - RN / Maria Zilnete - RJ

01
Quem semeia humildade, 
não merece indiferença,
pois ama a humanidade,
*sobre toda desavença.*
Antônio Cabral Filho 
(RJ)

02
Sobre toda desavença
que prevaleça humildade,
aumentando assim a crença,
*no amor e na caridade*.
Aurineide Alencar
(Dourados/MS)

03    
No amor e na caridade 
é muito fácil falar,
mas se humilha de verdade
*quem se abre a praticar.*
Zé Ferreira 
(Natal/RN)

04
Quem se abre a praticar 
a humildade genuína, 
com certeza há de contar 
*com toda ajuda divina.*
Gilberto Cardoso
(Santa Cruz/RN)

05
Com toda ajuda divina
e nossa própria vontade,
toda arrogância termina
*brotando em nós humildade.*
Adriano Bezerra 
(RN)

06
Brotando em nós humildade 
como as flores do jardim. 
Não importa a nossa idade,
*vencerá o amor enfim*.
Antonio Francisco Pereira 
(MG)

07
Vencerá amor enfim,
mantendo sempre a humildade,
e sentimentos assim,
*fiéis a Deus de verdade.*
Maria Zilnete 
(RJ)

08
Fiéis a Deus de verdade
os humildes sempre são,
com muita simplicidade
*todo tempo, aonde vão.*
Adriano Bezerra 
(RN)

09
Todo tempo, aonde vão
carregam a humildade,
cravada no coração
*dispensando a vaidade.*
Jefferson Campos 
(Natal/RN)

10
  Dispensando a vaidade 
desse meu eu trovador,
o colar da humildade 
*no pescoço quero por.*
Zé Ferreira 
(Natal/RN)

11
No pescoço quero por
a pedra da humanidade,
pois trago no peito: amor,
*carinho,luz e humildade!...*
Luiz Cláudio 
(RN)

12
Carinho, luz e humildade
todos querem receber,
mas desses, mais da metade,
*esquecem de proceder.*
Aurineide Alencar
(Dourados/MS)

13
Esquecem de proceder
mas sempre com fé em Deus,
humildade devem ter
*para todos filhos Teus.*
Madalena Cordeiro 
(ES)

14
Para todos filhos teus,
exemplos vindos de rei,
na humildade com os seus:
*"amai como eu vos amei"!*
Antônio de Pádua Elias de Souza 
(MG)

15
Amai como eu vos amei
espalhe amor e humildade,
que contigo Eu estarei
*Muito além da eternidade.*
Adriano Bezerra
(RN)

16
Muito além da eternidade
ao trovador, boa prova,
é sorver, com humildade,
*correção em sua trova.* 
Zé Ferreira 
(Natal/RN)

17
Correção em sua trova
deve ter o bardo nobre.
Joia antiga, nada nova.
*Tantos séculos já cobre!*
Oliveira Caruso 
(Niterói/RJ)

18
Tantos séculos já cobre
Dos humildes a virtude.
Mesmo sendo muito nobre,
*Sempre sobra magnitude.*
Prof. Roque 
(RS)

19
_______________
*Fechamento*
___________________
Sempre sobra magnitude
nos poetas sem vaidade,
porém só tem a virtude
quem semeia humildade.
Maria Zilnete de M. Gomes 
(RJ)

Outras trovas que concorreram no fechamento:

Sempre sobra magnitude,
com muita felicidade,
e mostra mais atitude
quem semeia humildade.
Prof Roque 
(RS)

Sempre sobra magnitude,
para quem vai com vontade
prover de paz e saúde
quem semeia humildade.
Antonio Cabral Filho 
(RJ)

Fonte:

Arthur de Azevedo (O Paulo)


Se o senhor conhecesse o meu amigo Paulo, com certeza o estimaria: era um excelente rapaz, um belo camarada.

Há dezesseis anos que ele se tinha casado, por amor, com uma linda moça, e nunca houve marido mais amante, mais solícito, mais cumpridor dos seus deveres, para empregar aqui esta frase cômoda, em que o vulgo envolve todas as virtudes maritais.

Ao cabo de um ano de casamento, nasceu ao Paulo uma filha que completou a sua felicidade, e fez com que ele se considerasse a mais venturosa das criaturas humanas.

Essa ilusão durou muito tempo, durou até o dia em que o pobre rapaz, perdendo o emprego que tinha, e arranjando outro menos rendoso, foi obrigado a mudar-se para uma casa mais modesta e a restringir as suas despesas. A mulher, que gostava muito de se embonecar e de se divertir, achou que isso era a miséria e o deu a perceber ao marido. Este afligiu-se tanto que adoeceu.

Em janeiro deste ano, uma tarde, voltando para casa, depois do trabalho, o Paulo não encontrou a mulher.

– Que é de tua mãe? – perguntou à filha.

– Saiu; não me disse onde ia, mas deixou uma carta para papai.

Ele sentiu logo um grande abalo no coração e teve um terrível pressentimento. As mulheres que abandonam o domicílio conjugal fazem, por via de regra, como os homens que se matam: deixam uma carta. O Paulo sabia disso e tremeu.

Não se enganava. A desgraçada deixou-o e deixou também a filha, uma pobre moça de quatorze anos, que precisava tanto dos cuidados maternos.

O Paulo era forte de coração, mas fraco de espírito; o golpe aniquilou-o; entretanto, fez das fraquezas força e continuou a viver e a trabalhar por amor da filha, que confiou a uma família amiga.

Passados alguns meses, a mulher, que tinha ido viver em companhia de um amante, sentiu saudades da menina, e tentou reavê-la. Não o conseguindo, naturalmente, por meio de súplicas e sabendo que não tinha a lei por si, a desgraçada teve uma ideia monstruosa, talvez sugerida pelo seu digno amante: escreveu uma carta ao marido afiançando-lhe que ele não era pai daquela criança.

A carta infame produziu o desejado efeito: o pobre Paulo, depois de alguns dias de profunda melancolia, teve um violento acesso de loucura e foi internado no Hospício.

Ao cabo de algum tempo foi removido para a casa de um parente, mas durou apenas uma semana. Faleceu anteontem e foi enterrado ontem.

A viúva provavelmente vai casar-se com o amante, e a infeliz menina ficará sob a tutela do padrasto.

Aí tem, meu ilustre amigo, um caso que se passou neste ano de 1908, caso verídico e pungente pelo qual substituo hoje um conto inventado, sem mesmo disfarçar o nome do meu desventurado amigo, que se chamava realmente Paulo.

Fonte:
Arthur Azevedo. Contos.

Caldeirão Poético XXVI


GREGÓRIO DE MATOS GUERRA 
(1633-1696)

CIDADE DA BAHIA

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

ALEXANDRE DE GUSMÃO 
(1695-1753)

A JÚPITER, SUPREMO DEUS DO OLIMPO

Númen que tens do mundo o regimento,
Se amas o bem, se odeias a maldade,
Como deixas com prêmio a iniquidade,
E assoçobrando ao são entendimento?

Como hei de crer que um imortal tormento
Castigue a uma mortal leviandade?
Que seja ciência, amor ou piedade
Expor-me ao mal sem meu consentimento?

Guerras cruéis, fanáticos tiranos, 
Raios, tremores e as moléstias tristes
Enchem o curso dos pesados anos;

Se és Deus, se isto prevês e assim persistes,
Ou não fazes apreço dos humanos,
Ou qual dizem não és; ou não existes.

ALVARENGA PEIXOTO 
(1744-1793)

ESTELA E NIZE

Eu vi a linda Estela, e namorado
Fiz logo eterno voto de querê-la;
Mas vi depois a Nize, e é tão bela,
Que merece igualmente o meu cuidado.

A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nize de Estela?
Se Nize vir aqui, morro por ela;
Se Estela agora vir, fico abrasado.

Mas, ah! que aquela me despreza amante,
Pois sabe que estou preso em outros braços,
E esta não me quer por inconstante.

Vem, Cupido, soltar-me destes laços,
Ou faz de dois semblantes um semblante,
Ou divide o meu peito em dois pedaços!

JOSÉ MARIA DO AMARAL 
(1813-1885)

DESENGANO

Uma por uma, da existência as flores,
Se a existência que temos é florida,
Uma por uma, no correr da vida,
Fanadas vi sem viço e vi sem cores.

Sonhos mundanos, sois enganadores,
Alma que vos sonhou, geme iludida;
Existência, de flores tão despida,
Que te fica senão tristeza e dores?

Do mundo as ilusões perdi funestas,
Ao noitejar da idade, em amargura,
Esperança cristã, só tu me restas!

Fujo contigo desta vida impura,
Nas crenças que tão mística me emprestas,
Transponho antes da morte a sepultura.

FRANCISCO OTAVIANO 
(1825-1889)

MORRER... DORMIR...

Morrer... dormir... não mais! Termina a vida
e com ela terminam nossas dores:
Um punhado de terra, algumas flores,
E às vezes uma lágrima fingida!

Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores!
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
Algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é podre no mundo. Que me importa
Que ele amanhã se esb'roe e que desabe
Se a natureza para mim é morta!

É tempo já que o meu exílio acabe...
Vem, pois, ó morte, ao Nada me transporta!
Morrer... dormir... talvez sonhar... quem sabe?

D. PEDRO DE ALCÂNTARA 
(1825-1891)

ASPIRAÇÃO

Deus, que os orbes regulas esplendentes,
Em número e medida ponderados,
Neles abrigo dás aos desterrados,
Que se vão suspirosos e plangentes.

Assim, dos céus às vastidões silentes
Ergo os meus pobres olhos fatigados,
Indagando em que mundos apartados
Lenitivo à saudade nos consentes.

Breve, Senhor, do cárcere de argila
Hei de evolar-me, murmurando ansioso
Tímida prece: digna-te de ouvi-la!

Põe-me ao pé do Cruzeiro majestoso,
Que no antártico céu vivo cintila,
Fitando sempre o meu Brasil saudoso!

JOSÉ BONIFÁCIO, O MOÇO 
(1827-1886)

O RETRATO

Incline o rosto um pouco... assim... ainda;
arqueie o braço, a mão sobre a cintura;
deixe fugir-lhe um riso à boca pura
e a covinha animar da face linda.

Erga a ponta do pé... que graça infinda!
Quero nos olhos ver-lhe a formusura,
feitiço azul de orvalho que fulgura,
froco de luz suave, que não finda!

Há pouca luz... eu vejo-a... está sentada.
Passou-lhe a sombra de um cuidado agora,
na ruguinha da fronte jambeada.

Enfadou-se? Meu Deus, ei-la que chora!
Pois caiu-me o pincel. Que mão ousada!
Pintar de noite o levantar da aurora!

LUÍS DELFINO 
(1834-1910)

CAPRICHO DE SARDANAPALO

"Não dormi toda a noite! A vida exalo
Numa agonia indômita e cruel!
Ergue-te, ó Radamés, ó meu vassalo!
Faço-te agora amigo meu fiel...

Deixa o leito de sândalo... A cavalo!
Falta-me alguém no meu real dossel...
Ouves, escravo, o rei Sardanapalo?
Engole o espaço! É raio o meu corcel!

Não quero que igual noite hoje em mim caia...
Vai, Radamés, remonta-te ao Himalaia,
Ao sol, à lua... voa, Radamés,

Que, enquanto a branca Assíria aos meus pés acho,
Quero dormir também, feliz, debaixo
Das duas curvas dos seus brancos pés!..."

Vinicius de Moraes (Suave Amiga)


E eu pensarei: Que bom, nem é preciso respirar 
Cecília Meireles 

Não fui ao teu enterro, Suave Amiga. 

Os enterros, eliminei-os de minha vida para que possa lembrar vivos os meus mortos. Quando os vejo morrer, ou lhes velo os despojos, ou os acompanho em seu último e inútil passeio, eles se vão pouco a pouco fazendo imparticipantes; deixam-se frios e reservados como hóspedes de uma longínqua Marienbad. Sim, Suave Amiga, muito esnobes ficam os mortos para meu gosto. Prefiro pensá-los em viagem, capazes de inesperadamente surgir em minha imaginação, como sucediam no meu tempo; vivos itinerantes, sempre partindo e sempre de volta. Porque, assim como eu, todos os meus amigos viajam muito. 

Em algum lugar andarás agora, Suave Amiga, algum Tibete ou algum Nepal, a te moveres entre templos, levada pelo ímã do teu olhar de prata. Em algum lugar estará acontecendo o teu silêncio, a tua sombra, a tua dúvida. Ora deves parar em doce postura para ouvir de algum velho monge fórmulas mágicas capazes de imobilizar o tempo, dar voz às rosas, transformar tudo em distância; ora ensimesmar-te diante de horizontes infinitos até a evaporação total da carne feita bruma, feita nuvem, feitá pólen lunar: bruma, nuvem, pólen lunar habitados por imensos olhos verdilúcidos a caminharem para a grande treva fluida esgarçada de véus brancos. 

Suave Amiga, que saudade antiga... Saudade de quando entravas na sala de mesas toscas e, à tua chegada, nós nos iluminávamos; e o teu olhar fazia tudo verde, mas não verde-que-te-quero-verde: verde-conta, verde-cecília, cristal verde. Era Manuel Bandeira, cujo beijo deves ainda guardar na face fria; era Ribeiro Couto, que nunca mais vai voltar de Belgrado e era eu nos meus 28 anos, investindo com a lança do Silêncio contra os cavaleiros do Som, em combate cinematográfico desigual; éramos nós, teus poetas, e eras tu, poeta nosso, poeta-nuvem, poeta-gaivota a pescar na névoa de teu mar os peixes luminosos de teus versos. Era outro dia, era outra fábula. De mesmo só havia uma grande vontade de chorar. 

Suave Amiga, que cantiga triste... Que triste história a não contar mais nunca, essa do tempo que passa, do teu vulto avançando na penumbra da sala para logo se perder, da luz de teu sorriso e da calma dos teus olhos sem paz... Não importa onde estejas agora, nos caminhos do Sinai tangendo estrelas, ou a dormir num aquário no fundo de um lago, a graça de teu vulto acompanha nossos passos. À noite, em silêncio, pensamos em ti, ó poeta-pássaro, e sentimos o roçagar inaudível de tuas asas. Um dia, quando menos esperares, estaremos a teu lado. E eu sei que, inclinando graciosamente o corpo sobre o abismo, vigiarás nossa escalada e, no último lance, nos darás a mão. E tu serás para nós, teus poetas, a adorável cicerone desse mundo sem som onde hoje vagas ao sabor da inexistência de tudo, na imensa disponibilidade de quem não tem para onde ir. E nós talvez possamos escrever no grande quadro-negro incolor do espaço, como alunos aplicados, as primeiras palavras inexistentes da poesia que não foi.

Fonte:
Vinicius de Moraes. Para uma menina com uma flor. 

domingo, 30 de junho de 2019

Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 3


A Justiça é muito lenta 
e de Jó tira a paciência;
ninguém mesmo se contenta 
com tamanha sonolência.

Analisem-se de novo,
perguntem aos coliseus:
“Quando será que este povo
terá mesmo a voz de Deus?”

As horas todas do mundo
pertencem ao João-preguiça,
dá vida em ser vagabundo
– nem por viver tem cobiça.

Burlesco é todo ciumento
que está sempre alucinado;
destrói o seu casamento,
mas se diz apaixonado.

Caindo na poça d’água,
à imagem que ali flutua,
o bêbado diz sem mágoa:
“Caramba!… Eu estou na Lua?!”

Cheque é bom, coisa valiosa,
quando vem de lá pra cá;
mas é coisa dolorosa
quando vai daqui pra lá.

Corri… e “dobrei a esquina”,
entrei na boca da noite…
No chão, vi a “estrela alpina”
bem antes do meu pernoite.

Dinheiro gordo e franqueado
chama a atenção de repente:
Deixa doce, bem melado,
falsos amigos da gente.

Distraído na olaria,
receita o médico ao doente:
“Tome um tijolo por dia
com mingau de telha, quente”.

Do jeito que vai o clima,
(nossa!) é desespero só!
Tudo seco. E o que anima 
é a esperança da “água em pó”…

É festa com pão e queijo
nos porões da Petrobrás;
E o dom ratão, com gracejo,
só queijo come voraz.

Ele fez rico chalé,
pro seu bem nele morar,
mas, num rancho de sapé,
foi ter sarna pra coçar.

Era garbosa gazela
toda sensual lá na praça;
como não teve cautela,
virou galinha sem raça.

Minha terra tem saci,
mas, um saci aleijado:
Tem “duas pernas”, eu vi,
pulando desengonçado.

Mulher jovem e bonita,
mansão e carro importado,
conta bancária infinita…
– eis um sonho afortunado!

O Nico é um “puxa” demente,
vê a que ponto ele vai:
Quando o patrão fica doente,
é o Nico que geme “ai, ai”!

Perde-se, às vezes, na escola,
a educação do bom lar;
o aluno prega, com cola,
que a escola é para educar.

Puxa-saco era o sujeito
que à pergunta “que horas são?”
respondeu com seu trejeito:
– As que quiser o patrão!

Quem tem a feia mulher
nada tem em sua mão:
De dia é um canhão qualquer
e à noite, uma assombração.

Torna-se escravo o avarento
do brilho vil do dinheiro;
escravo assim é tormento
e pesadelo ao herdeiro.

Vive o invejoso feliz
com toda alheia desgraça;
fingindo, é o que sempre diz:
– Coitado, ele é boa praça!

Fonte:
Livro enviado pelo autor.
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.