sábado, 23 de maio de 2020

J. G. de Araújo Jorge (O Canto da Terra) 10


PARÁBOLA DAS PITANGAS E DOS CAJÚS

  Se pudéssemos se na vida o que nascemos,
e as pitangueiras não tivessem que dar cajús,
e os cajueiros pitangas,
se os cajus e as pitangas não nascessem sempre nos quintais vizinhos
para lábios estranhos...

Se as pitangas dessem pitangas, e os cajueiros cajús,
e nós todos pudéssemos comer os cajús e as pitangas
que plantássemos,
porque teríamos o nosso quintal e as nossas sementes...
os homens viveriam contentes…
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PENSAMENTO

Tudo porque,
(terão dito ignorados oráculos)
- no caminho dos homens que trouxeram o destino
imenso
de ser caminhos
Há homens que não trouxeram sequer, o destino inglório
de ser obstáculos…
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PERGUNTAS
  
  Que fizeram estes homens para que vivam à beira das calçadas
como as águas estagnadas?

E estas mulheres que dormem no vão das portas das igrejas
com mais filhos ao redor que pelo corpo inchado
as brotoejas?

e estas crianças de olhares doentes e narizes escorrendo,
que eu sempre, - por mais que feche os olhos, estou vendo?...
... estou vendo?…
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POEMA À GRANDE PONTE
(A Walter Nogueira da Silva)

Estende-me tua mão sobre oceanos e terras
que eu quero apertá-la, irmão...

Estende-me tua mão, muito alto, pelos céus...
São desumanas as guerras  
e infames, os seus troféus...
      
Formemos com as nossas mãos tão fortemente unidas  
ligando um horizonte a outro horizonte
num gesto sem igual,
- sobre um mundo a morrer em lutas fratricidas:
o "arco-íris" triunfal da indestrutível ponte
da fraternidade universal!

(Que o arco desta ponte livre e sem senhores,
lançada pelo amor mais belo e mais profundo,
terão todas as cores, - tal como o "arco-íris" -
e abraçarão o mundo!)
........................

Estende-me tua mão sobre oceanos e terras,
ó, meu irmão!

E lancemos também sobre as ruínas das guerras
nosso arco fraternal para a reconstrução!
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POEMA AO JORNALISTA
(A Mário Martins)

Ninguém te vê. Nem o homem sério de óculos que se sentou
de pijama na cadeira de palhinha
na calçada de um subúrbio qualquer,
nem a mulher gorda que tira os óculos e chora por causa do
assassinato hediondo,
- o homem que matou seis filhos e bebeu veneno, -
ou pelos dez órfãos da mãe desesperada,
a mulher que se jogou na linha do trem e o trem repartiu na terra -.

Ninguém te vê. Nem o garoto que fuma escondido num lugar
mal cheiroso do colégio,
nem e menina de tranças que gosta de se sentar na ponta do
banco do bonde
e esquece a rua com as últimas histórias do impossível;
ninguém te vê, nem o rapaz que discute política na mesa do café,
nem a moça que procura o seu nome na crônica social,
onde a caridade fica muito mais bonita
e onde ela se sente muito mais humana...

Ninguém te vê.
Estás sentado na tua mesa, entre papéis dispersos, telegramas
de última hora,
a voz do secretário, o relâmpago do magnésio, a campainha do diretor,
a importância do homem que vai dar uma entrevista;
estás sentado na tua mesa, e escreves com a música dos linotipos
o ruído das máquinas datilográficas,
o vozerio dos companheiros que vão e vêm
a bandeja de café, a fumaça do cigarro, o cheiro de óleo,
- e na tua cabeça há uma prodigiosa procissão de coisas diversas
que se atropelam como os homens na rua
na mudança dos sinais. 
(Verde-vermelho-verde-vermelho-
-verde-vermelho.)

Há presidente e chefes em Washington depois que o ladrão
assaltou o apartamento de Copacabana,
dois tiros, um aniversário, Marieta que cortou o pulso pela décima vez,
dez mil aviões desovando bombas, o jantar elegante no "grill" do cassino,
um fascista graúdo que tomou chumbo na cara, a mulher que teve quatro gêmeos,
a crônica sobre o vestido de Madame X, o político que promete um mundo melhor,
0 operário que caiu do 5 ° andar, o quilo de feijão a 3 cruzeiros,
Clark Gable que voltou da guerra, o último gol do América,
- tudo isto está na tua cabeça, que a tua cabeça é o mundo
debruçado sobre um bloco de papel...

Ninguém te vê. Mas tu vês o mundo, tu sentes o mundo, cada dia, cada noite,
captas o mundo, cada noite, cada dia,
e daqui a pouco, e amanhã bem cedo, terás milhões de olhos,
terás milhões de consciências,
porque te difundirás na multidão e andarás na multidão como os pés
no corpo    ...

És tu que mudas todos os dias a alma das multidões,
dá-lhes novo alimento, nova água, novas preocupações, novas alegrias,
ou novos tormentos,
depois do sol, é a tua manchete que brilha mais, e que clareia a rua,   
e depois da noite, é a tua manchete que enluta o mundo e encobre os homens

Ninguém te vê. E existes e estás presente em toda parte como Deus,
nas ruas, nas batalhas, no avião que ronca no céu, no navio que não chegará,
na hora do fuzilamento, no recado para a família, nas barricadas.
nos subterrâneos inconquistáveis onde a liberdade se recolheu,
na festa do ministro, no banquete do político, na cadeia,
na praça onde a bomba estourou,
na escadaria onde falava o orador, no salão de baile,
no microfone não localizado,
na "première" da grande fita,
- tens mil olhos, mil ouvidos, mil almas, mil mãos,
estás em toda parte e ninguém te vê
até o momento em que explodes na rua como uma granada
e a tua voz é o hino de mil letras dos homens heterogêneos e dispersos...

Alma nova do mundo a cada novo dia. Música das ruas todos os instantes.
História efêmera que passa e a memória esquecerá
se os livros não lembrarem;
sem ti reduziríamos o mundo ao alcance dos nossos olhos,
e ficaríamos surdos e mudos, e de tal forma haveria silêncio
e deserto ao redor,
que nos julgaríamos de repente saídos de uma bomba-foguete
sobre a face da lua...

Sem ti o mundo de hoje seria como mastro sem bandeira
como bandeira sem vento, como rádio sem antena,
como cérebro sem pensamento, como bússola sem norte,
como morte sem vida
como vida sem morte...

Sem ti, o mundo seria mundos
muitos mundos, o meu, o teu, o dele, mundinhos de cada um,
nunca um mundo só, nosso mundo, imenso mundo, mandão,
que sai da tua cabeça
e escorre da tua mão!

Fonte:
J.G. de Araújo Jorge. O Canto da Terra. 1945.

Paulo Mendes Campos (O Carioca e a Roupa)


Entre meus conterrâneos, os econômicos mineiros, é um motivo  de orgulho, de ampla e sorridente satisfação, confessar que uma gravata custou muito mais barato do que parece. No Rio é exatamente o contrário, o sentimento de exaltação interior nasce quando se pode dar para a gravata um preço alto que surpreenda o interlocutor.

Não conheço outra cidade em que a roupa tenha tanta  importância como aqui no Rio. O  carioca é duma ironia corrosiva, terrivelmente desmoralizadora para homens, instituições e ideias graves, uma  ironia também especialmente inimiga de qualquer pose ou afetação. Excetua-se a roupa; a roupa é sagrada. Um Charles Chaplin, uma Eleanor Roosevelt, um Mikoyan, um Oppenheimer, um Salk, um Alexander, um Schweitzer, um Picasso, um Casperson, um T. S. Eliot, um outro nome qualquer  entre  os expoentes contemporâneos em seus ramos de arte, ciência ou ofício, nenhum deles conseguiria manter por muito tempo aqui no Rio a aura de respeito que os cerca onde estejam. Sobretudo se  cuidassem  pouco  de sua encadernação, de sua roupa.

Muito possivelmente, ganhariam  um  apelido, veriam os seus cacoetes imitados nas ruas e nos palcos mambembes, e passariam a ser conhecidos do povo através de um defeito mesquinho, e não pela soma de suas qualidades. Qualquer estrangeiro famoso, caso venha morar nesta  cidade, pode agradecer aos céus se não for rotulado de chato. O carioca decidiu-se por uma grande simplificação da natureza humana, classificando a humanidade em chatos e bons sujeitos; com a nuança única de admitir que certos tipos, embora  chatos, são no fundo uns bons sujeitos.

Sob este aspecto, São Paulo, com a sua  compostura, com o seu culto a toda pessoa que emerge do anonimato, é o antídoto do Rio. Para o estrangeiro, a Capital paulista é um respiradouro: depois da passagem pelo Rio, onde não o levaram muito a sério, o chamado ilustre  visitante vai contemplar, refletida no olhar respeitoso do paulistano, a verdadeira dimensão de sua glória.

E assim sempre foi, assim  continua  sendo,  assim  vai  ser:  o carioca tem o gosto e o dom de igualar os homens, de  refugar  as sofisticações, de considerar apenas  em  cada  pessoa,  independente  de qualquer outro valor, a sua capacidade de convívio.  O  resto  o  povo destrói facilmente com duas ou três maldades de espírito.

Menos a roupa. A roupa, o problema de vestir-se, o preço e a aparência das peças de seu vestuário, transformam o sorriso zombeteiro do carioca numa expressão soturna e sofredora. É o seu ponto fraco, uma zona que resiste à sua ironia e pode torná-lo infeliz.

Diante dum carioca típico, alegre, divertido, com respostas humorísticas para tudo, experimentem, no momento exato de sua  rigolade, colocar em dúvida a qualidade de sua roupa ou de sua elegância. Atingido por uma dolorosa pedrada, ele perderá instantaneamente o rebolado.

Sempre me chamou atenção no Rio a simplicidade com que as pessoas falam de suas dificuldades financeiras, de seus sacrifícios de orçamento, de suas turras, por falta  de  pagamento, com os fornecedores. Esta admirável franqueza desaparece por completo quando se trata de roupa. Neste capítulo, o carioca mente, exagera o preço de seus ternos e de suas camisas, mesmo porque as brigas com os fornecedores e os sacrifícios orçamentários são em grande parte devidos às verbas que se desviam para alfaiates e camisarias.

O proletário francês veste-se mal e come bem; o proletário alemão prefere vestir-se burguesmente e comer mal. É com este que se parece o proletário carioca. E as outras classes o acolhem mais complacentemente se ele passa fome mas se apresenta bem vestido. A roupa vem assim compensar uma fome que não é de pão. Estamos  diante  de  um preconceito complexo, inextirpável do meio social do Rio, terra que inventou e venera a lista dos dez mais, que realiza quase semanalmente um concurso de elegância, terra lucrativa para os comerciantes de tecidos e de roupa feita. Deu-se comigo outro dia  uma  experiência engraçada: fui ao centro da cidade de blusa, coisa que me aconteceu várias vezes, mas só então acrescida de um pormenor que introduziu um caráter inédito à situação: levava debaixo do braço uma pasta de papéis, feita de nylon.

Sim, pela primeira vez fui à cidade de blusa e pasta. Qualquer um desses fatores quase nada significa isoladamente; reunidos, alteraram radicalmente o tratamento que me deram todas as pessoas desconhecidas.

Quando tomei um táxi, vi que o motorista torceu a cara, mas  não percebi o que se passava, pois experimentei  Semelhante  má  vontade  em outras circunstâncias. Reparei  também certa estranheza do motorista quando lhe dei de gorjeta o troco, mas permaneci opaco ao fenômeno social que se realizava. Em um restaurante comum, sentei-me para almoçar. O garçom, que até então eu não vira mais gordo, tratou-me com uma intimidade surpreendente e, em vez de elogiar os pratos pelos quais eu indagava, entrou a diminuí-los: "aqui a gororoba é uma Coisa só; serve para encher o bandulho".

Não sou de raciocínio rápido mas, em  súbita  iluminação, percebi, com todo o prazer da novidade, que eu estava vestido de mensageiro: pasta e blusa. Ao longo da tarde, fui compreendendo que, até hoje, não  tinha  a menor ideia do que é ser um mensageiro. Pois eu lhes conto. Um mensageiro é, antes de tudo, um triste. Tratado com familiaridade agressiva pelos epítetos de amigo, chapa e garotão, o que há de  afetivo nestes nomes é apenas um disfarce, pois atrás deles o tom de voz é de comando. "Quer deixar o papai trabalhar, garotão", disse-me o  faxineiro de um Banco, cutucando-me os pés com a ponta da vassoura.

Entendi muitas outras coisas humildes: o mensageiro não tem direito a réplica; é barrado em elevadores de lotação ainda não atingida; posto a esperar sem oferecimento de cadeira; atendido com um máximo de lentidão; olhado de cima para baixo; batem-lhe com  vigor no ombro para pedir passagem; ninguém lhe diz "obrigado ou por favor"; prestam-lhe informações com relutância; as mulheres bonitas sentem-se ofendidas com o olhar de homenagem do mensageiro; os vendedores lhe dizem "não tem" com um deleite sádico.

Foi uma incursão involuntária à natureza de uma sociedade dividida em castas. Preso à minha classe e a algumas roupas, dizia o poeta, vou de branco pela rua cinzenta. No fim da tarde, eu já  procedia como um mensageiro, só me aproximando dos outros com precaução e humildade, recolhendo de meu rosto qualquer veleidade de um sorriso inútil, jamais correspondido. Dentro de mim uma vontade  de  sofrer.  Por todos os mensageiros do mundo, meus irmãos. Por todos os meus irmãos para os quais a humilhação de cada dia é certa como a própria morte. Porque o pior de tudo é que as pessoas não sorriam. O pior é que ninguém sorri para os mensageiros.

Fonte:
Paulo Mendes Campos. O Cego de Ipanema. RJ: Ed. do Autor, 1961.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Varal de Trovas n. 274


Contos e Lendas do Mundo (A Sabedoria do Vira-latas)

(autor desconhecido)

Uma velha senhora foi para um safári na África e levou seu velho vira-lata com ela.

Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido.

Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço ..

O cachorro velho pensa:

— Oh, oh! Estou mesmo enrascado! Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador ...

Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto:

— Cara, este leopardo estava delicioso! Será que há outros por aí?

Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueira na direção das árvores.

— Caramba! pensa o leopardo, essa foi por pouco! O velho vira-lata quase me pega!

Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido leopardo algum.. .

E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa:

— Aí tem coisa!

O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e faz um acordo com o leopardo. O jovem leopardo fica furioso por ter sido feito de bobo, e diz:

— Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado!

Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:

— E agora, o que é que eu posso fazer?

Mas, em vez de correr (sabe que suas pernas doloridas não o levariam longe...) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:

— Cadê aquele desgraçado do macaco? Tô morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e não chega nunca!

Moral da história: Não mexa com cachorro velho... idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga. Sabedoria só vem com idade e experiência.

Fonte:
Fábula de autor desconhecido enviado por Ialmar Pio Schneider

Professor Garcia (Trovas que sonhei cantar) 7


A abelha sugando a flor,
tem por fiel compromisso,
por mais delícia de amor
na doçura do cortiço!
- - - - - -
A cor rubra, enfraquecida,
que ao por do sol transparece,
tem a dor da despedida
e a ternura de uma prece!
- - - - - -
A dor da ausência, em verdade,
é uma rica companheira...
Quem beija e abraça a saudade,
tem fortuna a vida inteira!
- - - - - -
A mãe e o bebê sofrendo,
eu vi com desconfiança...
Uma esperança morrendo
nos braços de outra esperança!
- - - - - -
A vela triste, enxugando
do velho nauta, os seus ais...
É uma saudade chorando
sem saber se volta ao cais!
- - - - - -
Carrilhão - por que chorais?
vosso gemer, diz quem sois!
E. essa dor de vossos ais
é a mesma dor de nós dois!
- - - - - -
Criança de vida dura,
pobre, faminta e sem lar...
Quantas lições de ternura
na luz tosca deste olhar!!!
- - - - - -
Das bravuras do meu chão,
herdei por tudo que fiz…
Esse velho corpo são
coberto de cicatriz!
- - - - - -
Desafio do meu sonho
desde do tempo de criança,
é não ver num lar tristonho
faltar o pão da esperança!
- - - - - -
Em tudo que a gente faz,
há uma pitada de amor;
desse amor que a gente traz
no coração trovador!
- - - - - -
Fiz quase tudo na vida,
só lamento o que não fiz.
Deus vendo a missão cumprida
me fez muito mais feliz!
- - - - - -
Lágrima, orvalho que cai
dos olhos, da noite calma,
que aos poucos, regando vai,
a solidão de minha alma!
- - - - - -
Mãe!... É o mais lindo estribilho
da canção que Deus modela,
e o que ela faz pelo filho,
filho nenhum faz por ela!
- - - - - -
Não sei se faltou decoro
na voz do meu acalanto...
Só quis consolar teu choro,
mas fiz foi dobrar teu pranto!
- - - - - –
No entardecer já sem vida,
Deus deixa no entardecer,
um verso de despedida
antes do sol se esconder!
- - - - - -
No outono triste da idade,
o velho andarilho chora
e anda abraçado á saudade
do filho que foi embora!
- - - - - –
Nós somos dois passarinhos,
sem agasalhos, sem teto,
mas o chão de nossos ninhos
é atapetado de afeto!
- - - - - -
O mar gemendo se alteia,
e aos poucos, por entre as brumas...
derrama espumas na areia
e adormece entre as espumas!
- - - - - –
Penso que a gota de orvalho
é uma lágrima de amor,
dos olhos de cada galho
que vê brotar uma flor!
- - - - - –
Perdoar, deixar de lado,
é tudo que me convém;
que o perdão, lava o pecado
de alma que perdoa alguém!
- - - - - -
São tantas as consequências
ante o amor que se desfaz...
Que há medos temendo ausências
e há gritos pedindo paz!
- - - - - –
Se alguém, ingrato e cruel,
me der amargo licor,
eu lhe dou favos de mel
cristalizados de amor!
- - - - - -
Se Deus fez um diadema
do sol, e essa luz nos deu...
Da lua, fez o poema
mais lindo que Ele escreveu!
- - - - - -
Se o amor tem sabor de mel,
prove da ausência o sabor,
que a ausência transforma em fel
os cristais doces do amor!
- - - - - -
Sou tão pequeno, meu Deus,
mas cresço um pouco, ó Senhor...
ante o amor dos olhos teus
e os teus exemplos de amor!
- - - - - -
Um lenço, entre os lenços seus,
no cais, me acena tristonho!...
Lembra um sonho dando adeus
ao silêncio de outro sonho!
- - - - - –
Um vento brando, mansinho,
toda tarde, ao fim do dia,
discreto, oscula o meu ninho,
com beijos de nostalgia!
- - - - - -
Vai-se o sol! E a tarde, é aquela,
instante em que mais medito,
tentando pintar a tela
da solidão do infinito!


Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018. 
Livro gentilmente enviado pelo autor.

Carlos Drummond de Andrade (Boneca Triste)


Galeria Stvdivs, em Laranjeiras. Hora quase sem movimento. Entra um senhor de cabelos grisalhos e percorre lentamente a exposição de bonecas do século XIX. Para mais tempo diante da peça no 14, examinando-a com atenção. Fala sozinho:

— Deve ser essa.

Faz um gesto de carinho no ar, como se tivesse a boneca no colo, e repete:

— Tenho quase certeza de que é essa.

Passeia os olhos em redor, à procura de alguém. Aproxima-se uma jovem, que pergunta:

— O senhor deseja alguma coisa?

— Desejo sim. Pode me informar se essa boneca anda?

— Pois não. Embora não tenha pernas articuladas, ela anda. E tem choro.

— Choro? Tem certeza de que ela chora, em vez de rir?

— Olhe, cavalheiro, nunca vi boneca dando risada. E esta não é a única chorona da coleção, veja bem. A de no 7, do fabricante alemão Handwerk, também tem choro, se o senhor puxar o fio.

— A vida é dura também para as bonecas, eu sei. Pois olhe, estava quase jurando que esta ria. Não estrondosamente, é claro, mas ria. É tão parecida, se não for a mesma.

— Parecida com qual?

— Com outra do mesmo tipo, mesmos cabelos, que comprei há muitos anos numa loja de antiguidades da rua Chile. A loja do Marques dos Santos, lembra-se?

— Acho que não sou desse tempo… O professor Marques dos Santos, é?

— Ele mesmo. Uma boneca francesa como essa aí, com assinatura incompleta.

— Essa também tem assinatura incompleta: Paris 501.

— Então é a mesma!

— Perdão, esta pertence a d. Sylvie Renault, e veio diretamente da Europa.

— A senhorita garante que veio diretamente?

— É o que está na ficha. Não há razão para duvidar.

— Não estou duvidando. Estou procurando me esclarecer.

— Desculpe, mas que interesse tem o senhor nisso?

— A senhorita vai zombar de mim se eu lhe disser.

— Absolutamente. Pode falar à vontade.

— A senhorita acredita… na alma das bonecas?

— Hem?

— Eu não disse que ia zombar? Estou vendo pelo seu sorriso.

— Bem, achei a pergunta engraçada, mas não tive intenção de zombaria.

— Todos acham a pergunta engraçada. Por isso mesmo eu não a faço mais a ninguém. Agora, no meio de tantas bonecas, e vendo o seu interesse em me ser útil, eu me animei… Desculpe, estamos conversados.

— Não. Continue. Fale na alma.

— Das bonecas? Aquela a que me refiro tinha alma, uma alma especial, própria de boneca, isso tinha.

— O senhor a comprou para sua filha, ou era colecionador?

— Nunca tive filha e nunca fui colecionador de nada.

— E então?

— Então, comprei a boneca exatamente porque não tinha filha nem filho. E também porque ela me pediu que a levasse.

— A boneca? Pediu de que maneira?

— Senti que ela me pedia, menos pelos olhos, que se moviam docemente, sem parecer mecânicos, do que pelo ar, entende? Ar muito especial, de esperança, de desejo triste. Acha que estou mentindo?

— Eu não disse nada.

— Não disse, mas está achando. É natural. Todos acham. Mas senti que a boneca precisava de mim, como eu, de repente, comecei a precisar dela. Levei-a para casa, minha mulher achou ridículo, fez uma cena.

— Por tão pouco.

— A partir daí, não nos entendemos mais, eu e minha mulher. Tentei convencê-la de que a boneca devia nos aproximar, em vez de nos dividir. Que era uma espécie de filha, representando a que não tivemos. E como filha a tratei sempre, o que mais irritava minha mulher, incapaz de nos compreender, a mim e à boneca.

— Estou imaginando as consequências.

— Bem, acabou em separação e desquite.

— O senhor ficou com a boneca.

— Eu tinha que ficar com ela, não havia outra solução. Passou a ser para mim um resumo da filha que não nasceu, da mulher que foi embora, das mulheres em geral. Sentia amor e respeito, amor e devoção. E a pobrezinha chorava.

— Mas isso não é comum nas bonecas?

— Nela era diferente. Era choro humano, e chorava por mim. O choro me impressionava, me doía. Eu não a fizera feliz. Comecei a reeducá-la. Levei-a a passeio, viajei, viajamos. Queria ensiná-la a sorrir. Custou, mas consegui. Esse dia foi uma festa, pulei e cantei de felicidade. Daí por diante, ela parecia outra. Sorria, ria, não estou mentindo não, que interesse tenho em mentir? Vivemos felizes algumas semanas, as mais belas de minha vida. Até que um dia…

— Um dia…?

— Ela também foi embora. Com seus próprios pés, com suas pernas desarticuladas.

— Furtada, talvez.

— Não houve furto. Nenhum sinal de ladrão. O apartamento, rigorosamente fechado. Fugiu. Tenho certeza que fugiu, talvez porque só ficara alegre para me contentar, e era uma boneca que não fora feita, melhor, que não nascera para ser alegre.

Fez uma pausa. Olhou uma última vez para a boneca no 14:

— Procurei-a por toda parte. Como ia achar uma boneca fugida no Rio de Janeiro? Hoje, lendo a notícia desta exposição, vim aqui espiar, reparar. Pensei que fosse aquela. Não é. Muito obrigado, senhorita. Nunca se encontra uma boneca fugida, cuja natureza tentamos modificar.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas.

V Concurso de Trovas de Cachoeira do Sul/RS (Prazo: 31 de Agosto)


REGULAMENTO

1– O V Concurso de Trovas de Cachoeira do Sul, promovido e realizado pela União Brasileira de Trovadores, Seção de Cachoeira do Sul, obedecerá a seguinte regulamentação:

2 – Para efeito deste concurso, entende-se por TROVA a  composição poética (poema) de quatros versos (linhas) setissilábicos, rimando o 1° com o 3° e o 2° com o 4°, expressando um sentido completo.

3 – TEMA ÚNICO: MÁRIO QUINTANA 

Trovas líricas e/ou filosóficas (não há necessidade de a palavra-tema aparecer na trova). Para autores residentes no Brasil e no exterior, assim como no Estado do Rio Grande do Sul e também para NOVOS TROVADORES.

4 – Formas de remessa;

A) Via Correio; as trovas deverão ser remetidas pelo sistema de envelopes para o seguinte endereço:

Rua Araújo de POA, 1204 - B - Santa Helena
Cachoeira do Sul – RS. CEP: 96 503 – 460 e

B) Via e-mail:

Fiel Depositária: Jaqueline Machado

tudoepossivelw7@gmail.com


As trovas deverão ser remetidas preferencialmente por e-mail para Jaqueline Machado.

5 – Abaixo da trova o autor deverá colocar sempre a CATEGORIA a que concorre: Nacional\Internacional, Estadual, Novos Trovadores Estadual e Novos trovadores Nacional. 

6 – Prazo para remessa: 31.08.20

7 – Cada autor poderá concorrer somente com UMA (1) trova.

8 – Os vitoriosos receberão diplomas virtuais com as trovas classificadas.

9 – O corpo de jurados será formado por trovadores de reconhecido valor literário, já premiados em diversos concursos, indicados pela entidade promotora do evento.

10 – Os casos omissos serão resolvidos pela diretoria da entidade promotora do evento.

Cachoeira do Sul. Maio de 2020.
JAQUELINE MACHADO
Presidente da UBT Seção de Cachoeira do Sul

Fonte:
Regulamento enviado por Jaqueline Machado

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Varal de Trovas n. 273


Scyla Bertoja (Meias Trocadas)


Não quero ser a primeira. Finjo dormir. Nos últimos cinco anos já aprendi alguns truques. Aquelas vozes rasgadas, agudas, incultas, Invadem o quarto, circundam as camas. Moldura sonora dos nossos pesadelos noturnos, a gritaria precede o abrir de cortinas e persianas, derramando claridade em nossos olhos ainda colados. Em seguida braços fortes e mãos geladas, quase sempre úmidas, nos agarram e nos levam meio arrastadas, para o banheiro. Às vezes, para adiantar serviço, duas de nós ao mesmo tempo. Fraldas molhadas ou até pior, cheiramos mal e o sentimento é de vergonha, constrangimento. Por isso, e não por preguiça, como querem alguns, seguimos reclamando  pelo corredor, o que não chega a comover as pessoas que nos amparam. Depois, à medida que somos lavadas, enxugadas e vestidas com roupas limpas e secas, vamos reconquistando a sensação de sermos, outra vez, humanas. Penso que aquelas que já perderam a consciência são mais felizes, pois não demonstram alguma repulsa em relação a seus corpos e parecem desconhecer a desagradável sensação ao acordar, indiferentes à humilhação e ao ridículo. Raramente opõem resistência aos modos bruscos de alguma atendente mais grosseira. Mas há sempre uma ou duas que não querem sair. Silenciam tão logo são colocadas embaixo do chuveiro, esboçando até, por vezes, um arremedo de sorriso idiotizado, senil. Braço rígido, mão em garra, aquele andar de cãozinho atropelado, o medo e a insegurança das cegas, são coisas normais na casa. Ninguém mais usa óculos. De nada serviria. Acho que a visão de algumas delas se compara à "Aurora no Castelo Norham", tela pintada por Turner, de concepção quase abstrata, que tem como tema uma mansão sobre o rio Tweed. Conheci uma reprodução da obra no consultório do médico que me operou pela primeira vez. Lindíssima. Mas não permite individualizar absolutamente nada.

O desfile matinal não é exatamente um espetáculo de grande elegância. Portadoras de todo tipo de deficiências, elas vão sendo acomodadas à mesa do café, com respeito e até carinho, pelas funcionárias, com direito a cafuné, afago nas costas, no rosto ou nas mãozinhas enrugadas e manchadas pelo tempo. As cabeças vão do grisalho ao branco amarelado. Apesar do ambiente em que vivo, meu conhecimento sobre doenças é parco. Mas da idade eu sei. Fico atenta ao modo como emagrecem rapidamente, mesmo alimentando-se com frequência e em abundância. Ficam enrijecidas e movimentam-se com dificuldade. Ao falar, confundem os sons e produzem discursos ininteligíveis. No entanto, parecem saber o que estão tentando dizer. Em seguida esquecem tudo. Algumas delas demonstram uma espécie de dualidade. Dão respostas claras e lúcidas, emitem sua vontade, mas, ao relatar algum episódio de suas vidas, agregam histórias que não aconteceram na realidade - fabulação. Segundo ouvi dizer, é somente para preencher, no cérebro, os espaços que não podem ficar vazios.

Minhas companheiras, com raras exceções, foram esposas, mães, trabalhadoras, artistas, durante o período mais produtivo de suas vidas. No entanto, a doença e a idade a todos nivelam. Os processos degenerativos não respeitam diplomas, títulos honoríficos, contas bancárias. Tampouco histórias de dedicação e capacidade de trabalho.

Chega a minha vez. A humilhação de depender dos outros para exercer os mais simples atos da vida já seria suficiente para desesperar, mas não fica por aí. Sirvo também de galhofa para as jovens que me garantem esse mínimo de dignidade que é andar limpa, razoavelmente vestida e alimentada. Riem do meu corpo mal feito e dão apelidos chulos às minhas partes pudendas.    Poderiam evitar mencioná-las em seu linguajar rasteiro. Mas se comprazem ao ver-me irritada. Aquém me devo queixar? Serei bem tratada após receberem as reprimendas de seus patrões? Ou serei alvo de uma perseguição corporativa?

Tenho tentado parecer indiferente - sem grande sucesso - ou argumentar diretamente com meus anjos da guarda. Elas são profissionalmente qualificadas, mas nem todas trazem de suas famílias a educação e a sensibilidade necessárias ao entendimento da nossa situação. Um dia ouvi um comentário assim: "Minha bisavó também teve esses problemas e ficou em nossa casa até morrer, e nunca incomodou ninguém". Fiquei pensando e cheguei à conclusão de que há coisas que não podem ser compradas.

Morando neste lugar, às vezes lembro do canil onde costumava deixar Tolstói quando viajava por alguns dias. O veterinário estava lá diariamente. As instalações eram muito limpas e tudo era adequado ao gosto e à necessidade dos cães para evitar o estresse. Meu poodle branco adorava ficar lá. Somente o meu retorno era melhor do que aquele ambiente.

Na sala de música, enquanto espero para colocar os fones e deliciar-me com a Quinta Sinfonia de Beethoven, uma colega, inconformada, conta que, às vezes, observando os próprios pés, não reconhece as meias. Tem certeza de que não são suas.

Sou invadida por sentimentos de revolta e impotência, coloco os fones e levanto o volume para conseguir abafar o grito que me habita o peito há muitos anos. A falta de tato da companheira me parece pior que o meu preconceito. A ignorância dela me atingiu profundamente. Como pode queixar-se das meias para alguém que não possui as pernas?

Fonte:
Rozelia Scheifler Rasia, Alba Pires Ferreira, Ilda Maria Costa Brasil (org.). Coletânea Enigmas. Porto Alegre/RS: Alternativa, 2012.

Isabel Furini (Poemas Infantis)


A CARTOLA DO MÁGICO

Perto da cidade havia um lago.
Perto do lago
morava um mágico.

O mágico tinha uma cartola,
a cartola estava guardada
em uma pequena gaiola.

Cartola de mágico, voa.
Essa cartola gostava do lago
e de navegar em uma canoa.

A cartola decidiu sair.
Ela era muito esperta
e contou uma mentirinha.

Reclamou que doía a aba,
pois fazia muito tempo
que ela não voava.

O mágico a deixou sair
e a cartola ficou
livre e muito feliz.

O mágico e a cartola
sempre se apresentavam
em hospitais e em escolas.

Riam felizes as crianças,
pois o mágico e a cartola
semeavam esperança.
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A MEDUSA, A ESTRELA  E A BLUSA


O sonho da Medusa
é ser muito elegante.
Ela abre o seu guarda-roupa,
Mas fica muito confusa.

Pergunta-se a Medusa:
Qual será a melhor blusa
Para passear com a Estrela
Que está sempre alegre e bela?

Confusa dona Medusa,
Pede conselho ao Camarão.
E o sábio Camarão fala:
- Em qualquer ocasião, o melhor
É escolher com o coração.
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O BARQUINHO MEDROSO


O pai o observa e fala:
Cuidado com o vendaval!
O barquinho fica assustado
E começa a chorar.
Buuaaaaa! Buuaaaaa!

O pai o consola.
Aconselha voltar à praia
O barquinho  quase desmaia
Era o seu primeiro vendaval!

O pai o incentiva:
Lute! Você pode navegar.
O barquinho volta para a praia
E na areia encalha.

Estou salvo! Estou salvo! –
Grita o barquinho encalhado,
E um pequeno caranguejo
Fala: - Nesse barco eu embarco.

O barquinho e o caranguejo
Esperam a tempestade passar.
Mais tarde, o papai barco observa
O barquinho e o caranguejo
Navegar e dançar.
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O CHOCOLATE, O ABACATE E O TOMATE


O abacate e o tomate
Sentem ciúme, muito ciúme
Porque todas as crianças
Preferem o chocolate

O tomate, muito zangado,
Grita que o chocolate
Só faz aumentar a pança

E o abacate esclarece:
Comer muito chocolate
Faz temer a balança!

O chocolate já sabe
Que ele está na liderança
Mas fica muito acanhado

Com calma ele argumenta
Pra que a vida seja sadia
As crianças ele orienta:

- É bom comer com temperança
Um pouquinho a cada dia
Evitando a comilança.
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O CONCURSO MUSICAL


Foi um concurso trabalhoso,
difícil a decisão!
O jurado duvidava
e as cabeças giravam,
como um antigo pião.

O mais musical é o barco
faz Tchiuuumm … Tchiuumm ...
Não! - gritava outro jurado -
O mais musical é o avião!
Seu som faz lembrar o rojão.

Slam! Blam! Faz a porta
do avião quando é fechada.
Brrrr trommm! Brrr trommm!
Faz o avião na tempestade.

- E você, jurado Zecão?
- Eu voto no caminhão.
Seus motores fazem ruídos
que estremecem o coração.
Brooommm!! Brooommm!!

E o trem? Esqueceram do trem?
Porque a meu ver,
o mais musical do mundo
é o apito do trem!
Piuíííííííí! Piuíííííííí! Piuíííííííí!

Assim as horas passavam
sem nenhuma conclusão,
até que um jurado zangado
acaba com aquela indecisão:
- Todos estão empatados!
Gritou com voz de tenor.

E saíram todos cantando
felizes com a competição.
Seguiam o trem e o caminhão
ao lado do barco e do avião.
E cada um deles dizia:
“Eu sou um grande campeão”.
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O OVO DE PÁSCOA


Um ovinho da Páscoa
o bicho-preguiça encontrou.
Ele tentou comer o ovinho,
mas a tartaruga não deixou.

- Esse não é ovo de Páscoa
seu bichinho danado!
Esse ovo é o meu filho,
meu filhinho muito amado.

- Desculpe-me, mas eu sou míope...
pergunte ao jacaré,
uma vez mordi a sua cauda
pensando que era o meu pé.

Riu muito a tartaruga
e se mexeram suas rugas.
Depois ela falou:
- Eu vou dar meu ovo de Páscoa
que um coelho branco me deu.

Esse coelho é muito querido
e presenteia com ovos coloridos.
São ovos de chocolate
pintados com polpa de abacate.

Fonte:
Blog da Poetisa