“A TUA CANÇÃO”
O mar voltou a chamar-me,
brando, azul;
ondulando
levemente de espuma e paz.
Eu regresso, de mansinho
(ao seu afago),
canto a tua canção
-num beijo inesgotável-
quando o mar me desperta
todas as ausências:
eu te chamo breve em nós.
“CARTA DE PAIXÃO”
Escrevo-te:
mais uma carta de paixão.
Conto-te do desejo,
do incontornável calor
do teu corpo e do meu,
da saudade vincada de ti,
da cama, do suor, do orgasmo.
É: uma carta de paixão
(esta), a que te escrevo,
com palavras que escorrem
no envelope.
Vem hoje;
para que eu me venha, também.
“AQUECE”
Não deixes arrefecer,
aproveita a imaginação
e no vento frio,
que nos gela,
aquece comigo a noite.
Deixa que a madrugada
regresse a casa
e o calor se faça sentir,
como a memória,
agora ausente,
do que fomos;
nas entranhas
os únicos sobreviventes.
“ATRASOS”
Sempre olhavas o relógio
E as horas marcadas
Para estar em casa
Quando começava
A despir-me
Olhavas-me cobiçoso
E tocavas-me
Onde sabias
As horas ficavam para trás
(Mas nunca te atrasavas
Em casa)
Atrasavas-te só em mim
No reboliço
Em que deixávamos
Metade de nós
“CANÇÃO DO AMOR”
Gosto das canções de amor
Embaladas na tua voz
Como se a música
Chovesse prateada
Em torno do meu corpo
Emudecido
Gosto de te ouvir
Nas canções de amor
Que a tua vida não calou
E que cantas ainda
Sob um feixe de luz
Na madrugada aquecida
De um quarto de hotel
Adormeces-me em desvario
Quando assim me embalas
E a chuva é prateada
E o vento se torna poema
Na tua canção de amor.
“O TEMPO ERRADO”
Tanta palavra dita e redita
Esquecida e magoada
Falada no silêncio
Fechada no tempo
De não ser nada.
Palavras repetidas
Como se fossem verdade
Como se as quisesse ouvir
Só para que a minha voz
Ecoe e eu a escute
Para que as palavras
Sejam as da minha solidão
As da minha vontade
Aquelas que se entregam
Sem troca alguma.
Ditas e reditas
Enterradas no dia
Do tempo errado…
DESENHO
Desenho com um lapis,
acabado de afiar,
os traços que contornam
o teu rosto
onde a barba se destaca,
mas não sei desenhar
o tom da tua voz.
Talvez o pinte de azul- maresia
e o acaricie
num longo gesto,
pronunciado
Pelo bico de meu lápis,
junto à nascente
do dia
com a sofreguidão
da maré
Fontes:
http://www.estudioraposa.com/index.php/category/poetas/paula-raposo/
http://o-sol-poente.blogspot.com.br/2009/03/poesia-de-paula-raposo.html
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.