UM GRITO DE AMOR
Docemente imersa e submersa
na doçura do seu olhar
ardendo em chamas secretas
numa louca sinfonia
Vem com o encanto do momento
florido com a luz da lua
com desejo de ser amado
nos encantando de prazer
Seu amor desarrumou meu coração,
mas arrumou minh'alma solitária
há uma primavera agora nos meus dias
perdida na imensidão de tanto querer
Alguém modula no teclado
um belo noturno raro
que nos acompanha na noite em flor
partitura que embalamos
para dar forma ao nosso amor
Tem um canto de doçura
na flor que abre no meu peito
nas suas palavras nasce a loucura
do sonoro mar quando me deito
NOTURNO DA DESOLAÇÃO
Em triste sussurrante refúgio de agonia
após noite indormida debaixo da ponte,
resignado, só o abandono lhe assedia
tremulando de ternura e sem horizonte
Sob um tíbio luar quase adormecido
com fragmento que escora sua ruína
traz lampejo de um cometa envelhecido
só a morte neste mundo lhe fascina
Seqüela de solidão na aparência
descobre que esperar não pode mais
pela vida que o excluiu com negligência
e pelos seres irmãos por diferenças sociais
Nenhum tempo de júbilo para os que caminham
denegando a dúbia forma de desesperança
sob fortes sinas que advinham
como vozes que fenecem sem lembranças
Na súplica da última anunciação
galga a escada dos martírios
paira nos céus da consolação
submerso no mundo dos delírios.
RE - ENCONTROS
E nos dizem as predições:
Interregno fez-se magia,
Pois falaram alto as emoções
Dos encontros com alegria.
Consta nos astros a alquimia
Existente entre afetos
Psicanálise e poesia
passam por filhos e netos
Tempos idos sofreguidão
Tempos lindos alvorecer
O final da abstração
Início d'um renascer.
Consta na vida a empatia
Dores doídas, regressões
Trocamos saber, catexia
Como queria a ilusão
Urge o tempo e nosso vinho
Sonhos sonhados, traçador
Entrelaçados de carinho
Do silêncio tecedor.
DISSONÂNCIA
Na favela a miséria disfarça a fome
e a vida não se revela
boca sem dentes: não se come
sequer a solidão floresce amarela
A favela encobre a miséria;
casebres, fendas, emendas
alastram e consomem a matéria
e a fome traz torturas horrendas
Na favela as crianças pulsam no espaço
- sussurro de lamentação materna -
o silêncio é escasso,
pois a lei do burguês governa
As unhas de encardidas mãos
num clamor de súplica, dos desesperados,
aquele que vivia em vão
e os que estão vivos agonizados
Vivem para além do desespero e da esperança
na ignorância e no saber dos abandonados
o efeito de ser ferido que transmuta em vingança
o crepúsculo de nascer e morrer dos renegados.
SONATA AO LUAR
Acordei como flores sorrindo
os rios estavam cantando
todo meu ser vive florindo
com os humores trocando
Quando a natureza canta
fico em cima de um oiteiro
meu pensamento se encontra
voando para o Rio de Janeiro
Ah! é o teu canto que aparece
que pousa um momento em mim
é um encanto o que me acontece
no verso quando sonho com jasmim
Longe de mim a vida não existe
se estás longe corro e me procuro
sombra é o movimento que consiste
na eterna felicidade que mensuro
a lua quando desce a terra
piso nos astros distraída
sua luz perfeita encerra
toda doçura desta vida
A VIDA
A vida é como certa chuva,
ergue-se do mar ao encontro das nuvens
A grinalda enfeitada de uva
e de angúnstias perde-se os bens.
Ninfas cantam Euterpa a Alegria,
jasmins bailam no paraíso,
a beleza persegue Afrodite com euforia
e Eco embala o amor de Narciso.
Ouço sonho de velhos companheiros
rodopiando em torno da silente vida
com temores de pássaros faceiros
que o tempo não elucida.
Chove cá embaixo nas horas incertas
Sócrates faz parir idéias pela maiêutica,
o nirvana é a paz para o humano,
para o texto sagrado a hermenêutica
e a vida dos mortais um engano
CANTO DO AMOR PERDIDO
Entre as estrelas mais perfumadas
floresceu um amor como o arco-íris
por um segundo pensei encontrar-me sonhando
e neste tempo minh'alma se encantou
Ao cantar do melro tagarela
comecei a fazer versos tão amados
o amor me pegou desprevenida
e no descompasso do meu coração
comecei a viver esta ilusão
Doces beijos e carícias tresloucadas
me despertavam a todo instante
o céu me parecia mais azulado
meu ser cantava em euforia
Nos lençóis macios do amanhecer
me encontrei a sorrir despreocupada
seria a felicidade acontecendo
ou mais uma ilusão dos apaixonados?
PERFUME DE MULHER
Acordei como flores sorrindo
Os rios estavam cantando
Todo meu ser vive dormindo
E com os humores trocando
Pois quando a natureza canta
Fico no cimo de um oiteiro
Meu pensamento se encontra
Voando para o Rio de Janeiro
Não, não é o teu canto que aparece
Que pousa um momento em mim
mas o fantasma que acontece
No verso com cheiro jasmim
Longe de mim, só em mim existe
Depois do teu amor violáceo
E o olor que persiste
É açucena verbenáceo
A lua quando desce a terra
Pisa nos astros distraída
Sua luz perfeita encerra
Toda doçura desta vida.
Fontes:
http://www.teiadosamigos.com.br/Nossos_Poetas/jandira.html
http://www.avspe.eti.br/poetas1/jandira.htm
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