O DOM DE SER DE NOVO
Como num passe de mágica
vi-me posto de joelhos adorando uma paisagem.
Todas as estrelas eram azuis
e o céu era azul e assim era a vida.
Aquela água cristalina e verde entre montanhas,
aquele verde de Deus doendo em nossos olhos,
aquele murmúrio de pássaros,
leves plumas, algodão nos lábios passeando,
ó alegria do mundo!, glória única entre os homens.
E a paz guardada num coração de cofre.
E os animais com seus passeios divinos.
Água dos rios, mar de lágrimas oceânicas,
piano e voz, é esse o criador que tudo faz.
Você que me trouxe ao mundo e me deu voz
para falar, e cantar e gritar: vida é isso aqui.
Nuvens com chuva pra ninguém chorar.
Fogo nas montanhas para seguirmos viagem.
Pasto pros animais. Mundo verde, mineral.
Ponte e abismo pra sairmos da lama.
Deu-nos o dom dos salmos para dizermos verdades,
deu-nos o ar nos pulmões pra respirarmos em uníssono
e suspirarmos, depois, de amor e de lembranças.
OS DOMINGOS
Domingo sozinho é pára-raios
de lágrimas. E chove como nunca nessas flores,
o dia amanhecendo com seus galos.
Há barulhos estranhos pela casa.
Um livro de Vallejo e uma faca
com a qual devo arrancar meu coração para
ofertar-te : um peixe pulando sobre a mesa.
Toda ferida acesa. Todo o céu maculado.
Embaçado amor, corrente de amarrar doido
que não me deixa correr ao teu encontro.
É tudo que leio e vejo.
Fonte:
Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante. Ano XI. Edição 269. 9 junho 2012.
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.