Eis surge a quadra florida,
A quadra dos amores,
Vertendo almos fulgores
Do seio juvenil.
Tudo revive ao hálito
Que a natureza aquece;
Tudo rejuvenesce
À luz do ameno abril.
Os bosques odoríferos
Se cobrem de verduras:
Nos montes e planuras
Renasce a tenra flor;
Dos perfumados zéfiros
As músicas suaves
Se juntam das mil aves
Os cânticos d'amor.
Salve, estação esplêndida,
Ó luz apetecida,
Que à terra dando vida,
A tudo dás prazer!
Minha alma em doces êxtases
Festeja a tua vinda,
E se ergue à luz infinda,
Manancial do ser.
D'onde. ó calor benéfico,
Derivas teu alento?
E d'onde o movimento
Que dás à criação?
Do foco sempre vivido
Que anima a natureza
Por toda a redondeza
Da terra, e da amplidão.
Como nos campos fulgidos
Espalha essas estrelas,
Assim as flores belas
Nos campos terreais:
Quão belo, ó Providência,
É teu poder fecundo
Enchendo o vasto mundo
D'alentos imortais!
Debalde o imenso vórtice
Retoma quanto gera:
Tudo se regenera
No perenal crisol,
E tudo canta harmónico
O Ser que, das alturas,
Aos gelos dá verduras,
Às sombras novo sol.
Cantai, ó aves módulas,
Cantai em coro ledo!
Murmúrios do arvoredo,
Cantai a Jeová!
Campinas aromáticas,
Erguei-lhe os mil perfumes
Das flores em cardumes
Que a primavera dá!
Abriu-se o tabernáculo
Da terra florescente;
Todo sorri fulgente,
Todo respira amor:
Ressoem nele os cânticos
De mística harmonia,
Dizendo noite e dia:
– Hossana ao Criador!
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource
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que elas trazem para mim.