VOZ DE GELO
Quando você diz que me ama,
Sua voz ecoa no meu vazio.
É tão seco dentro de mim,
Que o som rasga minhas entranhas.
Não quero mais ouvir.
Houve, sim, tempo em que queria...
Sonhava com sua melodia.
Vivia pela nossa harmonia.
O tempo passou.
Você passou.
E como não deixou marcas,
não faz diferença.
O CICLONE
O ciclone se aproximou
Com imensa força e rapidez
As nuvens densas
Escondiam seu interior
Extasiada com tanta volúpia
Permiti que se aproximasse
Dancei em seus ventos
Rodopiando centro acima
Subia e subia
Cada vez mais imersa
Nessa nova vida
Distante da terra
Meus pés flutuavam
Nada mais existia
Além do ciclone e eu.
QUANDO PASSOU
A calmaria chegou
Assustada percebi
Meus pés afundavam
Em areia movediça
Abaixo me puxava e puxava
Até que morri
Mil vezes seguidas
Sem ar, sem espaço
Sem visão, sem movimento
Meu corpo na terra
Lama na lama
Lágrimas marrons
Até que não mais era.
A BONECA
Pés descalços no chão
Corpo disforme, raquítico
Barriga grande
Dedo sujo na boca
Terra molhada,
Esgoto a céu aberto
Caixas de papelão
Lar dos subumanos
Urubus e capivaras
Animais de estimação
A boneca tão limpinha
Aninhada no coração
A menina cresceu
E cheirou cola
Depois vendeu seu corpo
Assaltou pedestres felizes
E se mudou para a prisão...
Mas a boneca, ah!
Aquela boneca
Sem cabelos
Lavada com lágrimas
Choradas pela dor de fome
A boneca, ah, a boneca!
A menina levou com ela.
ABANDONO
Mandela
Você partiu sem despedidas nem explicações
Eu busquei respostas no passado que preenchessem o vazio
O porta-retrato no lixo eu recuperei
Um pijama que não será lavado
Mosaico da tua presença impregna os sentidos
Lembranças de frases jogadas:
“Controladora...”
“Enruga as minhas asas...”
“Vai: destranca a gaiola...”
Era um ninho aberto
Você não sabia?
Enruguei minhas asas por que quis
Subi grades imaginárias
Em minha volta
Agora
Não beijarei flores perfumadas ,
Caminharei por becos imundos, sozinha
Sem você, não sou borboleta
Sou lagarta, agarrada, desconfiada
Do que tenho medo? Não é medo de cair.
É medo de te ver voejar em outro jardim.
Fontes:
http://www.asesbp.com.br/escritores/escritores51.html
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2010/06/simone-pedersen-escritora-e-poeta.html
Quando você diz que me ama,
Sua voz ecoa no meu vazio.
É tão seco dentro de mim,
Que o som rasga minhas entranhas.
Não quero mais ouvir.
Houve, sim, tempo em que queria...
Sonhava com sua melodia.
Vivia pela nossa harmonia.
O tempo passou.
Você passou.
E como não deixou marcas,
não faz diferença.
O CICLONE
O ciclone se aproximou
Com imensa força e rapidez
As nuvens densas
Escondiam seu interior
Extasiada com tanta volúpia
Permiti que se aproximasse
Dancei em seus ventos
Rodopiando centro acima
Subia e subia
Cada vez mais imersa
Nessa nova vida
Distante da terra
Meus pés flutuavam
Nada mais existia
Além do ciclone e eu.
QUANDO PASSOU
A calmaria chegou
Assustada percebi
Meus pés afundavam
Em areia movediça
Abaixo me puxava e puxava
Até que morri
Mil vezes seguidas
Sem ar, sem espaço
Sem visão, sem movimento
Meu corpo na terra
Lama na lama
Lágrimas marrons
Até que não mais era.
A BONECA
Pés descalços no chão
Corpo disforme, raquítico
Barriga grande
Dedo sujo na boca
Terra molhada,
Esgoto a céu aberto
Caixas de papelão
Lar dos subumanos
Urubus e capivaras
Animais de estimação
A boneca tão limpinha
Aninhada no coração
A menina cresceu
E cheirou cola
Depois vendeu seu corpo
Assaltou pedestres felizes
E se mudou para a prisão...
Mas a boneca, ah!
Aquela boneca
Sem cabelos
Lavada com lágrimas
Choradas pela dor de fome
A boneca, ah, a boneca!
A menina levou com ela.
ABANDONO
Mandela
Você partiu sem despedidas nem explicações
Eu busquei respostas no passado que preenchessem o vazio
O porta-retrato no lixo eu recuperei
Um pijama que não será lavado
Mosaico da tua presença impregna os sentidos
Lembranças de frases jogadas:
“Controladora...”
“Enruga as minhas asas...”
“Vai: destranca a gaiola...”
Era um ninho aberto
Você não sabia?
Enruguei minhas asas por que quis
Subi grades imaginárias
Em minha volta
Agora
Não beijarei flores perfumadas ,
Caminharei por becos imundos, sozinha
Sem você, não sou borboleta
Sou lagarta, agarrada, desconfiada
Do que tenho medo? Não é medo de cair.
É medo de te ver voejar em outro jardim.
Fontes:
http://www.asesbp.com.br/escritores/escritores51.html
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2010/06/simone-pedersen-escritora-e-poeta.html
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.