01.
O haicai o que é?
Três passinhos de balé.
Leve, leve, leve.
02.
Repousa a lagoa.
Atira-lhe um beijo a Lua.
O poeta voa.
03.
Já não posso vê-la.
Some a gaivota no céu.
Foi virar estrela.
04.
Aguinha da bica.
Pousa o melro, beberica.
Louva a vida – canta.
05.
Florzinha caipira.
Até o girassol, tão nobre,
ao vê-la suspira.
06.
Pombinha no fio.
Horas e horas, de graça,
vigiando a praça.
07.
Lançada a semente,
tem sequência a permanente
criação do mundo.
08.
Se tivesse apoio,
quem sabe algum dia o joio
fosse pão também.
09.
A pombinha desce
numa imagem de Jesus.
Pousa a paz na luz.
10.
Mão de jardineiro.
Num leve toque de amor,
faz do esterco a flor.
11.
Beija o beija-flor.
Beija inteirinho o jardim.
Por ele e por mim.
12.
Tão miudinha a fonte.
E desce, e quanto mais desce,
mais serve e mais cresce.
13.
Velhinhos na grama
jogando conversa fora.
Também jogam dama.
14.
A pomba e a rolinha.
Uma é grande, outra é pequena.
Mas de paz é a cena.
15.
Cheirosa manhã.
Já de longe se adivinha.
Safra da maçã.
16.
Palmeiras solenes.
Guardais nas velhas cidades
saudades perenes.
17.
Ilhazinha branca.
A paineira na floresta
em traje de festa.
18.
Me desperta a neta:
– Olha, vô... é a do poeta.
Borboleta azul.
19.
Toda prosa e airosa,
brinca de vitória-régia
numa poça a rosa.
20.
Um ato de fé.
Lavrador, olhando o céu,
abana o café.
21.
No meu sonho vives.
Na pracinha um cavaquinho
trina o Autumn leaves.
22.
Um pingo... dois pingos...
não parou mais de pingar.
E se fez o mar.
23.
Acorda a esperança.
Nos quintais da vizinhança
dá a notícia o galo.
24.
Pari passu venho.
Paro. Com ternura abraço
o meu par e passo.
25.
Sujaram meu rio.
Ele, que lavava as gentes,
não lavou as mentes.
26.
Um pulo, medalha.
Milhões de cabeças boas
tão longe das loas.
27.
Livros à mão-cheia.
Saúde, alegria e pão.
Que revolução!
28.
Apress
O haicai o que é?
Três passinhos de balé.
Leve, leve, leve.
02.
Repousa a lagoa.
Atira-lhe um beijo a Lua.
O poeta voa.
03.
Já não posso vê-la.
Some a gaivota no céu.
Foi virar estrela.
04.
Aguinha da bica.
Pousa o melro, beberica.
Louva a vida – canta.
05.
Florzinha caipira.
Até o girassol, tão nobre,
ao vê-la suspira.
06.
Pombinha no fio.
Horas e horas, de graça,
vigiando a praça.
07.
Lançada a semente,
tem sequência a permanente
criação do mundo.
08.
Se tivesse apoio,
quem sabe algum dia o joio
fosse pão também.
09.
A pombinha desce
numa imagem de Jesus.
Pousa a paz na luz.
10.
Mão de jardineiro.
Num leve toque de amor,
faz do esterco a flor.
11.
Beija o beija-flor.
Beija inteirinho o jardim.
Por ele e por mim.
12.
Tão miudinha a fonte.
E desce, e quanto mais desce,
mais serve e mais cresce.
13.
Velhinhos na grama
jogando conversa fora.
Também jogam dama.
14.
A pomba e a rolinha.
Uma é grande, outra é pequena.
Mas de paz é a cena.
15.
Cheirosa manhã.
Já de longe se adivinha.
Safra da maçã.
16.
Palmeiras solenes.
Guardais nas velhas cidades
saudades perenes.
17.
Ilhazinha branca.
A paineira na floresta
em traje de festa.
18.
Me desperta a neta:
– Olha, vô... é a do poeta.
Borboleta azul.
19.
Toda prosa e airosa,
brinca de vitória-régia
numa poça a rosa.
20.
Um ato de fé.
Lavrador, olhando o céu,
abana o café.
21.
No meu sonho vives.
Na pracinha um cavaquinho
trina o Autumn leaves.
22.
Um pingo... dois pingos...
não parou mais de pingar.
E se fez o mar.
23.
Acorda a esperança.
Nos quintais da vizinhança
dá a notícia o galo.
24.
Pari passu venho.
Paro. Com ternura abraço
o meu par e passo.
25.
Sujaram meu rio.
Ele, que lavava as gentes,
não lavou as mentes.
26.
Um pulo, medalha.
Milhões de cabeças boas
tão longe das loas.
27.
Livros à mão-cheia.
Saúde, alegria e pão.
Que revolução!
28.
Apress
No capricho, porque a noite
será de luar.
29.
Gostosa estação.
Teu beijo, fondue de queijo,
pipoca, pinhão.
30.
Cerração na serra.
Súbito some no espaço
o planeta Terra.
31.
La nieve en la noche.
Vino tinto, un viejo tango.
Sueño em Bariloche.
32.
O orvalho, na relva,
Nem nota que o rio enorme
vai rasgando a selva.
33.
A roda-gigante
roda, roda, roda, roda.
Me refaz infante.
34.
A Lua passeia
boêmia no cio e cheia.
Namorando o mar.
35.
Sempre assim supus.
Pirilampo ou vaga-lume,
tanto faz: é luz.
36.
Relampeja e... trooom!,
ronca forte a trovoada.
Estoura a boiada.
37.
A sibipiruna
seus fartos cachos derrama.
Deixa o asfalto em chama.
38.
Um pingo de chuva
brincando em cima da uva.
Rola e rega o chão.
39.
O tempo se foi.
Distante passa cantante
um carro de boi.
40.
Vento sobre o trigo.
Louro oceano ondulando.
O pão madurando.
41.
Levanta o avestruz
o pescoço. Periscópio
procurando luz.
42.
A semente grá-
vida leva a vida impá-
vida para a frente.
43.
Delicadas, belas,
rosas brancas, amarelas...
Que poeta é Deus!
44.
Cai, haicai, balão.
Traz o céu, o azul, a luz:
põe na minha mão.
45.
Desce o rio a serra.
Leva as lágrimas da terra
pra fazer o mar.
46.
Chocadeira elétrica.
Fornadas de pintainhos
sem colo, tadinhos.
47.
Quero-quero-quero.
A bem-querida aparece.
O amor acontece.
48.
Lua nova e meia.
Tão crescente, logo casa,
vira lua cheia.
49.
O boi e o arado.
Joga veneno o avião
por sobre o passado.
50.
Rude perobeira.
Dá-lhe a orquídea um leve toque
de namoradeira.
Fonte:
A. A. de Assis. Poeminhas (à moda de haicais). Marinha Grande/Portugal: Biblioteca Virtual "Cá Estamos Nós". Outubro de 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.