Se pedissem ao trovador João
Rangel Coelho um exemplo de trova curiosa, ele citaria esta, feita por um
camarada cuja ignorância era tão grande quanto a sua vontade de ser trovador:
Na
vida tudo se acaba,
na
vida tudo tem fim:
–
morre o cabo, morre a “caba”,
só
quem não morre sou mim!…
Todavia, deixando de lado a
galhofa, há trovas realmente interessantes, pelas particularidades curiosas que
apresentam. Comecemos por uma trova-acróstico. As letras iniciais de cada verso
lidas verticalmente, formam a palavra AMOR, que é o tema desenvolvido na
quadrinha. É de autoria de Guaracy Lourenço Costa:
Amei
alguém – que desdita!
Morri
de tanto sofrer.
Oh,
Deus do amor, me permita
reviver,
amar, morrer…
Homenageando nosso amigo J. G. de
Araújo Jorge, fiz certa vez a seguinte quadrinha:
Amo
esse eterno motivo!
–
No meu céu interior,
com
saudade, a sós, eu vivo
na
minha espera de amor!…
Na trova acima, consegui incluir
cinco títulos de livros do J. G., que são os seguintes: “Amo”, “Eterno Motivo”,
“Meu Céu Interior”, “A Sós” e “Espera”.
Paulo Edson Macedo (ou Edson
Macedo, como às vezes assina as suas produções) fez uma trova só de verbos,
usando sempre a 1a. pessoa do singular:
Vivo,
penso, sinto, falo;
temo,
luto, venço, clamo;
vejo,
creio, sonho, calo;
sofro,
quero, choro, amo…
Curiosa também é esta trova, que
um espírito ferino dedicou a Carlos Lacerda, então Governador da Guanabara,
depois de uma violenta elevação de impostos:
Mais
impostos ele aprova!
E
por falar em Lacerda…
Ora,
bolas! Esta trova
vai
mesmo ficar sem rima!…
Nosso prezado amigo Félix Aires,
que tem paixão pela originalidade, resolveu fazer uma mistura de trova e
expressionismo gráfico, na qual os repetidos pontos de exclamação interpretam
visualmente as velas acesas a que se refere o poeta:
No
templo das ilusões
vejo
uma flor no altar
e
acendo as exclamações:
–
minhas velas!!!!!!!! de sonhar.
Em nossa opinião, se o nosso caro
Félix tivesse se lembrado de por as exclamações de cabeça para baixo, a imagem
ficaria mais fiel…
O poeta santista Dilceu do
Amaral, desejando adquirir nossa coletânea “Trovadores do Brasil”, enviou-nos
certa vez a seguinte trova:
Caro
Aparício Fernandes,
tu,
que tens sido gentil,
peço,
amigo, que me mandes
“Trovadores
do Brasil”.
Usar nomes de pessoas numa trova
quase sempre indica falta de recursos do autor, principalmente quando o nome
próprio figura no fim do verso, para facilitar a rima. Fugindo à regra geral,
Belmiro Braga, jogando com vários nomes próprios, escreveu uma trova muito bem
feita e original:
Eu
morro por Filomena,
Filomena
por Joaquim,
o
Joaquim por Madalena
e
Madalena por mim.
Conheci também um trovador que
mandou fazer um cartãozinho com esta trova-cantada, que “aplicava” sempre, nas
ocasiões propícias:
Para
que você aprove
nosso
programa depois,
basta
discar: quatro-nove,
zero-zero-cinco-dois.
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.