PLAY IT, SAM
Se não tinha lua
Se nua aquela cena toda
Se não teve flores
Se dores o que irrompeu
Se o vento levou
Até o último tango
Até o último trago
Até a última gota
Se não teve jura
Se você não veio
Não tinha
Não teve
Não veio
A gente não tem um amor
Pra se sentir triste
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CONSPECTIVO
Consagração das ausências
na debandada dos verdes
nos ninhos desabitados
Até as visitas rareiam
Malogro das sementes
Desarrimo das mudas
Gorada das enxertias
Lenha que crepita
Chá e reminiscências
Olho pela janela:
do limoeiro, a coruja me fita impassível
- tem este junho divisado
Da paisagem
nenhum ocre que não seja
cumprir-se calmamente
a invernosa razão
dos existentes
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HUPÓNOIA
dos restos
eu fiz uma história
fui recolhendo folhas soltas
recuperei desperdícios
e fiz um rascunho brotar
dos risos
eu fiz uma história
fui recompondo esquecidos
rebatizei luz e escuros
e fiz a memória transbordar
de avessos
da minha aventura
vim segredar os contornos
expor silêncios que supuram
eu vim aos poucos confessar
: eu fiz a escolha dos loucos
fazendo valer da fala os ecos
no cumprimento das juras
eu fiz uma noite
voltar
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ORA
Com aquele amor eu rascunhei eternidades
Plantei e colhi tresvarios
Ouvi os risos orvalhando
E então admiti todos os blefes
Com o outro eu rastreei recônditos
Comi e dormi sobre o linho
Ouvi as auroras partindo
E então reconheci os entretantos
Com este rebatizei absolutos
(Encontro das frases no estrelo)
E um indivisível se biparte
E aquilo não miscível se conjuga
A maçã que não se devia agora já foi
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ESPÉCIE
vestido e tempo na caixa
só o relógio compreendeu o rigor dos pactos
as plantas do vaso não
o pó sobre os móveis não
as botas num canto não
e tudo fora de moda
vincos e adamascados
falar em silêncio
esperar pela conjuntura
regar imutáveis
acreditar naquele telefonema
é quase servir conhaque a fantasmas
até as escadas mentem
até o gelo no copo
a lâmina de rematado aço
deixa vazar árido murmúrio
rostos quedarão desconhecidos
depois de um tempo o entrevisto se firma
na lixeira a presença dura dos papéis rasgados
e por dentro um infinito de exclamações
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O QUE CONTA
na vida sabedoria
(que o contrário se prove)
é sem qualquer teoria
tirar dez
naquela prova
dos nove
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ATENUANTE
entre as mentiras que invento
e aquelas que os sábios ensinam
as minhas
— preto no branco —
são brancas
mentiras
que, dando sorte,
inda rimam
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DESSA FORMA
as palavras são flamas
milhas talvez
veios
um apelo denso
este assim imenso
que enfim se faz
escutar
contando a história dos dias
este exercício semelha
a trajetória do pêndulo
cumprindo a eterna aventura
de impresumível desfecho
ora inicio
ora meio
ora extremo
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ONÍMODO
dentro de mim
alguma coisa mais do que pulsa
dança
mais do que arde
ferve
mais do que soa
freme
mais do que muito
— completamente
mais do que às vezes
— sempre
insurge
bem mais do que sugere
sente
tanta coisa
desta alguma coisa
que nos maravilhe
sentir
— sem encobrir coisa alguma
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LOAS
os pássaros
que cantam á noite
peludos e obscuros
são serenos
vadios e ¡nocentes
em sua lógica
peluda e obscura
com ela vigiam a noite
mensuram a noite
regem
dominam
louvam
no escuro
cantar
o escuro
não bem com salmos
mas com gritos
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PASSADO A LIMPO
despregar
num lance definitivo
a máscara grudada ao rosto
retirar
a trava que nos encobre
o pálido vero da pele
quase que nos delindo
a estampa real do siso
(preço que enfim se paga
pelo emprestar-nos
o sorriso)
demover
o sarro a borra o limo o véu
mesmo que se revele
as manchas de umidade
no rosto deixado ao tempo
os rombos dos estilhaços
na estampa de papel fino
devassar
o falso da face e as suas vozes
o que sobrar é a verdade
mesmo que ali
as cicatrizes
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DE MEU CANTO
Não fabrico o pranto
e não pranteio
o ponto
que angario
que trabalho
e não encontro
pronto.
Não chamo por chamas
que vislumbro
sem grandes esforços;
— Sereias cederam-me encanto,
e dele não morro;
apenas viverei
em meu canto.
Canto para o sempre
e ainda
depois dele;
ajudo sereias
em seus cânticos.
Entoo palavras belas
— verdadeiras.
Da miséria,
lindos os desenhos,
se da verdade...
Mas,
não tenho recursos
que outros
deste curso caudaloso
em que me espio.
Perdoem-me incisivos erros;
Aceitem um meu desvario.
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NOÇÃO
não foi
para ficar
deitado
que te puseram
no mundo
não foi
para ficar
no mundo
que te fizeram
deitado
puseram-te
inteiro
no me io
de meio
mundo
fizeram-te
meio
no meio
do mundo
inteiro
no fundo
não foi no mundo
onde te fizeram
foi apenas
onde a mão
deitou-se
em pé
no chão
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.