terça-feira, 13 de julho de 2021

Trovas de Escritores de Ontem I

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Como, Jesus, me esqueceste
nesta horrível soledade!
Aos trinta e três tu morreste...
E eu já tenho a tua idade!
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Nasci em leito de rosas
e morro em leito de espinhos...
Ó mães, que sois caridosas,
velai por vossos filhinhos!
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O cinamomo floresce
em frente do teu postigo:
cada flor murcha que desce
morre de sonhar contigo.
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O coqueiro, todo em palmas,
beija o cinamomo em flor...
Imagem das nossas almas,
unidas no mesmo amor!
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Quando em teus olhos reluz
o carinho de uma prece,
se é dia, o sol tem mais luz,
se é noite, logo amanhece.
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Quando os teus olhos, Senhora,
repousam no meu olhar,
fica mais formosa a aurora,
mais formoso fica o luar.
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Tradições, quimeras, lendas...
Ninguém crê na Eterna Voz!
Que vale, Senhor, que estendas
o teu carinho até nós?
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Tristeza das tardes ermas,
das noites brancas de luar!
As almas que estão enfermas
no teu seio vão chorar...
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Tu não sabes porque a lua
é triste e nunca sorri...
Mas que ingenuidade a tua!
— Os poetas moram ali.
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ÁLVARES DE    AZEVEDO


Acorda, minha donzela!
Foi-se a lua — eis a manhã.
E nos céus da primavera
a aurora é tua irmã!
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Acorda, minha donzela,
soltemos da infância o véu..,
Se nós morrermos num beijo,
acordaremos no céu!
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Amemos! Quero de amor
viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
que desmaia de paixão!
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Amo a voz da tempestade
porque agita o coração,
e o espírito inflamado
abre as asas no trovão!
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Dá-me um beijo — abre teus olhos,
por entre esse úmido véu:
Se na terra és minha amante,
és a minha alma no céu!
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Descansar nesses teus braços
fora angélica ventura;
Fora morrer — nos teus lábios,
aspirar alma tão pura!
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É doce amar como os anjos
da ventura no himeneu;
minha noiva ou minha amante,
vem dormir no peito meu!
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Entre os suspiros do vento,
da noite ao mole frescor,
quero viver um momento,
morrer contigo de amor!
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Quero viver de esperança,
quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
quero sonhar e dormir!...
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Tenho músicas ardentes,
ais do meu amor insano,
que palpitam mais dormentes
do que os sons do teu piano!
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Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva, 1967.

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