no momento da partida,
selou o amargo consenso
que foi nossa despedida.
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Achando tudo enfadonho,
te elevas a tais alturas,
que passas pelo teu sonho
sem saber o que procuras.
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A lua beija a montanha
e debruça sobre a mata
seu clarão que tudo banha
em mistério cor de prata.
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A malefício eu dizia
que tinha o corpo fechado;
e fui tombar... (que ironia!)
ao mel do teu mau-olhado!
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À montanha tenebrosa
chego, enfim, e que surpresa!
É a mera sombra tortuosa
de minha própria incerteza.
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A rosa estava com frio...
O sol ficou com peninha,
mandou seu raio sadio
para aquecer a rainha.
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Beijando a macia alfombra
toda de orvalho molhada,
um raio de sol, na sombra,
diz adeus à madrugada.
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Cabo da Boa Esperança,
para sempre representas
o arrojo e a firme confiança
do luso, ao Mar das Tormentas.
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Cheguei tarde para a festa.
De véu, grinalda e um sorriso,
ela é a imagem que me resta
de um pretenso paraíso.
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De minha vida vazia
sinto que a voz se desgarra,
e assume a monotonia
da cantiga da cigarra.
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Em nosso mútuo abandono,
desfazemos um reinado:
És rainha já sem trono,
e eu, pobre rei desterrado!
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Juraste que não me amavas,
eu também, cedendo à ira.
E o amor, por águas tão bravas,
naufragou na vil mentira.
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Juro odiar-te, e a cada frase
a que ponho mais vigor,
da mentira envolta em gaze,
salta a emoção deste amor.
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Mais um gole de cachaça
e a tragédia aconteceu:
traçando a própria desgraça,
brigou, matou... e morreu.
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Minha ilusão exigente
que ambicionava um império,
hoje só busca, indigente,
um lugar no cemitério.
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Na tua calma aparente
vislumbro um certo rancor,
pois tentas, inutilmente,
desprezar o meu amor.
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Nuvem que ao vento te inspiras,
compondo painéis tão belos,
que os rasgues depois em tiras,
mas poupe os meus castelos.
= = = = = = = = =
Qual a Fênix renascida
das cinzas de um coração,
o amor dá o sopro de vida
ao fantasma da ilusão.
= = = = = = = = =
Quais pétalas que arrancamos
a uma pobre margarida,
são as horas que atiramos,
inúteis, ao léu da vida.
= = = = = = = = =
Que ao vento o barco me leve,
nada mais tenho que conte...
Somente a fé me descreve
um novo e belo horizonte.
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Se para "além da montanha"
nossa vida é só sorriso,
por que reação tamanha
a ir viver no paraíso?
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Ser bom, sem jamais no entanto,
qualquer retorno exigir,
é a pedra angular do encanto
e da razão de existir.
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Soluçava a margarida;
o sol quis saber por quê...
e ela, tremendo, encolhida:
"É saudade de você!"
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Sorvo a taça de amargura,
imune à dor que me invade,
mas não resisto à tortura
a que me impõe a saudade.
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Teu olhar meigo e risonho
para mim é uma promessa
de que das cinzas de um sonho,
de novo tudo começa.
= = = = = = = = =
Vento de outono, passando,
varrendo as folhas do chão,
vai a velhice arrastando
os sonhos do coração.
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Fonte: Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013. Enviado pela trovadora.
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