sábado, 11 de maio de 2024

Contos e Lendas do Paraná (Município de Jaguariaíva)

A SANTA DO PAREDÃO

Conta-se que pelos idos de 1820, quando Jaguariaíva ainda não existia e era apenas uma vasta área de terra cheia de matas e campos, num raio de mais de uma centena de quilômetros, pertencendo à Vila de Castro, surgiu a lenda da Santa do Paredão.

A origem exata da imagem da santa ninguém sabe. O que chama a atenção até hoje é o surgimento do desenho de uma imagem na pedra, num paredão, a uns 80 metros de altura, trabalhado pela natureza de modo admirável.

Muitas histórias surgiram com o passar dos anos. Uma delas, contada pelo senhor Jostino de Miranda, morador na época, nas imediações do paredão, diz que, às margens do rio, alguns homens caçavam e já depois do meio-dia, sem que tivessem tido sucesso na caçada, ouviram repentinamente os latidos dos cães furiosos. Correram para verificar o que acontecia. Os cães continuavam latindo sem parar. O terreno era muito irregular, mata muito fechada e os cachorros haviam se embrenhado num local de acesso muito difícil. Após vencer os obstáculos, verificaram que os cães, muito bravos, latiam e investiam contra alguma coisa.

O primeiro caçador a chegar, vê então uma cena da qual nunca mais se esquecerá: os cães, aos pés de um alto paredão de pedra, latindo contra um facho forte de luz, que dele emanava. Essa visão foi testemunhada por todos os caçadores que viram. No meio do mato, ao pé do paredão, no meio de uma forte luz azulada, estava aparecendo a imagem de uma santa. Uma imagem de santa que eles nunca tinham visto, porém imaginavam que era de uma santa.

A religiosidade aflorava naquela época e os caçadores imediatamente voltaram para o povoado, a quase trinta quilômetros, contando a todos o que viram. As pessoas ficavam admiradas e logo começaram a visitar o local. E, não muito tempo depois, iniciaram-se algumas romarias para ver a Santa do Paredão.

Alguns já falavam em construir uma capela, mas, de repente, ninguém mais via a santa. Ela havia preparado uma surpresa. A imagem, vista pelos caçadores, inicialmente na parte baixa do paredão, não mais aparecia ali. As aparições pararam por um tempo. Mas não demorou muito para que voltassem a acontecer. Só que, a partir de então, no centro do paredão, em local a que jamais se poderia chegar, pois o paredão tinha cerca de 100 metros de altura. Esses fatos, que tiveram registros a partir de 1820 em Jaguariaíva, contêm uma curiosa coincidência com o grande fenômeno religioso do Brasil. Aconteceram, paralelamente, às aparições de Nossa Senhora Aparecida, a versão negra da mãe de Jesus, no Rio Paraíba, no Estado de São Paulo.

A época era a do tropeirismo. Por ali passava o histórico Caminho de Viamão. E os maiores divulgadores da história da Santa do Paredão foram os tropeiros, que transportavam de tudo, levando de Viamão-RS a Sorocaba-SP mulas carregadas de produtos.

Ao passarem por ali, encantavam-se com tudo que ouviam. Era na época o único meio de transporte e comunicação. Eles se incumbiam de espalhar pelo Brasil a fama da religiosidade da região e da Santa. Isso com certeza ajudou a convencer o Imperador do Brasil, Dom Pedro I, no dia 15 de setembro de 1823, a assinar o alvará elevando a Fazenda Jaguariaíva à condição de Freguesia.

O paredão em que aparece a Santa fica na zona rural do município de Jaguariaíva, a 22 km do centro da cidade, na estrada PR 092, ainda sem pavimentação, que liga a cidade com o Distrito Eduardo Xavier da Silva, Sertão de Cima e o município de Doutor Ulysses. Existem placas que orientam o motorista para chegar com facilidade ao local, que é muito frequentado por romeiros.

No mês de maio, último domingo do mês, acontece uma Caminhada Ecológica ao local, com a participação de milhares de pessoas, que saem a pé do centro da cidade e caminham os 22 km até o local, onde acontece missa e festa com barraqueiros. Muletas, fotos e objetos dos mais variados são depositados num local parecido com uma gruta durante o ano todo, quando velas são queimadas em agradecimento por graças recebidas.

Muitos são os testemunhos de pessoas que alcançaram cura ou graças diversas pela intercessão à Santa do Paredão.

Fonte> Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 
Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

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