Heribaldo Gerbasi
O careca que tem cuca,
tem solução para tudo:
puxa três fios da nuca
e se julga um cabeludo!
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ
Luiz Gondim
incorporo
emoções
onde
debruço
meus
cansaços
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Poema de Porto/ Portugal
Pedro Machado Abrunhosa
VIAGENS
Já vai alta a noite, vejo o negro do céu,
deitado na areia, o teu corpo e o meu.
Viajo com as mãos por entre as montanhas e os rios,
e sinto nos meus lábios os teus doces e frios.
E voas sobre o mar, com as asas que eu te dou,
e dizes-me a cantar: "É assim que eu sou".
Olhar para ti e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos com olhares de desejo.
Olhar para ti e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos com olhares de desejo.
Eu não tenho nada mais pra te dar,
esta vida são dois dias,
e um é para acordar,
das historias de encantar,
das historias de encantar.
Viagens que se perdem no tempo,
viagens sem princípio nem fim,
beijos entregues ao vento,
e amor em mares de cetim.
Gestos que riscam o ar,
e olhares que trazem solidão,
pedras e praias e o céu a bailar,
e os corpos que fogem do chão.
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Trova Premiada em Maranguape/CE, 2008
Flávio R. Stefani
Porto Alegre/RS
Um sonho é sonho, mais nada,
mas, às vezes, na emoção,
deixa marcas na calçada
das ruas do coração.
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Poema de Ubiratã/PR
Alessandra Guimarães
MADRUGADA FRIA
Todos dormem,
num profundo sono.
Rua deserta e silenciosa,
pássaros quietos, se escondem.
Somente gotículas de orvalho,
caindo sobre a calçada,
na madrugada fria.
A lua se esconde,
atrás de uma nuvem que passa,
tornando a noite mais escura.
Nuvens formosas,
carregadas d’água,
se congelam,
na madrugada fria.
O brilho das estrelas,
no infinito desaparecem.
O riacho murmura, levemente,
o vento sopra calmamente,
o eco se cala lentamente,
somente o amor vibra,
na madrugada fria.
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Quadra Popular
Vai-te, carta venturosa,
vai ver a quem quero bem,
diz-lhe que eu fico chorando
por não poder ir também.
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Décimas de Teixeira/PB
Ugolino do Sabugi
(Ugolino Nunes da Costa)
1830 – 1893
AS OBRAS DA NATUREZA
As obras da Natureza
São de tanta perfeição,
Que a nossa imaginação
Não pinta tanta grandeza!
Para imitar a beleza
Das nuvens com suas cores,
Se desmanchando em louvores
De um manto adamascado,
O artista, com cuidado,
Da arte, aplica os primores.
Brilham, nos prados, verdumes
De um tapete aveludado;
Brilha o rochedo escarlado*,
Das penhas seus altos cumes;
Os montes formam tais gumes,
Que a gente, os observando,
Vê como que se alongando,
Sumir-se na imensidade ...
Nossa visibilidade
os perde se está olhando.
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* Escarlado = Cor brilhante de carmesim vivo
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Triverso de Curitiba/PR
Paulo Leminski
Curitiba/PR, 1944 – 1989
tudo dito,
nada feito,
fito e deito
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Soneto de União da Vitória/PR
Pedro Mello
PEQUENO TRATADO SOBRE A DOR
A dor do infarto, dor que chama a morte,
a dor que ataca um mal cuidado dente,
a dor pós-cirurgia, a dor do corte,
a dor da cãibra, o músculo torcente...
o chute acidental... e um homem forte
da partida-batalha sai dormente...
a dor do câncer faz perder o norte,
a dor do parto abala quem a sente...
Mas entre dores tantas, afinal,
qual é a que faz alguém perder o sono
e despencar o pranto sem contê-lo?
...É a dor de todos, dor universal,
amargo resultado do abandono,
a dor pior... é a dor de cotovelo…
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Trova de Mogi-Guaçu/SP
Olivaldo Junior
Entre velhos pergaminhos,
chilreando feito gralhas,
namorados são pombinhos
que dividem as migalhas.
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Spina de Maceió/AL
Isabel Pernambuco
JARDIM EM FLOR...
Passeio num jardim
de flores perfumadas
regadas com carinho
Lindas borboletas celebram a vida,
atraídas pelas cores que cintilam!
Colibri em liberdade constrói ninho,
sugando suave néctar das amarílis!
Rosas, lírios, ipês, ornam caminho.
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Haicai de São Paulo/SP
Guilherme de Almeida
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP
EQUINÓCIO
No fim da alameda
há raios e papagaios
de papel de seda.
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Soneto de Portugal
Florbela Espanca
(Florbela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa/Portugal, 1894 – 1930, Matosinhos/Portugal
AMOR QUE MORRE
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
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Setilha de Caicó/RN
Professor Garcia
Casinha à beira da estrada
com chão de terra batida,
fiz do teu portão de entrada
o meu portão de saída,
parti morto de saudade
tangendo os sonhos da idade
pelas estradas da vida!
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Epigrama do Rio de Janeiro/RJ
Millôr Fernandes
(Milton Viola Fernandes)
1923- 2012
Aqui jaz minha mulher
que partiu para o Além.
Agora descansa em paz
e eu também.
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Soneto de Porto Alegre/RS
Ialmar Pio Schneider
O SONETO
Para escrever quatorze linhas, tenho
que dedicar o tempo disponível,
e embora seja humilde meu engenho,
vale a pena, afinal, tornar possível
esta tarefa nobre de alto nível...
É preciso sonhar e ter empenho
de alimentar um grande amor incrível,
somente realizável por um gênio...
Sinto, no entanto, que não devo alçar
voo tão alto, e me penitenciar
de assim querer e então me comprometo
a desobedecer esta vontade;
e caindo, por fim, na realidade,
aqui me despedir... Eis o Soneto !…
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Trova de Sorocaba/SP
Dorothy Jansson Moretti
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
O sol, silencioso, desce,
e é mais um dia a morrer;
mas do outro lado, uma prece
lhe agradece o renascer.
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Poema de Santos/SP
Carolina Ramos
BOÊMIO
Boêmio – em turbilhão intenso a vida esbanjas,
escravo de emoções em noites deturpadas.
Teu sol, luz de abajur, a arder envolto em franjas,
tem o álgido livor das frias madrugadas.
Volúvel, novo amor te aguarda em cada esquina,
e insatisfeito vai teu coração repleto
dessa ânsia de viver, que arrasta, que fascina,
alheio à paz de um lar, à placidez de um teto!
Boêmio, a mocidade é curta… logo passa!
A seara, quando má, provém de mau plantio!
Apressa-se o amanhã… o nada te ameaça
e a solidão abraça o coração vazio!
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Limerique* de São Paulo/SP
Tatiana Belinky
São Petersburgo/Rússia, 1919 – 2013, São Paulo/SP
Quem pensa que eu sou uma ogra
No seu pensamento malogra.
Língua bifurcada?
Só quando enfezada.
Porque eu sou mesmo é sogra.
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* Limerick ou limerique é um poema monostrófico de cinco versos, com ritmo anapéstico ou anfíbraco. O nome do poema é geralmente considerado como uma referência à cidade irlandesa de Limerick, que é onde acredita-se tenha tido origem, mas seu uso foi documentado pela primeira vez na Inglaterra em 1846, quando Edward Lear publicou A Book of Nonsense.
Versa, na maioria das vezes, temas de tendência humorística, por vezes obscenas. Os versos 1, 2 e 5 são maiores, geralmente com três pés de três sílabas (anapestos ou anfíbracos), rimando entre si, e os versos 3 e 4 menores com dois pés de 3 sílabas, também rimando entre si. O esquema rítmico é AABBA.
No Brasil, a arte do limerique também foi representada por escritores como Joaquim de Sousândrade e Clarice Lispector, sendo que os mais famosos foram escritos pela escritora de livros infantis Tatiana Belinky (http://pt.wikipedia.org/wiki/Limerick_%28poema%29)
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.