quarta-feira, 15 de maio de 2024

Vereda da Poesia = 7 =


Uma Trova

NEI GARCEZ
(Curitiba/PR)

Entre o sonho e a verdade
vai vivendo, em seu juízo,
toda a nossa humanidade
seu inferno ou paraíso.
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Um Soneto

CARLOS NEJAR
(Luís Carlos Verzoni Nejar)
(Porto Alegre/RS)

Poemas e Sapatos

Nada tenho de meu, nem os sapatos
que vão acompanhar este defunto.
Nem tampouco montanhas e regatos
que habitaram o verso, nem o indulto

pode valer-me, o soldo, mero extrato
de contas. Nada tenho, nem o intuito
consome esta vontade ou desacato.
Desapareça o nome, seu reduto

de carne e bronze, a fome incorporada
e mais desapareça onde fecundos
são dias e são deuses nesta amada.

Não foram nunca meus — sonhos e fatos.
Nada tenho. Poemas e sapatos
irão reconhecer-me noutro mundo.
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Um Quadrão à Antiga

LOURIVAL BATISTA
(Itapetim/PE)

O Cantador repentista, 
Em todo ponto de vista, 
Precisa ser um artista 
De fina imaginação, 
Para dar capricho à arte, 
E ter nome em toda parte, 
Honrando o grande estandarte 
Dos oito pés de Quadrão!
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Um Poema

CELSO BRASIL
(Curitiba/PR)

Tu, eu e a poesia

Te amo com toda energia,
Te quero bem perto de mim,
Mas também tem a Poesia!
Eu Quero as duas, enfim!!!

Te peço... não tenhas ciúme!
Sem ela não posso te amar!
Da minha montanha, ela é o cume,
Do cume, amor te quero gritar!

Abro os braços à magia,
Entre eles, sempre estarás.
Mas se não abraço a Poesia,
A ti... como me declarar?

Poesia, minha eterna amante.
Tu, minha eterna paixão.
A Poesia me leva adiante!
E tu! levo em meu coração.

Se me deixares amá-la,
Para ti também existirei.
Mas se me apartares dela,
Sem versos, então, morrerei.

Ficarás chorando no báratro,
Quando eu tiver que me ir.
Consolar-te até o reencontro,
Sei que a Poesia há de ir.

Tu e a poesia, então, juntas
Viverão a me relembrar.
De vez em quando unidas,
Ambas se porão a chorar.

Nesse momento, querida,
Certamente, ali estarei.
Tu e a Poesia formam minha vida!
E, assim, nunca mais morrerei.
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Uma Quadra

AGOSTINHO DA SILVA
(George Agostinho Baptista da Silva)
(Porto, 1906 – 1994, Lisboa)

Não corro como corria
nem salto como saltava
mas vejo mais do que via
e  sonho mais que sonhava
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Uma Glosa

FRANCISCO JOSÉ PESSOA
(Fortaleza/CE, 1949 – 2020)

Mote:
O meu verso tem o cheiro 
Da poeira do sertão.
(Manoel Dantas)

Glosa:
Nasce o sol, outra manhã 
Se espreguiça, é novo dia 
E a morte, má, se anuncia 
No canto da acauã 
Ave de agouro, malsã, 
Que canta nossa desgraça 
Sobrevoando a carcaça 
Do boi que ontem era são 
Hoje inerte jaz no chão 
No pé do seco imbuzeiro 
O meu verso tem o cheiro 
Da poeira do sertão.

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através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.