segunda-feira, 24 de junho de 2024

Eliana Palma (Microcontos) = 4 =

Alto executivo, com salário nababesco e propinas milionárias, descuidou-se. Depois da
cadeia, só encontrou abrigo na casinha popular dos pais aposentados.
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Exigente. Ninguém estava à sua altura. Em todos desconsiderava qualidades e potencializava defeitos. Bastava-se. Viver sozinha era um sossego. Uma dor súbita no peito, a necessidade de socorro, e nas mãos a agenda de telefone: completamente vazia...
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Fraudara a licitação e superfaturara a obra do viaduto. Da janela do apartamento viu a enorme estrutura, mal feita, desabar sobre o carro novo da filha!
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Levantou-se leve! Estranhou; o corpo não mais doía. Era só luz!
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Na hora sentiu-se moderninha e superior. Nove meses mais tarde trocou o sonho do diploma por noites solitárias mal dormidas.
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Poderoso e arrogante, negócios mirabolantes e a certeza de ficar milionário em pouco tempo. Ao invés, a falência financeira e emocional!
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Sonhava com viagens. Foi trabalhar numa agência, mas a oportunidade nunca aparecia. Ao invés da passagem, comprou livros. O mundo descortinou-se. Não coleciona carimbos no passaporte, mas títulos na enorme estante!
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Sonhava ver-se, de branco, numa limusine. O carro chegou na hora marcada; o noivo, não!
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Tinha pavor da hora da morte. Na hora da angioplastia, morreu... de medo!
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Fonte: Maria Eliana Palma. Momentos em prosa e verso. Maringá, 2016. Entregue pela autora.

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