quinta-feira, 20 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 39 =


Trova Humorística de São Gonçalo/RJ

GILVAN CARNEIRO DA SILVA

O truque falha...vermelho,
o mágico diz que o enguiço
é culpa do seu coelho
que ainda é novo no serviço...
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

Covardia

Se ela bater de novo à minha porta,
arrependida, para o meu amor,
hei de dizer-lhe tudo quanto corta
minha alma, como um gládio vingador!...

O que vier desse gesto, pouco importa!
Não se fez cega e surda à minha Dor?!
Pois bem, nem mesmo se hoje a visse morta,
dar-lhe-ia a reverência de uma flor...

Mas, ai! batem de leve na janela.
Entram na sala... Sua voz... É tarde
para fugir de vê-la! Enfrento-a... É ela!

Hesito... Tremo... E sôfrego... aturdido,
caio nos braços seus como um covarde,
e me ponho a chorar como um perdido! 
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Aldravia de Vitória/ES

MATUSALÉM DIAS DE MOURA

minha
alma
chora
um
sonho
morto
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Soneto do Rio de Janeiro

ATHOS FERNANDES
Itaperuna/RJ, 1920 – 1979, Bom Jesus do Itabapoana/RJ

Pedintes

O pobre pede o pão. O nobre pede o trono.
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.

Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede, o herói, a liça.
Pede o inverno o verão. A primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!

Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.

E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Ideia e a riqueza da Rima!
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Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 1998

DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombro os fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos…
e eis-me a sonhar outra vez! 
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Poema de Divinópolis/MG

ADÉLIA PRADO
(Adélia Luzia Prado Freitas)

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
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Quadra Popular

Meu benzinho não é este,
nem aquele que lá vem.
Meu benzinho está de branco,
não mistura com ninguém.
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Soneto de Portugal

FLORBELA ESPANCA
(Florbela de Alma da Conceição Espanca) 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca, 
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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Trova de Belém/PA

ANTONIO JURACI SIQUEIRA

Vão-se as agruras da lida
e tudo tem mais valia
sempre que a vida é envolvida
nos braços da poesia!
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Poema de Petrópolis/RJ

CARMEN FELICETTI

Acalanto do mar

Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
A sua franja branquinha
De renda do Ceará
Vai se arrastando na areia
Num doce pra lá pra cá.
O vento a embala fraco
O vento a embala forte
Depende se vem do sul
Depende se vem do norte.
O pescador no seu ventre
Todo dia arrisca a sorte
A sua trama é tecida
Com fios de vida e morte.
Á noite a voz da sereia
O marinheiro convida
Para dormir e sonhar,
Deitar no fundo da rede
E enroscar o seu corpo
No corpo de Iemanjá.
E vai e ondula e oscila
E vem balança e tonteia
E sua renda branquinha
Risca um bordado na areia.
Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
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Haicai de Goiânia/GO

RENEU DO AMARAL BERNI

Borboleta

No varal do pátio,
Sobre a saia de florzinhas,
Uma borboleta.
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Sextilha de Limoeiro do Norte/RN

ANTONIO NUNES DE FRANÇA

Em Limoeiro do Norte,
a tarde mudou de clima;
assim houve duas chuvas:
uma d’água, outra de rima;
uma de cima pra baixo,
outra de baixo pra cima.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Chegou a sogra, querida,
e a desgraça aconteceu:
veio o cão... Com a mordida,
deu a raiva... e o cão morreu!
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Glosa do Rio Grande do Sul

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Lareira saudade...

MOTE:
Fiz da saudade que aquece
a solidão dos meus dias,
a mensagem que enternece
minhas horas tão vazias.
Carolina Ramos
Santos/SP

GLOSA:
Fiz da saudade que aquece,
minha doce companheira,
peço, fique, quase em prece,
comigo, na noite inteira!

Eu preciso amenizar
a solidão dos meus dias,
minhas noites, a chorar,
são tristes, sem alegrias.

Quando o meu tempo anoitece
lanço em ecos pelo mundo
a mensagem que enternece
desse meu sofrer profundo!

Saudade, lareira ardente,
vem, aquece as horas frias,
enche de amor, ternamente,
minhas noites tão vazias.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

chuvas
gostosas
lembranças
tuas
minhas
nossas
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Soneto de Euclides da Cunha/BA

INÁCIO DANTAS

Soneto aos poetas

Todo poeta canta para si
a paz e o amor que deseja para o mundo!

Canta, entra no mundo da magia,
põe o tom da paixão n´alma inquieta
move do céu os trovões da alegria
diz o amor com lábios de profeta.

Ergue o teu pensar em linha reta
canta o que tem da vida mais valia,
se alguém não se lembrar do poeta
talvez ainda se lembre da poesia.

Fugir do amor quem o faz se ilude,
revela uma poesia feita a esmo
quem ama e se fecha em si mesmo.

O amor é poesia na sua plenitude!
– Poeta, dessa madeira que tu lavras
constrói o teu castelo de palavras!
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Trova Premiada de São Paulo/SP

ROBERTO TCHEPELENTYKY

O destino escreve a escolha
do amor de nós dois assim:
Páginas da mesma folha…
Tu… de costas para mim!…
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Poema de Portugal

AL BERTO
(Alberto Raposo Pidwell Tavares)
Coimbra, 1948 – 1997, Lisboa

Acordar tarde 

tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia
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Triverso de Curitiba/PR

ALICE RUIZ

Tempo

Voltando com amigos 
o mesmo caminho 
é mais curto.
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Spina de Campo Mourão/PR

JOSÉ FELDMAN

REPOUSO DA GUERREIRA

Repousa a gatinha
envolta na aura
de pura serenidade.

Em seu semblante, a sensação
de satisfação de outro dia
de lutas contra a adversidade.
Dorme o sono da guerreira,
baú de sonhos da divindade.
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Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Na vida, são tantos "ismos",
no entanto, o que é mais feroz,
é aquele que abre os abismos
do abismo que há entre nós!
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Acróstico de Contenda/PR

HILDEMAR CARDOSO MOREIRA

Antônio Eugênio 
(Acróstico ao graduando Antônio Eugênio Pavloski)

A escalada do progresso é sempre dura,
Não progride nesta vida quem não luta
Todos têm necessidade da cultura:
O saber, valor garante na labuta.
Não é apenas o diploma conquistado,
Isso que consegue o jovem estudante,
O mais importante, é sim, o aprendizado,

E aprender e saber nunca é bastante.
Um degrau tu venceu galhardamente,
Ganhaste uma batalha heroicamente,
E muitas vencerás nos dias teus.
Não descure porém o analfabeto,
Irmane-se ao inculto, dê-lhe afeto:
O amor é a nave que nos leva a Deus.
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Poetrix de São Paulo/SP

BETO QUELHAS

águas do rio

passam com rapidez
como o amor que partiu
e a dor que se fez
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Soneto do Paraná

EMILIANO PERNETA 
(Emiliano David Perneta)
Pinhais/PR, 1866 — 1921, Curitiba/PR

Ao cair da tarde

Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...

Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?

Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!

Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Na minha idade avançada,
ser sensato é insensatez...
– Agora ou é tudo ou nada:
sou feliz ou perco a vez!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)

Tempo de olhar o tempo

Um olho no relógio, outro na vida;
O tempo não convida, ele intima;
Quem não sabe lutar, foge da esgrima;
Quem bate no destino, ele revida.

Embora a tristeza nos oprima,
Quem não conhece a dor, sente a ferida
Na víscera da dor mais dolorida…
O amor é uma dor que não vitima.

Deus nunca olha o homem lá de cima,
Ele aproxima o ser do Criador;
E quando ele se vê no seu senhor, 
Entrega-lhe essa dor que o subestima. 

O amor é uma sublime obra-prima
Que prima pela criatividade;
Ele se move acima da maldade,
Por mais que alguma mágoa o deprima.

Ninguém consegue ver olhando a esmo,
E quando  o nosso olhar nos desanima,
Fazemos nosso amor ter como rima
A dor que o desamor faz de si mesmo.

Um olho no relógio… e na manhã;
Poetas têm a solidão por prima
Mas é na solidão que os anima
Que a emoção se torna… sua irmã.

(Primeiro Lugar no Concurso Literário da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil 2013)

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