Quem acha vive se perdendo
Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que por infelicidade
Meu pobre peito invade
Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com satisfação, e com harmonia
Esta triste melodia, que é meu samba
Em feitio de oração
O samba na realidade,
não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce no coração
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
O Samba Como Expressão da Alma em 'Feitio de Oração'
A música 'Feitio de Oração', composta pelo icônico Noel Rosa, é uma obra que transcende o tempo, trazendo em sua essência uma profunda reflexão sobre a natureza do samba e a expressão dos sentimentos. A letra inicia com uma contemplação sobre a perda e a saudade, sentimentos universais que afligem o ser humano. O eu-lírico se apresenta em uma luta para se proteger da dor causada pela saudade, uma emoção que invade seu peito e traz sofrimento.
No decorrer da canção, o samba é apresentado como uma forma de oração, uma expressão sublime que não se aprende em escolas, mas sim se sente e se vive. O samba é descrito como um privilégio, uma manifestação de alegria e nostalgia que se entrelaçam na melodia. A música sugere que o samba tem o poder de transformar a tristeza em algo belo, em arte. A referência à Penha e à morena que vai cantar com satisfação e harmonia reforça a ideia de que o samba é um ato de celebração e resistência emocional.
Por fim, Noel Rosa conclui que o samba não é algo que pertence exclusivamente ao morro ou à cidade, mas sim que ele nasce do coração de quem suporta uma paixão. O samba é, portanto, uma manifestação autêntica dos sentimentos mais profundos, uma forma de arte que brota da experiência humana e da capacidade de suportar e expressar as emoções mais intensas.
O compositor Vadico (Osvaldo Gogliano) era um jovem de 22 anos e trabalhava no Rio havia pouco tempo, quando foi apresentado por Eduardo Souto a Noel Rosa, nos estúdios da Odeon. Razão da apresentação: o maestro acabara de ouvi-lo tocar ao piano uma música de sua autoria, ainda sem letra, e achara que o encontro poderia render uma boa parceria.
Noel, então, impressionado com a beleza e o clima místico da melodia, fez a letra de "Feitio de Oração", iniciando com uma obra-prima a parceria desejada. Pertence a esta letra os famosos versos: "Batuque é um privilégio / ninguém aprende samba no colégio..." A dupla Noel e Vadico durou quatro anos, deixando onze composições.
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