sábado, 6 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 54 =


Trova Humorística de Pouso Alegre/MG

NEWTON MEYER
1936 – 2006

Careca? Não creio sê-lo, 
e o fato impede que eu minta:
Tenho um fio de cabelo,
mas, quase com metro e trinta!
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Poema de Brasília/DF

LURDIANA ARAÚJO

Fogueira

Coração, deixa de besteira,
O amor é apenas uma fogueira
Queima a alma inteira.

Como fogo na lareira
Vai nos queimando como madeira
Nos consumindo a vida inteira.

É uma chama traiçoeira
Quer nos sufocar, apedrejar,
Aniquilar.

Nunca tente pular esta fogueira
Uma ferida corta a carne quer não queira,
E nos aprisiona nesta chama traiçoeira.

É inútil relutar, nem mesmo nossas cinzas,
Conseguem se libertar de alguma maneira.
O amor é apenas uma fogueira, chama traiçoeira.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

GLÓRIA FONTES PUPPIN

transformar
  é
  difícil
    mexe
    com
      inconsciente
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Soneto de Teresina/PI

CHICO MIGUEL
(Francisco Miguel de Moura)

Nós e o planeta

Nascemos num oceano de incertezas,
São vidas sobre vidas, muitas vidas.
Que no combate até desconhecemos
Se são amigos nossos ou inimigos.

A ciência desvenda-nos perigos
De vírus a bactérias, faz vacinas
Contra os males fatais que nos imolam,
Pois somos nós os monstros. E sorrimos.

Também, com relação ao universo,
Somos futuros vírus já dispersos,
Na Terra, onde seremos os seus réus.

Fazemos, desta casa azul, um lixo…
Pensando (ou sem pensar) que com tudo isto
Estamos, corpo e alma, indo pro céu.
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Trova Premiada na Ilha de Guanabara, 1965

CEZÁRIO BRANDI FILHO 
(Juiz de Fora/MG)

Quanta gente gostaria
de ter a vida da gente,
sem saber que isso seria
trocar tristezas, somente.
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Poema de Portugal

ANA HATHERLY
(Anna Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly)
Porto, 1929 – 2015, Lisboa

Pensar é encher-se de tristeza

To think is to be full of sorrow
J. Keats, Ode to a nightgale

Pensar é encher-se de tristeza
e quando penso
não em ti
mas em tudo
sofro

Dantes eu vivia só
agora vivo rodeada de palavras
que eu cultivo
no meu jardim de penas

Eu sigo-as
e elas seguem-me:
são o exigente cortejo
que me persegue

Em toda a parte
ouço seu imenso clamor
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Quadra Popular de Minas Gerais

Morena, se tu soubesses
o quanto eu te quero bem,
tu não rias, não brincavas,
perto de mim, com ninguém.
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Soneto de Lisboa/Portugal

ALFREDO SANTOS MENDES

Adeus juventude

Depois da juventude ultrapassada,
a vida passa a ter outro sentido.
E todo o aprendizado adquirido,
Será o nosso guia de jornada!

Teremos pela frente, tudo ou nada.
Qual deles será de nós, o nosso adido?
Será que ficaremos no olvido?
Nossa porta estará sempre fechada?

Há que sorrir em cada despertar.
E nunca esquecer de comentar:
que há mais um dia todas as manhãs!

E quando já passados muitos anos,
não devemos chorar os desenganos,
mas olhar com orgulho nossas cãs!
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Trova de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
- É gato? - Não... é mulher!
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Poema dos Estados Unidos

WALLACE STEVENS
Reading/ Pensilvânia, 1879 – 1955, Hartford/Connecticut

O Homem da Neve 

É preciso uma mente de inverno
 Para olhar a geada e os ramos
 Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo fazer frio
 Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
 Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
 Em qualquer miséria no som do vento,
 No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
 Cheia do mesmo vento
 Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
 E, ausente, observa
 Nada que não está lá e o nada que é.
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Haicai de São Paulo/SP

IRENE M. FUKE

Mãos arroxeadas
Se aquecem ao sol de inverno.
Mendigo na praça.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

OLEGÁRIO MARIANO
(Olegário Mariano Carneiro da Cunha)
Recife/PE, 1889 – 1958, Rio de Janeiro/RJ

A velha mangueira

No pátio da senzala que a corrida
Do tempo mau de assombrações povoa,
Uma velha mangueira, comovida,
Deita no chão maldito a sombra boa.

Tinir de ferros, música dorida,
Vago maracatu no espaço ecoa…
Ela, presa às raízes, toda a vida,
Seu cativeiro, em flores, abençoa…

Rondam na noite espectros infelizes
Que lhe atiram, dos galhos às raízes,
Em blasfêmias de dor, golpes violentos.

E, quando os ventos rugem nos espaços,
Os seus galhos se torcem como braços
De escravos vergastados pelos ventos.
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Trova de Parede/Portugal

OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO

A vida, com temperança,
vinda desde pequenino,
é rumo de confiança,
ensinamento divino.
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE
Feito um filme de cinema,
ao beijar a tua face,
te dediquei um poema
do amor... que agora renasce!
José Feldman 
(Campo Mourão/PR)

GLOSA
Feito um filme de cinema,
daqueles, do tempo antigo,
onde a atriz era de extrema
beleza, sonhei contigo!

Na penumbra do cinema,
ao beijar a tua face
veio-me, logo, o dilema:
qual será o desenlace?

Hoje, lembrando da cena
passada na mocidade,
te dediquei um poema
para matar a saudade.

Desperto da sonolência
veio-me, como num passe
de mágica, a efervescência
do amor... que agora renasce!
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Aldravia de Ipatinga/MG

MARÍLIA SIQUEIRA LACERDA

a
vida
corre
depressa
qual
aldravias
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

ERNÂNI ROSAS
(Ernani Salomão Rosas Ribeiro de Almeida)
Florianópolis/SC, 1886 – 1955, Rio de Janeiro/RJ

Convalescente

Convalesço dos males da Quimera
partindo sempre de um desejo rude,
a malograda sorte da galera
que aportar com delírio nunca pude…

Do amor, nada pretendo com veemência
pela vida misérrima que arrasto!
Eu sinto o frágil coração tão gasto
às futuras e rudes penitências…

Desconheço o rigor dessa ironia
Quando o sol tomba na água e eril centelha
sem n´a apagar em fulva alegoria…

Amo a noite, amo o espelho do Universo
nunca a chaga de um Deus que se avermelha
no sangue que palpita no meu verso!…
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Trova Premiada em São Francisco de Itabapoana/RJ, 2007

ALMIR PINTO DE AZEVEDO 
(Cambuci/RJ)

Trovadores versejando
com dom divino e fecundo,
com suas mãos derramando
beleza e paz pelo mundo...
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Poema de Angola

AIRES ALMEIDA SANTOS
Chinguar, 1922 - 1991, Benguela

Poema para minha filha

Para ti, querida
Rosas e mel
E estrelas rutilantes,
Risos gritantes,
Muita ternura e carinho

E o Sol
Brilhando muito
Em frente ao teu caminho.

Deixa comigo o fel, 
A dor, o desespero 
Deixa que eu fira a pele 
Nos ásperos abrolhos 
Da vida.

Deixa chorar meus olhos
 Deixa comigo
 O peso do sonho tão antigo.

Para ti, querida 
Paz, amor, ternura 
Estrelas rutilantes, 
Rosas e Mel…
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Triverso de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

Cansaço

Dormir sem sonhar
com os fatos da vida
pra não mais chorar.
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Setilha do Rio Grande do Sul

DELCY CANALLES
Pedro Osório, 1931 –  ?, Porto Alegre/RS

O bálsamo da esperança
nos vem com a Primavera,
que chega alegre em setembro,
depois de uma fria espera,
pois ela é a estação das flores,
dos perfumes, dos amores,
dos sonhos e da quimera!
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

O mar, a jangada, o vento;
a bordo, ao luar, nós dois.
Construa no pensamento
a cena que vem depois...
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HINO DE UBERABA/MG

Da jornada de fé, corajosa
De bandeiras por todo o Brasil,
Tu surgiste, Uberaba formosa,
Na campina, sob um céu de anil.

És Uberaba, o formoso
E mais rico florão,
Desde nosso sertão
Valoroso.
Oh! Grande terra gentil,
Um torrão sem igual,
No Planalto Central
Do Brasil

Não transiges com teu inimigo,
Mas acolhes, gentil, em teu colo,
Os que vêm ao trabalho, contigo,
Procurando elevar o teu solo.

És Uberaba, o formoso
E mais rico florão,
Desde nosso sertão valoroso.
Oh! Grande terra gentil,
Um torrão sem igual,
No Planalto Central
Do Brasil 

Tuas matas, teus campos, teu montes,
De riquezas sem par, peregrinas,
Construíram, entre teus horizontes,
A mais bela das jóias mais finas!

És, Uberaba, o formoso
E mais rico florão,
Desde nosso sertão valoroso.
Oh! Grande terra gentil,
Um torrão sem igual,
No Planalto Central do Brasil.
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O Louvor à Terra do Zebu
O Hino de Uberaba, como muitos hinos municipais, é uma composição que exalta as qualidades e a história da cidade, localizada no estado de Minas Gerais, Brasil. A letra do hino destaca a bravura e a fé dos fundadores da cidade, que é descrita como tendo surgido corajosamente durante a expansão territorial do país, marcada pelas bandeiras, expedições que adentravam o interior do Brasil em busca de riquezas e terras para colonizar.

A canção prossegue enaltecendo Uberaba como um 'florão', uma joia preciosa e rica do sertão brasileiro, destacando sua beleza e valor. A menção ao 'Planalto Central' situa geograficamente a cidade, que embora não esteja no Planalto Central do Brasil, está em uma região elevada do território mineiro. A letra também faz referência à hospitalidade do povo uberabense, que acolhe a todos que chegam para trabalhar e contribuir com o desenvolvimento local.

Por fim, o hino celebra as riquezas naturais de Uberaba, como suas matas, campos e montes, que são comparados a 'riquezas sem par'. A cidade é conhecida por sua importância na agropecuária, especialmente na criação de gado zebu, e o hino faz jus a essa característica ao construir uma imagem de Uberaba como uma 'jóia mais fina' entre as cidades brasileiras, ressaltando seu valor único e sua contribuição para a riqueza nacional. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/942731/
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Poetrix do Rio de Janeiro/RJ

LILIAN MAIAL

doa-se

coração adestrado
com pedigree, vacinado,
só não obedece ao dono
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Soneto de Santos/SP

ELISA BARRETO

Velhas fotografias

Velhas fotografias, amarelas,
lembram vidas da vida que passou.
São guardiãs fiéis, são sentinelas,
que a arte no papel eternizou.

Guardam características singelas
de épocas que a evolução tragou.
Na estrutura da vida são janelas
que o palácio do tempo conservou.

Olham-me da parede, penduradas,
como a indagar-me, muito admiradas,
por que eu as fito tão frequentemente . . .

È que as fotografias tomam vida
e a alma de alguém, quando nos foi querida,
nelas palpita misteriosamente.
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Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Nas areias calcinadas
desse deserto sem fim...
A vida deixou pegadas
perdidas dentro de mim!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O doido que vende siso

Um doido, pelas ruas, pelas praças,
Dizia, em seu pregão: «Quem compra siso?»
E os sempre crentes homens acudiam
À compra diligentes.
Primeiro, de barato, dava o doido
Muita careta, muita monaria;
Mas, logo que ensacava na algibeira
Dinheiro dalgum zote,
Com um bofetão, que vinha rebolindo,
Lhe dava duas braças de barbante
Aos tais fregueses, em lugar de siso.
Uns se agastavam; mas que vale irar-se?
Ser, por iras, de todos mais zombado?
Rir como os outros fora mais acerto;
Ou safar-se, sem chus, nem bus, levando
O bofetão, e o fio.
Quer bem levar de todo a surriada
Quem esquadrinha sentido figurado
No proceder dum louco.
Que razão há que dar de doidarias?
Quanto chocalha em testos desvairados
A mão do Acaso o volve.
Mas fio e bofetão davam tortura
A certas cachimônias.
Um dos logrados vai-se ter com um sábio,
Que logo lhe emborcou, sem muito empacho,
O oráculo seguinte:
«Hieroglíficos meros vende o doido.
Deve o prudente duas braças pôr-se
Longe, de quem tem eiva no miolo,
Se afagos tais não quer recolher dele.
Bom siso vos vendeu. Não sois logrado.»
(tradução: Filinto Elísio)

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