Era uma noite de gala em Estocolmo, onde as luzes brilhavam intensamente e a expectativa estava no ar. O Prêmio Nobel de Literatura seria entregue, e Pafúncio Epaminondas, o jornalista da revista “Fuxicos & Fofocas”, foi enviado para cobrir o evento. Ele não tinha a menor ideia do que estava prestes a enfrentar, mas estava determinado a fazer sua cobertura ser a mais memorável de todas.
Vestido com um terno que mais parecia uma colcha de retalhos e uma gravata com estampas de frutas, Pafúncio entrou no elegante salão onde a cerimônia aconteceria. Ele olhou ao redor, admirando o luxo, mas também se sentindo um pouco deslocado. Afinal, ele estava ali para entrevistar os vencedores do Prêmio Nobel, e ele, que mal conseguia escrever uma frase sem errar, estava prestes a se encontrar com os maiores escritores do mundo.
Assim que chegou, Pafúncio se dirigiu a uma mesa onde estavam distribuindo os crachás aos convidados, premiados e jornalistas, recebendo um crachá. Então se deparou com um grupo de jornalistas renomados, todos vestidos impecavelmente. Ele respirou fundo e decidiu que precisava se misturar.
Ao invés de ser discreto, acabou esbarrando na mesa de um buffet, derrubando uma bandeja cheia de canapés. Os petiscos voaram pelo ar como se fossem confetes, e ele, em um gesto de desespero, tentou agarrar um deles, mas acabou pegando uma taça de champanhe que, por sua vez, foi parar na cabeça de uma senhora idosa que estava perto.
“Desculpe! Aqui está seu novo penteado!” – Pafúncio exclamou, tentando ser engraçado.
A senhora, com a taça ainda na cabeça, apenas olhou para ele com um olhar de reprovação.
Após esse início desastroso, Pafúncio se lembrou de seu verdadeiro objetivo: entrevistar os vencedores. Ele se dirigiu à área onde os laureados estavam sendo recebidos. O primeiro que encontrou foi um renomado escritor de romances, Odic Poesia, conhecido por suas obras profundas e filosóficas.
Com um sorriso nervoso, Pafúncio perguntou: “Odic, se você pudesse descrever sua obra em uma fruta, qual seria?”
Odic, um tanto confuso, respondeu: “Uma laranja, porque é cheia de camadas.”
“E também azeda se você não a escolher bem!” – Pafúncio completou, sem saber se deveria rir ou se encolher.
O escritor olhou para ele, um tanto perplexo, mas acabou sorrindo, aliviado por não ter sido ofendido.
Seguindo em frente, Pafúncio encontrou a ganhadora do Nobel de Literatura, uma mulher chamada Toda Prosa.
Ele estava tão empolgado que, sem pensar duas vezes, soltou: “Toda, se você tivesse que escolher um animal para descrever seu estilo de escrita, qual seria?”
Toda, tentando manter a compostura, respondeu: “Talvez um pássaro, porque minhas palavras voam livremente.”
Pafúncio, em sua mente, transformou isso em uma manchete: “Toda Prosa diz que sua escrita é como um pássaro! Cuidado com as janelas abertas!”
A escritora olhou para ele, sem saber se ria ou se se preocupava com a sua sanidade.
A cada nova entrevista, Pafúncio se sentia mais confiante, mesmo que suas perguntas continuassem absurdas.
Ele encontrou um outro laureado, um autor de contos chamado Miguel Fábula.
“Miguel, se você pudesse trocar sua pena por qualquer objeto da sua casa, qual seria?” Pafúncio perguntou.
“Uma colher,” Miguel respondeu, intrigado. “Porque eu adoro mexer nas coisas.”
“Então, você é um escritor que adora misturar ideias!” Pafúncio exclamou, anotando tudo.
Miguel sorriu, mas não conseguiu esconder a confusão.
Após algumas entrevistas, um incidente inesperado ocorreu. Pafúncio, distraído enquanto escrevia suas anotações, tropeçou em uma cadeira e caiu, derrubando uma mesa cheia de flores que caíram como uma avalanche sobre ele. “Parece que estou sendo atacado por um buquê assassino!” ele gritou, enquanto tentava se levantar, coberto de pétalas.
Os jornalistas ao redor não conseguiam conter a risada, e Pafúncio, mais uma vez, se viu no centro das atenções. Ele decidiu aproveitar a situação e começou a improvisar uma performance, falando sobre “as flores da literatura” e como algumas eram mais traiçoeiras que outras.
Quando finalmente chegou a hora de se despedir dos laureados, Pafúncio percebeu que precisava fazer uma pergunta final que realmente deixasse uma marca. Ele se aproximou de Odic e perguntou: “Se a literatura fosse uma dança, qual seria e por quê?”
Odic, agora mais relaxado, respondeu: “Um valsa, porque é uma dança que exige tanto coordenação quanto imaginação.”
“Então, se eu me atrapalhar, posso chamar isso de ‘dança literária’!” Pafúncio completou, rindo de si mesmo.
Com sua cobertura cheia de perguntas malucas, incidentes hilários e uma quantidade inusitada de flores, Pafúncio voltou para a redação. Ele escreveu uma matéria que misturava a seriedade do Prêmio Nobel com seu estilo trapalhão, transformando cada entrevista em um momento de pura comédia.
Ao final, Pafúncio provou que, mesmo sem entender completamente o mundo da literatura, era capaz de trazer um sorriso ao rosto das pessoas. Afinal, a vida é uma grande história, e, como um jornalista de uma revista de fofocas, ele sabia que o mais importante era saber rir das próprias trapalhadas.
Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024
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