(mais uma aventura da série Pafúncio, o jornalista trapalhão)
“Pafúncio, precisamos de uma cobertura especial. Você vai ao manicômio e vai fazer uma reportagem sobre a vida lá dentro.”
Pafúncio, que não tinha a menor ideia do que significava cobrir um manicômio, apenas respondeu: “Claro! Vou fazer isso! Não se preocupe!”
Ele estava tão animado que mal conseguia pensar na seriedade da situação.
Vestindo uma camisa de estampas psicodélicas e uma gravata que parecia ter sido desenhada por uma criança, Pafúncio chegou ao manicômio. Ao entrar, foi recebido por um enfermeiro que o olhou com desconfiança. “Você é o jornalista?” perguntou o enfermeiro.
“Sim, sou eu! Estou aqui para fazer uma matéria incrível!” Pafúncio respondeu, com um sorriso largo que parecia mais uma careta.
Assim que entrou na ala dos pacientes, Pafúncio começou a fazer perguntas aleatórias, sem prestar atenção nas respostas. “O que você acha do almoço servido aqui? É tão bom quanto o que servem em um restaurante chique?” perguntou a um paciente que estava sentado em um canto, olhando para o nada.
O paciente olhou para ele, confuso, e disse: “Eu só queria um pedaço de bolo…”
“Bolo! Ótima ideia! Vou anotar isso!” Pafúncio exclamou, enquanto anotava freneticamente. Ele estava tão entusiasmado que não percebeu que a conversa não estava indo a lugar algum.
A sua primeira trapalhada aconteceu quando ele decidiu que precisava tirar fotos para a reportagem. Ele começou a disparar flashes incessantemente, fazendo com que os pacientes se assustassem.
Um deles, que estava concentrado em montar um quebra-cabeça, se levantou e gritou: “Pelo amor de Deus, pare com isso! Eu estou tentando focar!”
“Desculpe! É para a revista!” Pafúncio respondeu, mas já estava se distraindo com um paciente que estava dançando em cima de uma mesa.
“Olha, uma apresentação de dança!” ele gritou, enquanto começava a gravar em seu celular. O paciente, animado, começou a dançar ainda mais, mas acabou escorregando e caindo, fazendo com que uma série de cadeiras se derrubassem.
“Isso vai render uma ótima reportagem sobre talento escondido!” Pafúncio comentou, enquanto os enfermeiros começavam a correr em direção ao local do acidente.
A cada nova interação, Pafúncio se aprofundava mais em sua própria confusão. Ele encontrou um grupo de pacientes jogando cartas e decidiu que precisava participar.
“Ei, posso me juntar a vocês? O que estamos jogando? Pôquer? Ou é um jogo de tabuleiro?” ele perguntou, sem entender que estavam jogando um jogo inventado por eles, que envolvia adivinhar quem era o “rei do dia”.
Os pacientes, rindo, decidiram que Pafúncio deveria ser o “rei” por um dia.
Ele começou a fazer declarações absurdas, como: “A partir de agora, todos devem usar chapéus de papel alumínio!” e todos aplaudiram histericamente, enquanto Pafúncio se sentia como uma verdadeira celebridade.
Depois de algum tempo, um dos médicos entrou na sala e, ao ver a cena, ficou perplexo. “O que está acontecendo aqui?” ele perguntou, olhando para Pafúncio, que estava sentado em uma cadeira com um chapéu de papel alumínio.
“Sou o novo rei! E vocês todos são meus súditos!” Pafúncio exclamou, levantando os braços como se estivesse em um espetáculo.
O médico, já desconfiado, decidiu acompanhar o “jornalista” por mais um tempo. Pafúncio, ignorando completamente a seriedade do ambiente, começou a fazer perguntas sobre os tratamentos dos pacientes.
“Então, como é receber terapia? É como ir a um spa, mas sem as toalhas quentes?” ele perguntou a uma mulher que estava desenhando.
A mulher olhou para ele, incrédula. “Depende… você gosta de água fria?” ela respondeu, enquanto Pafúncio anotava tudo como se estivesse em uma conferência de imprensa.
A situação foi se agravando quando Pafúncio decidiu que precisava entrevistar o diretor do manicômio. Ele se dirigiu ao escritório do diretor, sem saber que estava invadindo uma reunião importante.
“Oi, sou Pafúncio! Estou aqui para fazer uma reportagem sobre a vida no manicômio! Posso fazer algumas perguntas?” ele interrompeu, enquanto os médicos olhavam para ele, atônitos.
“Desculpe, mas estamos ocupados,” respondeu o diretor, tentando manter a compostura. “Isso é uma reunião de emergência.”
“Uma emergência? Isso é ótimo! Posso fazer uma matéria sobre isso! ‘Emergência no Manicômio: O Que Está Acontecendo?’” Pafúncio disse, enquanto tentava se acomodar na mesa.
Os médicos começaram a se olhar, preocupados.
“Acho que precisamos conversar com você,” disse um deles, levantando-se.
Com a confusão tomando conta, Pafúncio decidiu que era hora de fazer uma pausa e se dirigiu ao banheiro. Ao entrar, ele se deparou com um espelho e começou a fazer caretas, como se estivesse se preparando para uma grande apresentação. “E se eu me tornar o novo rosto da fama? Pafúncio, o jornalista que transforma manicômios em palcos!” ele pensou alto, rindo de sua própria ideia.
Enquanto isso, os médicos decidiram que ele era um risco para si mesmo e para os pacientes. Quando Pafúncio saiu do banheiro, foi cercado por enfermeiros e médicos que tentaram convencê-lo a se sentar e “conversar”.
“Mas eu só quero fazer uma reportagem!” ele protestou, mas os médicos não estavam ouvindo.
“Precisamos te internar por um tempo, você está se comportando de maneira estranha.” disse um dos médicos, enquanto Pafúncio olhava em volta, confuso.
“Estranho? Eu sou apenas um jornalista divertido! Olhem para mim!” ele exclamou, fazendo uma pose exagerada. “Não sou louco! Sou apenas… bem, um pouco excêntrico!”
Os médicos, já sem paciência, começaram a levá-lo para uma sala.
“Pafúncio, por favor, não faça mais alarde! Você está atrapalhando a rotina do manicômio!” um deles gritou, enquanto Pafúncio tentava escapar.
“Isso não é uma prisão! Isso é uma reportagem!” ele respondeu, mas no fundo sabia que a situação tinha saído do controle.
Finalmente, em um último esforço para se libertar, Pafúncio começou a agir como se estivesse em um espetáculo, fazendo gestos grandiosos.
“Eu sou o rei do manicômio! Vocês não podem me internar! Eu tenho que escrever sobre o talento escondido aqui!”
Mas, ao ouvir a palavra “internar”, um dos médicos, que já estava estressado, decidiu que já era suficiente. “Vamos colocar um ponto final nisso,” ele disse, enquanto Pafúncio continuava a protestar.
Finalmente, em uma cena digna de um filme de comédia, Pafúncio foi levado para fora do manicômio, enquanto gritava: “Isso vai ser uma ótima matéria! ‘Pafúncio, o jornalista que se tornou paciente!’”
E assim, ele saiu, rindo, sem saber que sua trapalhada se tornaria a maior história de todas. Afinal, a vida de Pafúncio era um grande espetáculo.
Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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