Antigamente, nas cidadezinhas do interior do País, a população reconhecia as três maiores autoridades do município: o padre, o prefeito e o delegado. Cada qual, à sua maneira, exercia influência específica sobre o comportamento das pessoas, principalmente diante de algum entrevero, que inevitavelmente exigia uma providencial interferência dessas personalidades. Fosse algo mais sério que viesse realmente ameaçar a integridade física dos envolvidos, entrava em cena o delegado “calça-curta”, agente geralmente nomeado pela administração municipal e que, de maneira peculiarmente convincente à época, acabava com as divergências num piscar de olhos.
Já o prefeito atuava nos casos em que se fazia necessário colocar cada qual em seu devido lugar, quando o assunto pendia para a área política. Naquelas paragens ele mandava e desmandava e ai de quem destoasse de sua cartilha, escrita por interesses dos mais diversos possíveis.
Ao padre recaía a responsabilidade pela preservação da moral e dos bons costumes, a propagação da fé cristã, a busca incansável pelas ovelhas desgarradas, a resistência sistemática às incontáveis tentações impudicas e ao exercício permanente do jogo de cintura, tentando agradar a gregos e troianos.
A vida seguiu seu rumo e o vilarejo encravado na mata virgem cresceu e viu o tempo transformar aquelas práticas bairristas em longínquas lembranças do passado. Pelo menos é o que imaginam os viventes do século 21 na majestosa Maringá. Mas eis que mesmo com o desenvolvimento, a modernidade e a tecnologia batendo à porta do cidadão, as folclóricas figuras de outrora, agora elitizadas e alçadas a níveis infinitamente superiores de competência e intelectualidade, se envolvem em uma pendenga pouco republicana, guardadas as devidas proporções de espaço, tempo e intenções. Seria uma reunião para se discutir os níveis de insegurança elevados, uma demanda legítima da população do típico e controverso lanche prensado parlamentar.
Da tríade benfazeja do passado, apenas o religioso não se fez presente, por motivos óbvios, ante o tema proposto. Diante da exposição pelo comandante militar dos números oficiais da criminalidade, o prefeito, exaltado, foi curto e grosso. Como toda ação provoca uma reação, o imbróglio logo se estabeleceu. Ignorando o poder das palavras, cada qual mostrou sua desaprovação com a situação, sob a ótica do cargo ora exercido. A exasperação do chefe do executivo municipal foi, evidentemente, o estopim para a defesa veemente de opiniões divergentes.
Por sua vez, a infeliz declaração da suposta degustação de pizza em casa (privilegiando a segurança familiar) teve o mesmo efeito de se tentar apagar fogo com gasolina, elevando ainda mais a temperatura do debate. Nota-se que faltou serenidade e sobrou testosterona aos protagonistas.
Para a felicidade geral da comunidade, com os ânimos amainados e as arestas aparadas (pelo menos momentaneamente), pode-se concluir que medidas efetivas certamente serão implementadas, no intuito de oferecer um pouco mais de segurança à sociedade maringaense. E aos ocupantes de cargos públicos, seria de bom alvitre que exercitem continuamente o autocontrole deixando a emoção de lado, porque absolutamente tudo se resolve na base do diálogo. Atitudes bem diferentes de outras épocas, quando mandava quem podia e obedecia quem tinha juízo. Então, senhores, muita calma nessas horas.
Fonte: Portal do Rigon. 31 de agosto de 2017
https://angelorigon.com.br/2017/08/31/o-padre-o-prefeito-e-o-delegado/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.