segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Vida de bailarina)


(samba-canção, 1954) 
Compositores: Américo Seixas e Chocolate

Quem descerrar a cortina
Da vida da bailarina
Há de ver cheio de horror
Que no fundo do seu peito
Existe um sonho desfeito
Ou a desgraça de um amor
Os que compram o desejo
Pagando amor a varejo
Vão falando sem saber
Que ela é forçada a enganar
Não vivendo pra dançar
Mas dançando pra viver!

Obrigada pelo ofício
A bailar dentro do vício
Como um lírio em lamaçal
É, uma sereia vadia
Prepara em noite de orgia
O seu drama, passional
Fingindo sempre que gosta
De ficar a noite exposta
Sem escolher o seu par
Vive uma vida de louca
Com um sorriso na boca
E uma lágrima no olhar

A Dualidade da Vida de uma Bailarina: Entre o Sonho e a Realidade
A música 'Vida de Bailarina', é uma profunda reflexão sobre a vida de uma bailarina que, por trás das cortinas, esconde uma realidade dolorosa e cheia de sacrifícios. A letra revela a dualidade entre a aparência glamorosa e a dura realidade enfrentada por essas artistas. A bailarina, que deveria viver para dançar, acaba dançando para sobreviver, sendo forçada a enganar e a se submeter a situações degradantes para manter-se financeiramente.

A canção utiliza metáforas poderosas para descrever a situação da bailarina. Comparando-a a um 'lírio em lamaçal', a letra sugere a pureza e a beleza que são manchadas pelas circunstâncias adversas. A bailarina é retratada como uma 'sereia vadia', uma figura mítica que, apesar de sua beleza e encanto, está presa em um ciclo de vícios e orgias noturnas. Essa imagem reforça a ideia de que, embora a bailarina possa parecer deslumbrante e feliz por fora, ela carrega um profundo sofrimento interno.

Além disso, a música aborda a questão da exploração e da objetificação das mulheres no mundo do entretenimento. A bailarina é obrigada a fingir prazer e a se expor, sem ter a liberdade de escolher seus parceiros ou seu destino. O contraste entre o 'sorriso na boca' e a 'lágrima no olhar' simboliza a máscara que ela é forçada a usar, escondendo sua verdadeira dor e tristeza. A letra de 'Vida de Bailarina' é um poderoso comentário social sobre as dificuldades e os sacrifícios enfrentados por muitas mulheres que trabalham no mundo do espetáculo, revelando a dura realidade por trás do brilho e do glamour.

Personagens típicas da noite carioca nos anos trinta e quarenta, essas bailarinas serviram de motivo a algumas composições como "Garota do Dancing", de Alberto Ribeiro e Jorge Faraj. Nenhuma, entretanto, alcançaria o prestígio de "Vida de Bailarina", lançada por Ângela Maria em 1954 e revisitada por Elis Regina, dezoito anos depois. Representante ilustre da classe foi Elizeth Cardoso, bailarina antes de se tornar cantora profissional.

Fontes:
– https://www.letras.mus.br/angela-maria/44140/
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.

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