sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Vereda da Poesia = 124 =


Semi-Soneto de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Solidão (3)
 
Oh, solidão, que na alma se adensa, 
teus laços frios me prendem em grilhões, 
um mar de silêncio, onde a vida é tensa, 
e as lágrimas bailam em corações. 

Nos sussurros da brisa, sinto a falta, 
de risos, de abraços, de companhia, 
mas mesmo sem voz, a dor não se exalta, 
e a paz, em sua forma, se anuncia. 

Em cada instante, a vida se ressignifica, 
e o ser que sou, se entrega ao que é…
Solidão, tu és minha amiga antiga. 

No teu abraço, o tempo não é só maré, 
e mesmo só, a dor se modifica, 
transformando a tristeza em fé. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

No seu biquini apertado,
Maria me deixa mudo,
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Leveza

Tu te concretas na leveza dos meus sonhos...
Sou um poeta: deixo o vento me levar,
Meu coração, de pensamentos tão tristonhos
Ainda sabe, como flor, o que é sonhar.

Tu polinizas meu amor, quando diluis,
Na tua luz, meu coração que é tão carente
De emoção... e eu já nem sei mesmo onde pus
A minha dor mais arbitrária e incoerente.

Para a escrever, a pena é mero instrumento...
Cada momento é um reflexo do ser
E eu, por viver a insensatez de um sentimento,
Louvo o momento que me faz sobreviver.

Eu me protejo no teu beijo mais carente,
O amor pressente o que o sonho proporciona,
Por isso, quando um coração diz o que sente,
A pulsação a dois dilui-se... e emociona.

Quando a razão nos diz que não, o amor revida,
O amor convida o coração dançar
E se o salão de um coração é uma avenida,
Faço da vida o meu momento de sonhar.

Se és meu par, põe nos meus ombros, o calor
Das tuas mãos, deixa a canção nos embalar,
Pois na penumbra é que a Lua faz amor
Com o sonhador que sempre a quer admirar.

Tu te projetas, não és mero holograma,
És uma chama carinhosa que flutua
E me sorri... mostrando um rosto que me ama,
Ante o olhar mais sedutor da luz da lua.

És tão concreta... e irreal, mas... se te evoco,
Tu sempre vens e me aconchegas no teu seio
E eu, tão menino, a cada vez que eu te toco,
Retoco a calma mais feliz... de um devaneio.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova  Premiada em Irati/PR, 2023

SILVÂNIA MARIA COSTA 
Campo Mourão / PR

Feito rocha, sê bem forte, 
resistente à desventura. 
Mesmo estando à própria sorte, 
na alegria encontre a cura.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de 
ENY SANTOS JÚDICE
S. Fidélis/ RJ

 Carta para o amor ausente 

Nesta manhã nevoenta de fumaça
estou morrendo de saudades tuas;
há na minha alma convulsões de luas,
há no meu peito a angústia que amordaça.

Amor, estou sorvendo a amarga taça,
a taça amarga das verdades cruas;
e busco em vão no retinir das ruas,
sufocar este amor que me desgraça.

Inútil! . . . E a obsessão dos teus abraços?!
Sinto em mim ainda as mãos do teu carinho,
dedilharem as cordas dos meus braços,

e a tua ausência, e o teu silêncio enorme,
vivem cantando para mim baixinho,
ninando esta saudade que não dorme!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Quando o sobreiro der baga
e a cortiça for ao fundo,
só então se hão de acabar
as más línguas deste mundo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de
DORA DIMOLITSAS
São Paulo/SP

Poetas em sarau

Da sacada do prédio ao lado
Vejo poetas em deliciosos saraus,
Muita gente circulando
Bebendo as palavras poéticas,
Vejo os rostos das pessoas
Que na noite deixam a alma falar
Transitando nos corredores.

Paro e me pergunto
A poesia é sonho ou é real?
Chego à conclusão:
Bem vivida a vida é poesia
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Neste mundo de conflitos
o Poder faz e desfaz...
E os povos seguem aflitos
com a esperança de paz!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de
J. G. DE ARAÚJO JORGE
(José Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC (1914 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

De  Mãos  Dadas 

Ando na vida de mãos dadas
com a tua lembrança...

- E para que falar em esperança?

Não sei onde me levará esta ansiedade,
ou esta melancolia
cheia de umidade,
a me envolver como uma cerração...

Para a loucura?
Para a felicidade?
Ou para este morrer de cada dia
de quem vai tateando em noite escura ...
cego do coração?

Que fazer?  Ando na vida
como quem anda
- perdido, andando em vão...

Ando na vida de mãos dadas
com a tua lembrança,
a fazer roda em silêncio... numa triste ciranda
sem canção…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Trabalha no vestiário
onde o marido é roupeiro,
e, pra aumentar seu salário,
“dá bola”... pro time inteiro!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Minhas Quatro Estações

Foi plena Primavera a minha infância
vivida com carinhos de meus pais,
sentindo sempre, em toda circunstância,
que o amor dos dois é o que valia mais!

Na juventude tive a incrível ânsia
de tudo ver bem rápido demais!
E abrasador Verão, em discordância
ao que hoje sei que não terei jamais!

E todo o Outono meu, de certa forma
foi de pacata vida cidadã:
fiel marido e pai, dentro da norma...

E agora neste inverno em que convivo
com as dores próprias de minha alma anciã,

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do 
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP

Brinquedo de porcelana
na mão de criança arteira...
Assim é a ventura humana,
tão frágil... tão passageira...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de
DORA TAVARES
(Maria Auxiliadora Tavares Duarte)
Pedro Leopoldo/MG

Solidão

Exceto o coração
Tudo se acalma
E faz-se preciso o silêncio.

Há muito não se sobe a escada
E o último táxi entregou em domicílio
Um retardatário da noite.

Por que a queixa
Se não há ouvidos
E esta dor é tão antiga
Como o poder de chorar?

O que nos resta é sorver um chá
Como se nada houvesse
E aconchegar na noite
Em que os pés são frios.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Funerária Cigana

Aqui descansam os restos
de meu filhinho adorado:
— Botão de flor de minh'alma,
tão rudemente arrancado.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de 
ENOCH LINS
(dados desconhecidos)

Você

Você é para mim a síntese da vida!
O espírito que eleva; a matéria que prende,
o gozo que nos põe em perenal subida
e as nossas ilusões pelo infinito estende.

É o tédio que caminha á trágica descida
e o orgulho do prazer impiedoso que ofende;
você é para mim essa lição comprida
que a gente, sem saber, rapidamente aprende.

Só você me faz bem e é todo o meu encanto!
Só você, quem de longe o meu pesar ouvindo
vem depressa e num beijo aniquila o meu pranto.

Só você quem me espera os minutos contando...
Só você, quando eu chego, abre a porta sorrindo,
só você quando eu vou... fecha a porta chorando!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Hispânica de
LIBIA BEATRIZ CARCIOFETTI
Santiago del Estero/Argentina

Mirando pasar el tiempo
nos damos cuenta en la vida
que el amor no es pasatiempo
sino una lucha aguerrida.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de 
GERALDO CARNEIRO
Belo Horizonte/MG

O espelho

do outro lado um estranho
faz simulações como se fosse
um demônio familiar
é sempre noite, um assassino sonha
com mulheres assassinadas em série
sob as palmeiras de Malibu
o mundo é só uma ficção plausível
a imagem que baila ao rés-da-lâmina
é um último improvável vestígio
da existência de Deus
os restos são ecos de outras faces
gestos de espanto e despedida
a música dos relógios, a morte
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
LÓLA PRATA
Bragança Paulista/SP

De mãos dadas com o amor,
vencemos as horas más,
sabendo que o Criador
nos dá coragem e paz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

Sacrifício

Inda lembro os botões daquela blusa,
à noite, a provocar meu pensamento…
Desviava o olhar, mas, no momento,
a voz da tentação dizia: – Abusa!

Imaginava o tom de uma recusa,
um afastar-se por acanhamento.
Deveria frear o atrevimento,
não queria perder a minha musa.

Que sacrifício nos impõe a vida!
(Já não retornam mais tantas venturas).
Investir e travar essa investida,

colocar o chapéu em boa altura,
aguardar ser a mão bem recebida
pra não causar transtornos, desventuras.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Destino, fado ou o que for... 
isso tudo é só brinquedo. 
– Na história real do amor, 
cria o amor seu próprio enredo. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de
EUCLIDES DIAS
(Belém/PA)

Viver dormindo 

Beijava-te. . . e beijando-te na face
oh! que doce prazer então sentia...
Se, assim, feliz, eu sempre assim sonhasse...
Se, assim, sonhando me passasse o dia...

Apertava-te ao peito em doce enlace,
com suave e terníssima alegria...
Se assim, sonhando, eu sempre te abraçasse
oh! que noites felizes eu teria!

E se eu te visse, assim, sempre a meu lado,
pálpebras roxas, colo perfumado,
lânguida, terna, e boa, e feiticeira,

eu quisera sonhar sempre, dormindo,
e, se sempre, a sonhar, te visse rindo,
passar dormindo a minha vida inteira.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Teu amor... tal força tinha,
que a saudade me conduz
e esta penumbra só minha
ainda é cheia de luz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Hino de 
Icapuí/CE

Salve terra de um povo que é grande
Generoso e feliz de verdade
Que no afã do trabalho se expande
A grandeza sem par da cidade

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra dos verdes coqueiros,
Que se embalam aos ventos dos mares,
Hoje a ti, todos nós, altaneiros,
Elevamos os nossos cantares.

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra! Pela autonomia
Esperavas com fé renovada.
Os teus filhos ergueram-se um dia
E tornaram enfim libertada.

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra tão bela e querida
Nós saudamos a tua vitória.
Haverás de crescer forte e unida
E terás um futuro de glória!

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra de praias e dunas,
Pelas quais o teu mapa é bordado!
Tu és livre entre livres comunas
Para o bem e o progresso do estado.

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de 
RICARDO FERRAZ
Caçapava/SP

Espanta ver como é,
a preguiça do Caipira
que ao tentar coçar o pé,
coça a bota mas não tira.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de 
JÂNIA SOUZA
Natal/RN

Noturno

Orfeu abandonou-me em plena alcova
A ouvir o burburinho instigante da cama
Com suas falas lúgubres, interrompidas
Pelo estridente cicio da noite desnorteada
Acreditando ser verão em vez de primavera.
Ouço da noite mornas confidências
Verdades, mentiras, ilusão de vagos sonhos
Não compreende o próprio vagar entre  montanhas.
Procuro ignorar insistente convite
Mas suas quimeras prendem-me numa teia
De desejos inconfessáveis de fogo.
Ininterruptamente me fala seus deleites, fraquezas
Queixumes irrequietos de dores paridas.
Seus róseos sentidos arrancam-me gemidos
No frescor da caliente brisa florida dos trópicos
Tocando os leques das mamonas, plumas
De avestruzes em meu corpo semi-adormecido.
Ó noite irrequieta, voraz, que tens a revelar-me?
Será que não percebes meus navegares ensandecidos
Em douradas linhas de pensamento, embalo
De teimosos versos incontroláveis, sedentos
Da língua da lira rouca em meu profundo peito?

Arquejo, engasgada nos anéis das letras
Sopradas do ninho de prazer d'Orfeu adormecido.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova premiada em Irati/PR – 2023
ANA WELTER 
Toledo / PR

Na rocha dura da vida,
esculpi dores e risos.
Hoje fico agradecida
pelos traços imprecisos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O raposo e os perus

De cidadela uma árvore servia
A perus, contra assaltos do raposo.
Tendo o velhaco dado volta aos muros,
Visto cada peru em sentinela:
«E zombará de mim tal raça? Os únicos
Serão que à lei comum escapem? — Logro!
Voto aos numes do céu...» Cumpriu palavra.
Brilhava a lua, como que quisesse
Amparar a ninhada perueira
Contra o velhaco. Ele não sendo novo
No mister de assaltadas fraudulentas,
Recorre ao saco das maldosas manhas.

Dá visos de trepar; com os pés se guinda,
Faz-se morto; ressurge. Arlequim mesmo
Tais papéis não faria, e tão de molde.
Alta a cauda, cambiava-lhe os reflexos;
Mil outras trejeitos... Nesse entanto
Tosquenejar nenhum peru ousava,
Cansando-os o inimigo, e assim cravando-lhes
Sempre a vista no brilho. A pobre raça
Encadeada ao fim, vinha caindo.

Tantos caídos, tantos apanhados,
Fazem monte. Mais de a metade cai;
E o marau foi depô-los na despensa.
A sobeja atenção fita nos perigos
Nos faz neles cair bastantes vezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.