CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Calçadão de Minha Rua…
Alvinegra passarela
em mosaicos definida…
sempre que passo por ela,
a repassar me convida.
Calçadão de minha rua,
a imitar ondas do mar…
à luz do sol ou da lua,
aonde irás me levar?!
Meu destino, irrelevante,
me fez boa caminheira
e assim vou seguindo adiante,
até quando Deus o queira!
Calçadão de minha rua,
talvez que em dia já breve,
minha vida, que se estua,
não te pise… nem de leve!
E, então, guardarás silente,
nos mosaicos desgastados,
passos meus… passos de ausente
… marcas de passos passados..
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
É no rosto da criança
que o sorriso é mais bonito:
- tem a força da Esperança
e o tamanho do Infinito!
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Num simples toque
Tu és pétala de rosa... me maltrata
Maltratar teu coração num simples toque...
Meu amor por teu amor é sem retoque
Como um rosto que o espelho não retrata.
Tens espinhos, mas ferir-me só me mostra
Que no fundo te proteges do que eu sinto;
Meu amor é inevitável, não te minto:
Só de ver-te, aos teus pés ele se prostra...
Se tu partes, teu perfume é que fica
No silêncio, percorrendo os sonhos meus;
É difícil te perder tão sem adeus,
Quando a dor do meu amor te identifica...
Fecho os olhos quando quero te sonhar,
Entretanto, como pétala de flor,
Tu te soltas pela luz do meu olhar
E te perdes numa lágrima... de dor.
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Trova Humorística Premiada em Irati/PR, 2023
AILTO RODRIGUES
Nova Friburgo / RJ
Bebum que arma cambalacho,
sem cascalho, apronta tanto,
que bebe pinga em despacho
na conta do pai de santo!
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Glosa de
FABIANO WANDERLEY
Natal/RN
MOTE
Carrego o carro da sorte,
pelos caminhos da vida
GLOSA
Por onde quer que eu aporte,
não temo adversidades,
pra evitar temeridades,
carrego o carro da sorte.
E por ser o meu suporte,
meu destino consolida,
me protege, dá guarida,
me alerta, em todos momentos,
pra que encontre os acalentos,
pelos caminhos da vida.
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Trova Popular
Amar e não ter ciúmes,
isso não é querer bem;
quem não zela o bem que ama,
muito pouco amor lhe tem.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926
Artista
Por um destino acima do teu Ser,
Tens que buscar nas cousas inconscientes
Um sentido harmonioso, o alto prazer
Que se esconde entre as formas aparentes.
Sempre o achas, mas ao tê-lo em teu poder
Nem no pões na tua alma, nem no sentes
Na tua vida, e o levas, sem saber,
Ao sonho de outras almas diferentes...
Vives humilde e inda ao morrer ignoras
O Ideal que achaste... (Ingratidão das musas!)
Mas não faz mal, meu bômbix* inocente:
Fia na primavera, entre as amoras,
A tua seda de ouro, que nem usas
Mas que faz tanto bem a tanta gente...
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* Bômbix = bicho-da-seda
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Trova de
OLYMPIO COUTINHO
Belo Horizonte/MG
Creio que quem olha a Terra
sob o azul e branco manto
não acredita que a guerra
possa tingi-la de pranto.
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Soneto de
HAROLDO LYRA
Fortaleza/CE
Coisificadas
Hoje é comum mulher tirar a roupa
pra revelar nas bancas de jornal,
despudoradamente o colossal
segredo da virtude, já tão pouca.
Desnuda-se, aos apelos do mural;
na crapulosa folha a pose louca
que a revista conduz de boca em boca
e faz dessa mulher coisa venal,
que assim exposta nua à sordidez;
dependurada à espreita do freguês,
nem percebe aonde e como vai chegar.
Mas chega ao pai, os sonhos carcomidos,
por ver da filha os garbos preteridos,
e oferecida a quem puder pagar.
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Trova de
JANETE DE AZEVEDO GUERRA
Bandeirantes/PR
O cansaço… a consumindo…
numa cadeira, ela escora…
Levanta o guri sorrindo:
- Eu guardei para a Senhora!…
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Ser poeta
Fazer poesia é fácil, meu amigo,
basta um por cento só de inspiração,
e a conclusão do poema está contigo,
é só tirá-la na transpiração.
Isto é assim já desde o tempo antigo,
na liberdade e até na escravidão,
colocada a semente num abrigo,
o restante é cuidar da plantação...
Vale a pena o suor que tu verteres,
por tudo o que requerem os afazeres,
seja no campo, ou com papel e pena.
Seja a poesia, ou mesmo outra arte,
e quem com enxada faz a sua parte,
perante a Pátria jamais se apequena!
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Olha! A noite é uma criança,
diz o refrão popular -
que se sacode e balança
presa às tranças do luar.
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Poema de
PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR, 1944 – 1989
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
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Trova Funerária Cigana
Minha mãe, entre seus filhos,
se lembre de mim um dia,
que dos ramos que eles formam
eu sou a flor mais sombria.
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Soneto de
THALMA TAVARES
São Simão/SP
A um jovem suicida
Pela porta entreaberta o velho pai assoma.
Olha triste, em silêncio, a família e a casa,
E em soluços explode a dor que ele não doma,
o mal contido pranto, a lágrima que abrasa.
A todos, de um só golpe, o sofrimento arrasa.
Inconsolável mágoa a casa inteira toma.
Parece que a tristeza, enfim, deitou sua asa
sobre um lar onde a paz era único idioma.
Tempos depois passou a dor e o desconforto.
Mas do pai, que abraçou um dia o filho morto,
como eterno castigo a dor não se apartou.
Ficou-lhe na lembrança - e pela vida inteira -
a débil voz do filho e a queixa derradeira:
- Estou morrendo, pai!... A droga me matou!
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Trova de
ELISABETE AGUIAR
Mangualde/Portugal
Há correntes que escravizam,
– essas é urgente quebrar!
Mas naquelas que humanizam
falta um elo restaurar!
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Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
Retrato de Mulher
Pobre mãe-menina, marginalizada!
Sozinha, deu à luz debaixo da ponte
Um ser de paternidade ignorada...
Agora, mãe e filho sem horizonte!
Malvista, miserável e mãe solteira;
Retrato de mulher achado no lixo,
Pelo jeito, vai passar a vida inteira
Enfrentando do destino o seu capricho.
É "Socialite" às avessas no jornal...
Com um filho recém-nascido na vida.
Às vezes sai no noticiário geral:
Retrato de mulher pedindo comida!
Ah, se a cronista da página social
Não se preocupasse só com as madames!...
E mostrasse à sociedade por igual,
Outro retrato de mulher, das infames!...
Somente assim creio que seria possível
À camada rica se dar uma pista
Do tanto que ela se apresenta insensível,
Toda voltada para si, tão egoísta!
Retrato de mulher, foco de beleza!
Impróprio para propagar mendicância.
Não podemos contrariar a Natureza,
Retrato de mulher é só elegância!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
Por xeque-mate, em segundos,
perdeu tudo... e o que ele fez?
Pagou com cheque sem fundos
e foi parar... no “xadrez”!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016
Indelével retrato
Quando menino, sensações de vulto
não tive, sensações próprias da idade.
Sempre vivi desconhecido e oculto,
longe do vão bulício da cidade.
Fiz da vida campestre um quase culto,
da natureza, quase divindade.
E trago ainda (que felicidade!)
um coração silvestre em mim sepulto.
Um dia precisei deixar meu ninho
trocar o seu calor e o seu carinho
por outras contingências do viver.
Mas nem belas visões de outra paragem
puderam apagar a sua imagem
gravada tão profunda no meu ser.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Belo sonho o que aproxima
estrelas e pirilampos...
– Elas são eles lá em cima;
eles são elas nos campos!
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Poema de
CECY BARBOSA CAMPOS
Juiz de Fora/MG
Desesperança
A boca vazia
os olhos grandes,
vazios…
O prato vazio,
panelas brilhantes,
vazias…
Menino vazio,
sem graça, sem jeito,
sem nada no mundo,
sem sonho, sem ânsias,
sem nada a esperar,
espera cansado
a vida seguir.
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Trova de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
Sorrateira, foi chegando
a danada da saudade;
meu coração machucando,
sem dó e sem piedade!
= = = = = =
Hino de
Sambaíba/MA
Sambaíba acordaste para a vida.
Do Maranhão a cidade mais querida.
Tua gente alegre, hospitaleira.
Paisagem atraente e brasileira.
És banhada pelo grande Rio Balsas.
Cristalino, deslizando noite e dia.
Suas águas lembram majestosa fita,
Que lhe serve na mais doce harmonia.
Nós te saudamos de coração.
E mais um aperto de mão.
Verdes campos acolhendo os rebanhos.
Teu lindo céu matizado de azul.
O teu povo enobrece os estranhos.
Premiando tanto o Norte como o Sul.
As montanhas dão um grande colorido,
Refletindo um postal, uma pintura.
O que chega sente-se um escolhido.
Dando graças pela feliz aventura.
Nós te saudamos de coração.
E mais um aperto de mão.
Uma prece ao nosso Criador.
Arquiteto desta obra incomparável.
Todos nós lhe queremos com ardor.
Nos deu vida e Pai adorável.
Tua bênção é a nossa esperança.
A bandeira que nos mantém de pé.
Dai-nos paz, com saúde e bonança.
Te pedimos com toda nossa fé.
Nós te saudamos de coração.
E mais um aperto de mão.
= = = = = =
Trova Humorística de
MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
De tão magro ele até poupa:
quando adoece, o infeliz
tira uma foto sem roupa
e usa como Raio X.
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964
Lua Adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida !
Perdição da vida minha !
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso !
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua ...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua ...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu ...
= = = = = =
Trova de
ROZA DE OLIVEIRA
Curitiba/PR
Pra minha Fé não existe
nem o menor subterfúgio.
Estando eu alegre ou triste
tenho Deus por meu refúgio.
= = = = = =
Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
O horóscopo
Dissera um charlatão
Ao pai duma criança que nascia,
Que esta cruenta morte sofreria
Nas garras dum leão.
Cresce, temos rapaz,
E o pai lhe diz: «Não sairás dos lares,
Para uma vez leões não encontrares».
Se bem diz, melhor faz.
Tinha o pai, num painel,
Pintado um leão. Um dia o rapaz brada:
«Por causa desta fera aqui pintada,
Sofro eu sorte cruel!»
Forma um bom murro e — zás!
Investe com o painel, de raiva cego;
Porém a mão lhe rasga oculto prego
Que estava por detrás!
***
Ésquilo ouviu rosnar
Que havia de cair-lhe em cima a casa;
Crê no que ouve, o pateta, vê-se em brasa,
E vai dormir ao ar.
Mas — oh, caso fatal! —
Passa uma águia nas garras empolgando
Enorme tartaruga; e esta largando
Na cabeça do tal,
Um bolo pronto a faz!
***
Um adivinho em méritos realça?
Não, respondo. Sua arte é mais que falsa,
Apesar do que atrás
Acabo de contar.
Crer nessa arte é no juízo haver atraso:
Aqui só vejo acaso — e pode o acaso
Às vezes acertar.
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.