DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Dia de chuva.
Ruazinhas esburacadas
pra desviar das poças d’água
o rapaz pulava amarelinha
com a namorada.
= = = = = =
Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Contradição bem marcada,
que teima em nos separar:
- Meu amor toca a alvorada,
e o teu não quer acordar..
= = = = = =
Soneto de
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ
Grãos
A palavra tem o poder da semente,
Que às vezes não tem outra alternativa
A não ser tornar-se forte e resistente,
Para que seu conteúdo sobreviva.
Vejo plantas, que já foram frágeis grãos,
Germinarem, comprovando as escrituras,
Procurando esgueirar-se pelos vãos
Do concreto, sem nem ter semeadura...
Solos férteis são corações preparados
Para o fado de abrigar tantas sementes...
Quando os caules já não são fragilizados,
Às raízes se espalham pelo chão...
É assim com as palavras envolventes
Que alicerçam-se, criando novos grãos.
= = = = = =
Trova Premiada em Irati/PR, 2023
ANTÔNIO GONÇALVES HUDSON
Santo Antônio do Grama / MG
Encanta-me ver na luta
do artista muito inspirado
emergir da pedra bruta
o gesto mais delicado...
= = = = = =
Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Gotas de luz e sombra
Em forma de conchas
Com textura
De pétalas brancas
A flor retém as gotas d’água,
Enquanto
Delicados riscos
Em tons de magenta
Mesclam-se
Nessa taça diáfana - líquida
Gerânio em gotas,
Espelhos...
= = = = = =
Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
A Princesa e a Serpente
Na terra de Malavi, uma princesa tão bela,
Nia, a destemida, com sabedoria singela.
Um dia, uma serpente, em seu caminho se aprumou:
“Liberte-me, princesa, e o poder eu te dou.”
Nia, com cautela, refletiu sobre a oferta,
“Prefiro meu valor, a liberdade é certa.”
A serpente, com raiva, atacou enfurecida,
mas Nia, ágil, desviou da investida.
Com um golpe rápido, a serpente caiu,
e a princesa, vitoriosa, seu caminho seguiu.
A liberdade é qual tesouro que deve ser guardada,
e Nia, a guerreira, nunca foi dominada.
O verdadeiro poder vem da liberdade,
e a coragem é a chave da felicidade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova Popular
Venci! Cheguei a subir!
Nada! Ninguém me ajudou!
Mas comecei a cair,
toda gente me puxou!...
= = = = = =
Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Doce fada
Melífico, teu beijo verte enlevo, fada
Viajo nos sabores pelo ardor cingido
No vício imerso quero a boca aveludada
Tocando os lábios meus... Delírio é garantido
Teu corpo é sinuoso, encantadora estrada
Desejo imensamente nela estar perdido
Sorver a sedução das curvas emanada
Romper as convenções, fazer o proibido
Na teia irresistível me envolvi contente
Contemplo, arrebatado, um brilho nobre, etéreo
Não posso me negar refém desse fulgor
Faceira, aprisionaste um coração carente
Tingiste de emoção aquele céu cinéreo
Grilhões nos pensamentos colocaste, amor
= = = = = =
Trova de
RODOLPHO ABBUD
Nova Friburgo (1926 – 2013)
Se na Bondade te elevas
e a mão do bem te conduz,
nenhum príncipe das trevas
irá roubar tua luz!
= = = = = =
Poema de
VIVALDO TERRES
Itajaí/SC
Chave da vida
Mulher és a fonte de luz,
És o amor que conduz,
Através de ti que a espécie é garantida
Isto porque és a chave de vida!
És da espécie humana, a escolhida.
Para que através de ti o amor seja dissolvido,
Provado, bebido, sentido e o homem esteja onde estiver...
...nunca se esqueça que se ele aqui esta!
Deve muita a ti mulher.
És a luz que ilumina nossos dias!
Muitos deles cheio de tristeza e dor,
Mas com a tua presença, nos fortalece...
Isto porque tu és o amor
Quantas vezes no meu refúgio...
Eu começo a refletir e chego a me emocionar!
Lembrando-me daquela que me colocou no mundo!
E me ensinou a dar os primeiros passos e a caminhar.
= = = = = =
Trova de
HELOÍSA ZANCONATO PINTO
Juiz de Fora/MG
Orçada em peso e medida,
em valor e qualidade,
tem, por certo, a despedida,
preço igual ao da saudade!
= = = = = =
Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Bem-querer
Meu coração calou a sua voz;
não quer mais se expressar de nenhum jeito.
fechou-se mudo dentro do meu peito,
qual indeiscente fruto, estranha noz...
E, assim, nesse ostracismo, insatisfeito,
mal-humorado e rude está feroz
porque eu lhe disse que, vivendo a sós,
nós iremos perder nosso conceito...
Francamente, não sei que mais fazer
para ver se ele assume o velho amor,
mesmo à moda de um simples bem-querer...
Então, quem sabe, volte a ser feliz
vivendo junto a quem lhe dá valor
e que outrora provou quanto lhe quis!
= = = = = =
Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
Amor - sentimento forte!
Palavra odiada e querida...
Se é causa de tanta morte,
é a própria razão da Vida!...
= = = = = =
Soneto de
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
Noite de saudade
A noite vem pousando devagar
Sobre a terra que inunda de amargura…
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura…
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura…
E eu ouço a noite imensa soluçar!
E eu ouço soluçar a noite escura!
Por que é assim tão’ scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu nem sei donde me vem…
Talvez de ti, ó noite!… Ou de ninguém!…
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!
= = = = = =
Trova Funerária Cigana
Dizem que almas não morrem
são imortais... não têm fim...
A minha faz exceção
'stá morta dentro de mim!
= = = = = =
Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Na simplicidade
fiz-me poesia
Aprendi que nas
nuances da vida
sou viva demais.
Entendi que no minimalismo sou
insana na minha poeticidade raiz
ritmada, em versos não normais.
Entre as novas mesmices, sorrio,
porque menos sempre será mais.
= = = = = =
Trova Humorística de
REGINA CÉLIA DE ANDRADE
Magé/RJ
É fome de tal maneira,
que o comilão assumido,
quando vê a cozinheira...
já fica de garfo erguido!
= = = = = =
Poema de
BENJÚNIOR
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)
Porto União/SC
Ao entardecer...
Às vezes fico olhando
Os raios de sol na água
Que vibram como música
Enquanto a tarde se vai...
Outras, me pego cantando
Canções sem rimas
Que surgem a esmo, sem pensar...
Têm dias que o sol não aparece
E fica um tempo triste de se ver;
Então meus passos
Seguem direções impossíveis de saber
Se o horizonte é uma mancha na penumbra
Ou se é o dia que está a morrer...
Os últimos raios tingem o lago sereno
E um vento ameno
Passa trazendo uma saudade fria.
Os primeiros sinais da noite
Chegam com a luz pálida do casario
Enquanto mais além
Com ares suaves de poesia
Uma janela se abre para o amor
Que não vem...
= = = = = =
Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Avó é a mãe que imagina
que a sua parte já fez...
mas, quando a missão termina,
começa tudo outra vez!
= = = = = =
Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
Soneto de Lembrança Antiga
Bom dia ! pé de bugre e aroeira!
Cumprimento essas árvores nativas,
qual se fossem a ausente companheira,
de minha infância das imagens vivas...
Aquela que deixou-me, de maneira
tão bruscamente, em horas aflitivas,
hoje, surge-me à mente toda inteira,
para trazer-me flores sempre-vivas...
Busquei não recordá-la e foi em vão
meu intento sincero e imorredouro,
querendo sepultar essa ilusão...
Depois fiquei sabendo que partiu,
sem saber que pra mim era um tesouro
e nem que me deixava este vazio...
= = = = = =
Poetrix de
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
Salvador/BA
A chave
No âmago de tudo o que sentes...
Mas não adianta me perguntar,
eu também estou procurando...
= = = = = =
Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP
A rosa e o lírio
Às horas tantas de uma tarde amena
Um lirio enfeita um prado reflorido
enquanto a rosa confessa à dracena
Antigos ais de um tempo já esquecido...
Ao lado canta a gentil açucena
E o prado aos poucos fica colorido
E o vento sopra, observando a cena,
Suavemente, num doce gemido...
Então a rosa, rubra e cintilante
Bebe o alvor do lírio embevecido
E o Tempo pára por um breve instante.
O lírio abraça a rosa esfuziante,
E no calor do prado florescido
Revive o amor com sua doce amante…
= = = = = =
Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP
Gritei: “- Pare, seu Joaquim”,
quando o trem apareceu...
Ele ainda olhou pra mim,
falou: “Ímpare!” e morreu...
= = = = = =
Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935
Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
= = = = = =
Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Liberdade, em termos sãos,
vale mais se, humildemente,
podendo retê-la em mãos,
nós a damos de presente!
= = = = = =
Hino de
Além Paraiba/MG
Cidade Força e Trabalho
- Grandiosa, hospitaleira -
Tu és Além Paraíba
- Glória da terra mineira! (bis)
É o teu céu de um azul muito azul
- Que o sol de prata ilumina.
E o Paraíba que histórias ensina
Sob o Cruzeiro do Sul!
Terra bendita de ordem e de paz
Terra riqueza e fartura:
Ser um teu filho que doce aventura!
É ser ditoso assaz!
= = = = = =
Trova de
ODENIR FOLLADOR
Palmeira/PR, 1948 – 2021, Ponta Grossa/PR
Quisera ninguém mais visse
nem ódio, guerra ou maldade,
que todo mundo se unisse:
em raça, cor e amizade.
= = = = = =
Soneto de
BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)
Vitória/ES
Micro-Sentidos
Eu queria ser bem pequenininho,
Prás curvas do teu corpo atravessar;
Grutas, vales secretos decifrar;
Escalar as montanhas, com jeitinho.
Tão logo me cansar, ir rumo ao ninho;
Num carinho, por tua boca entrar,
Buscando o coração; quando alcançar,
Me alojar dentro dele, de mansinho.
Lá, só não sei se vou ter condição
De aguentar teu calor, sem derreter;
De aceitar outro ser: mãe, pai, irmão.
Pequeno, ao ver tão grande amor nascer
Que, por maior que seja o coração,
Nem no meu, nem no teu, não vai caber.
= = = = = =
Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Não temo o mar que me nega
ser mais branda a travessia.
Temo sim, a mente cega
que me bloqueia a ousadia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.