quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Anderson Almeida Nogueira (Vazio)

Uma dor angustiante
 sufoca seu peito. Há tempos está assim, mas agora chegou ao limite. Grita internamente. Seu urro é silencioso para os que com ela convivem, mas seus tímpanos parecem arrebentar com os ecos de seus lamentos agudos. Não suporta mais, é chegada a hora de acabar de vez com tudo. há um vazio em sua alma...

Não dormiu naquela noite. Insone, planejou cada passo. Por vezes desistiu, por outras teve certeza. Coragem, covardia, sensatez, insanidade, tudo misturado na noite fria do inverno na metrópole indiferente aos que vivem ali. Amanhece, é chegada a hora...

Atravessa as ruas, os quarteirões, as calçadas a pé, em ritmo cada vez mais acelerado. Não pode vacilar, se for devagar dá tempo de pensar, dá espaço à dúvida que não quer ter mais. Há um vazio em seu coração...

Entra no prédio alto de 30 andares, adentra o elevador lotado de pessoas que se distribuirão pelos corredores empilhados entre o térreo e a cobertura. 

Tem pressa, a cada nova parada de andar em andar se agita. Suor frio nas mãos, as batidas de seu coração parecem nos ouvidos, na garganta. 15o. andar, 18o., 21o., 25o., 28o. andar. Não aguenta, desce ali mesmo e sai em disparada escadas acima, quer chegar logo ao seu destino. Há um vazio em seu olhar..

Chega, enfim, ao seu destino. A corrida intensa é, por uma fração de segundos, um pouco contida. Mas logo retorna com a velocidade que os pulmões ofegantes lhe permitem. Corre em direção ao horizonte que vê ali do alto, separados apenas pelo muro baixo. O dia começa a amanhecer. Corre na direção da alvorada.

Salta por cima do muro. Há um vazio em seu entorno...

Na fração de 5 segundos entre o salto e a escuridão fatal, observa pelas janelas o cotidiano das pessoas c:onversando, rindo, gesticulando. O moço do café, o executivo engravatado, a mulher elegante, os casais apaixonados, as crianças brincando, tudo parece tão normal na vida das outras pessoas. 

Por que não foi assim comigo, pergunta-se? Por que não consegui ser feliz assim? 

O longo trajeto chega ao fim. Por um instante, pareceu tão longo, mas chegou tão rápido. Escuridão! Não há mais vida ali. Só resta um corpo vazio...

(Este conto obteve o 4. lugar no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fonte: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.

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