Era uma manhã ensolarada quando a fazenda de Seu Zé Capim se preparou para receber uma visita muito especial: um grupo de amigos da cidade, aqueles que acham que a vida no campo é feita apenas de vacas pastando e pôr do sol cinematográfico. A expectativa era alta, mas a realidade seria ainda mais divertida.
Os visitantes chegaram em uma van, todos com suas roupas de grife, óculos escuros e uma expressão que misturava curiosidade e um ar de superioridade. Assim que desembarcaram, a primeira coisa que fizeram foi puxar os celulares para registrar o momento, como se estivessem em um safári.
"Olha, o campo!" exclamou uma delas, enquanto apontava para um touro que, sinceramente, parecia estar mais interessado em comer capim do que em ser o foco de um ensaio fotográfico.
Seu Zé Capim, com seu chapéu de palha e sorriso no rosto, fez questão de dar as boas-vindas.
"Bem-vindos à fazenda! Aqui, a gente vive na tranquilidade."
Mas, a tranquilidade logo se tornaria um conceito relativo.
A primeira atividade programada era a ordenha das vacas. Ao ouvir isso, os citadinos trocaram olhares de perplexidade.
"Ordenha? Como assim? Não é só apertar um botão?" perguntou um deles, enquanto sua amiga tentava entender a diferença entre a vaca e o boi.
"É tudo a mesma coisa, né?"
A risada de Seu Zé foi tão alta que até as galinhas pararam de ciscar para ver o que estava acontecendo.
Com um pouco de paciência — e algumas demonstrações de como se faz — os visitantes finalmente se aproximaram das vacas.
A cena era digna de uma comédia: um deles, armado com um balde, se aproximou da vaca com uma cautela que mais parecia estar tentando conquistar uma celebridade do que fazer uma simples ordenha.
"E se ela correr atrás de mim?", ele sussurrou, quase em pânico.
A vaca, claro, estava mais preocupada com o seu lanche do que com a presença de um humano nervoso.
Depois de algum tempo e muitas risadas, a primeira ordenha foi realizada.
"Olha, saiu leite! Como se faz para embalar isso?"
Um outro amigo, que estava mais interessado em saber como o leite virava queijo, já estava desenhando planos de um negócio de laticínios.
"Podemos fazer um delivery de queijo artesanal na cidade! O que vocês acham?"
A ideia de colocar queijo de fazenda em uma embalagem causou gargalhadas na turma.
A próxima parada foi na horta.
"Como assim, você planta as coisas aqui? E o supermercado, não faz nada disso?", perguntou uma moça, enquanto segurava um tomate como se fosse um artefato raro. "E se a gente não tiver água? Como as plantas vão crescer?"
Seu Zé, já acostumado com a curiosidade dos urbanos, respondeu: "A gente rega, minha filha! Aqui a gente não tem água da torneira, mas a gente faz acontecer!"
A expressão dela ao ouvir "água da torneira" era como se tivesse descoberto que o mundo não é plano.
A tarde avançou com uma trilha pela mata.
"Aqui é tudo muito verde!", exclamou um dos rapazes, enquanto outro já tentava identificar se o som que ouvira era uma onça ou apenas um sapo.
"É só um sapo, amigo! Para de ser medroso!", gritou um dos outros, que já começava a se sentir como um verdadeiro desbravador. A verdade é que a natureza, com suas folhas e barulhos, parecia tanto um mistério quanto um parque temático para eles.
Para completar a experiência rural, Seu Zé decidiu preparar um autêntico almoço caipira.
"Vocês vão adorar a comida da roça!", disse, enquanto começava a fritar um frango.
A expectativa era alta, mas quando os pratos chegaram à mesa, um dos amigos olhou para a farofa e perguntou: "E isso, é o que? Um acompanhamento ou um novo tipo de arroz?"
A confusão era tanta que a farofa quase foi confundida com um novo prato gourmet. A refeição, por sua vez, acabou se tornando um concurso de quem conseguia comer mais, sem saber o que estava colocando na boca.
Os amigos até tentaram ajudar na cozinha, mas a situação rapidamente saiu do controle. Um deles, ao tentar fazer um suco de limão, acabou espremendo mais limão na roupa do que no copo.
“É uma nova técnica de tempero!” gritou, enquanto todos riam e o limão escorria por suas mãos.
À medida que o dia chegava ao fim, as risadas e as histórias compartilhadas se tornaram o verdadeiro espírito do encontro. O campo, com suas simplicidades e suas complexidades, havia mostrado aos visitantes que a vida rural era muito mais do que eles imaginavam. As dificuldades do dia a dia, as alegrias simples e as risadas ao redor da mesa criaram uma conexão que superou qualquer preconceito que eles pudessem ter.
No final do dia, enquanto se preparavam para voltar à cidade, um dos amigos olhou para Seu Zé e disse: "Sabe, acho que vou começar a plantar um pé de alface na varanda."
E Seu Zé, com um sorriso cúmplice, apenas respondeu: "É um bom começo! Mas não esquece de regar, tá?"
E assim, a visita dos urbanos à fazenda se tornou uma lembrança hilária e inesquecível, um lembrete de que, às vezes, é preciso sair da zona de conforto para descobrir que a vida, com suas simplicidades e desafios, é muito mais divertida do que parece — mesmo que isso signifique lidar com vacas e farofas!
Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
Imagem criada por JFeldman com Microsoft Bing
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