sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 152 =


Trova de
PEDRO GRILO NETO
Natal/RN

A nostalgia me alcança
quando, branda, a tarde cai,
cravando-me a aguda lança
da saudade do meu pai.
= = = = = =

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Sempre igual

Num ato de pura loucura 
busquei teu rosto...
e para meu desgosto
no lugar dele
me deparei com a tua ausência 
toda ela grudada em mim...
= = = = = = 

Trova de
JOÃO COSTA
Saquarema/RJ

É nobre o gesto de quem
o sofrimento ameniza,
partilhando o que mal tem
com alguém que mais precisa.
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

...E a vida continua

Aos poucos meus amigos vão embora...
Saudade hospitaleira abre janelas
e os ares das paisagens amarelas
aumentam o vazio que devora.

As mãos saudosas ficam sem aquelas
que tanto me afagaram mundo afora
nas horas tristes bem fora de hora
e nos momentos das tertúlias belas.

E assim eu sinto que também vou indo
na esteira da fatal apoteose.
Sublime é caminhar sempre sorrindo

sabendo que ao beber da mesma dose
os planos das paisagens verdejantes
ressurgirão sorrindo como antes
= = = = = = 

Trova Premiada de
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP

Finquei firme, os pés no chão:
- Esta é a minha terra nova!
E a rosa do coração 
se abriu em forma de trova!
= = = = = = 

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

O Coração

O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um — tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.

O outro — voa em mais virentes balsas,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel — a que se chama — crenças —,
Vive do aroma — que se diz — amor. —
= = = = = = 

Trova Popular

Se mil corações tivesse
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Tuas marcas

Nas lágrimas que verto inconsolado
Repousam minha dor, meu sofrimento.
No sal dessa torrente há desalento:
Escombros do meu sonho estilhaçado.

Aflitas, vozes d'alma, em seu lamento
Num canto lacrimoso, emocionado,
Do adeus farto em pungência têm lembrado
Registro lancinante... Ah, que tormento!

Conserva o coração saudade imensa,
Não vejo essa paixão esmaecida,
Em mim é natural tua presença,

Embora com loucura parecida
Vivaz, noto luzir sem par querença,
Marcaste a ferro e fogo minha vida.
= = = = = = 

Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

Todo dia é da Criança 
e também do Professor: 
um aprende com confiança 
e outro ensina com amor.
= = = = = = 

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Curupira

Pequeno guardião, de cabelos a arder,
Curupira, a lenda das matas a zelar,
com pés ao contrário, faz o mundo tremer,
todo que se atreve a seu reino invadir.

Por entre as árvores, seu rugido ecoa,
desbravador feroz, com astúcia a guiar,
protege a floresta, a fauna e a lagoa,
e ao homem ganancioso, ensina a respeitar.

Mas não te enganes, ele é brincalhão,
faz do viajante um alvo de ilusão,
e em cada caminho, um truque a espreitar.

se o fogo da floresta queres apagar,
cuidado, amigo, o Curupira está à mão,
no riso do vento, a natureza a amar.
= = = = = = 

Trova de
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP

Desperta-me a Paz de um grito: 
quando os sonhos são diversos... 
rebuscando no infinito, 
o amor com Chuva de Versos!!!
(dedicado ao Almanaque Chuva de Versos, de josé Feldman)
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

O meu diário

Peguei no meu diário envelhecido,
um velho confidente meu amigo!
Que eu fiz das suas folhas meu abrigo…
Meu fiel conselheiro enternecido!

No diário se encontra redigido:
O meu sentir. A dor que não mitigo,
que vive aboletada e não consigo,
retirar do meu peito tão sofrido!

Suas capas afago com amor!
Elimino alguns fungos de bolor,
que o tempo e a idade provocaram!

Há manchas; caracteres indefinidos!
São sinais indeléveis produzidos,
p’las lágrimas, que os olhos derramaram!
= = = = = = 

Trova de
NEOLY VARGAS
Sapucaia do Sul/RS

Nos carnavais do passado,
dos arlequins, dos palhaços,
fui pierrô apaixonado,
que terminava em teus braços.
= = = = = = 

Soneto de 
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP+

Tristeza

Tristes versos que a pena entristecida
Foi, por o gosto de penar, traçando,
Sem saber que me estava retalhando,
A alma, o peito, a razão, o sonho, a vida:

Em quais terras da terra será lida
A confidência que ides confiando?
E, bem mais e melhor que lida, quando,
Em qual tempo dos tempos, entendida?

Às terras, e ainda aos tempos mais diversos,
Ide, sem pressa aqui, ali sem pausa,
Pois só por o partir foi que partistes.

Qual glória hei de esperar, meus tristes versos,
Se já vos falta aquela vossa causa
De serdes versos e de serdes tristes?
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Tu foste nuvem dourada,
mas o sol te dissipou.
Como guardavas minh'alma,
contigo se desmanchou.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Miragem

Relances do tempo
traduzem em ecos
sua suave história,

apenas resquícios de uma trajetória. 
A memória não distingue momentos
futuros, talvez breve lacuna aleatória.
Um oásis reflete diversas passagens, 
estremeço em cena, intuo dedicatória. 
= = = = = = 

Trova de 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Marcas do amor

Se alguém pensa que amar não faz sofrer,
está redondamente equivocado...
É que o amor, grande fonte de prazer,
tem um lado que impõe fardo pesado!

Assim, meu bem-querer, tu podes crer
que, se eu sofrer, estou bem preparado...
Jamais me insurgirei por padecer,
contanto que não saias do meu lado!

Viver contigo é o que eu sonhei um dia
e a tua ausência eu não suportaria,
pois ninguém mais preenche o meu desejo!

Entre afagos, que conta um arranhão?
Vamos chegar às marcas que eu almejo:
juntar amor-paixão e amor-perdão!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ave-Maria, uma prece 
tão gostosa de rezar, 
que às vezes mais me parece 
cantiguinha de ninar! 
= = = = = = 

Poema de
MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Casa Vazia

Falar de amor não é mistério
Nem tão difícil de explicar
A gente nunca faz por mal

Meu coração praia deserta
Morre de medo do inverno
E da solidão que me devora

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

Pensar que o amor é sempre eterno
Que é impossível ele se acabar,
Você bem que podia tentar, mas não, não, não.....

Então quero falar por um momento 
(só por um momento)
Da tua ausência no meu corpo
E dessa lágrima no meu rosto

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

o fogo arde sob o nosso chão
nada é tão fácil assim
eu ando sozinho, no olho do furacão
você nem lembra mais de mim

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
= = = = = = 

Poetrix de
ANTHERO MONTEIRO
São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira/Portugal

Morte 

uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga 
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Saudade

...e mesmo sem te ver quero-te tanto
que sinto-te em mim, e tua voz no pranto
que escapa-me em torrentes de tristeza.
Antes que dúvida, és minha certeza...

Quero-te na amenidade do poente,
No sol do fim de tarde, reluzente,
Quando nasces em mim, como uma flor.
...e mesmo sem te ver, és meu amor...

Quero-te tanto, que em minh’alma trago
O gosto do vinho em que me embriago
Nesses lábios sedentos que ofereces.

Algum anjo há de ouvir as minhas preces,
E há de entender a solidão que canto
Por não te ver e por amar-te tanto…
= = = = = = 

Trova de
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR

À velha, o doutor confessa:
- Um susto ser-lhe-á fatal!
E o genro mais que depressa,
põe fantasmas... no quintal !
= = = = = = 

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutaste? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com as minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se tu buscas na partida
além do horizonte, a paz,
não fujas da própria vida,
que a vida sabe o que faz!
= = = = = = 

Hino de 
São Jerônimo da Serra/PR

Foi a fibra do valente pioneiro
Desbravando o sertão do Jatai
Que fez nascer neste solo alvissareiro
Junto às margens do rio Tibagi.

Tão formosa e fagueira cidade
Para orgulho de imparra gentil
Berço augusto de prosperidade
Que ornamenta o querido Brasil.

És a joia mais linda que há
neste recanto feliz do Paraná
São Jerônimo da Serra, meu torrão
viverás para sempre em meu coração.

Rio Tigre de alvura singular
Serra da Esperança, a mais linda que há
São tesouros a ornamentar 
as riquezas que temos aqui.

São Jerônimo, adorado padroeiro
Abençoa com seu manto esta terra
Protegendo este povo hospitaleiro
Que impulsiona São Jerônimo da Serra.

Isto será passageiro
E verás, quando passar
que em lindo sol
Pioneiro em teu céu há de brilhar.

Por que em tua juventude
Em tuas sábias crenças
reside a maior virtude
Depósito de esperança.

São Jerônimo da Serra,
Simples e muito mais
Eu pisei em tua terra,
Não te esquecerei jamais.
= = = = = = 

Trova de
ADELINO MOREIRA MARQUES
São Paulo/SP

Do livro da minha vida
arranquei, com mão irada,
tua página, fingida...
...e a guardo toda amassada!
= = = = = = 

Soneto de 
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

São Francisco e o Rouxinol

Um rouxinol cantava. Alegremente,
quis São Francisco, no frutal sombrio,
acompanhar o pássaro contente,
e começa a cantar, ao desafio.

E cantavam os dois, junto à corrente
do Arno sonoro, do lendário rio.
Mas São Francisco, exausto, finalmente,
parou, tendo cantado horas a fio.

E o rouxinol lá prosseguiu cantando,
redobrando as constantes cantilenas,
os trilados festivos redobrando.

E o santo assim reflete, satisfeito,
que feito foi para escutar, apenas,
e o rouxinol para cantar foi feito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nesta espera em que me farto
só dispenso a nostalgia,
é quando a porta do quarto
tua chegada anuncia!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
FOI ASSIM 
(samba-canção, 1963) 

Foi assim,   
eu tinha alguém que comigo morava 
Mas tinha um defeito que brigava  
Embora com razão,
ou sem razão 
Encontrei um dia uma pessoa diferente 
Que me tratava carinhosamente  
Dizendo resolver minha questão 

Mas não foi assim,  
Troquei essa pessoa que eu morava 
Por essa criatura que eu julgava 
Pudesse compreender todo meu eu 
Mas no fim fiquei na mesma coisa em que estava 
Porque a criatura que eu sonhava  
Não fez aquilo que me prometeu 
Não sei se é meu destino, não sei se meu azar 
Mas tenho que viver brigando 

Todos no mundo encontram seu par 
Porque só eu vivo trocando  
Se deixo alguém por falta e carinho 
Por brigas e outras coisas mais 
Quem aparece no meu caminho 
tem os defeitos iguais
= = = = = = = = = = = = = 

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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.