DELCY CANALES
Porto Alegre/RS
Cem vezes tu repetiste
que me amavas loucamente…
Cem vezes tu me mentiste
e cem vezes eu fui crente!
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Poema de
CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE
Paris/França (1821 - 1867)
Uma Gravura Fantástica
Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrível de esqueleto
Um diadema de lata, - único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping' lim*, monta um pobre cavalo,
Um espectro também, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dias lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.
O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um grã-senhor, que seus reinos visite,
Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d'uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.
(Tradução de Delfim Guimarães)
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Ping'lim ou Pingalim = espécie de chicote.
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Trova de
ADELINO MOREIRA
Araçatuba/SP (1922 – 2007)
Esta vida, a que me exponho,
é agiota de verdade:
se empresta um pouco de sonho,
que juros cobra em saudade!…
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP
O pedestal do horizonte
Quando me vejo aqui, no pedestal
onde a lida acalenta e se faz luz,
a vitória cintila no portal
e desintegra a treva que seduz.
Conseguir algo mais, travar o mal,
vislumbrar no crepúsculo, conduz
sentimento de força sem igual
na vereda luzida por Jesus.
Volver à luz que brilha no horizonte
mostrando o caminhar em forte ponte
é a mesma luz que brilha a todos nós...
bastando simplesmente a coerência
na busca da lavoura em consistência.
Seremos então livres, jamais sós!!
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Trova Premiada de
J. B. XAVIER
São Paulo/SP
Quando na página eu vi
minha vida em agonias,
foi que afinal percebi:
ambas estavam vazias…
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A Volta da Primavera
AI! Não maldigas minha fronte pálida,
E o peito gasto ao referver de amores.
Vegetam louros — na caveira esquálida
E a sepultura se reveste em flores.
Bem sei que um dia o vendaval da sorte
Do mar lançou-me na gelada areia.
Serei... que importa? o D. Juan da morte
Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!
Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...
Ensina à brisa ondulações suaves!
Dá-me um abrigo nos teus seios túmidos!
Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!
Já viste às vezes, quando o sol de maio
Inunda o vale, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio!"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"
E, ao doce influxo do clarão do dia,
O junco exausto, que cedera à enchente,
Levanta a fronte da lagoa fria...
Mergulha a fronte na lagoa ardente ...
Se a natureza apaixonada acorda
Ao quente afago do celeste amante,
Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,
Não vês minh'alma reviver ovante?
É que teu riso me penetra n'alma —
Como a harmonia de uma orquestra santa —
É que teu riso tanta dor acalma...
Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!
Que eu digo ao ver tua celeste fronte,
"O céu consola toda dor que existe.
Deus fez a neve — para o negro monte!
Deus fez a virgem — para o bardo triste!”
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Quadra Popular
Você diz que vai, que vai,
e não leva eu também.
Esta é sua ingratidão,
não é de quem quer bem.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Desprezado
Teu desprezo maltrata, é pungente.
Dói demais ver minguar nossa flama,
Confessando a saudade que sente,
Coração lacerado te chama.
Feneceu meu olhar rutilante,
Por negrume é cingido o poema,
Essa angústia é demais sufocante.
Esperar, esquecer... Oh, dilema!
Tua boca tão doce, macia,
Os momentos de amor, fantasia,
São lembranças em mim tatuadas.
Sofro tanto sem norte, à deriva,
Torturante, o pensar traz a diva,
Companheira de intensas jornadas.
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Trova de
EUGÊNIA MARIA RODRIGUES
Rio Novo/MG
Sinto que chegas... me abraças...
porém tu finges... sem dó...
e a Saudade brinda as taças
do vinho que eu bebo só...
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Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
A Mula Sem Cabeça
No campo sombrio, um lamento se faz angustiante,
Mula sem cabeça, um destino a vagar,
na floresta escura, no silêncio, errante,
ecos de um amor que não pode voltar.
Noite de sofrimento, de fogo a brilhar,
na escuridão, sua forma a percorrer,
em cada relâmpago, um grito a ecoar,
lembranças de vida que não podem ceder.
Mas quem a avista, deve ter temor,
pois a sombra da noite traz consigo a dor,
em busca de paz, sua alma a clamar,
e entre os mistérios, a história a contar,
que amor e desatino podem levar à dor,
e na lenda da mula, um eterno clamor.
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Trova de
EMILIA PEÑALBA ESTEVES
Porto/Portugal
No meu reino de ilusão
tu és o rei, és o dono!...
E eu sou, em teu coração,
uma rainha... sem um trono!
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Soneto de
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal
A meia laranja
Senti meu coração alvoroçado,
Bater desordenado no meu peito.
Impávido fiquei! Fiquei sem jeito!
Que raio o pôs assim em tal estado?
Olhei em meu redor, desconfiado.
Senti-me desolado, contrafeito!
Por não compreender, a causa efeito,
Que o pusera a bater descontrolado!
Tive depois, a estranha sensação.
Que me tinham aberto o coração,
E dentro dele, alguém se aboletava!
Aos poucos o meu ser se aquietou.
Pois percebeu, que o ser, que se alojou…
Era a meia laranja que faltava!
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Trova de
ERNESTO LOPES NUNES
Coimbra/Portugal
O reino que o mundo almeja
terá sempre este defeito:
- a um só trono que se veja,
reclamam mil o direito!
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Soneto de
RENATO SUTTANA
Barroso/MG
Lá
Que gastes lá teu ouro, teu minuto,
teu grama de progresso, teu punhado
de futuro – antevisto, calculado,
todo pejado de valor e fruto;
que lá queiras chegar, de olho impoluto,
como quem leva a urgência de um recado,
insone, mas cumprindo algum mandado,
por força do insondável, do absoluto;
que lá passes um dia, um mês, um ano
(quem sabe a vida inteira), convencido
de que encontraste a pista, o portulano,
e de que lá não entras por abuso
e não és, sem estirpe e sem partido,
mais que um indesejável, um intruso.
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Trova de
GISELDA MEDEIROS
Fortaleza/CE
É carnaval… e em meu peito
qual um sagaz folião,
brinca o meu sonho desfeito
nas alas da solidão…
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Aos Primeiros Raios Solares...
Páginas em branco
rumam em silêncio
abrindo as janelas,
descortinando o novo dia azul.
Repleta de paz sou esperança,
em linhas retas, sou paralelas.
Sem pensar no amanhã, verso
risos ou prantos, sem mazelas.
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Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Nos desfiles dessa vida
com humildade me toco:
Quanto mais larga a avenida
mais estreito fica o bloco.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Mudança por amor
Mandei tirar sem dó toda a argamassa
Que recobria o chão do meu quintal
E em seu lugar, tal qual fosse uma praça,
Formei maravilhoso roseiral.
E para a minha casa ter mais graça
Forrei de primavera o seu beiral
E, junto aos muros, onde o mato grassa,
Eu pus planta de fruta e ornamental:
Ameixeira, pitanga e goiabeira,
Que ali mantêm as aves e os seus ninhos
Em explosões de cantos de alegria!
E quero ver se assim dessa maneira
Agrado a minha amada e os passarinhos,
E faço bem ainda à ecologia!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
A bênção, queridos pais,
que às vezes sois mães também.
Em nome de Deus cuidais
dos filhos que d’Ele vêm!
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Poema de
IVAN LAUCIK
Liptov/Eslováquia (1944 – 2004)
Anotação de Fim de Tarde
Nada importa, dizem-te pela manhã:
E tu (vês-te obrigado) duvidas destas palavras todo o dia.
Resiste, entretém os peixes,
canta-lhes em voz alta sobre a ponte...
Os momentos de alegria quase te envergonham:
As distâncias convenientes, relações de altura e profundidade,
os invernos curtos, vento em conta para os moínhos -
e um tempo longo coberto
de ornamentos de ferro!
(Os livros de Lógica estão gastos
pelas mãos e pelo suor!)
Alguém que ouve mal embriaga-se de palavras:
o futuro pertence apenas aos helicópteros silenciosos,
capazes de aterrar na palma da mão.
(Haverá palma da mão?) E continua em sonhos
a separar-se o comestível do que não presta.
Sim, chegam-nos plantas cheias de entusiasmo.
Mas não é por isso que a folha artificial é menos verde.
Assim os incrédulos valorizam a fé.
Os infalíveis esperam ser salvos pelos nossos erros.
Os vivos sabem
que tudo importa
desde manhã.
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Triverso de
DOMINGOS PELLEGRINI
Londrina/PR
Montanha que brilha
a louça lavada
empilhada na pia.
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
Carnaval
Eis que de novo chega o Carnaval
para trazer, talvez, muita alegria,
às multidões que sofrem de algum mal
e podem ingressar na fantasia...
Vivem momentos só de alegoria,
num transe enfático, sensacional,
e buscando, num passe de magia,
aliviar o desejo sensual...
Cantam e dançam, plenos de calor,
demonstrando a maior felicidade,
neste evento de cálida paixão...
Por toda a parte a Festa do Esplendor
penetra os corações, e na igualdade,
congregando os cultores da Ilusão !
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Trova de
SEBAS SUNDFELD
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP
Não necessita de sorte
toda existência de bem:
-uma planta ergue o seu porte
sobre as raízes que tem.
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Poema de
MARIA LÚCIA SIQUEIRA
Curitiba/PR
Saudade
Irmã da terra,
dos ventos,
das tempestades,
por onde pisam agora
teus pés de saudade?
Deixou rosas,
espinhos
e tantos trigais.
E foi ninar num travesseiro de jasmins
à sombra dos pinheirais.
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
O espelho não me enganou,
sem disfarce, esse sou eu:
um jovem que não sonhou,
um velho que não viveu!
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Hino de
TIJUCAS DO SUL/ PR
Foi Ambrósios teu nome primeiro.
Deslumbrante beleza: ó Saltinho!
Do Estado és grande celeiro;
Guardas lago, floresta e ninho.
ESTRIBILHO
Salve! Salve! Tijucas do Sul!
Tabatinga, florestas e flores.
Protegida pelo manto azul,
De Nossa Senhora das Dores!
É chamado depois Aruatã.
Erva-mate e madeira de lei
São riquezas e teu talismã.
Os sinais de valor nessa grei.
És Tijucas do Sul - Paraná
Tens história na Revolução!
Na memória do povo ainda está
Grande glória pra toda nação.
Tijuquense, és povo leal!
Teu esforço e trabalho é sucesso.
E a resposta do teu ideal
É um futuro de pleno progresso!
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Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
Quando, amor, estás ausente,
quem ameniza a ansiedade
é a carta que chega e, ardente,
abraça minha saudade.
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Poema de
FLÁVIO GIMENEZ
São Paulo/SP
Ilha
Para me perder em teus olhos
Nos caminhos de tua íris, num arco
De mil cores de sonho
Penso, olho em tua pele:
Pálida na manhã enquanto noite.
Para me perder da escura forma
Sigo os indícios do que vem adiante
Em teu franco riso, claro e tanto
Nos cantos de tua pura alma errante
Para me perder em teu mar, sigo
Na marcha do meu ofício que trilha,
No siso branco de tua linda fonte
De todos os prantos do que agora brilha
Para me perder de vez em tua sina
Nos caminhos de tua íris, nem penso
Visto tua alva pele que, pálida
Tece de dia a escuridão das estrelas.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Por medo meu coração
fechou-se e ainda pôs trave,
mas agora outra paixão
bate à porta e quer a chave.
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Recordando Velhas Canções
DEUSA DO ASFALTO
(samba-canção, 1959)
Um dia sonhei um porvir risonho
E coloquei o meu sonho
Num pedestal bem alto
Não devia e por isso me condeno
Sendo do morro e moreno
Amar a deusa do asfalto.
Um dia ela casou com alguém
Lá do asfalto também
E dizem que bem me quer
E eu triste boêmio da rua
Casei-me também com a lua
Que ainda é a minha mulher
É cantando que carrego a minha cruz
Abraçado ao amigo violão
E a noite de luar já não tem luz
Quem me abraça é a negra solidão
É, é, é, eeé cantando que afasto do coração
Esta mágoa que ficou daquele amor
Se não fosse o amigo violão
Eu morria de saudade e de dor.
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.