quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Vereda da Poesia = 186


Trova de
LUPICÍNIO RODRIGUES 
Porto Alegre/RS, 1914 – 1974

Este é o exemplo que damos
aos jovens recém-casados:
que é melhor se brigar juntos
do que chorar separados!
= = = = = =

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

A desconhecida

De onde ela veio os riscos eram poucos;
cais de sossego e amores comedidos…
porto seguro…, mas de ouvidos moucos
aos seus anseios, sempre preteridos.

Um dia, enfim, nos descobrimos loucos,
incendiando instintos escondidos
e nos amando entre os gemidos roucos
das feras que contêm suas libidos.

Aos poucos pude ver que descobrimos
detalhes tão comuns de um sonho imenso,
motivos pelos quais nós nos unimos…

E agora a vejo triste e dividida
entre as surpresas deste amor intenso
e o porto que acolheu a nau transida!
= = = = = = = = =  

Trova de
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP

Tudo muda, tudo passa,
Neste mundo de ilusão:
Vai para o céu a fumaça,
Fica na terra o carvão.
= = = = = = 

Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Poção Mágica

Hoje, nem aparentas a idade
que chegava até perto da minha,
e diminuiu com tal velocidade
que pareces agora uma mocinha.

Pensei, pesquisei o mais que pude
mas não achei uma lógica razão,
pois não há fonte onde a juventude
se encontre facilmente assim à mão.

E agora, a sorrir, tu me contaste:
um motivo especial já encontraste
para ficar tão remoçada assim.

E nessa hora senti faltar o chão,
quando você pegou na minha mão
e agradeceu a juventude a mim.
= = = = = = 

Trova de
HERIBALDO BARROSO 
Santos Dumont/MG, 1916 – 1993, Juiz de Fora/MG

Pescador, pensa, avalia…
e diga se ainda crê
na graça da pescaria,
se o peixe fosse você…
= = = = = = 

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ

Suavidade

Buscando a suavidade deste amor
mais firme no querer a cada dia,
de todos os valores e ousadia
queria demonstrar o seu valor.

Tentando aveludar a voz fazia
vibrar todas as cordas com fervor,
e  meu corpo aquecido transgressor,
transformando a volúpia em euforia.

Suaves gestos irmanados grassam,
teus abraços me afagam com ternura,
e não há discordâncias que os desfaçam.

Muito carinho, afeto e fantasia
transformando-se bênçãos e aventura,
despertam em mim enorme alegria.
= = = = = = = = = 

Trova de
EVA GARCIA
Caicó/RN

Aquele velho retrato...
uma lenda, que me invade,
hoje é um sonho abstrato,
na moldura da saudade!
= = = = = = 

Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 - 1987) Rio de Janeiro/RJ

Parolagem da vida 

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Desde o tempo de menino 
vi o quanto eu sou machão; 
pois meu lado feminino 
é um tremendo sapatão!
= = = = = = 

Poema de 
ANTÓNIO SILVA GRAÇA
Moçambique, 1937 – 2019, Lisboa/Portugal

Fusão das Liturgias

Fusão física de cores
que recolho em fios de luz.
Luz suspensa na noite,
instante caído de uma pétala.

 Leio as nuvens e reparo
que o léxico celeste confere
uma vontade sólida.
 
Na solidez deste dia
vou separando as águas da minha mitologia
das outras que retornam, serenas.
As horas são agora
modelos equilibrados
da organização do tempo.

 E os dias,
revoltas de uma qualidade sóbria.
A luz deixou de ser de bronze
para ser um fio dolente
iluminando com minúcia cada hora.

 No cadinho liso do silêncio
fundo liturgias.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

"Esta peixada está quente!" 
reclamava o Zé Maria;
e o dono do bar: - "Ó xente, 
'se qué', tem pexera fria!”
= = = = = = 

Poema de
ARMANDO GUEBUZA
Mumpula/Nampula/ Moçambique

As Tuas Dores

As tuas dores
mais as minhas dores
vão estrangular a opressão

Os teus olhos
mais os meus olhos
vão falando da revolta

A tua cicatriz
mais a minha cicatriz
vão lembrando o chicote

As minha mãos
mais as tuas mãos
vão pegando em armas

A minha força
mais a tua força
vão vencer o imperialismo

O meu sangue
mais o teu sangue
vão regar a Vitória.
= = = = = = 

Trova de
CAROLINA RAMOS 
Santos/ SP

Queres vencer? - Pensa bem
e não dês passos a esmo,
ninguém pode ser alguém
sem conquistar a si mesmo.
= = = = = = 

Hino de
ORIXIMINÁ/ PA

O sol com seu grande fulgor,
Sobre esta terra paraense
Enche o peito de nobreza e valor
De cada oriximinaense.

As matas, o céu azulino
Todo o passado traduz
Imitemos José Nicolino,
Uma epopeia de luz.

Liberdade! Liberdade!
Em dezembro surgiste pra nós
És uma luz de bondade
Um dos mais belos faróis.

Uruá-Tapera, teu nome primeiro
Veio outro pra ser verdadeiro
Hoje és o orgulho do Pará
Nossa dileta Oriximiná.

Trombetas com suavidade
Te banha com todo ardor
Suas águas com sua claridade
Refletem teu grande esplendor.

Tuas serras de um verde-montanha
Simbolizam as nossas riquezas
Juta, bauxita e castanha,
doadas pela natureza.

Tuas praias brancas ao luar
Há beleza em todas as zonas
És uma estrela a brilhar
Junto ao rio Amazonas.

Oriximiná, jardim da esperança
Onde tudo sorri...
Berço de sonhos e de crenças
Quanta fé nos vem de ti.

Teu povo sempre viril
Por ti não mede labor
E te traz dentro do peito
Com pujança do amor.
= = = = = = = = =  

Trova de
OLGA AGULHON 
Maringá/PR

Mil sonhos num embornal,
tantas pedras no caminho...
Era a sina do imortal
que nunca encontrou seu ninho.
= = = = = = = = =  

Poema de 
JOAQUIM NAMORADO
Alter do Chão/ Portugal (1914 – 1986) Coimbra/ Portugal

Um traço largo e profundo
debrua um corpo cansado,
sob a forma rígida de um braço
desenha-se o músculo empedernido
dos trabalhos.
Mapa da vida o teu rosto.
lavrado pelo trabalho,
um pergaminho vincado
da cicatriz da amargura.
Mas no fundo dos teus olhos,
tão firmes e tão seguros,
raia a certa madrugada
dos mundos futuros.
= = = = = = = = =  

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Levada por fantasia
de um desejo inconsciente, 
eu beijo na cama fria 
as formas de um corpo ausente.
= = = = = = = = = 

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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.